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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE LETRAS E ARTES

FACULDADE DE LETRAS

IMARA CECÍLIA DO NASCIMENTO SILVA

SIGNIFICAÇÃO ASPECTUAL DO PASSADO IMPERFECTIVO NO ESPANHOL DA CIDADE DO MÉXICO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

SIGNIFICAÇÃO ASPECTUAL DO PASSADO IMPERFECTIVO NO ESPANHOL DA CIDADE DO MÉXICO

IMARA CECÍLIA DO NASCIMENTO SILVA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

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SIGNIFICAÇÃO ASPECTUAL DO PASSADO IMPERFECTIVO NO ESPANHOL DA CIDADE DO MÉXICO

Imara Cecília do Nascimento Silva

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Aprovada por:

____________________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold - UFRJ

____________________________________________________________ Profa. Doutora Virginia Sita Farias – UFRJ

____________________________________________________________ Prof. Doutor Leonardo Lennertz Marcotulio – UFRJ

____________________________________________________________ Profa. Doutora Marcia Mari Dámaso Vieira – UFRJ – Suplente

____________________________________________________________ Profa. Doutora Maria Aurora Consuelo Alfaro Lagorio – UFRJ – Suplente

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d586 s do Nascimento Silva, Imara Cecília Significação aspectual do Passado Imperfectivo no espanhol da Cidade do México / Imara Cecília do Nascimento Silva. -- Rio de Janeiro, 2015.

102 f.

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas, 2015.

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AGRADECIMENTOS

É difícil acreditar que cheguei tão longe. Nunca imaginei que estaria aqui e construiria uma carreira na UFRJ. Mas, em nenhuma trajetória, é possível alcançar nossos objetivos sem o carinho e a ajuda de pessoas queridas. Por isso, agradeço a Deus em primeiro lugar. Se não fosse por ele ter colocado amigos maravilhosos em minha vida, talvez não tivesse chegado até aqui.

Da mesma forma, agradeço a minha mãe, Ionete. Ela me criou com muito esforço, amor e dedicação. Não deixou de trabalhar nenhum dia para que eu me tornasse uma pessoa digna e que tivesse a oportunidade de estudar mais do que ela mesma pode na sua juventude. Agradeço a minha madrinha, Antônia, que ajudou minha mãe em momentos difíceis da minha criação e é a melhor madrinha que alguém poderia ter.

Agradeço ao meu marido, Jorge André. Com muita paciência e amor, ele me ajudou no que foi possível. Me ouviu nos momentos de maior tristeza, me abraçou nos momentos de desalento. Espero estar ao seu lado em muitos momentos de nossas vidas para ajudá-lo e ampará-lo sempre que necessário. Sou muito feliz com você.

Com o Jorge, veio uma família que eu não esperava. Agradeço à minha sogra, Dona Neiva, que me acolheu como filha e me escuta também quando estou em desespero. Ao meu cunhado, Fernando, que é o rapaz mais perseverante nos estudos que eu conheço e, hoje, o considero um irmão. Que tenha muito sucesso em seu caminho. Agradeço à querida Elisa, que mesmo de longe, é uma pessoa maravilhosa, boa amiga e que está sempre pronta a ouvir.

Agradeço a Seu Jorge, pai do meu marido. Quando o conheci já estava doente e pude ficar com ele até o fim de sua vida. Estar com ele em todos os momentos me fez entender o que é ser família, amadurecer e a importância de se desapegar dos interesses pessoais por uma pessoa que está precisando de ajuda.

Agradeço aos amigos queridos com os quais pude estudar e trabalhar. À minha amiga Thaís Neves. Não sei dizer se ela me acompanhou ou eu a acompanhei, só sei que nos encontramos e não nos largamos mais. Fomos amigas de faculdade, de iniciação científica, de pós-graduação. Mas, no final disso tudo, somos mais que amigas. Somos irmãs.

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de contabilizar tudo. Trabalhamos muito juntas até tarde da noite, discutindo sobre nossas tarefas pela internet, e acredito que valeu cada minuto.

Agradeço aos amigos que o CLAC e o alojamento da UFRJ me trouxeram. Minhas irmãs “gemelas”, Lays Gabrielle e Taiana Cristina. Eu morro de saudades de trabalhar com essas meninas. A gente não se cansava de montar cursos, materiais, reuniões do CLAC, etc, porque sempre nos divertíamos demais juntas.

Agradeço a todos os monitores ADM do CLAC que são meus amigos: Sabrina, Flavinha, Jéssica, Ana Paula, Dudu e Júlio. Agradeço ao Ricardo, à Mônica e à Franciane também. Essas são pessoas maravilhosas que torcem todos os dias para o nosso sucesso como profissionais e nos ajudam ao máximo no que podem.

Agradeço aos amigos do Alojamento: Flavia Cristiana, Ana Paula, Priscila Francisca, Josie, Rafael e sua esposa, Cássia. Como passamos várias noites estudando, dividindo comida, chorando por que não tivemos sucesso em alguma matéria da faculdade. Mas, principalmente, ajudamos uns aos outros a não desistir dos nossos propósitos.

Aos meus professores, agradeço pelos ensinamentos dados com tanta dedicação. Especialmente, a minha orientadora, Mercedes, que me deu muitas oportunidades de crescer e me ajudou demais em toda a minha trajetória. E, hoje, é uma grande amiga. Às professoras Sonia, Tânia e Consuelo, obrigada por cada observação feita sobre meu projeto para melhorá-lo. Aos professores, Alessandro e Leonardo, agradeço por cada discussão que tivemos sobre meu tema e sobre propostas teóricas.

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RESUMO

SIGNIFICAÇÃO ASPECTUAL DO PASSADO IMPERFECTIVO NO ESPANHOL DA CIDADE DO MÉXICO

Imara Cecília do Nascimento Silva

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

O nosso objetivo principal é identificar os contextos de ocorrência da leitura aspectual do Passado Imperfectivo em sentenças com Pretérito Imperfeito (IMP) e com a perífrase “estar” + gerúndio (PPROG) no imperfeito, no espanhol da Cidade do México. Consideramos que essas duas formas verbais estão coocorrendo com valor de aspecto imperfectivo contínuo, quando o esperado seria somente o uso da perífrase para expressar tal aspecto. Nossa hipótese é de que fatores como verbos [+ dinâmicos], sujeitos agentivos, complementos verbais télicos e advérbios temporais mais delimitadores influenciam na significação aspectual contínua de IMP em contextos de PPROG.

Para tanto, como corpus, selecionamos dez entrevistas transcritas do projeto PRESEEA Ciudad de México. Tais entrevistas foram gravadas entre os anos 2000 e 2005, com informantes homens e mulheres, de nível superior, compreendendo a faixa etária entre 20 e 30 anos. Na seleção e tratamento dos dados, foram utilizados os programas WordSmith Tools 5.0 e GoldVarb X.

Os resultados demonstram, de fato, uma preferência pelo uso do imperfeito como expressão do aspecto imperfectivo contínuo, pois observamos, dentre 93 ocorrências de contínuo, 62 em imperfeito contra 31 em perífrase. Dentre os fatores linguísticos pertinentes para a leitura imperfectiva, se mostraram relevantes os fatores tipo de verbo e tipo de advérbio temporal. Sentenças em que os verbos fossem [+ dinâmicos] propiciavam a alternância entre formas de aspecto contínuo. E sentenças sem advérbio de tempo ou com advérbios [+ pontuais], também direcionaram o uso de IMP e contextos de continuidade em que era esperado PPROG.

Palavras-chave: aspecto, passado imperfectivo, espanhol da Cidade do México.

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RESUMEN

SIGNIFICAÇÃO ASPECTUAL DO PASSADO IMPERFECTIVO NO ESPANHOL DA CIDADE DO MÉXICO

Imara Cecília do Nascimento Silva

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

Nuestro principal objetivo es verificar los contextos sintácticos en que ocurre el Pasado Imperfectivo en oraciones con Pretérito Imperfecto (IMP) y con la perífrasis “estar” + gerundio (PPROG) en imperfecto, en el español de la Ciudad de México. Consideramos que esas dos formas verbales pueden expresar valor imperfectivo contínuo. Sin embargo, lo esperado es el uso de la perífrasis para expresar dicho aspecto. Nuestra hipótesis es que factores como verbos [+ dinámicos], sujetos agentivos, complementos verbales télicos y adverbios temporales más delimitadores influencian en la significación aspectual contínua de IMP en contextos de PPROG.

Para tanto, como corpus, seleccionamos diez entrevistas transcritas del proyecto PRESEEA – Ciudad de México. Las grabaciones de dichas entrevistas ocurrieron entre los años 2000 e 2005, con informantes hombres y mujeres, con enseñanza superior, entre 20 y 30 años. En la selección y tratamiento de los datos, utilizamos los programas WordSmith Tools 5.0 y GoldVarb X.

Los resultados demuestran, de hecho, una preferencia por el uso del imperfecto como expresión del aspecto imperfectivo contínuo, pues observamos, entre 93 datos de contínuo, 62 en imperfecto contra 31 en perífrasis. Entre los factores lingüísticos pertinentes para la lectura imperfectiva, se mostraron relevantes los factores tipo de verbo y tipo de adverbio temporal. Oraciones en que los verbos fuesen [+ dinámicos] propiciaron la alternancia entre formas de aspecto contínuo. Y oraciones sin adverbio de tiempo o con adverbios [+ puntuales], también direccionaron el uso de IMP en contextos de continuidad en que se esperaba el uso de PPROG.

Palabras clave: aspecto, pasado imperfectivo, español de la Ciudad de México.

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SUMÁRIO

Introdução ... 1

1. Uma proposta mentalista de análise linguística – a Gramática Gerativa ... 5

1.1 Inatismo e competência gramatical ... 5

1.2 Sobre o programa minimalista ... 9

1.3 A variação entre as línguas...14

2. Aspecto verbal – definições e discussões...20

2.1 O conceito de aspecto...20

2.2 Principais estudos...21

2.2.1 Nível de análise i – o predicado verbal...23

2.2.2 Nível de análise ii – a flexão e a informação aspectual...28

2.2.3 Nível de análise iii a oração...31

3. Estudos sobre estar (imp) + gerúndio e o pretérito imperfeito...34

3.1 A alternância entre forma de Passado Imperfectivo – o caso do PB e do espanhol...34

3.2 O Passado Imperfectivo e a composicionalidade aspectual...38

4. Metodologia – corpus, ferramentas de análise...45

4.1 O corpus...45

4.2 Os softwares wordsmith tolls e goldvarb x...46

4.3 Os fatores controlados...47

5. Resultados e análise...50

5.1 Seleção e organização do recorte...50

5.2 Contextos de ocorrência do pretérito imperfeito e da perífrase de passado imperfectivo...53

5.3 A alternância da expressão do aspecto contínuo...73

5.4. Outros valores expressos pelo pretérito imperfecto...81

Considerações finais...83

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INTRODUÇÃO

Esta dissertação é parte importante de uma trajetória de pesquisa sobre Teoria e Análise Linguística, principalmente, em estudos descritivos do espanhol, Linguística Gerativa e aspecto verbal. As pesquisas feitas durante a iniciação científica se desenvolveram de forma a especificar cada vez mais o presente objeto de estudo: contextos sintáticos de alternância entre formas passadas de aspecto imperfectivo habitual (forma simples dibujaba) e imperfectivo progressivo (forma perifrástica estaba dibujando).

Dentre os trabalhos de iniciação relativos à influência de determinados constituintes sentenciais na leitura aspectual, a partir da noção de composicionalidade do aspecto de Verkuyl (1993), se destaca Sebold & Silva (2013). Nesse artigo, observamos os contextos sintáticos de ocorrência das formas de imperfectivo em dois corpora – um do Português do Brasil (PB), retirado do projeto NURC/RJ e outro do espanhol, do projeto PRESEEA – Alcalá de Henares (Madrid).

Nos dados referentes a cada língua, verificamos uma tendência à neutralidade do aspecto imperfectivo. Já apontada em Giorgi & Pianesi (2002) para o italiano e outras línguas românicas. Tal tendência indica que tanto a perífrase quanto a forma simples de Pretérito Imperfeito são aspectualmente neutras, logo seriam compatíveis com leituras mais delimitadas e menos delimitadas.

Além de corroborar essa tendência à neutralidade do imperfectivo, os dados do PB e de Madri se destacaram também porque pudemos observar que houve uma preferência dos informantes pelas formas verbais de Imperfectivo habitual ao invés do durativo tanto no espanhol quanto no PB. Isso é significativo se considerarmos que, em algumas ocorrências do corpus, é possível encaixar como forma alternativa a perífrase estar + gerúndio no passado sem haver mudança de significado. Como em:

(1) (y la tonta que lo dejó) trabajaba en la universidad//

(2) (y la tonta que lo dejó) estabatrabajando en la universidad//

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forma composta, a perífrase estarIMP + Vndo, a qual chama passado progressivo (PPROG).

A partir de dados do projeto VARSUL relativos à Florianópolis, Freitag (2007) verificou que tais estruturas poderiam ocorrer uma no contexto da outra sem haver mudança de significação aspectual, conforme abaixo:

(3) Depois me aborreci, não era o tipo de serviço que eu estava querendo (queria), aí passei a ser funcionário do Banco Econômico, trabalhava (estava trabalhando) no setor de transporte de malote.

Para a autora, as formas em negrito em (3) indicam uma situação passada continuativa e seria esperado somente o uso da perífrase progressiva de imperfectivo. A questão levantada, então, é a de que “se há um uso específico para cada forma, que razões haveria para que imperfeito (IMP) e passado progressivo (PPROG) se alternassem na expressão da mesma função semântico-discursiva de passado imperfectivo?” (p. 9). Freitag (op.cit) propõe que essas duas formas estariam disputando o estatuto de realização do aspecto durativo/continuativo.

Em segundo lugar, conforme já mencionamos, a abordagem teórica na qual nos baseamos é a da Teoria Gerativa. É uma perspectiva importante considerando sua proposta metodológica para uma análise da linguagem. Chomsky (1992) entende que a linguagem é um fenômeno da mente humana. Um fenômeno inato à espécie. Isso significa que todos os seres humanos são predispostos geneticamente a desenvolver linguagem.

As línguas naturais são a concretização das representações linguísticas mentais dos indivíduos. Mas a expressão fonética por si só não é suficiente para entender a organização dos sistemas linguísticos. É preciso que a fala seja insumo para tentar explicar os fenômenos que ocorrem nas línguas e não só descrevê-los. A essa discussão, Chomsky (1992) denomina tensão entre a adequação descritiva e a adequação explicativa. Uma teoria da linguagem, de acordo com o autor, não deve ser somente descritiva, pois a partir da explicação seria possível investigar mais profundamente a faculdade da linguagem.

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constituído por um conjunto de traços que o caracteriza, que o configura. A línguas, nessa visão, se diferenciam pela seleção de traços existentes em cada uma. Nossa proposta aqui, portanto, é investigar uma categoria linguística, o aspecto verbal, considerando os pressupostos da Linguística Gerativa.

Essa categoria é muito ampla e apresenta várias subcategorias. Mas o foco desta dissertação está nos aspectos imperfectivo habitual e imperfectivo contínuo. No pretérito, em espanhol, a habitualidade é expressa pelo pretérito imperfeito geralmente. Essa noção, segundo Comrie (1976), indica que um evento se dá ocorrendo sucessivamente, por repetições. Por outro lado, a expressão clássica do contínuo, no passado, por outro lado, é a perífrase estar (IMP) + gerúndio que indica o desenvolvimento de um evento único conforme o mesmo autor.

Nosso objetivo específico, nesta dissertação, é identificar os contextos de ocorrência dos imperfectivos habitual e contínuo, ou seja, quais tipos de constituintes favoreceriam uma leitura ou outra e, após isso, verificar quais fatores permitiriam o uso da forma simples (habitual) em contextos da perífrase PPROG (contínuo): se seria o tipo de verbo, o sujeito oracional, os complementos verbais ou adjuntos da oração.

Diante do exposto acima, serão analisadas ocorrências das formas de imperfectivo habitual e durativo, verificando os contextos sintáticos em que aparecem e observando quais os fatores que propiciam a alternância entre as duas formas. Serão usados dois softwares de análise linguística: o WordSmith Tools, para a seleção das ocorrências, e o Goldvarb X, para calcular a frequência total das ocorrências e o peso relativo, que identifica os fatores sintáticos mais proeminentes nos contextos.

A análise proposta aqui será de um corpus com dados secundários, ou seja, coletados e documentados por terceiros. Neste caso, serão analisadas 10 entrevistas de um projeto de documentação linguística do espanhol, o Proyecto para el Estudio Sociolinguístico del Español de España y de América (PRESEEA). Por fim, devido à disponibilidade do material coletado na internet, escolhi trabalhar com entrevistas feitas com falantes nativos da Cidade do México.

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CAPÍTULO 1

UMA PROPOSTA MENTALISTA DE ANÁLISE LINGUÍSTICA A GRAMÁTICA GERATIVA

Para começar as delimitações teóricas desta dissertação, faremos uma apresentação das noções mais relevantes presentes no programa da Linguística Gerativa. Aqui, comentaremos sobre a perspectiva de estudo da linguagem defendida nessa teoria, sobre a proposta de análise do Programa Minimalista (PM) e sobre o lugar da variação linguística nessa visão.

1.1 Inatismo e competência gramatical

Se considerarmos as demandas físicas para produzir linguagem, poderemos enumerar algumas das competências cognitivas necessárias para que um falante de qualquer língua natural participe de uma situação de interação. Uma série de elementos precisa ser acionada, como a memória, a visão, a audição, o reconhecimento de intenções comunicativas, o sistema fonético-fonológico, o sistema linguístico, etc.

Por exemplo, um falante pode julgar a adequação comunicativa do seguinte enunciado:

a. Quero que você venha amanhã.

A oração acima pode indicar um pedido, um desejo, ou ainda, uma ordem. Ordens podem ser bem empregadas caso esteja clara a posição de superioridade de um falante frente a outro no evento comunicativo, por exemplo. No entanto, a mesma ordem pode ser mal interpretada se encaixada numa situação em que não seja necessário constatar que alguém manda e outro obedece. Quando o falante consegue avaliar em que momentos é possível empregar tal frase, de acordo com critérios como os citados antes, está pondo em prática seu conhecimento pragmático.

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Essa competência está diretamente relacionada ao conhecimento linguístico tácitoque um indivíduo possui sobre sua língua. O estudo dos fenômenos linguísticos, nessa concepção mais mentalista, encontra forte fundamentação teórica na Linguística Gerativa, elaborada por Noam Chomsky, o qual se destaca na década de 1950 no que se refere a pesquisas sobre aquisição e biologia da linguagem.

O cerne dessa corrente teórica está na análise da linguagem humana como objeto natural da espécie, como um componente da mente. Nesse sentido, os focos de pesquisa são o sistema de conhecimento linguístico dos falantes individuais e a faculdade da linguagem, a capacidade específica de dominar e usar uma língua natural (Belletti & Rizzi, 2006, p.3).

Levando em consideração os dois focos de pesquisa citados anteriormente, Chomsky (1992, p. 15) estabelece perguntas para a investigação do fenômeno da linguagem:

(1) (i) O que é esse sistema de conhecimento linguístico?

(ii) Como surge esse sistema de conhecimento na mente/cérebro?

(iii) Como se utiliza tal conhecimento na fala (ou em sistemas secundários como a escrita)?

(iv) Quais são os mecanismos físicos que servem de base a esse sistema de conhecimento e ao uso do mesmo?

Encontramos respostas para cada uma dessas perguntas em Raposo (1992). A primeira pergunta se refere ao conhecimento que permite a um falante falar e compreender seu idioma. A segunda está relacionada ao estágio inicial da faculdade da linguagem, o qual é nomeado na teoria gerativista como Gramática Universal (GU). Especificamente, de que maneira os princípios da GU interagem com a experiência linguística para dar lugar a uma língua particular.

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Dentre as questões destacadas por Chomsky (1992), considerando a proposta gerativista, cujo teor de análise é mentalista em relação à linguagem, é importante ressaltar que, dentre as quatro questões propostas, a relação entre (1) e (2) é a pedra-de-toque do gerativismo, conforme explicado em Raposo (1992):

“[...] qualquer proposta relativa ao tipo de conhecimentos iniciais que a criança traz para o processo de aquisição tem de poder explicar adequadamente o caráter dos conhecimentos adquiridos relativamente a uma língua particular; e inversamente qualquer proposta quanto ao caráter dos conhecimentos sobre uma língua particular tem de ser compatível com os conhecimentos iniciais da criança e com o fato de a aquisição e o desenvolvimento dessa língua serem feitos a partir de conhecimentos iniciais.” (p.28)

Essa relação direta entre o conhecimento linguístico inicial e o conhecimento de uma gramática particular enfoca um aspecto da Teoria Gerativa importante para o estudo das línguas particulares: (A) quais são os estágios do desenvolvimento linguístico e (B) os princípios que o regem seriam realmente invariantes, havendo compatibilidade entre o estágio inicial e o final?

Quanto a (A), temos que retornar ao sistema inato de conhecimento linguístico que o falante possui. Para Chomsky (1986), todos os seres humanos possuem um órgão referente à linguagem situado no cérebro fisicamente. Essa área comporta um sistema mental responsável pela linguagem, a faculdade da linguagem. Segundo o autor, ao iniciar o processo de aquisição, essa faculdade está num estágio inicial, cuja representação é S0. Esse estágio inicial, a GU, é um conjunto de princípios inatos e biológicos, anterior a qualquer experiência.

Considerando-se uma criança adquirindo sua língua materna, S0 passa a um estágio regular relativamente estável: SS. Ao alcançar esse estágio, o falante incorpora a gramática de uma língua particular, a qual Chomsky (op.cit) denomina Língua-I, isto é, a gramática regular internalizada de cada falante. Nesse sentido, ainda se trata do plano da representação mental.

Já no plano da concretização, da produção linguística em si, Chomsky (op.cit) introduz o conceito de Língua-E ou língua externalizada. A Língua-E funcionaria como meio de acesso à Língua-I do falante. A produção linguística é o que dá indícios sobre como está organizado esse sistema que subjaz à língua externalizada.

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línguas naturais existentes no mundo, poderiam ser considerados universalmente válidos para todas. Tal pressuposto é o que chamamos de Universalidade Linguística. Esse conceito de universalidade ganha mais destaque na fase do gerativismo que se consolidou na década de 1980: a teoria de Princípios & Parâmetros (doravante P&P). Chomsky (1992), considerando a GU como o estágio inicial da Faculdade da Linguagem, estabelece que o processo de aquisição de uma língua envolve os princípios gerais desse componente universal e o input linguístico inicial a que um indivíduo tem acesso com a experiência, ou seja, os dados linguísticos primários (DLP). A combinação desses dois elementos promove a fixação do que chamamos de parâmetros, os quais diferem de acordo com as línguas naturais existentes. Especificamente, Chomsky (op. cit) afirma:

“Dito com um termo técnico, os princípios da gramática universal têm certos parâmetros que podem ser fixados pela experiência de uma maneira ou de outra. Podemos imaginar a faculdade da linguagem como uma rede complexa e intrincada dotada de comutador consistente em uma série de interruptores que podem estar em uma de duas posições.” (p. 65, tradução nossa)1

Nesse momento da teoria, uma língua é caracterizada pela maneira como os valores de cada parâmetro podem ser fixados. Dependendo de como estejam, isso determinará se um falante está adquirindo espanhol, francês, alemão, etc. De forma mais simples, a metáfora dos interruptores, apresentada na citação, define melhor esse processo.

Imaginemos uma série de interruptores elétricos. Dependendo da função que seja demandada para essa série, cada interruptor estará numa posição específica. No que tange à linguagem, os dados linguísticos projetam parâmetros de uma determinada língua. A combinatória dos dados e dos princípios da GU posicionam a “série de interruptores” para o russo, o mandarim ou o árabe.

No entanto, ainda que esse processo pareça simples e efetivo, a fixação de parâmetros não parece ser suficientemente capaz de dar conta do fato de que as línguas naturais variam bastante. Conforme o próprio Chomsky (1992): “não existe uma relação simples entre o valor selecionado para um parâmetro e as consequências

1 “Dicho con un término técnico, los principios de la gramática universal tienen ciertos parámetros que

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desta seleção enquanto o processo de aquisição avança a través do intrincado sistema da gramática universal” (p. 66, tradução nossa)2.

Isso significa que a mudança de um ou alguns parâmetros pode produzir uma nova língua particular diferente do idioma original, ou línguas que não têm nenhuma similaridade. Embora, de acordo com descrições históricas, existem idiomas que são bastante parecidos, indicando que alguns de seus parâmetros estejam fixados da mesma forma. Com isso, chegamos a uma assunção importante do Gerativismo: as línguas humanas são mais uniformes entre si do que dessemelhantes.

A fim de dar materialidade a tal proposta, Chomsky (1992) propõe a metáfora do marciano. Esta metáfora consiste na seguinte suposição: se um cientista marciano que não conhecesse nada da linguagem humana chegasse à Terra, não teria problemas para inferir sobre seu funcionamento, pois os idiomas naturais apresentam em sua organização interna os mesmos princípios. Princípios esses pertencentes a um sistema linguístico inicial invariante e universal, isto é, a GU.

Tal pressuposto é importante para esta dissertação porque ao longo da introdução pudemos observar dados de outros estudos sobre aspecto verbal que demonstram uma realização semelhante dessa categoria em línguas como o Português do Brasil e o Espanhol. Isso se aproxima bastante da análise chomskiana sobre língua e linguagem.

Na próxima seção, veremos com mais detalhes os desdobramentos e refinamentos da visão até agora apresentada segundo conceitos de uma proposta de investigação mais recente na Línguística Gerativa, o Programa Minimalista.

1.2 Sobre o Programa Minimalista

Desde a década de 1950, o modelo da Gramática Gerativa foi bastante modificado a partir de reflexões feitas em estudos do próprio Noam Chomsky e de pesquisadores que assumem a mesma perspectiva teórica. Cada fase do arcabouço gerativista tem suas próprias características; mas ainda provém de uma mesma visão: a linguagem é um objeto natural da espécie humana.

2“No hay una relación simple entre el valor seleccionado para un parámetro y las consecuencias de

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Começamos com uma proposta conhecida como Gramática Transformacional ou modelo padrão, cuja elaboração é descrita em Aspects of the Theory of Syntax (Chomsky, 1965). Nesse momento, o autor retoma uma questão empírica da linguística moderna que já havia sido estabelecida: o problema de Platão. Essa questão se refere a como um indivíduo consegue adquirir linguagem se os dados que lhe são fornecidos pelo meio não são suficientes para explicar expressões linguísticas que as mesmas nunca ouviram, e produzir com qualidade.

Levando em consideração esse problema de aquisição, o teórico propõe uma análise que seja adequada tanto para a descrição dos fatos da língua conhecidos pelos falantes quanto para a explicação sobre como esses elementos do conhecimento são adquiridos. Dar relevância à descrição significa alcançar uma adequação descritiva. Ressaltar a explicação se refere, além da descrição, à adequação explanatória, como comentam Belletti & Rizzi (2006):

“A adequação explanatória é alcançada quando é possível demonstrar que um fragmento descritivamente adequado de uma gramática particular pode ser derivado de dois ingredientes: a Gramática Universal com sua estrutura interna, princípios analíticos etc., e uma certa trajetória de experiência, os fatos linguísticos que estão disponíveis para a criança aprender a linguagem durante o período de aquisição.” (p. 11)

Embora tenha sido postulada essa preocupação com a explanação, de fato as pesquisas feitas, naquele momento da teoria, não pareciam demonstrar uma análise explicativa. Chomsky (1994) detalha que houve uma variedade de sistemas de regras referentes aos fenômenos de cada língua, ou seja, tais regras tornaram-se muito ricas e complexas. Consequentemente, o modelo padrão se afastava de sua adequação explicativa.

Então, o modelo Princípios e Parâmetros (P&P) surge, no final da década de 1970, como possível solução para o problema da tensão entre a adequação explicativa (ou explanatória) e a descritiva segundo Chomsky (1994). Nele, conforme comentado na seção anterior, substituem-se as regras por princípios, pertencentes à GU, com um conjunto finito de opções para a aplicação de tais princípios, isto é, os parâmetros.

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(2006), adquirir uma língua é escolher, dentre as opções geradas pela mente, aquelas que se adequam à experiência e descartar as demais. Isso implica em observar as gramáticas particulares como derivadas imediatas da GU.

Seguindo essa observação da linguagem de forma mais simples da teoria de P&P (se comparada à Gramática Transformacional), seu desdobramento se dá na década de 1990, com a apresentação do programa de investigação que ficou conhecido como Programa Minimalista (doravante PM).

De acordo com essa perspectiva, Chomsky (1995) caracteriza o sistema linguístico a partir dos princípios de economia e simplicidade. Nesse sentido, se mantém a ideia de que a GU abarca os princípios linguísticos invariantes e o leque de variação permitido entre as línguas. Essas últimas, sob tal perspectiva, são constituídas por um léxico e um sistema computacional. O primeiro fornece itens que serão combinados pelo sistema computacional. A partir das combinações desses itens, esse último gera descrições estruturais (ou DE’s), que são as expressões de uma língua.

Ainda segundo o autor, ao mesmo tempo que o léxico deve fornecer elementos para que o sistema computacional gere novas DE’s, tais itens lexicais devem satisfazer determinadas condições para que uma derivação seja aceitável: as condições de legibilidade dos níveis de interface com os sistemas de desempenho externos à faculdade da linguagem.

Considerando que numa língua (língua-I) as expressões linguísticas são pareamentos de som e significado, Chomsky (1995) define que toda representação de som (π) deve ter propriedades legíveis para o sistema de desempenho articulatório-perceptual (ou A-P). Ao mesmo tempo, toda representação de significado (ʎ) deve ser interpretável, isto é, legível para o sistema conceitual-intencional (ou C-I).

Esses mesmos sistemas constituem os níveis de interface com o léxico. O primeiro nível seria a interface forma fonológica (ou PF) com o sistema A-P. O segundo, a interface forma lógica (ou LF) com o sistema C-I. Por conseguinte, a aquisição de uma língua é vista da seguinte forma:

“Relativamente ao sistema computacional, pressupomos que S0 (GU) é constituído

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12 particular de Σ; a gramática de uma língua descreve Σ enada mais (…).” (Chomsky, 1995, p.247)

A partir dessas definições, Chomsky (1995) afirma que uma expressão linguística (ou DE) é aceitável em PF se π, a propriedade de som, for legível nela; o mesmo se aplica a LF e ʎ, a propriedade semântica deve ser legível nessa interface. Uma computação (o processo operacional de geração de uma sentença) é finalizada se tiver propriedades condizentes com ambas as interfaces, ou seja, se convergir em PF e LF. Representações legítimas são aquelas que contenham somente objetos legíveis pelas interfaces correspondentes, o que chamamos de Princípio da Interpretação Plena.

Do princípio anterior, obtemos o pressuposto cerne do minimalismo: todas as condições são condições nas interfaces; uma expressão linguística é uma realização ótima dessas condições nas interfaces (Chomsky, 1995). A proposta, no minimalismo, é que os itens lexicais fornecem ao sistema computacional, através de suas configurações (os traços), uma espécie de instrução sobre como devem ser vinculados quando a derivação de uma DE chegue à interface lógica.

Especificamente, o que o sistema computacional faz é relacionar um conjunto de escolhas lexicais determinado com um par de som e significado (π, λ). Chomsky (1994) defende que esse conjunto, a partir de uma operação denominada numeração, deve indicar quais são os itens que vão participar da computação da derivação e quantas vezes ocorrem na mesma. Sendo assim, a computação é constituída exclusivamente de elementos presentes nos itens lexicais numerados para aquela operação, a derivação. Após essa seleção, a computação procede a partir desses itens, sem posterior acesso ao léxico.

Por si só, compreender que a computação se dá com itens pré-selecionados pelo léxico indica uma abordagem que preza pela visualização do sistema linguístico como algo constituído em termos econômicos. Após o momento da seleção dos itens, a derivação prossegue com passos simples que envolvem a possibilidade ou não de movimento de um determinado item para outra posição na sentença.

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Sendo assim, os princípios de economia recaem sobre as descrições estruturais e sobre as representações linguísticas. Para que cada passo da derivação, ou computação, o autor aponta dois princípios básicos: procrastinar e o último recurso. Assumir teoricamente tais princípios significa eliminar o que não é necessário para a computação: (i) elementos supérfluos em representações e (ii) passos supérfluos em derivações. Ou seja, adiando etapas da derivação que não são essenciais. Tais etapas só serão cumpridas caso seja realmente necessário, o que chamamos de último recurso.

Chomsky (1995) defende que derivações que respeitam procrastinar são mais econômicas e, portanto, preferíveis. Explica o seguinte:

“A idéia intuitiva é que as operações em LF (forma lógica) são uma espécie de reflexo “conectado” (wired-in), operando mecanicamente para além de quaisquer efeitos diretamente observáveis. As operações em LF são menos caras do que as operações visíveis. O sistema tenta alcançar PF ‘tão depressa quanto possível’, minimizando a sintaxe visível” (p. 281).

Quanto ao último recurso, descreve que uma etapa de uma derivação só é legível para os sistemas de interface se for necessária para que a derivação seja computada finalmente, isto é, converta, caso contrário tal etapa não ocorre. Um exemplo disso, segundo Belletti & Rizzi (2006), é o deslocamento de verbos para a camada flexional para que possam adquirir afixos de tempo, concordância, etc que não são palavras independentes. Esse deslocamento é a última operação que se dará na computação para que a derivação convirja. Nesse sentido, o deslocamento nunca é algo opcional mas uma operação de último recurso.

Resumindo, qualquer computação linguística, sob uma ótica minimalista, deve respeitar os princípios básicos de economia descritos acima. Além disso, tal computação se utilizará da configuração dos itens lexicais selecionados previamente para prosseguir com as derivações até os níveis de interface.

Uma pesquisa sobre aquisição de linguagem numa visão minimalista busca dar conta da aquisição dos traços linguísticos (das configurações dos itens lexicais) fornecidos por um inventário universal que a criança em processo de aquisição conhece tacitamente pois faz parte do seu aparato biológico.

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os subtipos de traços relevantes para a língua a ser adquirida e “descartar” ou “esquecer” os outros (Chomsky, 2000).

Nesta dissertação, as noções de traço e de economia nas derivações são partes importantes da análise. De modo geral, porque uma língua, caracterizada nesses moldes, é insumo para o pressuposto da uniformidade translinguística, já que estabelece a origem das representações linguísticas e das computações na GU, o que reforça o universalismo previsto na teoria gerativa.

De modo particular, porque assume o léxico como fornecedor de uma seleção de itens pré-determinados e de uma computação que elimina elementos supérfluos nas representações e nas derivações. Retomemos o objeto de investigação aqui apresentado: o uso de uma forma verbal simples (cantaba), cujo traço aspectual característico é a habitualidade, em contextos da forma perifrástica (estaba cantando), cujo traço aspectual característico é a duratividade.

Em termos de economia, se o pretérito imperfeito também pode expressar duratividade, seria preferível selecionar e computar uma morfologia simples ao invés de uma perífrase que possui dois itens, o auxiliar com as informações de tempo, modo, aspecto, número e pessoa mais um gerúndio que traz informações semânticas e aspectuais da raiz do verbo e da morfologia –ndo.

Essas são algumas reflexões que esta dissertação traz sob o ponto de vista minimalista e ao longo da análise buscaremos retomar com o auxílio dos resultados encontrados a fim de chegar a conclusões mais específicas sobre o fenômeno linguístico aqui explorado.

1.3 A variação entre as línguas

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Dessa forma, se assume que a sintaxe em si é essencialmente uniforme. Nesse caso, onde estaria a variação linguística que é visível para os falantes? De fato, a questão está em torno do vocábulo “visível”. Somente aquilo que pode ser visto nas sentenças de uma língua dá indícios de variação. Acontece que essa perspectiva vai passar por determinado refinamento à medida que a teoria avança. Comecemos destacando a noção de variação no modelo paramétrico (ou na versão da Teoria da Regência e Ligação) e, depois, no Programa Minimalista (PM).

O modelo P&P define que a GU é um sistema de princípios e parâmetros. Esses últimos seriam princípios que possuem opções posteriormente fixadas de acordo com os dados linguísticos primários (DLP). Nessa perspectiva, as línguas variam quanto a sua marcação morfológica temporal, modal e aspectual dos verbos. Os elementos flexionais, quando combinados aos parâmetros, permitem a variação conforme propõem Belletti & Rizzi (2006). Para esses teóricos, um paradigma verbal mais complexo ou mais simples é que indicará valores de parâmetros para o componente sintático.

No PM, essa noção se modifica bastante. Em Chomsky (1995), como já apresentamos, assume-se que as expressões linguísticas são um pareamento de som e significado que deve ser legível para os sistemas articulatório-perceptual e conceitual-intencional, ou seja, tanto na forma fonológica (PF) quanto na forma lógica (LF), se não a derivação não converge nesses níveis.

Segundo Chomsky (2000), dentro dessa perspectiva, as computações se dão da seguinte maneira: a GU disponibiliza um conjunto de traços F, com propriedades linguísticas de som e significado. Fornece também operações (o procedimento computacional) que acessam tais traços para gerar as expressões da língua (ou DE’s). Uma língua relaciona esse conjunto F a um conjunto particular de expressões EXP. A aquisição, nesse momento, envolve, pelo menos, a seleção dos traços [F], a construção de itens lexicais LEX e um refinamento dos sistemas flexionais.

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Nessa perspectiva, se a escolha dos itens lexicais e a computação em LF são procedimentos que estão na sintaxe invisível, tais etapas não são visíveis para a criança. Portanto, defende-se que leque de variação possível deve estar visível nos dados linguísticos primários (os DLP), ocorrendo no componente fonológico e no léxico.

Sendo assim, sob a ótica do Programa Minimalista (Chomsky, 1995, 2000 e 1994), esses traços dos itens lexicais – fonológicos, formais e semânticos – são suas unidades elementares e primitivas e as diferenças entre as línguas se dá por conta de diferenças nesses traços. Então, onde estariam as possíveis diferenças na expressão aspectual durativa em orações com Pretérito Imperfeito e perífrase “estar” + gerúndio no espanhol da Cidade do México?

As formas de expressar os aspectos habitual e contínuo, no PB e no espanhol, são bastante semelhantes. As diferenças podem estar no caráter composicional (aspectual) do tipo de verbo e dos demais elementos da sentença, o que pode modificar numa língua e não em outra. É possível pensar que, se o léxico fornece os traços dos itens lexicais, essa variação estaria nas propriedades gerais desse componente.

Seguindo a mesma linha de raciocínio, também é possível dizer que a variação translinguística é resultado da presença ou da ausência de traços formais nos itens do léxico. Isso implica em assumir que a variação é uma consequência de propriedades formais da GU.

Porém, para alguns especialistas a questão da discussão sobre variação nos estudos gerativistas ainda necessita ser mais aprofundada. Recordemos que um dos propósitos da teoria gerativa é entender como a GU atua no sistema da Língua-I e na sua concretização, a Língua-E. Logo, a mesma deve ser adequada para considerar as gramáticas particulares e a diversidade existente entre as várias línguas. Raposo (1992) afirma que:

A Gramática Universal tem de ser suficientemente flexível para acomodar a variação entre as diferentes línguas, mas tem ao mesmo tempo de possuir rigidez necessária para explicar as propriedades altamente específicas que caracterizam o conhecimento final dos falantes. (p. 17)

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teoria de Princípios e Parâmetros (Chomsky, 1986) e o Programa Minimalista (Chomsky, 1995). E, apesar dos vários desdobramentos que o PM tem atualmente, alguns teóricos ainda questionam: como “conciliar a diversidade das línguas com o caminho rígido e altamente específico tomado pelo desenvolvimento das gramáticas individuais” (Raposo, 1992)?

Uma proposta que busca responder a essa questão é a da Gramática em Competição. Tal perspectiva visa a entender como a variação e a mudança ocorrem nas línguas, considerando, inicialmente, que as mesmas variam dentro de seus próprios sistemas. A ideia é tentar explicar a variação sem perder o caráter explicativo da GU, evitando dar lugar somente à descrição das estruturas que compõem os sistemas gramaticais de cada língua.

Segundo Pintzuk (2003), a competição ocorre quando duas opções gramaticais distintas variam em áreas da gramática que, não necessariamente, permitem haver alternância. O que se distingue na descrição e na análise das opções gramaticais em competição é o quadro teórico de estudo sintático assumido.

Se for adotada a perspectiva de Princípios e Parâmetros, na qual a GU apresenta princípios universais, comuns a todas as línguas, e parâmetros que estão relacionados a esses princípios e que variam de língua para língua, “as opções gramaticais geralmente correspondem a configurações paramétricas contraditórias” (p. 516). Pintzuk (2003) dá como exemplo diferenças entre línguas: aquelas que possuem estruturas oracionais SVO versus línguas que possuem estruturas oracionais SOV, também chamadas de V3.

Já no Programa Minimalista, Chomsky (1995) defende que o objetivo de uma teoria da linguagem deve ser “caracterizar o estágio inicial da faculdade da linguagem e demonstrar como ela mapeia a experiência até o estado alcançado” (p. 3). Uma análise desse estágio inicial deve dar lugar a um número cerceado de variações e as opções da GU devem ser altamente reduzidas. Daí, também, a redução dos parâmetros a traços que devem ser interpretados pelo sistema cognitivo e os sistemas de desempenho em conjunto.

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Encontramos mais esclarecimentos sobre essa visão de análise na obra de David Lightfoot (1999). O autor defende que a ocorrência de novos usos das formas linguísticas se deve à exposição do indivíduo, durante o período de aquisição, a novos dados linguísticos primários (DLP) conforme haja contato entre o saber linguístico da criança e os dados da experiência. Essa proposta, portanto, parece se alinhar com o pressuposto minimalista de que a variação deve estar visível nos DLP.

Para o autor, a natureza dos DLP constitui uma experiência detonadora, na qual novas “pistas” estarão presentes. Essas pistas estão associadas aos parâmetros (caso o estudo tenha como base o modelo P&P) ou traços (caso a análise se estabeleça no modelo PM) fixados nas gramáticas particulares, e, por esse motivo, não são universais, mas específicas a cada gramática em particular. Dependendo da configuração dos DLP pode ocorrer uma reanálise gramatical.

Nesta dissertação, no que tange ao objeto de estudo aqui pesquisado, não é nossa pretensão afirmar que há de fato uma mudança na expressão do aspecto imperfectivo contínuo no espanhol da Cidade do México. Não analisaremos dados suficientemente efetivos para tal.

No entanto, pudemos observar em Sebold et al (2013) que (a) houve menor frequência de formas de Passado Progressivo (estaba cantando – PPROG) se comparadas as formas de Pretérito Imperfeito (cantaba – IMP) por exemplo. Isso pode indicar um possível esvaziamento do seu valor temporal e uma persistência do seu valor aspectual, já que algumas formas de IMP também apresentavam o valor de contínuo, característico da forma perifrástica.

Essa preferência dos falantes por uma forma que expresse os valores habitual e contínuo positivamente indica que o sistema gramatical do espanhol, na variedade mexicana, parece estar passando por uma competição entre as formas IMP e PPROG para a expressão do aspecto imperfectivo contínuo, tal como acontece no PB.

E (b), retornando aos pressupostos do Programa Minimalista, podemos destacar dois aspectos importantes. Primeiramente, tendo em conta os princípios de economia, parece ser realmente mais simples optar por uma forma fonética que demande menos passos na derivação junto com as propriedades semânticas selecionadas, como no caso de pretérito imperfeito.

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forma fonológica (PF) e no léxico, sob a perspectiva gerativista. De fato, nos dados obtidos em Sebold et al (2013), observamos que o valor de aspecto contínuo se manteve em algumas formas de Pretérito Imperfeito. Isso parece corroborar a ideia de que a variação está em PF e não no sistema computacional.

Além disso, podemos recordar um pressuposto gerativista importante: a uniformidade translinguística. No estudo de Sebold et al (op.cit), comparamos o fenômeno aqui estudado em duas línguas: a variedade carioca do português do Brasil (PB) e o espanhol da Cidade do México. Verificamos que as duas línguas compartilham deste quadro de alternância entre formas IMP e PPROG em contextos de aspecto contínuo. Isso parece indicar uma uniformidade da expressão de passado imperfectivo, podendo sustentar a proposta de que as línguas são mais semelhantes entre si.

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CAPÍTULO 2

ASPECTO VERBAL DEFINIÇÕES E DISCUSSÕES

2.1. O conceito de aspecto

Há línguas que apresentam morfologia verbal suficientemente capaz de expressar, além de traços de tempo, os de aspecto igualmente. Dois exemplos são o espanhol e o português conforme veremos aqui. Buscando distinguir conceitos e esclarecer definições importantes para esta dissertação, neste capítulo, traremos as discussões e as noções fundamentais ao estudar uma categoria linguística tão complexa e abstrata quanto aspecto. Entretanto, a gramática tradicional se estrutura na tríade básica no que concerne à categoria VERBO, ou seja, modo, tempo e voz.

Inicialmente, é preciso compreender que as noções de aspecto e tempo não são iguais. Na verdade, há distinções cruciais entre as duas. Porém, antes de tratar de sua expressão linguística propriamente dita, existe uma relação diferenciada entre o mundo externo dos conceitos e cada uma das duas.

Em Abbagnano (2000, verbete tempo), afirma-se que, na Antiguidade Clássica, podemos encontrar a concepção de tempo que se reflete na concepção científica moderna que obtemos atualmente. Aristóteles, conforme Abbagnano (2000), define tempo como algo cíclico, “é o número do movimento segundo um antes e um depois”.

Essa definição, proveniente da Grécia Antiga, nos auxilia a entender que antes da produção linguística existe o processo de interação entre o tempo como agente externo e a decodificação que a mente humana faz desse conceito. Observemos a seguinte oração (exemplo nosso):

(a) Eu trabalho com o João há anos.

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(i) Tempo gramatical ou flexional (ii) Momento de fala ou enunciação3 (iii) Tempo da situação

(iv) Aspecto

Sabemos que a morfologia flexional indica presente do indicativo. Além disso, se o momento de fala ou enunciação é o presente, o momento em que o evento ocorre é o passado. Por fim, entendemos que essa ação continua ocorrendo até o presente momento de fala, portanto é durativa e não acabada, já que não há indicação de seu término. Interessa-nos, aqui, analisar essas noções de natureza aspectual.

2.2. Principais Estudos

De modo geral, os autores concordam entre si no que tange à definição da categoria Aspecto. Destacamos, primeiramente, uma definição canônica desse conceito e a partir da qual outros autores desenvolvem sua própria classificação aspectual.

Comrie (1976) apresenta essa definição geral do conceito para posteriormente dissertar sobre os tipos de aspecto, na verdade, sobre os tipos de aspecto gramatical, como veremos mais adiante. Sendo assim, Comrie (op.cit) estabelece que aspecto envolve as diferentes maneiras de ver a constituição temporal interna de uma situação4. Isto é, se a mesma é durativa, se se repete ou não, se é acabada ou não, entre outros tópicos.

Há autores que definem aspecto a partir da contra-evidência da informação relativa a tempo. Travaglia (2006), por exemplo, afirma que tempo tem caráter dêitico, justamente por relacionar o momento da enunciação ao da situação. Nesse sentido, esse conceito se distingue do de aspecto, pois este último se refere à situação em si, à natureza da mesma e não ao ponto do presente, passado ou futuro em que se dá.

3 Como o objetivo desta dissertação não é tratar da organização dos tempos verbais, para aprofundar

informações sobre a estruturação dos tempos, consultar Reichembach (1947).

4“Aspectsare different ways of viewing the internal temporal constituency of a situation”. (Comrie, p.3,

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Esse teórico entende que o aspecto, sendo uma categoria não-dêitica, expressa informações sobre a duração de uma situação, a qual pode ser considerada sob três pontos de vista: o estágio de desenvolvimento da mesma, seu início, meio e fim; seu estágio de completamento, se a situação está completa ou não; e, por fim, o seu estágio de realização, isto é, se a situação está na iminência de começar, se começou mas não está acabada e se está acabada. Consideremos o exemplo (1).

(1) Carmem pagou os impostos.

Está explícito que a referência temporal, nessa oração, é o passado, tanto no que diz respeito à referência cronológica quando à flexão. Neste caso, o pretérito perfeito simples. Entretanto, o aspecto para Travaglia (op.cit) consiste em indicar que essa é uma ação cujo foco é o seu fim, está completa e, portanto, acabada. Desse feixe de informações, serão obtidas diferentes noções aspectuais.

Por outro lado, autores como Castilho (2012) desenvolvem mais a noção de constituição temporal interna descrita em Comrie (op.cit), estabelecendo a noção de desenvolvimento ou fases de uma situação. Por conseguinte, Castilho (op.cit) define aspecto relacionando-o aos graus de desenvolvimento de uma situação, ou seja, essa categoria representa as fases que uma situação pode compreender. Vejamos a sentença abaixo:

(2) Carmen paga seus impostos.

Considerando uma análise de eventos nas suas fases, observamos em (2) a referência com o tempo presente tanto cronologicamente quanto na flexão. A questão é que a ação expressa por essa oração possui o foco numa fase intermediária. A ação de pagar impostos já iniciou e não sabemos se está acabada ou não, ou seja, o foco também não está numa fase final.

Da mesma forma, pode-se interpretar que Carmen paga seus impostos com uma certa frequência. Não há espaço para uma interpretação singular, de que o pagamento foi efetuado somente uma vez. Portanto, é uma ação com ocorrência múltipla.

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explicação. Todavia, nosso objetivo não é citar nomenclaturas aspectuais neste momento.

É importante, neste ponto, distinguir os conceitos de tempo e aspecto. E demonstrar que, na significação das sentenças produzidas pelos falantes de diferentes línguas, existem informações mais complexas que estão além dos traços explícitos foneticamente nas línguas. Considerando esse conceito geral, precisamos entender o que constitui ou compõe a significação aspectual de uma sentença. Há níveis de análise aspectual conforme discutiremos adiante.

2.2.1 Nível de análise I O predicado verbal

Alguns teóricos propuseram uma análise desde o semantema (ou radical) dos verbos até a composição desses com seus argumentos internos e adjuntos adverbiais. Isso significa que as noções aspectuais estariam codificadas no radical verbal ou seriam ora modificadas ora reforçadas, dependendo da natureza dos adjuntos e complementos verbais.

Cada verbo ou predicado apresentaria características intrínsecas, o que o agruparia em uma classe acional ou classe aspectual verbal, conforme detalharemos adiante. Utilizamos os dois termos em itálico considerando a proposta de teóricos que defendem a separação do domínio aspectual do domínio acional.

Basso (2007), por exemplo, defende que as noções aspectuais dizem respeito às maneiras pelas quais um evento é apresentado, podendo estar ou não acabado: o aspecto perfectivo apresenta um evento como acabado, como não mais em curso, e o imperfectivo como ainda em curso ou simplesmente não acabado.

O domínio acional (ou Aktionsarten), ao contrário, se refere às noções de duratividade, telicidade e estatividade. Basso (2007) distingue aspecto de acionalidade argumentando que eventos de qualquer classe acional podem ser apresentados em qualquer classe aspectual. Como em:

(3) a. João nadou (atividade no perfectivo) ontem

b. João nadava (atividade no imperfectivo) na infância.

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verbal: accomplishment (processo culminado); achievement (culminação); activities (atividade); e states (estados). Esse autor indica que essas categorias se dividem em função de três traços: dinamicidade, duratividade e telicidade. A noção de dinamicidade se refere à possibilidade do evento estar constituído por várias fases ou somente uma, se é heterogêneo ou homogêneo. Comparemos os seguintes verbos em (4):

(4) a. Amar. b. Cozinhar.

Se compararmos os dois, poderemos perceber que a situação cozinhar envolve etapas, fases no seu desenvolvimento. Já verbos como amar não são vistos em fases, mas de uma forma homogênea, inclusive por sua natureza psicológica.

Para entender a noção de duratividade, comparemos os verbos em (5): (5) a. Saltar

b. Costurar.

A ação de saltar se dá exatamente no ato do movimento de elevar o corpo acima do chão e de forma rápida. Mas cozinhar envolve mais períodos de tempo para que ação ocorra. A duração, portanto, diz respeito ao fato de uma situação se prolongar por um certo período de tempo ou não.

Por fim, a telicidade é um valor que se refere ao ponto final de uma ação qualquer. Vejamos:

(6) a. Correr.

b. Correr uma maratona.

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Esses traços definem uma grande sistematização dos predicados verbais. Sendo assim, apresentamos no quadro abaixo a distribuição dos traços de cada classe acional conforme a proposta vendleriana:

Dinamicidade Telicidade Duratividade

Estado: amar - - +

Atividade: correr + - +

Processo Culminado: correr uma maratona

+ + +

Culminação: saltar + + -

Quadro 1 – Classificação vendleriana

Os verbos de Estado, segundo o quadro acima, são [- dinâmicos] e [- télicos] por não indicarem nem fases na sua composição nem um ponto visível para o término da ação. Mas são [+ durativos], devido a sua natureza homogênea e indefinida. Por não apresentarem essas delimitações, são marcados positivamente nesse traço.

Os verbos de Atividade e de Processo culminado compartilham a marcação positiva em relação à duratividade e à dinamicidade. Obviamente, por envolverem etapas em seu desenvolvimento e por necessitarem de períodos de tempo mais alargados para ocorrerem. Distinguem-se quanto ao traço de telicidade.

Os eventos com verbos de atividade são considerados [- télicos] por não terem sua delimitação sinalizada, não importa quanto tempo durem as mesmas. Já eventos com verbos de processos culminado necessitam da expressão desse ponto final ou de culminância do evento. Como já vimos, as Atividades cessam mas não param.

Finalmente, o que diferencia todos os tipos de predicado daqueles com verbos de culminação é o traço de duração. Essa categoria é considerada [- durativa]. Isso se deve ao seu caráter instantâneo, pois esses eventos terminam no momento e que começam. Isso significa que sua delimitação inicial e final coincidem.

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É o caso de Smith (1991). Para a autora, a significação aspectual demanda informações de dois componentes também de mesma natureza: o aspecto do tipo de situação (type of situation aspect) e o aspecto de ponto de vista (viewpoint aspect). O primeiro é expresso pela composição VERBO + ARGUMENTOS + ADVÉRBIOS ao passo que o segundo por morfemas flexionais ou gramaticais.

Ao tratar do tipo de situação, Smith (op.cit) também propõe sua classificação. Cada composição apresenta um traço de dinamicidade, duração ou telicidade marcado positivamente ou negativamente, assim como observamos em Vendler (1967). Interessante é a revisão feita pela autora desses três conceitos.

A mesma compreende que há verbos estativos e eventivos. Consideremos os exemplos da própria teórica em (7):

(7) a. Estar em Atenas b. Construir uma casa

Em (7a), a estada em Atenas não enseja períodos de tempo diferenciados nem um ponto final intrínseco. Essas são características básicas dos predicados estativos. Entretanto, seu traço principal, que o contrapõe aos predicados eventivos, é a marcação [- dinamicidade]. Os eventos são [+ dinâmicos] pelo fato de demandarem agentividade, uma mudança de estado, mudanças de etapas ou fases até o seu fim, como é o caso de (7b).

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Smith (1991), se o traço de [+ dinamicidade] implica numa mudança de estado, uma informação a mais é interessante sobre o traço de telicidade, até então não tratado. Pensar assim, significa que, além de demonstrar que um evento pode ter ou não um ponto final intrínseco, o evento [+ télico] envolve o alcance de uma meta, desde a etapa inicial até sua última. O alcance dessa meta implica na completude do evento e numa posterior mudança de estado.

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Dinamicidade Telicidade Duração

Estado: estar em Atenas - - +

Atividade: caminhar no parque

+ - +

Processo Culminado: construir uma casa

+ + +

Semelfactivo: bater à porta / tossir

+ - -

Culminação: ganhar a corrida

+ + -

Entender a telicidade da forma como explicamos antes, implica numa revisão das categorias de predicação verbal. É perceptível a presença de um tipo de situação não citado antes e Vendler (1967): os semelfactivos. Enquanto é mantida a mesma distribuição de traços feita por esse autor nos verbos de estado, atividade, processo culminado e culminação, os semelfactivos, em Smith (1991), são descritos como eventos instantâneos como os de culminação.

O que distingue os dois tipos de situação é o seu traço de telicidade. Os semelfactivos são [- télicos], diferentemente desse último tipo citado. Vejamos o exemplo abaixo:

(8) Bater à porta

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2.2.2 Nível de Análise II – A flexão e a informação aspectual

Nesta subseção, trataremos de outro nível de análise, o das propostas que visam a dar conta da combinação dos verbos com a flexão verbal e os verbos auxiliares, o que configura o chamado aspecto gramatical, conforme Comrie (1976) ou aspecto do ponto de vista, conforme Smith (1991).

Comecemos retomando a definição de aspecto utilizada aqui, aquela estabelecida por Comrie (1976): “aspecto são as diferentes maneiras de enxergar a constituição temporal interna de uma situação” (p.3). Com o fim de tornar mais clara essa definição, retomamos também dois exemplos do inglês utilizados pelo próprio autor:

(9) He was reading. Ele estava lendo. (10) He read. Ele leu / lia5

A significação de uma situação, seja estativa ou eventiva, depende também da flexão. Observamos, no inglês, que o auxiliar was e a forma irregular do verbo to read ensejam o tempo flexional pretérito. Apesar da leitura temporal ser a mesma, o desenvolvimento das duas ações se dá de forma distinta.

A sentença (1) se refere a uma ação que está em curso em algum momento do passado. Já a sentença (2) pode ter duas leituras dependendo do contexto. Por um lado, expressa uma ação que começou e terminou num ponto desconhecido do passado (ele leu). Por outro, pode ensejar uma ação durativa no passado que se dava habitualmente (ele lia). Esses traços de início e término, acabado ou não-acabado, etc se inserem no domínio aspectual e não no temporal como já foi explicitado anteriormente.

A partir disso, Comrie (op.cit) estabelece também classes aspectuais básicas, ou aspectos básicos, de acordo com a morfologia flexional. Veja-se no esquema abaixo:

5 Como em inglês, há uma forma verbal que pode ensejar tanto a leitura temporal com o pretérito

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Figura 1 - Oposições aspectuais6

Conforme o exposto no parágrafo acima, o aspecto relacionado à natureza da morfologia agregada ao verbo é chamado gramatical. Pudemos observar que o inglês, assim como o PB e o espanhol, possui flexões verbais capazes de carregar informações aspectuais e temporais simultaneamente. Vejamos alguns exemplos a seguir a fim de compreender essa questão, no PB e no espanhol respectivamente:

(11) Marta fez suas tarefas. (12) Marta hizo sus tareas. (13) Marta fazia suas tarefas. (14) Marta hacía sus tareas.

(15) Marta está / estava fazendo suas tarefas (16) Marta está / estaba haciendo sus tareas. (17) Marta faz suas tarefas.

(18) Marta hace sus tareas.

As orações em (11) e (12) têm como núcleo uma flexão pretérito perfeito simples. Essa marca morfológica expressa o aspecto perfectivo. O mesmo enseja uma interpretação de uma situação, seja estativa ou eventiva, vista como um todo único, sem enfocar as partes que a constituem ou as várias instâncias em que a situação ocorre.

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As sentenças (13) e (14), por sua vez, indicam o imperfectivo com marca de habitualidade, que pode ser expresso nas duas línguas pela morfologia de pretérito imperfeito. O imperfectivo, em si, está relacionado à estrutura temporal interna de uma situação, vendo-a de dentro. Isso significa que, na sua interpretação, há espaço para suas fases desenvolvimento. E o habitual seria a sucessiva recorrência de várias instâncias de uma dada situação durante todo um período de tempo.

No par (15 – 16), temos formas de expressão de imperfectivo durativo ou contínuo, tanto com a flexão de presente quanto com a de passado. A duratividade descreve uma situação que é característica de um determinado período de tempo. A diferença entre (15 – 16) e (17 – 18), a partir da explicação de Comrie (1976), estaria na morfologia, ou seja, no fato de haver um indicador expresso de progressividade no primeiro par e nas duas últimas não. O progressivo seria indicado pela partícula -ndo no PB e por -(y)iendo / -ndo7 em espanhol.

Smith (1991), por outro lado, apresenta o aspecto de ponto de vista ou viewpoint aspect. A classificação é semelhante; mas não tão detalhista e esquematizada visualmente como em Comrie (1976). A primeira autora defende que o ponto de vista está codificado na morfologia gramatical. Mas ao invés de dois aspectos somente, Smith (1991) propõe três categorias:

- o perfectivo: designa uma situação que é vista como um todo fechado, focando ou o início ou o fim de uma ação.

- o imperfectivo: indica uma situação que é vista por partes ou estágios, sem informação sobre seu início ou fim.

- o neutro: envolve uma ação que foca seu ponto inicial e pelo menos um dos estágios de desenvolvimento da mesma.

Com exemplos do inglês, a autora demonstra como podem ser expressos esses aspectos nessa língua:

(19) The King reigned for thirty years. (20) O rei governou por trinta anos. (21) The sea was calm.

(22) O mar estava calmo.

(23) John will sing when Mary will enter the office.

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TABELA 1  –  TIPO DE IMPERFECTIVO x FORMA DE IMPERFECTIVO  (IMPERFECTO; PASSADO PROGRESSIVO)
TABELA 3  –  TIPO DE IMPERFECTIVO x TIPO DE COMPLEMENTO  S/ PROJEÇÃO DE  COMPLEMENTO  (%)  TÉLICO (%)  ATÉLICO (%)  HABITUAL  180  74,7  31  68,9  51  73,9  CONTÍNUO  61  25,3  14  31,1  18  26,1  TOTAIS  241  100  45  100  69  100
TABELA 4  –  TIPO DE IMPERFECTIVO x TIPO DE EXPRESSÃO  ADVERBIAL DE TEMPO (EAT)
TABELA 5  –  TIPO DE IMPERFECTIVO x TIPO DE SUJEITO  AGENTIVO (%)  NÃO AGENTIVO (%)
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