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Contextualização da Importância e da Vulnerabilidade das Zonas Costeiras

CAPÍTULO 2 – EROSÃO COSTEIRA

2.2 Contextualização da Importância e da Vulnerabilidade das Zonas Costeiras

zonas costeiras é notória em diversos contextos, sobretudo político, social, económico e ambiental. Segundo a Resolução do Conselho de Ministros nº 82/2009 (PCM, 2009), que aprovou a Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira - ENGIZC, as zonas costeiras assumem uma importância estratégica em termos ambientais, económicos, sociais e culturais para o desenvolvimento nacional.

Conforme Fabbri (1998), as zonas costeiras podem ser caracterizadas como um sistema, ou sistema múltiplo, em que os agentes (naturais e antrópicos) interagem com subsistemas naturais e socioeconómicos, originando impactos positivos e negativos (ambientais, sociais, culturais, económicos). O autor ressalta que as zonas costeiras representam um dos contextos mais importantes onde a atividade humana, a ecologia, a economia e a geomorfologia interagem. Note-se que os principais recursos costeiros poderão incluir terra, florestas, águas costeiras e zonas húmidas, areia, minerais, hidrocarbonetos e organismos vivos marinhos. Concomitantemente, Brambati (2004) adverte para a diversidade de recursos renováveis e não-renováveis que podemos usufruir nas zonas costeiras, recursos minerais, energéticos, piscatórios, agrícolas, recreativos e turísticos. Para Hoyos et al. (2012), a costa é um recurso natural apreciado pelos seres humanos devido aos seus valores ecológicos, culturais, sociais e económicos.

De acordo com Veloso-Gomes (2007), em Portugal, a zona costeira tem determinadas particularidades como os estuários, sistemas lagunares, dunas, arribas, praias, meio hídrico marinho e sistemas insulares. A costa portuguesa é constituída principalmente por áreas arenosas compostas por grande número de praias, existindo ainda zonas rochosas e penhascos (Rosa-Santos et al., 2009). Estas caraterísticas biofísicas da zona costeira portuguesa, no entender de Veloso-Gomes (2007) são

15 aproveitadas por diversas ocupações, usos e atividades económicas, tais como, infraestruturas portuárias, transportes marítimos, turismo, atividades balneares e de lazer, náutica de recreio, pesca, aquacultura, salicultura e utilização de recursos minerais e energéticos.

As zonas costeiras, não obstante conterem recursos extremamente essenciais, são afetadas por vários problemas, onde se insere a erosão costeira. Um dos principais problemas ambientais que tem suscitado preocupação é a degradação das zonas costeiras. A crescente proeminência social e política inerente à degradação da costa tem sido evidente, na Europa, em geral, e em Portugal, em particular.

As zonas costeiras estão sujeitas a um conjunto de riscos de diversas origens, que segundo Brambati (2004), por norma, têm causas naturais (aumento do nível das águas do mar; movimentos tectónicos; entradas de maré, que perturbam o normal funcionamento da deriva litoral; sedimentação, que reduz a profundidade operacional de navegação) e antrópicas (construção de estruturas; poluição subjacente a resíduos industriais, esgotos, derrames de petróleo; atividades inerentes ao turismo). O turismo, embora possa estar associado a efeitos positivos de natureza ambiental (conservação e consciência ambiental), acarreta alguns constrangimentos no que concerne à degradação de recursos. Por sua vez, na Estratégia Nacional para a Gestão Integrada da Zona Costeira - ENGIZC (PCM, 2009) são reconhecidos como principais problemas que emergem na zona costeira, a diminuição do fornecimento de sedimentos à costa; a ação humana; a desregulação do funcionamento natural dos sistemas e ecossistemas costeiros; a ocorrência de maremotos; a perda de biodiversidade; a perda de atratividade (devido a artificialização de vários troços); a poluição das águas do mar e das praias; declínio das atividades económicas e a erosão costeira.

A erosão costeira é um dos problemas que atinge grande parte da zona costeira portuguesa, sendo que aproximadamente 25% da costa continental portuguesa é afetada por erosão intensa e existindo um risco potencial de perda de território em cerca de 67% da orla costeira (MAOTE, 2014). As taxas de recuo da costa poderão alcançar os 20m/ano, de acordo com a ENGIZC (PCM, 2009). Em 2004, a Comissão Europeia revelava, no âmbito do projeto EUROSION, Portugal como um dos países da União Europeia que mais sofria com a erosão costeira, ocupando o quarto lugar dos 18 países da União Europeia com maior erosão (CE, 2004a).

16 Por erosão costeira entende-se o avanço do mar sobre a terra, que é medido em termos médio ao longo de um período suficientemente longo, de forma a eliminar os impactos do clima, das tempestades e dos movimentos locais de transporte sedimentar (CE, 2006).

Os processos de erosão costeira resultam, em grande parte, de conflitos entre ações naturais e atividades antrópicas. Embora as causas nem sempre sejam claras, segundo Coelho et al. (2009) a erosão resulta quer da dinâmica natural das zonas costeiras e das alterações climáticas, quer de influências humanas, como intervenções costeiras e ocupação do litoral.

Podemos enumerar vários fatores que podem causar erosão costeira e consequente recuo da linha da costa (CE, 2004b; Coelho et al., 2009; Dias, 1993; Dias, 2005; Faria, 2012; PCM, 2009):

1) Dinâmica natural das zonas costeiras.

2) Subida do nível médio das águas do mar (alterações climáticas). 3) Vento, tempestades e correntes junto à costa.

4) Enfraquecimento e supressão das principais fontes aluvionares naturais. Esta diminuição de sedimentos fornecidos ao litoral relaciona-se com atividades antrópicas, tais como (Dias, 1993):

- Aproveitamento hidroelétrico (barragens); - Obras de regularização dos cursos de água;

- Exploração/extração de inertes nos rios, nas zonas estuarinas, nos campos dunares e nas praias;

- Dragagens;

- Obras portuárias e obras de engenharia costeira. 5) Utilização e ocupação exagerada da faixa litoral.

6) Fragilização ou degradação das estruturas naturais. Este fator está deveras relacionado com o anterior. De acordo com Faria (2012) as estruturas naturais impõem-se como as melhores defesas contra as ações do mar e segundo Dias (1993), a destruição destas estruturas, por norma antropogénica, deve-se principalmente a:

- Pisoteio das dunas (destruição do coberto vegetal, aparecimento de cortes eólicos e galgamentos oceânicos);

17 - Estradas improvisadas e a construção de edifícios no topo de arribas;

- Exploração de areias.

7) Obras pesadas de engenharia costeira.

Segundo o Grupo de Trabalho do Litoral (GTL)1, criado em 2014 (Santos et al.,

2014b), o principal problema de sustentabilidade da zona costeira portuguesa é a erosão, que associada ao aumento da ocupação da costa, revela-se um risco para os sistemas humanos e para a degradação e perda de sistemas naturais. Para o GTL, o risco associado à erosão costeira é realmente maior quando há ocupação por parte do Homem de troços vulneráveis e pode tornar-se deveras elevado onde essa ocupação é indevida ou consequente de mau ordenamento do território.

Os principais impactos que a erosão costeira implica podem ser de tipo económico, ambiental e social, entre outros, podendo aumentar a sensibilidade das zonas costeiras e diminuir a sua atratividade. CE (2004a) enumera três tipos de impactos (ou riscos): perda de terrenos com valor económico ou ecológico (tais como praias, estuários, propriedades); destruição das defesas naturais (por norma destruição dos sistemas dunares) e a deterioração das defesas costeiras artificiais, eventualmente originando inundações. Em zonas de recreação balnear, Huang et al. (2007) referem como impactos negativos associados à erosão a perda de: zonas recreativas, negócios turísticos, propriedades em frente ao mar, zonas de aquacultura e habitats de vida selvagem. No entender de Roca et al. (2008), a erosão costeira afeta o desenvolvimento económico e social, não permitindo a realização de algumas atividades e comprometendo a capacidade de oferta dos ecossistemas costeiros de serviços biofísicos e não monetários (proteção do solo, conservação da biodiversidade, fornecimento de recursos naturais, integração de paisagens). No contexto da costa portuguesa, Alves et al. (2009) e Roebeling et al. (2011), salientam a perda de serviços ecossistémicos devido à erosão costeira. Alves et al. (2009) concluíram que, até 2058, estima-se perder, anualmente, cerca de 25% do valor dos serviços ecossistémicos costeiros, devido à erosão, na costa central. Igualmente na zona centro, Maia et al. (2015) revelam que, de 1958 a 2010, o recuo médio da linha foi de 3,5 m/ano. Caso as condições hidrodinâmicas não se alterarem, em 2020 espera-se um recuo de 30m da linha, que

1 Os estragos causados por fortes temporais levaram o Gabinete do Secretário de Estado do Ambiente a

reconhecer intervenções de emergência e a criar um Grupo de Trabalho para o Litoral, no sentido de se desenvolver uma reflexão profunda e abrangente sobre a gestão da zona costeira portuguesa (MAOTE, 2014).

18 representa uma perda de 7ha de área semi-natural, admitindo que as áreas edificadas continuam a ser protegidas.