• Nenhum resultado encontrado

3 Dispensa Coletiva: Conceito, Direito Comparado e Contextualização do Caso

3.3 Contextualização do Caso Embraer

No dia 19 de fevereiro de 2009, foi noticiada a dispensa coletiva de mais de 4.000 empregados da Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. - Embraer, terceira maior empresa de seu setor no mundo, sob o fundamento de uma necessária redução de custos por conta da retração do mercado mundial, em especial o mercado norte americano, seu principal consumidor.55

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, o Sindicato dos Metalúrgicos de Botucatu e a Federação de Metalúrgicos de São Paulo instauraram, então, dissídio coletivo de natureza jurídica com pedido de liminar contra a Embraer e a ELEB Embraer Ltda.56 perante o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região – Campinas, objetivando, a anulação das dispensas ocorridas e a reintegração dos empregados dispensados aos quadros da empresa.

Os autores requereram a concessão de medida liminar, de modo que fosse determinada a suspensão cautelar das rescisões contratuais e, ao fim do processo, a declaração de nulidade das dispensas coletivas efetivadas sem observância da necessária negociação prévia com os sindicatos.

O Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região concedeu a liminar, determinando a suspensão das rescisões contratuais operadas pela suscitada desde o dia 19/02/2009, sem justa causa ou sob o fundamento de dificuldades financeiras decorrentes da crise econômica global, assim como as que viessem a ocorrer sob igual forma ou justificativa, até a data de 05/03/2009, momento em que seria realizada a

54

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo. n. 0030900- 12.2009.5.15.000. Relator: Min. Mauricio Godinho Delgado. Plenário. Data do julgamento: 10/08/2009. DEJT: 04/09/2009.

55

DOMINGUES, Pablo Sá. Crise econômica, dispensa coletiva & preservação de empregos. 2010. Monografia (Graduação em Direito) – Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, 2010.

56 BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. 15ª Região. Dissídio Coletivo. n. 00309-2009-000-15-00-

4/Campinas. Relator: Des. José Antonio Pancotti. Plenário. Data do julgamento: 13/03/2009. DOESP: 30/03/2009.

audiência de conciliação entre empregados e empregador.

Aduziram os sindicatos, ao ajuizarem o referido dissídio, que a conduta da Embraer e da ELEB, ao proclamarem o ato de dispensa em caráter coletivo, revestiu-se de ilegalidade e abusividade. Isso porque, não teriam sido observados tanto princípios democráticos da relação de trabalho no mundo contemporâneo quanto o direito à informação e à boa-fé que a regem, bem como normas internacionais da Organização Internacional do Trabalho – Convenção n. 98 e Recomendações 94 e 163 – que ressaltam o dever de transparência nas negociações coletivas entre os representantes das categorias e o empregador, forma pela qual a Embraer deveria primeiramente optar, buscando melhores soluções para as partes antes de tomar a decisão de efetuar o desligamento em massa de empregados.57

Alegaram, ainda, os suscitantes, violações a dispositivos constitucionais tais como dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (CF, art. 1º, III e IV), do acesso à informação (CF, art. 5º, XIV), do reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho (CF, art. 7º, XXVI), da representação sindical e da participação obrigatória dos sindicatos nas negociações (CF, art. 8º, III e VI), sugerindo ainda as disposições no direito comparado sobre o tema, que poderiam ser integradas ao nosso ordenamento jurídico.

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção de Aeronaves, Equipamentos Gerais Aeroespacial, Aeropeças, Montagem e Reparação de Aeronaves e Instrumentos Aeroespacial do Estado de São Paulo – SINDIAEROESPACIAL requereu o ingresso na lide na qualidade de litisconsorte necessário ou assistente, o que foi deferido, para participar da audiência de conciliação.

Vale destacar ainda que o Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região rejeitou o pedido de amicus curiae da Associação Brasileira de Defesa dos Direitos e Garantias Fundamentais do Cidadão – ABRAC, que pretendia a anulação do ato demissivo em massa e pugnando pela defesa do contraditório e pelo princípio da unidade constitucional como modo de hermenêutica fundamental. Além disso, a ABRAC postulou pela reintegração de todos os empregados dispensados, sem prejuízo de outras demissões, desde que os trabalhadores sejam avisados previamente, de forma

57

DOMINGUES, Pablo Sá. Crise econômica, dispensa coletiva & preservação de empregos. 2010. Monografia (Graduação em Direito) – Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, 2010.

que os permita o acesso a informação e a reunião para reagirem contra o ato de dispensa.

A Embraer fundamentou suas razões no direito potestativo de demitir do empregador e na ausência de legislação complementar que discipline a disposição constitucional presente no art. 7º, I, que veda a dispensa arbitrária.

Como matéria principal, foi arguida a limitação do Poder Normativo, pois este não é capaz de criar normas disciplinadoras da dispensa coletiva e reverter as demissões ocorridas, e que, conforme jurisprudência do STF, não se pode admitir a instituição de cláusulas que se sobreponham à legislação, pois a matéria discutida nos autos é exclusivamente de domínio de lei.

Quanto à regularidade das demissões, a Embraer reporta-se à ausência de legislação que discipline a dispensa arbitrária vedada pela Constituição Federal, já dito anteriormente, bem como a já comentada denúncia pelo Estado Brasileiro da Convenção nº 158, OIT, assim, não sendo o empregador obrigado a justificar a resilição do contrato de trabalho e tão somente devendo adimplir com a obrigação indenizatória correspondente aos 40% sobre os depósitos do FGTS. 58

Em outras palavras, ter como condição para a dispensa em massa de empregados a negociação coletiva prévia, estaria atribuindo ao poder normativo da Justiça do Trabalho tarefa que o Texto de 1988 reserva a lei complementar, invadindo a esfera de competência do Poder Legislativo.

Ainda no tocante à negociação coletiva prévia, a Embraer afirmou que procedeu diligentemente quanto à dignidade dos trabalhadores, avisando previamente sobre os resultados de venda da empresa, concedendo benefícios e observando critérios flexíveis quando da demissão. Aduz que o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos sempre adotou posição muito rígida quanto à flexibilização das normas trabalhistas via negociação coletiva, sob o argumento de que a empresa estaria violando normas da CLT, da Constituição Federal e normas internacionais sobre sindicalização e a própria negociação coletiva. Sustenta a Embraer, por fim, que as disposições do art. 114, §2º, da CF/88, e art. 616 da CLT não constituem o dever de negociar como requisito para a validade da dispensa coletiva, não podendo ser declarada, portanto, sua

58

DOMINGUES, Pablo Sá. Crise econômica, dispensa coletiva & preservação de empregos. 2010. Monografia (Graduação em Direito) – Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, 2010.

nulidade.59

Destaca-se que a decisão proferida pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região contemplou as disposições do direito comparado, considerando países como França, Portugal, Argentina, México, Espanha e União Europeia, conjugadas à Convenção 158 da OIT que, no Brasil, fora denunciada para julgar o caso e aplicar o direito pertinente.

De suma relevância, necessário destacar o fato de que apesar de ter sido deferida liminar nos autos da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.480-3 de 04.07.97, movida pela Confederação Nacional dos Transportes, pretendendo declarar a inconformidade da Convenção 158 da OIT com nossa Constituição Federal, o relator do presente caso entendeu que decisão do STF reconheceu o conteúdo programático desta Convenção:

Não se desconhece que, acerca da Convenção nº. 158 da OIT, o ato de denúncia encontra-se sub judice. E que Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.480-3 de 04.07.97, movida pela Confederação Nacional dos Transportes, teve deferida em parte a liminar ao fundamento de que a convenção não é sucedâneo de lei complementar exigida pelo art. 7º da CF/88. Entretanto, a decisão do Supremo Tribunal Federal reconheceu o conteúdo programático da Convenção nº. 158, o que não impede que seus comandos sejam interpretados como princípios gerais de direito do trabalho, conforme a doutrina da normatividade dos princípios jurídicos, acima examinada.60

Foi então julgado condenável o modo como a demissão coletiva foi conduzida e efetivada, ao passo que o empregador em nenhum momento buscou minorar seus efeitos, sua repercussão na vida do trabalhador, procedendo a negociação prévia, exceto quando deferida liminar em favor dos suscitante.61

Nestes termos, o relator declarou, além da abusividade do ato demissional: Por tais fundamentos e, ainda, com fulcro no art. 422 do Código Civil de 2002, declaro:

a) a abusividade do procedimento das suscitadas ao praticar a dispensa coletiva, sem nenhuma negociação coletiva prévia com as entidades sindicais, nem instituição de programa de demissão voluntária incentivada;

59

DOMINGUES, Pablo Sá. Crise econômica, dispensa coletiva & preservação de empregos. 2010. Monografia (Graduação em Direito) – Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, 2010.

60

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. 15ª Região. Dissídio Coletivo. n. 00309-2009-000-15-00- 4/Campinas. Relator: Des. José Antonio Pancotti. Plenário. Data do julgamento: 13/03/2009. DOESP: 30/03/2009.

61

b) a inexistência de garantia de emprego ou de estabilidade que justifique a reintegração, ressalvados os casos de estabilidade provisória previstos em lei ou em normas coletivas, que poderão ser objeto dissídios individuais; c) o direito de cada empregado demitido a uma compensação financeira de dois valores correspondentes a um mês de aviso prévio, até o limite de sete mil reais;

d) a eficácia da liminar concedida até o dia 13.03.2009, para manter vigente até esta data os contratos de trabalho em todos os seus efeitos;

e) a manutenção dos planos de assistência médica aos trabalhadores demitidos e seus familiares por doze meses a contar de 13.03.2009;

f) nos casos de reativação dos postos de trabalho, de acordo com as necessidades da empresa, preferência na seleção dos empregados despedidos que se apresentem e preencham as qualificações exigidas pelos cargos disponíveis, mantida durante dois anos.62

Por conta da manutenção dos contratos de trabalho pelos motivos expostos a Embraer interpôs recurso ao TST pleiteando o efeito suspensivo da decisão proferida pelo TRT de Campinas, passando a ter a permissão judicial para as demissões realizadas revestidas de legalidade.

Em estudo sobre o caso, Pablo Sá Domingues descreve:

O TST concedeu tal efeito suspensivo sustentando que a decisão do juízo a quo era equivocada. Fundamentou afirmando que nem a Constituição Federal nem nenhum outro diploma legal obrigam a Embraer a negociar com o sindicato profissional a dispensa dos trabalhadores. E mais, reafirmou que a Embraer está autorizada a exercer seu direito potestativo de rescindir os contratos de trabalho imotivadamente, obedecendo as leis vigentes e pagando verbas indenizatórias no valor de R$ 50 milhões (cinquenta milhões) com base no cenário fático de crise financeira mundial em que todos os segmentos de mercado sofrem, especialmente o qual atua a Embraer, como noticiado por todos os meios de comunicação, sendo esta justificativa mais do que clara e inquestionável.

Passados 4 meses o TST, em 10 de agosto de 2009 com relatoria do ilustre Ministro Mauricio Godinho – sendo vencido -, julgou o mérito do processo, por decisão da maioria de 7 a 2, para declarar a não abusividade do ato demissional da Embraer, reiterando o que foi afirmado em sede de liminar. Ainda, pelos votos de 5 contra 4, os Ministros estabeleceram que daquele momento em diante há a necessidade de negociação com sindicatos profissionais antes da comunicação da dispensa. Entretanto, a decisão em seus fundamentos confirma que o fato da Embraer apenas ter realizado negociações após a demissão em massa ter ocorrido não caracteriza abusividade, pois a empresa concedeu benefícios não previstos em lei, como a prorrogação do plano de saúde dos trabalhadores por um ano a contar da dispensa e uma indenização adicional de acordo com o tempo de casa de cada trabalhador. Além disso, na decisão os ilustres Ministros afirmam não existir nenhum óbice legal à dispensa coletiva no ordenamento brasileiro. E por fim, o Tribunal em sua decisão afastou a prorrogação dos contratos de trabalho até 13 de março – data da em que houve tentativa de conciliação

62

BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho. 15ª Região. Dissídio Coletivo. n. 00309-2009-000-15-00- 4/Campinas. Relator: Des. José Antonio Pancotti. Plenário. Data do julgamento: 13/03/2009. DOESP: 30/03/2009.

pelas partes e audiência no TRT de Campinas – para tão somente a data de 19 de fevereiro, o que repercute nas diferenças salariais dos trabalhadores.63 Vê-se, portanto, que a Seção Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, no julgamento do Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo nº TST-RODC-309/2009-000-15-00.4, assentou a necessidade de prévia negociação coletiva com o sindicato obreiro para a dispensa em massa dos empregados. Apontou diferenças entre a despedida individual e a coletiva, porquanto esta exigiria a aplicação de normas específicas.

Concluiu, desse modo, pela impossibilidade do exercício unilateral pelo empregador da dispensa coletiva, que, por integrar o ramo do direito coletivo do trabalho, não constitui um direito potestativo, demandando a participação do sindicato dos trabalhadores, com o papel de representá-los e defender os respectivos interesses perante a empresa.

Em caso de impossibilidade de haver negociação coletiva, afirmou ser cabível o processo judicial de dissídio coletivo, com o papel de regular os efeitos pertinentes. Destacou-se que a distinção normativa entre as aludidas formas de despedida decorreria da imposição dos artigos 1º, incisos III e IV, 5º, inciso XXIII, 6º, 8º, incisos III e VI, e 170, incisos III e VIII, da Constituição Federal. Ainda, consignou ser o artigo 7º, inciso I, do Diploma Maior norma de eficácia contida, de modo que a inércia do legislador em regulamentar as consequências previstas no caso de dispensa coletiva não poderia impedir a aplicação do referido dispositivo a estas. 64

Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, Sindicato dos Metalúrgicos de Botucatu e Federação dos Metalúrgicos de São Paulo, Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A – Embraer e Eleb Equipamentos Ltda interpuseram recursos extraordinários contra a referida decisão.

Na peça recursal dos empregadores, protocolado com alegada base na alínea

“a” do permissivo constitucional, a Empresa Brasileira de Aeronáutica S/A – Embraer e

Eleb Equipamentos Ltda. arguem transgressão aos artigos 1º, inciso IV, 2°, 3º, inciso I,

63

DOMINGUES, Pablo Sá. Crise econômica, dispensa coletiva & preservação de empregos. 2010. Monografia (Graduação em Direito) – Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, 2010.

64

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário Com Agravo 647.651 São Paulo. Relator: Min. Marco Aurélio. Plenário. Data do julgamento: 01/08/2012. DJE: 02/05/2013.

5º, inciso II, 7º, inciso I, 114 e 170, inciso II e parágrafo único, da Carta Federal de 1988 e 10, inciso I, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Alegaram que o Tribunal de origem, ao estabelecer como condição para a dispensa em massa de empregados a negociação coletiva prévia, estaria atribuindo ao poder normativo da Justiça do Trabalho tarefa que o Texto de 1988 reserva a lei complementar, invadindo a esfera de competência do Poder Legislativo. Sustentaram, ainda, estar a sobrevivência das empresas em crise ameaçada, ante a interferência indevida no poder de gestão do empregador, bem como a violação aos princípios da livre iniciativa. Ressaltam haver precedente do Supremo em que se inadmitiu a regulamentação pela Justiça do Trabalho sobre matéria reservada a lei pela Constituição Federal. Articulam com a aplicação do inciso I do artigo 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias à hipótese discutida no processo, enquanto não editada a lei complementar versada no inciso I do artigo 7º da Carta da República, prevendo o primeiro dispositivo formas de reparação ao trabalhador dispensado, seja individual ou coletivamente.65

Para demonstrar a existência da repercussão geral, requisito específico da referida peça recursal, afirmam ultrapassar o tema o interesse subjetivo das partes, mostrando-se relevante do ponto de vista econômico, político, social e jurídico por tratar de assunto parâmetro para outros casos que abrangem atividades econômicas.

Em despacho datado de 01º de agosto de 2012, o Ministro Marco Aurélio se pronunciou pela existência de repercussão geral no caso, sendo este o último movimento processual relevante até o fechamento deste trabalho.66

Este é o breve resumo do emblemático Caso Embraer, que hoje tramita no Supremo Tribunal Federal sob o n.º ARE 647.651 RG / SP, sendo que o principal questionamento está na constitucionalidade da necessidade de negociação coletiva prévia para a ocorrência da dispensa coletiva, objeto central deste estudo.

65

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário Com Agravo 647.651 São Paulo. Relator: Min. Marco Aurélio. Plenário. Data do julgamento: 01/08/2012. DJE: 02/05/2013.

66

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Repercussão Geral no Recurso Extraordinário Com Agravo 647.651 São Paulo. Relator: Min. Marco Aurélio. Plenário. Data do julgamento: 01/08/2012. DJE: 02/05/2013.

4 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL DA PREMISSA ESTABELECIDA NO JULGAMENTO DO CASO EMBRAER: A NEGOCIAÇÃO COLETIVA É

IMPRESCINDÍVEL PARA A DISPENSA EM MASSA DE

TRABALHADORES

Conforme destacado no Capítulo anterior, no emblemático julgamento do Caso Embraer, o Tribunal Superior do Trabalho entendeu que na vigência atual Constituição da República, das convenções internacionais da OIT ratificadas pelo Brasil relativas a direitos humanos e, por consequência, direitos trabalhistas, associada a uma leitura atualizada da legislação infraconstitucional do país, chega-se à conclusão da presença de um Estado Democrático de Direito no Brasil, de um regime de império da norma jurídica, de uma sociedade civilizada, de uma cultura de bem-estar social e respeito à dignidade dos seres humanos, tudo repelindo as dispensas em massas de trabalhadores, abalando toda a coletividade de uma região.

Assim, a Seção Especializada em Dissídios Coletivos do Tribunal Superior do Trabalho, no julgamento do Recurso Ordinário em Dissídio Coletivo nº TST-RODC- 309/2009-000-15-00.4, assentou a necessidade de prévia negociação coletiva com o sindicato obreiro para a dispensa em massa dos empregados. Apontou diferenças entre a despedida individual e a coletiva, porquanto esta exigiria a aplicação de normas específicas.67

Ocorre que esta não é a posição adotada por todos os tribunais trabalhistas, variando o entendimento quanto à imprescindibilidade da negociação coletiva prévia de acordo com o Tribunal Regional do Trabalho que analise o caso concreto.

A discussão gira em torno, basicamente, em saber se as dispensas massivas são, ou não, regidas do mesmo modo normativo do que as dispensas meramente individuais, além de saber se, ante a omissão legislativa quanto ao tema, a negociação coletiva prévia pode ser exigida.

Documentos relacionados