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8. ETNO HISTORIA E ARQUEOLOGIA REGIONAL

8.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ETNO-HISTÓRICA DA ÁREA DE ESTUDO

A Etno-história refere-se ao estudo de populações indígenas pretéritas a partir do levantamento e análise da documentação histórica disponível relativa a uma determinada área ou grupo específico. A reconstituição do panorama etnográfico do Tapajós deve ser realizada dentro do marco fornecido pelo próprio processo de inserção da região e de seus povos indígenas no âmbito da ocupação luso-brasileira ao longo dos séculos, pois a documentação disponível constitui-se, em geral, de notícias deixadas sobre os índios por informantes brancos. O material consultado consiste em relatos elaborados por missionários e viajantes, roteiros de navegação, crônicas e relatórios de administradores coloniais e presidentes das Províncias do Pará, Amazonas e Mato Grosso, bem como a cartografia dos séculos XVII, XVIII e XIX. Trata-se de informações esparsas e desiguais sobre diferentes grupos indígenas, que indicam, sobretudo, as designações impostas pelo “branco”, sua localização e condições de contato. Há ainda dados que, apesar de escassos, permitem reconstruir aspectos de sua demografia, cultura material, meio sócio-político e cultural, bem como suas relações intertribais e interétnicas.

As Primeiras Incursões Européias e o Contato com os Índios Tapajó

(Séculos XVI e XVII)

As primeiras informações sobre o rio Tapajós foram registradas em meados do século XVI pelas expedições espanholas de Francisco Orellana (1542) e Pero de Ursua e Lopo de Aguirre (1561), que desceram pela primeira vez o rio Amazonas, dos rios Napo e Marañon, respectivamente, até a sua foz. A crônica da jornada de Orellana foi escrita pelo padre Gaspar de Carvajal. O cronista registrou a permanência da expedição na foz do rio, onde, durante a estadia, foram observados por grande quantidade de canoas e pirogas de índios, parecendo-lhe as terras do

interior bastante povoadas, avistando-se “a três léguas do rio pela terra adentro (...)

Da expedição de Ursua e Aguirre, quatro crônicas foram produzidas (Altamirano, Monguia, Vásquez e Zúñiga), sendo relatado que a jornada acampou

num grande povoado de índios (chamado da Enxárcia) situado em lugar alto na

margem direita do Amazonas, um pouco abaixo do estreito de Óbidos. Ao que tudo

indica, tratar-se-ia da grande aldeia dos Tapajó, embora os cronistas da expedição

tenham os chamado de Aruaquinas (PORRO, 1992). Seus habitantes usavam

flechas envenenadas, eram antropófagos, tinham casas de adoratório para seus ritos e idolatrias com “lugares de sacrifícios” (VÁSQUEZ, 1993).

Após as explorações espanholas do século XVI, a região seria reconhecida novamente apenas na primeira metade do século seguinte pelas expedições luso-brasileiras. A ocupação portuguesa da região amazônica foi iniciada em 1616 com a fundação da cidade de Belém do Pará. O avanço da frente de ocupação luso-brasileira foi motivado, sobretudo, pela presença de holandeses, ingleses e franceses, que estabeleciam relações comerciais com grupos indígenas na foz do rio Amazonas, Xingu e Marajó.

Entre os anos de 1623 e 1647, as feitorias e fortificações de estrangeiros foram alvo do ataque das campanhas militares lusitanas. Conquistado o estuário amazônico, o domínio português estendeu-se, a partir de então, pelo vasto interior do rio Amazonas e de seus principais tributários (REIS, 1993, 2003; HEMMING, 2007).

Há informações sobre a tentativa de implantação de uma colônia inglesa no Tapajós, que teria sido atacada e sua população dizimada por índios da região. Ao descerem o Amazonas, de Quito ao Pará, em 1636, frades espanhóis observaram mosquetes, pistolas e espadas nas mãos dos índios, acreditando serem os obtidos no massacre dos colonos ingleses (ACUÑA, 1994; REIS, 1979).

O primeiro reconhecimento luso-brasileiro do rio Tapajós foi realizado apenas em 1626 por uma tropa destinada à obtenção de escravos indígenas capitaneada por Pedro Teixeira. Segundo Berredo (1905), a expedição obteve na

nação muito populosa, que tomava o nome deste mesmo rio”. Teixeira teria

estabelecido contatos amigáveis com os Tapajó, retornando ao Pará, entretanto,

com poucos escravos, “porque os Tapajós os estimam de sorte, que raras vezes chegam a consentir nesta qualidade de permutações” (BERREDO, 1905). Em 1628, foi realizada nova expedição à região, sob o comando do mesmo Pedro Teixeira e Bento Rodrigues de Oliveira, tendo novamente como objetivo o apresamento de índios (REIS, 1993).

Em 1636, religiosos e soldados castelhanos, que desciam ao Amazonas após o ataque de índios a suas missões no Peru, foram abrigados pelos índios

Estrapajosos em uma casa grande lavrada com madeira e forrada com mantas de

algodão coloridas, onde lhes foram ofertadas redes tecidas com folhas de palmeiras, caça, aves e peixes. O padre Alonso de Rojas, que integrava o grupo de fugitivos, relatou que estes índios viviam em contínuas guerras e utilizavam veneno em suas flechas (ROJAS, 1941).

No ano seguinte, uma grande expedição portuguesa foi armada com o objetivo de subir e reconhecer o curso do Amazonas até o Peru. Pedro Teixeira, que

comandou a jornada, redigiu uma Relação (1637) em que descreveu aspectos da

geografia e das gentes que habitavam as margens do grande rio. Teixeira informa

situarem-se “los tapajos” na boca de um grande rio em um povoado de quinze mil

vizinhos. Diz serem índios antropófagos e utilizadores de flechas envenenadas, tendo pinturas e riscos pelo corpo, tais como os Xeruunas (Jurunas) do rio Xingu (TEIXEIRA, 1950).

A viagem de Pedro Teixeira à Quito e seu retorno ao Pará produziu outras duas crônicas, consideradas as mais importantes descrições feitas até então sobre o rio Amazonas e seus habitantes: a crônica do jesuíta espanhol Cristóbal de Acuña (1641) e a de Maurício de Heriarte (1662). Em ambas as crônicas, para a área do Tapajós, o grosso das informações refere-se ao grupo homônimo, graças ao domínio exercido pelos mesmos na região, sua alta densidade demográfica e a certas características socioculturais que despertaram a atenção dos europeus.

Segundo Acuña, o rio dos Tapajoses é muito povoado por “bárbaros”, sendo “gente de brio” e temidos pelas nações circunvizinhas por usarem peçonha em suas flechas (ACUÑA, 1994: 183). Para Heriarte, “são corpulentos, muito grandes e fortes”, e “por ser muita a quantidade de índios Tapajós, são temidos dos mais índios e nações, e assim se têm feito soberanos daquele distrito”, dando guerra a todos os demais e tendo muitos escravos que vendiam aos portugueses. O melhor e mais estimado comércio que faziam consistia no das pedras verdes, chamadas “buraquitas” (muiraquitãs), que eram lavradas de um barro verde do qual faziam contas, vasos, assentos e imagens de pássaros e rãs (HERIARTE, 1964).

Heriarte informa ainda ser a “Província dos Tapajós” muito grande, sendo a aldeia assentada na boca do rio sua maior povoação. Cada povoado, com vinte ou trinta casais (ou casas?), era governado por um principal e a todos governava um

“principal grande” “muito obedecido”, dispondo os Tapajóde 60 mil homens em

tempos de guerra (HERIARTE, 1964). Do mesmo modo, o religioso Laureano de La Cruz, que, em 1650, hospedou-se numa aldeia de dez casas “de índios amigos mas não cristãos chamados Tapajosos”, relatava estarem os índios organizados em aldeias com vinte ou trinta famílias, que viviam juntas em casas coletivas (CRUZ, 1900). Acuña indica ter a aldeia da foz do Tapajós “mais de quinhentas famílias” (1993).

O relato de Heriarte sugere ainda a semelhança cultural existente entre as populações que habitavam a região entre os rios Trombetas (habitado pelos

Cunurisou Conduris, entre outros) e Tapajós. Para o cronista, as tribos daquele rio

tinham “os próprios ídolos, cerimônias e governo” dos Tapajó, bem como um

“finíssimo barro de que fazem muita boa louça”. O cronista identifica ainda no

Tapajós as etnias Marautus, Caguanas, Orurucuzos e outras muitas nações das

A Ação Missionária Jesuítica no Rio Tapajós (1661-1757)

O trabalho missionário no Tapajós foi exercido pelos jesuítas até a expulsão da ordem em meados do século XVIII. Os aldeamentos jesuíticos exerceram um importante papel na ocupação portuguesa da região, posto não haver na época estabelecimentos fixos de colonos, afora a presença pontual e esporádica de tropas destinadas ao aprisionamento de índios e de expedições para a coleta de drogas. Os missionários atuaram ainda de forma decisiva no processo de deslocamento e aculturação de diversos grupos indígenas através dos “descimentos” de populações de suas aldeias de origem para os aldeamentos, onde concentraram indivíduos de etnias distintas em um mesmo local para a as atividades de catequese.

A primeira missão foi fundada em 1661 na populosa aldeia dos

Tapajósituada na foz do rio homônimo, que, segundo Serafim Leite (1950), já em

1665 destacava-se como a mais importante das missões do Pará. Seu primeiro missionário, o padre João Felipe Bettendorff, elaborou uma crônica no final do século (1698), que constitui obra fundamental para a compreensão do processo de catequese e ocupação da região ao longo da segunda metade do século XVII. 24

O relato oferece informações substanciais sobre alguns aspectos das estruturas sociais, políticas e religiosas dos índios Tapajó. O jesuíta indica a existência de estratificação social bem marcada, havendo grupos de indivíduos com

status diferenciado, que casavam entre si e detinham o poder da chefia. Havia

“principais” de diversas nações na região, entretanto, o caso mais emblemático de “nobreza” constituiu-se no da célebre Maria Moaçara, “princesa, desde seus antepassados, de todos os Tapajós”. Segundo Bettendorff, “costumam os índios além de seus principais escolher uma mulher de maior nobreza, a qual consultam como oráculo”. Moaçara casou-se com o principal Roque e, após a morte do marido, casou-se com um português, tornando-se ela própria “principaleza” da aldeia antes de seu falecimento em 1678. O casamento era poligâmico até a proibição da prática pelos padres (BETTENDORFF, 1990; LEITE, 1950).

Os Tapajópossuíam locais específicos para a prática de seus rituais e a guarda de objetos sagrados. De acordo com Bettendorff, os índios “tinham um terreiro muito limpo pelo mato dentro, que chamavam Terreiro do Diabo”, onde faziam suas “beberronias” e danças (poracés), dando ouvidos a um feiticeiro “com voz rouca e grossa”. Havia outro terreiro dentro da aldeia, que os brancos chamavam de “Mofama”. O ritual era interditado às mulheres, porém, eram elas que levavam igaçabas com “muita vinhaça” até o local, permanecendo, contudo, de cócoras e impedidas de observar a cerimônia (BETTENDORFF, 1990).

Heriarte já havia relatado a adoração de “ídolos pintados” pelos Tapajó, aos

quais pagavam “dízimos” “de grandes milharadas”, dizendo que o ídolo era o “Potaba do Aura”, que na língua dos índios seria o nome do “diabo”. Do milho, os

Tapajó faziam vinho que era levado em grandes vasilhas até um local limpo fora de

sua aldeia, onde se juntavam todos de sua nação para bailar, cantar e beber (HERIARTE, 1964).

Quanto ao tratamento dado aos mortos, Bettendorff informa guardarem os

Tapajóo corpo mirrado de um de seus antepassados, chamado Monhangarypy (o

primeiro pai), pendurado debaixo da cumeeira de uma casa, fazendo-lhe suas honras com ofertas e danças há muitos anos (BETTENDORFF, 1990). Heriarte indica ritual semelhante, dizendo que alguns índios quando morriam eram deitados em uma rede, sendo postos os bens que possuía em vida e desenhado a “figura do diabo” em sua cabeça. Assim, o corpo era posto em uma casa, onde os parentes e mais índios assistiam “missa” e consumiam a carne, bem como os ossos do morto misturados ao vinho (HERIARTE, 1964).

O jesuíta afirma ter elaborado catecismos da língua falada pelos Tapajóe

Ururucus, sendo ambos vertidos para a língua geral (derivada do Tupi falado no

litoral do Brasil), o que nos permite inferir que os grupos não eram originalmente

falantes de línguas do tronco Tupi. A crônica dá a entender que os Tapajóe Ururucus

habitavam a mesma aldeia em 1661. No final do século XVII, Bettendorff informa ser

escravos dos moradores portugueses do Estado do Maranhão (BETTENDORFF, 1990).

Contemporâneo à crônica de Bettendorff, o Diário do jesuíta Samuel Fritz, missionário entre as tribos do Alto Amazonas, não possui informação de valor para a área do Tapajós. Entretanto, da viagem que realizou das missões espanholas até o Pará, Fritz elaborou um mapa que localiza a maior parte dos grupos referidos por Bettendorff e situa outros não mencionados pelas crônicas anteriores, que, posteriormente, seriam contatados e aldeados. No mapa de 1691, são localizados

os Topayos na foz do rio, os Arapiyu (Arapium) na margem direita, os Maraguases,

Mahués, Sapupés e Igapuitariyara entre os rios Amazonas e Tapajós.

Quadro 1: Grupos Indígenas Identificados no Rio Tapajós (Século XVII).Fonte: MENÉNDEZ, 1981.

Figura 4: Detalhe do Mapa de Samuel Fritz correspondente ao Médio Curso do Rio Amazonas [1691]. Fonte: MENÉNDEZ, 1981.

Portanto, até meados do século XVII, os cronistas são unânimes em indicar a foz do rio Tapajós como a área de concentração do grupo homônimo, ressaltando o assentamento de populações numerosas em povoados extensos, sua estratificação social e política, superioridade militar frente a outros grupos, grande capacidade de produção de mantimentos e inserção num significativo comércio

intertribal. A julgar pela distribuição da cerâmica arqueológica associada aos Tapajó,

houve ampla dispersão destes indígenas em ambas as margens do rio.

Para Miguel Menéndez, a mobilidade indígena configura-se como um dos traços distintivos do panorama etnográfico da área Madeira-Tapajós ao longo do período colonial. A base de toda essa movimentação seriam as múltiplas relações de intercâmbio, hostilidades e aculturação intertribal em que diferentes grupos estiveram envolvidos antes e durante a ocupação portuguesa da região.

Até meados do século XVII, houve um processo de expansão dos Tapajó e

Tupinambá na área situada entre a foz do rio Madeira e Tapajós, tendo como

consequência o contato, vassalagem, escravidão e movimentação dos grupos localizados no entorno da área. Contudo, o contato com o branco ocasionou uma retração na expansão alcançada pelos grupos devido às hostilidades, escravização e epidemias introduzidas, registrando-se rápida depopulação no final do século.

O espaço deixado pelos Tapajó e Tupinambá passou a ser então ocupado

por aqueles que se encontravam anteriormente submetidos e radicados no interior, registrando-se a redistribuição geográfica de alguns grupos e o surgimento de novas etnias. Mais próximos das margens dos grandes rios, estes novos grupos (Mawé,

Mundurukú e Parintintin) entraram em contato com o branco, sendo registrados

pelas crônicas dos séculos subsequentes (MENÉNDEZ, 1981; 1984).

Para o início do século XVIII, temos como principal fonte de informação a carta escrita pelo jesuíta Bartolomeu Rodrigues ao padre Jacinto de Carvalho em 1714. Nesta carta, Rodrigues, então, missionário da aldeia dos Tupinambaranas, não se ocupou do rio Tapajós, posto haver na época apenas o aldeamento fundado em 1661. Entretanto, a carta identifica inúmeros grupos indígenas situados na área entre os rios Madeira e Tapajós que seriam posteriormente “descidos” para as missões fundadas nas margens deste último. O elevado número de designações tribais fornecidas para a área evidencia o quanto a região se encontrava povoada na

época, sobretudo, o rio dos Magues, o atual Maués. Destacam-se os grupos Mawé,

Sapupé, Periquito, Apanariâ e Soarirana, situados no rio dos Magues, os Maraguaz,

habitantes dos rios Canumá e Guarinamã, os Mateupû, do rio Acuriato (atual

Mariaquã) e os Comandis, da aldeia dos Tupinambaranas (RODRIGUES, 1864;

MENÉNDEZ, 1981).

A aldeia dos Tapajó tornou a viver no início do século XVIII um novo período

de prosperidade, registrando o padre Jacinto de Carvalho, em 1719, serem pertencentes à aldeia não apenas os índios homônimos, mas outras nações, em particular os Arapiuns e Corarienses, “os quais todos são já para cima de trinta e cinco mil cristãos” (Apud LEITE, 1950). Por volta de 1720, sua população seria

novamente incrementada com os descimentos de seis outras tribos e a população

inteira dos Ariquenas (CAEIRO, 1936).

Em fins do século XVII e início do XVIII, a movimentação dos missionários jesuítas na região intensificou-se. Em 1722, foi fundada nas proximidades da aldeia

dos Tapajóa missão de Iburari, transladada em 1738 mais para cima do rio, na

margem direita. Defronte a Iburari, na margem esquerda, foi fundada a aldeia de

Nossa Senhora da Conceição dos Arapiuns com índios Arapiuns descidos em 1723.

Em 1730, é referida a aldeia de Cumaru, tratando-se de outra designação para a mesma aldeia dos Arapiuns (LEITE, 1950; BRAUM, 1873).

O jesuíta João Daniel refere-se aos da nação Arapium como bons católicos

e não antropófagos, apesar do costume de conservarem os ossos dos mortos, utilizando-os em suas festas e “beberronias” desfeitos em pó. O jesuíta confirma a existência de uma casa de ossos e a função das mulheres mais velhas de

transformá-los em pó. No que diz respeito aos costumes dos Arapium, Daniel relata

o ritual de passagem das mulheres quando lhes vinha a primeira regra, no qual eram submetidas ao jejum e à segregação na cumeeira da casa, bem como a prova de valentia dos homens às vésperas do casamento, que consistia em meter os braços em cabaços com formigas saúvas (DANIEL, 1976).

Ainda na margem esquerda do Tapajós, aproximadamente a 120km ao sul de Arapiuns, encontrava-se a aldeia de Santo Inácio procedente da aldeia dos Tupinambaranas. Esta aldeia foi fundada pelos jesuítas em 1669 no rio dos Tupinambaranas (atual Mamurú) sendo transladada para o Tapajós em 1737

(MORAIS, 1860). A designação Tupinambaranas refere-se aos grupos que

habitavam a área do rio Maués, local que os jesuítas recorreram preferencialmente para os descimentos de índios para os seus aldeamentos (MENÉNDEZ, 1981).

Entre os grupos Tupinambaranas melhor documentados encontram-se os

Comandi, Sapupé, Suarirana, Periquito e Apanauria. Em 1714, os dois primeiros

encontravam-se aldeados na missão dos Tupinambaranas junto a outros grupos do rio Maué. Sendo transferida para o Tapajós com os indígenas que a ocupavam

originalmente, a aldeia recebeu em sua nova localização contingentes de

Comandióros, Suariranas, Apenoirios, Periquitos e Guarupas (CAEIRO, 1936).

A última aldeia jesuítica era São José de Matapús ou Maitapus, que foi fundada em 1722 na margem esquerda ao sul de Santo Inácio. Rodrigues faz

referência a um grupo denominado Mateupû no rio Acuriato (Mariaquã), mas a única

referência aos indígenas aldeados é a dos Gurupá citados por João Daniel. O jesuíta

refere-se ao grupo como uma das nações mais célebres do Tapajós, sendo “tapuia de corso” (ainda que não tão bravos), antropófagos e sem povoações fixas. Diz ter a nação se repartido pelas missões de São José e Santo Inácio. Arrependendo-se depois de algum tempo, teriam fugido dos aldeamentos. Daniel refere-se ainda ao Sítio de Santa Cruz, lugar de portugueses, aonde iam missionar os padres jesuítas, apesar de não ser aldeia de sua administração (DANIEL, 1976).

Figura 5: Mapa Manuscrito do Rio Tapajós de meados do século XVIII. À esquerda do mapa, estão situadas as cinco missões jesuíticas na desembocadura do rio. Fonte: PERRONE-MOISÉS, 1998.

Segundo Serafim Leite, os missionários jesuítas não fizeram longas entradas no Tapajós, mas percorreram-nos muitas vezes até a região das primeiras cachoeiras. Com a expulsão dos jesuítas em 1757, as aldeias foram elevadas à

categoria de vilas ou lugares, sendo administrados a partir de então por diretores

leigos. A antiga aldeia dos Tapajó tornou-se vila com o nome de Santarém. A missão

de Iburari tornou-se Vila de Alter do Chão e a aldeia de Nossa Senhora da Conceição dos Arapiuns, Vila Franca. Santo Inácio adquiriu o nome de Vila de Boim, enquanto São José recebeu o nome de Lugar do Pinhel (LEITE, 1950; BRAUM, 1873).

As Frentes de Ocupação do Pará e do Mato Grosso (Século XVIII)

Ao longo do século XVIII, duas frentes de ocupação alcançaram o rio Tapajós: uma proveniente do norte e outra do sul. A primeira, de caráter extrativista e escravista, teve como ponto de origem o núcleo de povoamento português da cidade de Belém do Pará, que começou a atuar, sem se fixar na área, desde meados do século XVII através das expedições de coleta de drogas e captura de escravos indígenas. Devido ao caráter ilícito de grande parte das expedições há poucos registros dessas viagens.

Com a expulsão dos jesuítas, as antigas missões elevadas a vilas e lugares tornaram-se alvos da política de povoamento e desenvolvimento agrícola e comercial da administração pombalina. A partir de então, os colonos foram pouco a

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