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9. PROGRAMA DE ARQUEOLOGIA PÚBLICA

9.6. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

De acordo com Horta (1999, p. 6) Educação Patrimonial é “um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no patrimônio cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo”.

Quando se pensa em educação, geralmente associamos esta ao espaço escolar, visto como o local onde acontece o processo de ensino-aprendizagem e as socializações de determinadas maneiras de agir, pensar, se comportar, atitudes e valores. Dessa forma, a escola, por ter sido criada com o objetivo específico de transmitir conhecimentos, faz com que muitas pessoas criem representações de que este espaço é o único local onde a “educação” acontece (Najjar, R; Najjar, J. 2006).

Contudo, a educação é algo que está além das paredes e estruturas da escola, pois “não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece (...) o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante” (Brandão, 2007, p. 9). Neste

sentido, a todo o momento, em todos os lugares, em nossas convivências e interações com as pessoas e com o ambiente que estão à nossa volta, estamos aprendendo e ensinado ao mesmo tempo, assim todos nós somos um pouco alunos e professores, pois:

“O saber da comunidade, aquilo que todos conhecem de algum modo; o saber próprio dos homens e das mulheres, de crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos; o saber de guerreiros e esposas; o saber que faz o artesão, o sacerdote, o feiticeiro, o navegador e outros tantos especialistas, envolve, portanto situações pedagógicas interpessoais, familiares e comunitárias, onde ainda não surgiram técnicas pedagógicas escolares, acompanhadas de seus profissionais de aplicação exclusiva”. (Brandão, 2007, p. 20).

A partir disso, é possível perceber a educação no seu sentido amplo, em que o “outro” tem papel fundamental na construção do saber. Assim, é preciso ter em mente as essências dos múltiplos conhecimentos que as pessoas podem nos oferecer, pois enxergar a educação apenas como um processo formal de ensino é negar toda a potencialidade e a dinâmica das relações sociais. Desse modo, realizar um “trabalho educacional” (Horta, 1999, p. 6) significa trazer o “outro” para dialogar, é saber o que o “outro” pensa e não simplesmente lhe “ensinar” conteúdos.

É a partir disso, então, que a arqueologia aparece com sua função social, ou seja, é preciso cada vez mais que o arqueólogo tenha preocupação em manter um diálogo com a comunidade. Neste sentido, durante suas pesquisas de campo o arqueólogo deve considerar o contexto em que o artefato arqueológico se encontra, pois as pessoas têm uma relação de pertença com o local, assim, “um objeto qualquer, uma edificação antiga, ou uma ruína tomada pela relva, jamais estão isentas de significação para o grupo que os vivencia cotidianamente” (Bezerra; Silveira, 2007, p. 90). Desta forma, é imprescindível que o arqueólogo assuma cada vez mais seu compromisso com a sociedade, afinal o sítio arqueológico em que trabalha está situado onde as pessoas vivem e o mínimo que se pode fazer é proporcionar retorno das informações obtidas no trabalho.

Com relação a esse compromisso, Paulo Freire(1979, p. 20), nos diz então que:

“(...) quanto mais me capacito como profissional, quanto mais sistematizo minhas experiências, quanto mais me utilizo do patrimônio cultural, que é patrimônio de todos e ao qual todos devem servir, mais aumenta minha responsabilidade com os homens”.

Portanto, uma vez que o arqueólogo se utiliza do patrimônio cultural para suas pesquisas ele já é um educador, mesmo que não se autointitule como tal, e mesmo que este profissional não tenha contato direto com o público, estes educam pelo fato de estarem interferindo no ambiente das comunidades com desenvolvimento do trabalho de pesquisa, por trazerem à tona objetos culturais que podem ter a função de marcadores identitários de um grupo e por darem respaldo científico a determinadas informações acerca das sociedades humanas e seus modos de vida (Najjar, R, 2000 apudNajjar, J; Najjar, R. 2006).

Assim, acreditamos que quando nos propomos a trabalhar com a Educação Patrimonial é necessário estarmos cientes dos vários desafios que irão surgir durante o caminho a ser percorrido. No entanto, estamos cientes que o maior deles é fazer com que a comunidade se envolva e se sensibilize em relação ao patrimônio arqueológico, pois muitas vezes este passa despercebido aos olhos da população, sendo depredado de variadas formas.

Como propostas de atividades, apresentamos palestras que trabalham conceitos iniciais de Arqueologia; quem é o arqueólogo e quais os objetos que ele pesquisa;noções de Patrimônio Cultural e Museologia. Em consonância com as palestras, propomos dois tipos de dinâmicas que são usadas conforme o público alvo, na primeira os alunos escrevem em um papel o que consideram um patrimônio importante e que deve ser respeitado e preservado, depois a equipe de educação patrimonial lê em voz alta os patrimônios descritos e quem escreveu deve dizer os motivos de ter indicado tal patrimônio. Na segunda proposta, os alunos devem desenhar o patrimônio que consideram importante e que deve ser preservado, depois a equipe mostra para todos os desenhos e todos podem comentar seus

desenhos e ver a variedade de patrimônios importantes. Por fim, dada a proximidade da escola com o sítio arqueológico, os alunos poderiam fazer visitas monitoradas às escavações, conhecendo de perto e na prática, os materiais arqueológicos e o trabalho do arqueólogo em campo.

Iniciamos as atividades visitando a única escola nas proximidades dos sítios atendidos por este projeto, a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Engenheiro Francisco Barros, que se localiza próxima à área do sítio Km30. O objetivo, neste primeiro momento, era conversar com as diretoras e com a coordenação pedagógica, solicitando espaço entre as turmas para que pudéssemos apresentar as atividades de Educação Patrimonial.

Figura 18: Vista geral da frente da escola

No primeiro contato com a escola de Campo Verde – Km30, conseguimos

agendar as atividades sem obstáculos. Conversamos com a Vice-diretora Sandra Ferreira de Sousa, onde propusemos a apresentação de palestras, dinâmicas e visitas às escavações arqueológicas no sítio Km 30. A direção da escola proporcionou toda a estrutura necessária para as palestras, contando com excelente auditório e suporte audiovisual.

Figura 19: Conversa com a vice-diretora; entrada do auditório

Figura 20: Vista da entrada da escola; placa de inauguração do prédio

No total, a escola possui aproximadamente 615 alunos, divididos em 243 no turno da manhã: 1ª a 5ª série, 6ª e 7ª; 222 alunos no turno da tarde: 1ª a 5ª, 5ª a 8ª; e 150 alunos no turno da noite: Ensino médio, 1ª, 2ª, 3ª e 4ª etapa EJA.

Ministramos a primeira palestra com as turmas 6ª e 7ª série,no turno da manhã, com a presença da Professora Márcia Fernandesda disciplina de matemática e ciências. Estiveram presentes 38 alunos.

Apresentamos temos sobre Arqueologia, Patrimônio Cultural e Museologia. Ao final, os alunos fizeram as seguintes perguntas: “Como que vocês sabem a datação desses materiais?”, “Como vocês sabem/acham onde estão os objetos?”, “A lona que fica demarcando o buraco não prejudica o meio ambiente?”, “Vocês já acharam ossos?”, “Pra que servem esses materiais?”, “Pra onde vão os objetos achados na escavação?”, “Como vocês tiram com cuidado os fragmentos frágeis?”,

“Porque e quando foi criada a arqueologia?”, “De onde a arqueologia surgiu?”, “Qual foi o objeto mais valioso que vocês acharam?” e “Qual o objeto mais velho?”.

Figura 21: Registro da palestra

Em seguida, realizamos a segunda palestra, para as turmas de 1ª a 5ª série, com a presença da Professora Eva Santiago Alves Conceição (Ed. Infantil) e do Professor Sinayr Maia (Ed. Infantil). Estiveram presentes 137.Ao final da apresentação, uma aluna fez a seguinte pergunta: “É verdade que existe o índio de ouro?”.

Figura 23: Registro da palestra

No mesmo dia, retornamos à escola no turno da tarde, a terceira palestra foi direcionada às turmas das 5ª, 6ª, 7ª e 8ª, com a presença da ProfessoraGleiciane Nazaré Santos (Artes) e do Professor Fabiano Ghizoni (Estudos Amazônicos). Ao todo, estiveram presentes 103 alunos.Abrimos para as dúvidas e perguntas, onde recebemos os seguintes questionamentos: “Vocês já acharam ossos de dinossauro?”, “Onde vocês estão escavando, já acharam alguma coisa?”, “Os objetos que vocês acham vão para o museu?” e “Há quanto tempo você trabalha com arqueologia?”.

Figura 24: Registro da palestra

Em seguida, realizamos a quarta palestra, para as turmas de 1ª a 5ª série, com a presença da ProfessoraSinayr Maia e contando com 118 alunos. Os alunos não fizeram questionamentos.

Figura 25: Registro da palestra

Retornamos à escola no dia seguinte, onde realizamos dinâmicas e atividades em sala de aula: Introdução ao tema sobre Patrimônio Cultural material e imaterial e atividades de desenho e de descrição do que eles entendiam como patrimônio cultural.

Pela parte da manhã, a primeira turma visitada foi o 4º ano, com a presença da Professora Daniele Sousa Almada (Ciências) e com um total de 19 alunos. Iniciamos explicando sobre o Patrimônio Cultural e após esse tema, pedimos que os alunos desenhassem um patrimônio cultural importante e que gostariam que fosse preservado.

Figura 27:Criação e apresentação dos desenhos

Figura 28: Apresentação dos desenhos

Nos desenhos produzidos observamos que os alunos representaram vários Patrimônios Culturais. Em sua maioria, apareceram casas, escola e igreja. Assim, podemos concluir que os alunos conseguiram acompanhar e desenvolver a atividade proposta.

Figura 29: Alguns desenhos produzidos pela turma do 4º ano

Em seguida, continuamos as atividades com o 6º ano, com a presença da Professora Maria Lia Farias Coelho (Português). E com um total de 24 alunos. Iniciamos explicando sobre o Patrimônio Cultural e após esse tema, pedimos que os alunos escrevessem em um pedaço de papel, qual o patrimônio cultural, material ou imaterial, que eles consideravam importante e que gostariam que fosse preservado. Em sua maioria, os alunos apontaram a escola, igreja e praça como Patrimônios Culturais importantes e que eles gostariam que fosse preservado.

Figura 30: Momentos da atividade

Figura 31: Momentos da atividade

Retornamos à escola no turno da tarde, onde seguimos para o 3º ano, com a presença daProfessora Eva Santiago (Ciências) e um total de 23 alunos.Iniciamos explicando sobre o Patrimônio Cultural e após esse tema, pedimos que os alunos desenhassem um patrimônio cultural importante e que gostariam que fosse preservado. Em sua maioria, os alunos desenharam casas, escola, natureza, futebol e igreja. Assim, podemos concluir que os alunos conseguiram acompanhar e desenvolver a atividade proposta.

Figura 32: Vista geral da proposta de atividade

Figura 33: Crianças desenvolvendo seus desenhos

Figura 35: Apresentação dos desenhos

Por fim, seguimos para o 8º ano, com a presença da Professora Maria Lia Farias (Português) e um total de 31 alunos. Iniciamos explicando sobre o Patrimônio Cultural e após esse tema, pedimos que os alunos escrevessem em um pedaço de papel, qual o patrimônio cultural, material ou imaterial, que eles consideravam importante e que gostariam que fosse preservado. A escola e a igreja apareceram com maior frequência, seguidos da casa, família e natureza.

Figura 37: Vista geral da proposta de atividade

Figura 39: Momentos da atividade

Visita ao sítio arqueológico KM30

A equipe de Educação patrimonial propôs à escola que algumas turmas pudessem visitar o sítio arqueológico que estava sendo escavado. A escola aceitou a atividade e permitiu que os alunos pudessem visitar o local em seus horários de aula. Para segurança, também solicitamos que os professores acompanhassem os alunos. Ao todo, recebemos visitas de quatros turmas pela manhã (5ªA, 5ªB, 6ª e 7ª) e cinco turmas no turno da tarde (5ª, 6ª, 7ªC, 7ªD e 8ª).

Figura 41: Alunos em direção ao sítio arqueológico KM30

Figura 42: Chegada dos alunos ao sítio arqueológico KM30

Figura 43: Chegada dos alunos ao sítio arqueológico KM30

Inicialmente, dirigimos os alunos até uma mesa onde estavam expostas algumas ferramentas usadas pelos arqueólogos em campo, para que eles pudessem entender que os instrumentos eram objetos comuns, que muitos deles já deveriam

ter visto e até poderiam ter em casa, apenas poucos objetos poderiam ser de um todo desconhecidos.

Figura 44: Exposição das ferramentas utilizadas em campo

Figura 45: Explicação das ferramentas utilizadas em campo

Durante a visita, permitimos e estimulamos os alunos a participarem ativamente dos trabalhos, onde eles poderiam escavar, peneirar e tocar nos materiais arqueológicos, tornando a arqueologia uma ciência mais próxima deles

Figura 47: Alunos peneirando o solo retirado das escavações

Figura 48: Alunos peneirando o solo retirado das escavações; alunos encontrando material arqueológico na peneira

Os alunos visitaram todas as unidades de escavação e puderam conversar com os pesquisadores responsáveis, trocando experiências e despertando curiosidades.

Figura 49: Alunos ajudando os pesquisadores a escavar

Figura 50: Alunos escavando e conversando com os pesquisadores

Figura 51: Vista geral de alguns momentos da visitação

Promovendo visitações aos sítios, acreditamos que os visitantes se sensibilizem àimportância dos objetos arqueológicos. Muitas vezes banais no cotidiano das comunidades, em seus trabalhos na roça, nos quintais, nas fazendas,

mas que são objetos que carregam valor histórico e nos ajudam a recontar e descobrir como os povos mais antigos viviam e se relacionavam com aquele mesmo espaço que atualmente é habitado por esses alunos e seus familiares. Ao final, percebemos que os alunos ficaram muito interessados e curiosos com os trabalhos de escavação e com os objetos que estavam sendo coletados.

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