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CAPÍTULO I. INTRODUÇÃO

I.1. CONTEXTUALIZAÇÃO E OBJETIVOS DO ESTUDO

A importância do setor do Turismo é inquestionável, este irá assumir-se nos próximo anos como a principal atividade económica a nível mundial. A World Tourism Organization (UNWTO) estima que a procura turística mundial ultrapasse os 1.809 milhões de turistas em 2030. O maior crescimento será na Ásia e no Pacífico, onde as chegadas de turistas estão previstas aumentar em 331 milhões, chegando aos 535 milhões em 2030 (crescimento de 4,9% ao ano). Espera-se que o Médio Oriente e a África mais que dupliquem as chegadas de turistas até 2030, passando de

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61 milhões para 159 milhões e de 50 milhões para 134 milhões respetivamente. Estima-se que a Europa passe dos atuais 475 milhões de chegadas para os 744 milhões e que a América passe de 150 milhões para os 248 milhões, crescendo comparativamente menos (UNWTO, 2013). De acordo com os dados desta Organização, a Europa terá um decréscimo da sua quota de mercado, passando de 51% para 41% (2030) e a América de 16% para 14%. A Ásia e Pacífico verá a sua quota crescer de 22% para 30% (2030), o Médio Oriente de 6% para 8% e a África de 5% para 7%. Apesar deste decréscimo verificado na Europa, esta é, e continuará a ser, o maior destino mundial de Turismo internacional.

Se não existem dúvidas sobre a excecional importância do setor do Turismo a nível mundial, também relativamente a Portugal este setor tem um valor extraordinário para a economia, através das receitas que gera, da contribuição para a balança de pagamentos, do aumento de emprego e rendimentos e dos efeitos multiplicadores que proporciona. Sendo o Turismo uma atividade complexa que envolve um alargado conjunto de outras atividades e produtos, envolvendo uma multiplicidade de agentes económicos, os seus impactos fazem-se sentir transversalmente por toda a economia. Em 2010, o valor acrescentado gerado pelo Turismo atingiu os 6.3 mil milhões de euros, contribuindo em 4,1% para o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da economia. O peso do emprego das atividades características do Turismo no total da economia ultrapassou os 8% (empregando mais de 500.000 pessoas), destacando-se 49,1% do total nas atividades de restauração e bebidas, 21,3% nos transportes e 15,2% no alojamento (Turismo de Portugal, 2011). O setor do Turismo é o principal setor exportador de bens e serviços de Portugal, representando cerca de 14% das exportações. Em 2012, o saldo da balança turística foi de 5.7 mil milhões de euros, somando receitas externas de 8.6 mil milhões de euros (Turismo de Portugal, 2013f), representando cerca de 11% do PIB.

Os principais mercados emissores de receitas turísticas para Portugal no ano de 2012 foram a França, o Reino Unido, a Espanha, a Alemanha e a Angola. Relativamente aos hóspedes, em primeiro lugar encontra-se o Reino Unido seguido da Espanha, Alemanha, França e Brasil. Quanto às dormidas surge em primeiro o Reino Unido, seguido da Alemanha, Espanha, França e Holanda

(Turismo de Portugal, 2012, 2013h).

Sendo o setor do Turismo, muito provavelmente, o setor económico mais globalizado a seguir à atividade financeira, tem-se assistido, nas últimas décadas, a uma intensa internacionalização do mesmo, começando desde logo pelo aparecimento das empresas multinacionais (EMN). Esta

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universalização de grandes cadeias hoteleiras resulta de acordos de franchising, licenças, alianças, contratos de gestão, projetos ou Investimento Direto Estrangeiro (IDE), podendo este último ser concretizado através de investimentos de raiz ou fusões e aquisições (sole-venture e joint-

venture). O IDE assume aqui uma importância extraordinária, desde logo pelos efeitos

multiplicadores que provoca nos países de acolhimento, colocando os destinos no mapa turístico mundial e sendo um dos caminhos através do qual os países desenvolvem a atividade turística. Apesar da internacionalização ser uma característica comum entre o Turismo e o IDE, poucos estudos têm analisado onde e como eles estão interligados. No entanto, segundo Endo (2006), o facto do Turismo ser uma das maiores indústrias mundiais (contribui para mais de 1/3 do total de comércio de serviços globais) tem levado a que a maior parte dos países procure atrair IDE na tentativa de fomentar o setor.

No caso português e de acordo com Castro (2000), o IDE sempre fez parte da economia portuguesa. O vinho do Porto, por exemplo, que foi a principal exportação desde o século XVII até muito recentemente, foi largamente controlado por estrangeiros (especialmente britânicos). Porém, o verdadeiro conceito de IDE surge com as EMN após a II Guerra Mundial (Nascimento, 2008). Como consequência, o período das décadas de 50 e 60 é destacado pelo International Monetary Fund (IMF) como os primeiros anos de compilação do Balance of Payment (BOP), onde tiveram lugar operações financeiras diretas entre uma empresa residente (investidor direto) e uma não residente (investimento direto).

Em Portugal, os maiores investimentos estrangeiros no setor do Turismo, subsetor do alojamento verificaram-se pós segunda metade da década de 80, com a entrada de alguns dos maiores grupos hoteleiros: Club Méditerranée (1986), Accor (1987), Orient Express (1989), entre outros. Embora seja vasta a literatura que abrange o IDE em diferentes setores à escala mundial, é reduzida a investigação existente sobre este investimento no setor do Turismo mundial e inexistente a literatura sobre IDE no Turismo português. Apesar de muito se ter escrito, até à data, sobre a atratividade de Portugal como destino turístico (motivos da escolha de Portugal), poucos ou nenhuns são os estudos existentes sobre a atratividade de Portugal na captação de investimentos estrangeiros para o setor do Turismo. No entanto, tão importante como identificar e analisar os fatores push (motivos da viagem) e pull (razões da escolha) que influenciam os turistas que visitam Portugal, será identificar os fatores pull (fatores de atração) e os fatores push

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(fatores impulsionadores) que influenciam os investidores estrangeiros a escolher o setor do Turismo português para investir.

De referir, também, que são já alguns os estudos que analisam a internacionalização do setor do Turismo português, mas na ótica do investimento realizado pelas empresas portuguesas no estrangeiro (por exemplo: investimentos dos grupos Pestana, Oásis Atlântico, Solverde, TD Hotels, Vila Galé, Vip Hotéis e Turvisa). Contudo, o inverso não tem sido alvo de estudo, o investimento de grupos estrangeiros no setor do Turismo em Portugal.

Partindo desta lacuna verificada na literatura, entendeu-se que seria relevante perceber se Portugal é ou não é um país atrativo para investimento estrangeiro no setor do Turismo. Estava, assim, definido o objetivo geral deste estudo: identificar quais os fatores considerados mais atrativos para IDE no setor do Turismo português. Nesse sentido, definiram-se, também, vários objetivos específicos no âmbito desta investigação:

• (1) Criação de um modelo que conjugasse as 4 dimensões que interferem na internacionalização das empresas e consequentemente afetam o IDE: os fatores de atração que representam o meio envolvente contextual de Portugal e o meio envolvente transacional (setor do Turismo) e os fatores impulsionadores, que nada têm a ver com o país de acolhimento, mas com as características da empresa e características do país de origem dos investidores e que podem condicionar a decisão de investir no estrangeiro. Este modelo permitiria:

(1.1.) Identificar quais os fatores específicos de Portugal considerados mais atrativos para IDE; (1.2.) Identificar quais os fatores específicos do setor turístico considerados mais atrativos para IDE;

(1.3.) Perceber se os países que mais investem em Portugal são também os países que mais turistas emitem para Portugal;

(1.4.) Perceber se investidores provenientes de diferentes mercados investem em diferentes regiões portuguesas;

(1.5) Verificar se quanto maior é a empresa mais investe em Portugal;

(1.6) Perceber se os constrangimentos na atração de IDE estão mais ligados às características genéricas do país ou às características específicas do setor do Turismo;

• (2) Criação de uma base de dados de investidores estrangeiros a explorar empreendimentos turísticos e unidades de alojamento local em Portugal continental;

• (3) Identificar cronologicamente o início do IDE no setor do Turismo em Portugal;

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• (5) Identificar em termos geográficos a localização do IDE em Portugal;

• (6) Identificar quais os grupos económicos mundiais a trabalhar em Portugal no subsetor do Alojamento;

• (7) Identificar o recurso ou não dos investidores estrangeiros a apoios/incentivos governamentais;

• (8) Perceber o papel da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) e do Turismo de Portugal, I.P. (TP) para com o IDE em Portugal.