• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO III. INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO E TURISMO

III.2. O INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NO SETOR DO TURISMO

III.2.2. ENTRAVES AO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO

São vários os fatores que podem deter os potenciais investidores estrangeiros a atuar no setor do Turismo. Esses entraves podem ser resumidos através do insuficiente apoio governamental e insuficientes incentivos ao investimento, falta de infraestruturas de apoio, sistemas de posse de terra complexos, multiplicidade de agências (muitas com sobreposição de funções), tempo excessivo na tomada de decisões, falta de peritos locais adequados e inadequados regimes de formação (Snyman & Saayman, 2009).

Para Forsyth e Larry (2003) o sistema de impostos pode, naturalmente, desencorajar os investidores estrangeiros a investirem no Turismo. A remoção de taxas de exportação e subsídios de importação são apontados como prioritários por Chen e Devereux (1999) para os decisores políticos da África Subsariana. No estudo levado a cabo por Breda et al. (2008), sobre a internacionalização das empresas portuguesas no Brasil, foram identificadas como principais dificuldades a carga fiscal, a burocracia e a situação sócio-política do país de acolhimento. Por vezes também as condições endógenas da empresa podem ser um obstáculo, como por exemplo, a insuficiência de recursos humanos qualificados, a dimensão da empresa, a falta de experiência internacional e a sua estrutura organizativa.

III.2.3. IMPACTOS POSITIVOS DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NO TURISMO

Os impactos do IDE no Turismo variam em função das características dos países de acolhimento, do desenvolvimento do setor do Turismo, da estratégia e características da empresa, do contexto histórico, do ambiente envolvente e características geográficas. Os impactos podem ser mais ou menos visíveis. De acordo com Dwyer e Forsyth (1994) os impactos do IDE no Turismo têm atraído menos atenção na literatura do que aquilo que era esperado. Apesar do IDE representar um papel importante no desenvolvimento do Turismo mundial a análise dos seus impactos tem sido negligenciada. No entanto, os estudos que existem permitem concluir que mais do que nunca, os países a todos os níveis de desenvolvimento procuram alavancar o IDE para o seu desenvolvimento (Subbarao, 2008), sendo que este pode ser um dos veículos através do qual os países podem desenvolver o setor do Turismo (UNCTAD, 2007).

Os decisores políticos nas pequenas economias turísticas devem conduzir as políticas de investimento estrangeiro de uma forma cuidadosa, avaliando os impactos num quadro sócio- político amplo. A forma como os destinos/países de acolhimento atraem agressivamente

94

investimento estrangeiro para o Turismo, depende da evolução global dos impactos nas comunidades de acolhimento (Sheng & Tsui, 2010). De acordo com a UNCTAD (2007) o IDE funciona como um complemento ao investimento doméstico, promovendo o comércio e transferência de conhecimento, competências e tecnologia. Cria empregos e ajuda a colocar os destinos no mapa turístico. As marcas estrangeiras melhoram a imagem dos locais, ao mesmo tempo que trazem estabilidade e confiança, aumentando a procura turística. Daqui pode surgir um impacto indireto, uma vez que os turistas podem tornar-se investidores. A tabela III.4. resume os impactos apresentados no estudo levado a cabo pela UNCTAD (2007).

Tabela III. 4. Impactos do IDE no setor do Turismo Impactos na Procura

Turística

As EMN colocam os países de acolhimento no mapa e as marcas estrangeiras contribuem para a imagem turística dos destinos. Estas podem ser mais robustas e estáveis que as empresas locais e isso ajuda a estabilidade e confiança de uma economia.

Impactos no Capital e nas Tecnologias

Apesar da contribuição financeira relacionada com as EMN ser relativamente pequena em muitos países em desenvolvimento, especialmente porque o seu envolvimento toma a forma de non-equity, estas podem conceder financiamento e conhecimento para investir em terrenos, infraestruturas e edifícios (injetam novo capital). Podem, também, introduzir uma gama diversificada de novas tecnologias e ferramentas (gestão avançada e desenvolvimento de sistemas financeiros). As EMN ajudam a diversificar os produtos.

Impactos nos Recursos Humanos

As EMN criam empregos (proporcionalmente geram mais emprego que as empresas locais). Muitas vezes pagam salários mais elevados e oferecem melhores condições aos funcionários. Provocam, ainda, uma transferência de competências, conhecimentos, produtos e técnicas.

Impactos nas Empresas Locais

As EMN fazem um esforço para estabelecer ligações com os fornecedores locais e distribuidores, muitas vezes superior às empresas locais.

Impactos na Balança de Pagamentos

Existem poucas evidências de que as EMN provocam mais impactos negativos na balança de pagamentos que as empresas locais. Estas repatriam lucros, mas ao mesmo tempo impulsionam a chegada de turistas e ganhos em moeda estrangeira consideráveis.

Fonte: elaboração própria com base em UNCTAD (2007)

Num outro estudo levado a cabo pela UNCTAD (2008) são identificados como impactos do IDE no Turismo a criação de empregos, aposta na formação, incentivos a compras, diversificação da economia, desenvolvimento de infraestruturas, transferência de tecnologias e competências, entre outros. Neste estudo são ainda identificados os impactos sociais, sendo referido que o IDE no Turismo pode contribuir para a redução da pobreza e melhoria das condições de vida local. Já Chen e Devereux (1999) haviam examinado os impactos sociais do IDE na indústria turística da África Subsariana, concluindo que o IDE geralmente eleva os ganhos de bem-estar associados ao Turismo. No entanto, na opinião de Dwyer e Forsyth (1993) os impactos socioeconómicos do IDE no Turismo são difíceis de aceder e parecem não ser muito significativos.

95

O IDE pode, ainda, trazer para a indústria turística facilidade nas formas de acesso ao financiamento, publicidade e programas de marketing e distribuição e redes de reservas mundiais, acesso a grupos de fornecedores e compradores mundiais e transferência de tecnologias. Não é de minorar, também, a importância do uso de uma imagem de marca reconhecida internacionalmente, normalmente associada a notoriedade e credibilidade (Colantonio, 2005). Para Peric e Radic (2010) o IDE pode representar um papel significativo no desenvolvimento económico, em particular através do melhoramento das infraestruturas do país como os aeroportos, autoestradas e hotéis que são os pilares do desenvolvimento turístico. Kusluvan e Karamustafa (2001) enumeram sete benefícios que o IDE pode provocar no setor do Turismo: (1) aumento do financiamento de investimentos; (2) transferência de especialistas e de competências de gestão; (3) relações com o mercado; (4) eficiência; (5) garantia da qualidade do serviço e segurança e imagem de destino positiva; (6) aumento da competitividade (7) efeito de demonstração para os empresários locais.

O IDE provoca impactos na procura turística, na capacidade de oferta, na formação de capital, criação de infraestruturas e alojamento, aumento dos lucros das empresas, reinvestimentos, aumento das taxas de ocupação, acesso ao marketing global e a cadeias globais de distribuição. Contribui para a intensificação da transferência de tecnologias, benefícios de economias de escala e na área de recursos humanos gera empregos, formação e conhecimento (Barrowclough, 2007). Para além de tudo isto, os turistas podem transformar-se em futuros investidores. De referir, ainda que para Forsyth e Larry (2003) o IDE pode servir para incrementar o Turismo se isso resultar na redução dos preços pagos pelos turistas.

III.2.4. IMPACTOS NEGATIVOS DO INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO NO TURISMO

Para Sheng e Tsui (2010) os impactos do IDE no Turismo variam muito entre os países (pequenos ou grandes, desenvolvidos ou em desenvolvimento). Sendo que nos países de maior dimensão, onde o setor do Turismo tem um papel relativamente pequeno na economia nacional, os impactos negativos não são tão visíveis, enquanto nas economias turísticas pequenas (área geográfica pequena, população reduzida, recursos limitados e capacidade de carga limitada) são mais significativos.

O investimento estrangeiro no setor do Turismo em economias pequenas pode trazer efeitos adversos, resultando em excessiva confiança e em elevado risco para a economia da comunidade anfitriã (Copeland, 1991). Além disso, Brohman (1996) considera que apesar do IDE estimular a

96

expansão do Turismo, muitos países em desenvolvimento, enfrentam enormes desafios para superarem a pobreza e a desigualdade, muitas das vezes, devido à dominação económica por parte das EMN, dando lugar a relações socioeconómicas desiguais. O IDE pode representar a diminuição de benefícios económicos, o desenvolvimento do Turismo inapropriado na forma e na escala, a diminuição dos custos e dos riscos do investimento, a elevada dependência das EMN, a dominação estrangeira e até consequências negativas ao nível ambiental e cultural (Kusluvan & Karamustafa, 2001)

Outros autores apresentam visões negativas semelhantes na avaliação dos impactos do IDE no Turismo (e.g. Clancy, 1999; Freitag, 1994; Mitchell & Ashley, 2006; Oppermann, 1993; Perez, 1973; Thompson et al., 1995).