• Nenhum resultado encontrado

Contextualizando a pesquisa

No documento Download/Open (páginas 49-52)

Capítulo II – O caminhar da pesquisa

2.1 Contextualizando a pesquisa

O caminhar da pesquisa, título deste capítulo, foi escolhido para marcar o aspecto paulatino em que foi constituída esta pesquisa, pois foi dessa forma que ao longo do percurso no Mestrado foi-se desvelando que a análise do problema de

37 pesquisa era muito mais complexa e rica do que parecia no princípio, uma vez que as variantes que envolviam este problema deviam ser vislumbradas sob todos os prismas possíveis.

A análise do cotidiano envolve muito mais do que apenas descrever as dinâmicas e as rotinas diárias. Envolve também, uma profunda reflexão e uma investigação sobre a infinita gama de relações, papéis e representações dos sujeitos neste cotidiano. O pesquisador deve estar atento a todos esses detalhes, pois do contrário o seu estudo ficará muito superficial.

A riqueza das ações cotidianas está no “implícito”. Na percepção de como as coisas diariamente são reconstruídas, recriadas, reutilizadas pelas sutilezas dos acontecimentos que as permeiam. O “invisível” que torna-se “imprescindível” quando paramos para estudá-lo, pormenorizadamente , com a curiosidade de enxergamos como crianças o fato pela primeira vez, procurando a compreensão do que vemos com outros repertórios que não sejam somente os nossos, mas também outros referenciais.

Essa tentativa de mergulhar no cotidiano buscando novas significações proporciona ilimitadas perspectivas, de tal sorte que denota a complexidade em que as ações humanas estão embasadas. Portanto, torna-se emergencial perceber que a subjetividade envolvendo todos os fatos, coisas e pessoas precisam ser levadas em consideração para uma análise mais complexa e fidedigna daquilo que será considerado como nosso objeto de estudo.

A complexidade inerente ao objeto de pesquisa educacional – que na verdade é sujeito e não meramente um objeto – nos remete a uma tentativa de compreender e entender todas as dimensões que o compõem e permitem visualizar a totalidade e não a fragmentação desse ser.

Reconhecer a complexidade como fundamental em um âmbito de conhecimento dado é então, por sua vez, postular o caráter ‘molar’, holístico da realidade estudada e a impossibilidade de sua redução por recorte, por decomposição em elementos

38

mais simples. (ARDOINO apud MARTINS, 1995, p. 8). Ao mesmo tempo essa consciência de que a pesquisa ocorre em um terreno complexo permite ao pesquisador-sujeito compreender suas possibilidades e suas limitações neste processo, tornando-o também sujeito histórico de sua história. Essa complexidade nos permite apreender que não existe apenas uma verdade pronta e acabada, mas sim, que a nossa verdade pode ser relativizada, posto que o nosso “olhar” pode ser permeado por diferentes variáveis, uma vez que este nosso “olhar” não se faz neutro, mas leva também as nossas implicações. Implicação aqui entendida como aponta Barbier (apud Martins1985):

... Engajamento pessoal e coletivo do pesquisador em expor sua práxis científica, em função de sua história familiar e libidinal, de suas posições passadas e atual nas relações de produção e de classe, e de seu projeto sócio-político em ato, de tal modo que o investimento que resulte inevitavelmente de tudo isso seja parte integrante e dinâmica de toda atividade de conhecimento (p. 120).

Esse novo olhar nos proporciona descobrir que as reflexões e as significações que fazemos acerca dos fatos, coisas e pessoas possuem muito da nossa experiência, vivências e histórias e são transpostas ao nosso modus vivendi e a nossa forma de encarar o mundo. Ao que parece, esse conhecimento torna impossível ao pesquisador-sujeito encarar o seu problema de forma superficial, pois mesmo que o faça por uma questão de tempo e síntese, saberá de suas escolhas e terá consciência de que muitos outros pontos de sua pesquisa não foram levados em consideração.

Conforme já foi mencionado na introdução, a problemática aqui suscitada tem a ver com o objeto de trabalho inerente à coordenação pedagógica. Neste momento, é oportuno um recorte retratando minha experiência na função de Professora Coordenadora, para melhor explicitar como o estudo se desenvolveu. No

39 decorrer da pesquisa, devido às flutuações comuns ao serviço público em geral e, especialmente ao fato de a coordenação na rede estadual ser posto de trabalho, minha função sofreu alteração ao longo desse processo, por motivos burocráticos e legais. Atualmente estou no cargo efetivo de PEB II17 em uma escola de Santo

André. Esse afastamento temporário da função de Professor Coordenador trouxe-me significativo distanciamento da problemática do HTPC, do ponto de vista daquele que notadamente coordena esse espaço. Entretanto, permitiu-me ver o outro lado da moeda que neste caso é o pertencimento a um grupo de HTPC enquanto docente- pesquisador que analisa as ações formativas no HTPC. Um enriquecimento como este é algo muito produtivo do ponto de vista da problemática, já que vivenciei duas diferentes posições, neste caso, hierarquicamente falando. No entanto, tornou-se difícil ser imparcial, pois as minhas implicações neste caso são também de ordem gestora.

Conhecer como se dá a formação continuada na escola, a partir do espaço de aprendizagem do Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC) é o propósito central dessa pesquisa. Para atingir esse objetivo, são destacados os aspectos que devem permear essa análise:

• As contribuições da abordagem multirreferencial como fundamentação teórica em confrontação com a observação realizada;

• As estratégias e táticas utilizadas pelos professores e Professor Coordenador frente à burocratização do espaço de aprendizagem;

• O discurso, como meio de compreensão das concepções da realidade dos professores e Professor Coordenador dos HTPCs observados.

No documento Download/Open (páginas 49-52)

Documentos relacionados