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3 ANÁLISE DO DISCURSO BASEADA EM FRAMES : UMA PERSPECTIVA

4.1 Contextualizando o Corpus : as Transcrições das Audiências Públicas da

SUG nº 15/2014

Esta investigação configura-se como um estudo de caso, pois sua análise está restrita a um objeto específico, “[...] de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e detalhado.” (GIL, 2008, p. 58). Mais especificamente, a análise se restringe às transcrições das audiências públicas, disponibilizadas no formato de atas de reunião, que debateram a Sugestão Legislativa nº 15 entre maio de 2015 e abril de 2016. Tais registros permaneceram disponíveis no Portal e-Cidadania enquanto a Sugestão tramitava no Senado.3 Os cinco arquivos – um para cada audiência – foram disponibilizados no formato RTF (Rich Text Format), que é compatível com todas as versões do Microsoft Word e com editores mais simples, como o WordPad. A imagem a seguir exibe os arquivos baixados, mantendo sua nomenclatura original:

Figura 11 - Formato original das transcrições da SUG 15

Fonte: Elaborada pela autora.

Ao todo, o corpus na íntegra tem pouco mais de 140 mil palavras, totalizando cerca de 230 páginas.4 Considerando a extensão média do material, que pode ser considerado um corpus pequeno (BERBER SARDINHA, 2000), foi possível fazer

3 Após o arquivamento da SUG, os links para os arquivos com as transcrições foram eliminados da interface do site.

uma leitura integral dos dados antes de começar a manipulá-los – tarefa que não é possível quando a extensão considerável do corpus permite apenas sua manipulação por meio de ferramentas digitais. Além disso, como se trata de um estudo de caso, consideramos necessária uma etapa de maior familiarização com o conteúdo do corpus, ainda que de forma preliminar ao exercício analítico propriamente dito. Observamos que, nesse processo, separamos do material as falas dos senadores que presidiram as seções, os quais abriam as audiências lendo um texto que retomava a pauta da SUG e apresentando os convidados. Visto que suas falas se reduzem, em sua maioria, a estabelecer o protocolo a ser seguido nas sessões, separamos apenas alguns dos segmentos dessas aberturas para discuti- los em nossa primeira etapa analítica, que analisa as características do macrocontexto das audiências. A figura a seguir reproduz a abertura da primeira ata de reunião da SUG, que traz a transcrição do evento. Como é possível observar, o texto abre com um resumo que abrange a retomada da pauta das audiências e elenca todos os participantes presentes:

Figura 12 - Abertura da primeira ata de reunião da SUG 15

A figura a seguir reproduz a transcrição da abertura realizada pelo então presidente da CDH, o senador Paulo Paim, na primeira audiência:

Figura 13 - Transcrição inicial da fala do presidente da CDH Paulo Paim

Fonte: Acervo da autora.

Essa etapa do processo de preparação do corpus a partir de uma leitura preliminar ainda incluiu o mapeamento dos participantes (processo cujos resultados são explorados na primeira parte de nossa análise) de acordo com sua categoria de participação: se eram painelistas convidados, que expuseram seu posicionamento ao longo de 15 minutos; ou se eram participantes que pediram direito de fala ao final das exposições finais, cujo tempo-limite para arguição era de três minutos – em alguns casos, houve a participação dos próprios painelistas na sessão final, geralmente para reiterar os principais pontos de sua apresentação. Inicialmente, separamos os convidados painelistas e os demais participantes das sessões nas grandes categorias “pró-SUG” e “anti-SUG” – ou seja, consideramos que aqueles que defendem a regulação do aborto nas 12 primeiras semanas de gestação como pró-SUG; e aqueles que se opõem à proposta, como anti-SUG. Reiteramos que evitamos os termos “pró- aborto” e “antiaborto”, de acordo com as justificativas expostas na seção 2.15.

A Figura 14 exibe a segunda segmentação realizada, a partir da qual realizamos uma terceira classificação por participantes, com vistas a rastrear algumas características dos dados ao longo do processamento do corpus.

5 Cf. nota de rodapé de nº 18.

Figura 14 - Segmentação do corpus por participantes pró-SUG e anti-SUG

Fonte: Elaborada pela autora.

Como mostra a Figura 15, criamos um padrão de nomeação conforme os exemplos a seguir:

A1_PS_1_MV_Med – A3_AS_2_EG_Pol

Nesses dois casos, temos a seguinte notação: A1 e A3 = audiência pública 1 e audiência pública 3 (a numeração vai até 5); PS e AS = pró-SUG e anti-SUG; MV e EG = iniciais das respectivas participantes; e Med e Pol = iniciais do grupo socioprofissional que representam – médico(a) e político(a) – ao se manifestarem na respectiva audiência, conforme as credenciais incluídas nas atas e reproduzidas pelos próprios painelistas. Assim, trata-se dos papéis institucionais (LANGLOTZ, 2015) que os painelistas desempenham nesse âmbito.

Figura 15 - Segmentação do corpus por audiência pública, participante, posicionamento e papel institucional

Ao todo, chegamos a um total de 78 participantes, como mostra a figura a seguir. Observamos que esse número não abarca dois painéis realizados em língua espanhola, os quais ocorreram, respectivamente, na quarta e na quinta sessões. Diante da ausência de tradução e transcrição, optamos por estabelecer o recorte do corpus a partir do idioma, abarcando na análise somente os painéis e as demais participações feitas em língua portuguesa. Após esse mapeamento, considerando a primeira leitura do material, organizamos quadros com uso do Microsoft Excel, no qual sistematizamos os dados em cinco colunas, quais sejam: nome do participante; papel institucional; posicionamento em relação à SUG (contra ou a favor da proposta); resumo da sua exposição em uma frase; e palavras-chave coletadas ao longo da leitura, com o objetivo de mapear preliminarmente os temas abordados por cada sujeito. Essa esquematização está disponível no Apêndice A. Observamos ainda que, nesses quadros, a divisão entre os painelistas e os demais participantes é feita por meio da expressão “[Último painel]”, inserida na coluna “Resumo”.

Considerando que, em um estudo de caso, são empregados diferentes meios de coleta de dados para mais bem compreender o contexto investigado (YIN, 2001), valemo-nos também de outras fontes que nos auxiliaram tanto a construir a macrocontextualização da SUG (vide Capítulo 2) quanto a analisar esse contexto como ambiente institucional cujas configurações incidem sobre os usos linguísticos (HANKS, 2008). Especificamente, nossa coleta compreendeu: (i) três mensagens recebidas do Alô Senado, por meio do formulário de contato disponível online (Apêndice B), que esclareceram os seguintes pontos: como foram escolhidos os participantes da SUG (vide seção 2.3), como foi elaborado o parecer que arquivou a Sugestão e quais seriam as possibilidades de desarquivamento da matéria; (ii) uma breve entrevista, realizada por e-mail, com o proponente da ideia legislativa que originou a SUG; (iii) o relatório de arquivamento da SUG, cuja autoria oficial é atribuída ao senador Magno Malta.

Após a preparação e a compilação das transcrições, pudemos avançar na manipulação dos dados por meio das ferramentas computacionais NVivo e Sketch Engine, que são contextualizadas na seção a seguir.