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3 ANÁLISE DO DISCURSO BASEADA EM FRAMES : UMA PERSPECTIVA

3.3 Frames e(m) Discurso: Estudos Anteriores

Esta seção aborda alguns estudos que foram cruciais para as escolhas teórico-metodológicas realizadas no âmbito desta tese. Vale destacar que a maioria das investigações encontradas76, que analisam frames sob uma ótica discursiva, é de origem brasileira (vide seção 3.3.1). Tais pesquisas, embora focadas em contextos distintos ao desta tese, ocupam-se de objetos de estudo calcados em

75 No original: “[…] frames are both cognitive structures for organizing our experience and at the same time analytical tools that can be implemented to analyse precisely these structures.”

76 Para a busca desses estudos, realizamos os mesmos procedimentos efetuados ao longo da coleta de trabalhos anteriores sobre abortamento e sobre a SUG 15 (vide seção 2.4). As palavras-chave inseridas e cruzadas nessa busca (por meio do operador booleano “and”), em língua inglesa e portuguesa, foram: “semântica de frames” e “discurso”.

nossa realidade cultural e discursiva, sob uma ótica interdisciplinar, cujos resultados, portanto, também se prestam a indicar possíveis percursos de estudo em diversos corpora do português brasileiro.

Primeiramente, destacamos alguns trabalhos do grupo COGITES (Cognição, Interação e Significação), coordenado pela Prof.ª Dr.ª Edwiges Morato (Unicamp), que se ocupa da análise de interações em contextos que envolvem principalmente pessoas com afasia ou com Doença de Alzheimer (DA). Em uma interface que articula semântica cognitiva e linguística textual e dialogando com estudos neurolinguísticos, seus trabalhos têm evidenciado a pertinência de uma concepção sociocultural de cognição para compreensão das interações entre (e com) indivíduos que possuem patologias neurológicas, contestando concepções meramente biológicas acerca do funcionamento do cérebro humano. (COGITES, [2018?]).

No artigo “A noção de frame no contexto neurolinguístico: o que ela é capaz de explicar?” (MORATO, 2010), a autora defende a existência de um continuum, e não de uma dicotomia, entre frames de conhecimento e frames interacionais. Nesse contexto, ao analisar uma interação entre uma pesquisadora e um indivíduo portador da Doença de Alzheimer em estágio inicial, em um momento cujo tópico era o significado da expressão metafórica chá de cadeira, o estudo mostra como foi possível verificar a emergência de frames semânticos (relativos ao conhecimento que os interagentes tinham a respeito da expressão) e de frames interacionais (concernentes, por exemplo, ao conhecimento sobre as trocas de turnos de fala e sobre a estrutura de interações em diferentes contextos), os quais permearam as negociações de significado entre os interagentes. Como desafios para estudos posteriores, Morato salienta a pertinência de análises não dicotômicas baseadas em frames e a necessidade de “[...] uma articulação mais estreita entre as chamadas análises macro e as análises micro” (MORATO, 2010, p. 112) – aspecto que vai ao encontro dos propósitos deste trabalho, que associa um estudo macrocontextual do corpus a uma análise de seus frames semânticos.

Em Morato et al. (2012, p. 712), os autores objetivam analisar “[...] processos implícitos de significação verbal e não verbal que atuam na construção da referência no contexto de interações entre afásicos e não afásicos”. A análise mostra o entrelaçamento entre frames variados acerca do país, voltados a aspectos como: “[...] região de beleza topográfica, lugar de circulação da elite europeia, um dos vários paraísos fiscais existentes, residência do piloto brasileiro Ayrton Senna, uma

das sedes da corrida de Fórmula 1.” (MORATO et al., 2012, p. 724). Dessa forma, segundo os autores, a análise baseada em frames permitiu a verificação do modo como os interagentes desenvolveram o tópico discursivo em jogo.

Essa mesma interação é retomada em Morato e Bentes (2013). Nesse recorte, além de explorarem a dinâmica entre frames interacionais e de conhecimento, aspecto não explorado na publicação anterior, as autoras enfatizam a dimensão discursiva dos frames no desenvolvimento do tópico Mônaco. Segundo elas,

Podemos perceber, no fio do discurso (FRANÇOIS, 1993) e na organização sequencial do episódio, um interessante movimento de solidariedade recíproca entre gestão do tópico e construção referencial, pautada – entre outras coisas - pela conexão entre frames e pelas perspectivas assumidas intersubjetivamente pelos interactantes em relação ao referente Mônaco. Esse movimento, a nosso ver, assinala o caráter dinâmico, situado e discursivo do frame.

Ainda no contexto relativo a patologias cognitivas, destacamos a dissertação de Siman (2015), cujo objetivo foi identificar os frames biomédico e psicossocial da Doença de Alzheimer, a partir de entrevistas realizadas com médicos, especialistas não médicos e leigos. (SIMAN; MORATO, 2016). Conforme explicam as autoras, o modelo biomédico realça as categorias neurobiológicas da doença e sua evolução, bem como o processo de comprometimento de habilidades cognitivas como memória e raciocínio lógico; já o modelo psicossocial abarca características socioculturais, considerando “[...] um processo dialético entre danos neurológicos (ou doenças do cérebro) e fatores psicossociais”. (SIMAN; MORATO, 2016, p. 3). As análises empregadas envolveram consulta à plataforma FrameNet Berkeley, de modo a identificar frames relacionados à pesquisa das autoras e a verificar seus respectivos elementos nas entrevistas coletadas. As pesquisadoras ressaltam que foi necessário aprofundar a descrição dos frames conforme seus objetivos de pesquisa, criando novos elementos que mais bem refletissem a complexidade do domínio estudado. Os resultados do estudo indicaram a emergência de ambos os frames em todos os grupos de entrevistados, de acordo com o tópico da interação – por exemplo, “[...] para explicar a DA, recorrem ao modelo biomédico; para entender o doente e as implicações da doença, pautam-se no modelo biopsicossocial”. (SIMAN, 2015, p. 6). Além disso, a pesquisa indica que, de modo geral, “[...] o frame epistêmico da DA é ainda o das Ciências Naturais, mesmo que haja tendências de superação de um biologismo reducionista de tipo organicista ou fisicalista”. (SIMAN; MORATO, 2016, p. 13).

Também é relevante a nosso estudo a tese de Martins (2015), que se ocupa da análise de frames no contexto do neopentecostalismo brasileiro. Desse modo, o trabalho se volta a um domínio que não envolve indivíduos com patologias neurológicas, indicando a pertinência da metodologia desenhada pelo grupo COGITES para análise de corpora de outra ordem, utilizados para diferentes propósitos investigativos. No caso da tese de Martins, tem-se como objetivo verificar a presença de frames neoliberais na retórica neopentecostal, analisando-se sermões feitos por líderes de duas igrejas: bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus; e missionário R. R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus. Situando sua abordagem em uma “perspectiva textual-interativa”, o autor parte da identificação de cenas referenciais (TOMASELLO, 1999; MORATO et al., 2012) – definidas como “[...] um evento comunicativo para onde é direcionada a atenção dos interlocutores em uma interação”. (MARTINS, 2015, p. 6). Dessa forma, esse construto é considerado como intermediário entre marcas linguísticas e frames, ou, conforme explica o autor, “[...] entre uso da língua e cognição.” (MARTINS, 2015, p. 117). Os frames são também identificados a partir de consultas à FrameNet Berkeley. Além disso, o autor indica que a FrameNet Brasil também foi utilizada como plataforma de consulta a frames a partir das unidades lexicais verificadas no corpus.

Um dos aspectos investigativos valorizados por Martins que contribuíram consideravelmente para esta tese concerne à preocupação com a convergência entre análises macro e micro, conforme postulado em Morato (2010) e referido nesta seção. Para isso, Martins realiza uma “(macro)contextualização” do neopentecostalismo no Brasil em capítulo à parte, que respalda sua análise a partir de frames – aspecto que nos motivou a propor um capítulo de (macro)contextualização da SUG 15/2015, com vistas a mais bem compreender seus desdobramentos. Conforme reforça o autor, com base em Bentes e Rezende (2014), a compreensão de aspectos sócio-históricos relacionados ao objeto de estudo reflete uma valorização do contexto social e cognitivo “[...] no qual estão assentadas as representações que os sujeitos possuem sobre a língua e o mundo social que os cerca.” (MARTINS, 2015, p. 13).

Por fim, o artigo de Morato et al. (2017) atualiza os leitores quanto a alguns caminhos metodológicos percorridos pelo grupo até então. No contexto de interação entre afásicos e não afásicos, as perguntas de pesquisa são: “(i) como a instauração e a mobilização de frames (re)organizam o desenvolvimento do tópico discursivo? (ii)

como os frames atuam na construção da referenciação (sobretudo, mas não só) no contexto das afasias?” (MORATO et al., 2017, p. 94). A metodologia reforça novamente a pertinência da articulação entre tópico discursivo e frame: as interações são segmentadas em tópicos e, a partir desses segmentos, os frames são identificados com base no conteúdo disponível na FrameNet Berkeley. Também há descrição de frames não disponíveis nessa base, bem como o detalhamento de alguns aspectos relativos às estruturas já descritas, conforme necessário.

De modo geral, quanto à utilização da FrameNet como parâmetro para identificação de frames em trabalhos do Grupo COGITES, é interessante observar alguns cuidados relativos ao uso parcimonioso da plataforma. Por exemplo, conforme observa Siman (2015, p. 5), a Semântica de Frames, por meio do Projeto FrameNet, foi utilizada em sua pesquisa “[...] como referência (mas não como limite) para as análises e discussões produzidas [...]”, visto que o projeto lexicográfico de Fillmore, embora seja muito rico em descrições da língua inglesa que podem ser adaptadas a análises em língua portuguesa, não dá conta da complexidade de domínios especializados, fator que demanda a criação de novos frames conforme a necessidade do(a) analista.

Ao encontro disso, o grupo coordenado pela Prof.ª Dr.ª Neusa Salim Miranda, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), também acaba indicando a pertinência do uso da plataforma apenas como ponto de partida, principalmente considerando o contexto de trabalhos cujo foco não consista em descrever propriedades sintático-semânticas de unidades lexicais, mas sim em identificar frames ativados em determinada prática social – como é o caso desta tese. Nesse contexto, as investigações interdisciplinares de tal grupo de pesquisa surgiram a partir de inquietações como a relatada em Miranda e Loures (2016, p. 525-526):

A primeira questão mobilizadora deste estudo foi a percepção intuitiva e cotidiana de uma crise das práticas interacionais e linguísticas em instâncias públicas em nossa sociedade (cerimônias religiosas, formaturas, cinemas e outros espaços de lazer e cultura). Falta de delicadezas, de generosidade; ostentação e individualismo; confusão entre o direito à fala e o dever da escuta; invasão, no domínio público, de práticas sociais do mundo privado.

A partir disso, a primeira fase das investigações do grupo focou no delineamento do “mapa da crise” na educação básica, realizando análises dos frames que emergiam do discurso de alunos e professores nesse contexto.

Dessa fase, o primeiro trabalho que destacamos é o de Lima (2009), que buscou investigar a perspectiva discente do frame Aula, por meio de entrevistas realizadas em “[...] vinte e uma escolas da rede pública municipal de ensino de Juiz de Fora - MG, tomando os alunos do 6º e 9º ano do ensino fundamental”. (LIMA, 2009, p. 6). Como em todos os trabalhos do grupo, utilizou-se a FrameNet Berkeley como parâmetro, de modo a esboçar uma primeira versão do frame Aula e complementá-lo segundo os instanciadores de Elementos de Frame emergentes das entrevistas. Considerando que as respostas obtidas já eram direcionadas ao frame a ser descrito77, o corpus pôde ser minuciosamente explorado por meio de uma lista de palavras – gerada por meio do software Wordsmith –, que serviu como ponto de partida para a verificação de evocadores e elementos de frame presentes nos dados.

Visto que o estudo se deteve à descrição de um único frame, foi possível aprofundar consideravelmente a análise, realizando-se diversos cruzamentos que evidenciavam os principais usos lexicais feitos pelos alunos. Por exemplo, ao analisar a instanciação dos Elementos de Frame conforme sua realização sintática, foi possível verificar que os discentes entrevistados se colocavam muito mais no papel de pacientes, e não de agentes. Segue um exemplo de definição em que somente o professor é colocado como agente: “[Uma aula] É quando os professores passam os seus conhecimentos para os alunos.” (LIMA, 2009, p. 93). Assim, um dos principais resultados de sua pesquisa indica que “A contradição existente entre a definição do frame Aula e a descrição das ações discentes revela que o aluno, por se ver tal como a sociedade o vê, como Paciente da interação, não percebe em si o perfil de um agente transformador da realidade.” (LIMA, 2009, p. 142).

A dissertação de Bernardo (2011) também se debruça sobre conceptualizações de discentes, mas seu foco não é especificamente o frame Aula: com vistas a verificar as principais percepções dos alunos acerca de suas vivências na escola, o relato que eles fizeram e que originou a geração de dados foi a resposta ao seguinte enunciado: “Conte um caso (bom ou ruim) que aconteceu com você ou algum colega seu na escola.” (BERNARDO, 2011, p. 6). Após extrair uma lista de palavras do corpus e proceder com a verificação dos evocadores e dos elementos de frame, tendo como base a plataforma FrameNet, a autora, constatou, dentre outros resultados, que,

77 As questões que os alunos responderam foram as seguintes: “Para você, o que é uma aula?”; “O que os seus professores fazem nas aulas? O que vocês, alunos, fazem nas aulas? Dê exemplos de suas ações mais comuns, frequentes ou rotineiras.”; “Para você, o que é uma boa aula?”. (LIMA, 2009, p. 78).

“Dentro do macroframe de Indisciplina_Escolar, ganha relevo o subframe Encontro_ Hostil, que, presente em 72,2% dos casos, recobre distintas perspectivas para vivências de violência (física, verbal, psicológica, sexual e depredação).” Quanto aos procedimentos metodológicos adotados, é importante ressaltar que Bernardo também se valeu de algumas relações entre frames, com base na FrameNet, de modo a organizar hierarquicamente os principais cenários identificados.

Alvarenga (2012), em sua dissertação de mestrado, investigou a perspectiva dos alunos de uma escola mineira de periferia em relação a práticas reguladoras da instituição. Seus objetivos concerniram a “[...] investigar, a partir do discurso discente, como os alunos identificam / vivenciam as regras que normatizam suas vivências no ambiente escolar.” (ALVARENGA, 2012, p. 18). Assim como no trabalho de Bernardo, foi estabelecida uma rede de frames a partir da exploração qualiquantitativa das respostas dos entrevistados, procedimento por meio do qual a autora chegou aos seguintes resultados: “A rede de frames desvelada envolve substancialmente regras de conduta, que, ao lado de cenas de Hostilidade [...], desfavorece ou mesmo impede o processo de ensino-aprendizagem.” (ALVARENGA, 2012, p. 8).

Nessa mesma direção, o trabalho de Fontes (2012) objetivou verificar como crianças do Ensino Fundamental conceptualizavam a normatividade desse contexto. A partir dos dados analisados, a autora também estabeleceu uma rede de frames segundo alguns pressupostos da FrameNet, verificando a existência da relação de Uso, que ocorre quando o frame mais específico depende do contexto do frame mais amplo; e da relação Ponto de Vista, a qual indica perspectivas diferentes acerca do mesmo frame. No nível dos Elementos de Frame, Fontes também explora essas diferentes perspectivas (do aluno, da autoridade ou de ambos), verificando quais elementos de frame aparecem nas sentenças e quais são omitidos. Por exemplo, a sistematização a seguir evidencia que “O frame Norma_Comando [...] corresponde à perspectiva de quem estabelece a regra, ou seja, a um papel que, normalmente, no ambiente escolar, não é o do aluno.” (FONTES, 2012, p. 79). Nesse caso, o(a) aluno(a) coloca em cena o ponto de vista da “tia” que estabelece as regras e “manda ficar quietinho”:

Figura 9 - Exemplo de relação entre Elemento de Frame e ponto de vista

Tal exploração dos EFs mostrou-se muito profícua na análise de Fontes, permitindo- lhe verificar que os frames ativados pelos alunos entrevistados sempre indicavam uma relação de coação com a autoridade instituidora da regra, de modo que as relações de cooperação e respeito mútuo não constavam nessas conceptualizações. Na dissertação “Frames e discurso discente – desvelando indicadores de sucesso em um projeto de dramaturgia”, Fonseca (2015) partiu da seguinte pergunta de pesquisa: “[...] quais [são os] indicadores de sucesso em um projeto de dramaturgia de uma escola pública?”. A instituição pública de periferia investigada é conhecida por seus projetos bem-sucedidos nesse domínio das artes cênicas. Ao questionar alunos e professores sobre essa atividade extraclasse, a autora identificou “[...] duas redes hierárquicas de frames: uma cujo macroframe é Agir_Intencionalmente (86 ocorrências – 74% do total) e outra relacionada aos frames Atributos_Graduáveis e Comunicação (25 ocorrências – 26% do total)”. (FONSECA, 2015, p. 5). Interpretando essa rede por meio do diálogo com autores da Educação, Fonseca constatou que o sucesso do projeto de dramaturgia estava assentado, principalmente, no protagonismo dos alunos e nas relações afetivas construídas com a comunidade escolar.

O trabalho de Loures (2013) indica o início de um segundo momento no grupo de pesquisa de Miranda: a partir de então, “[...] a pergunta se estreitou – Como seria o retrato desta cena em sala de aula de Língua Portuguesa? Qual seria, pois, o papel das Letras nesta crise?” (MIRANDA; LOURES, 2016, p. 526). Nesse novo contexto, Loures investigou a imagem de alunos de Português a respeito deles mesmos, face a experiências positivas e negativas em sala de aula. Por meio do frame Autoavaliação, a autora constatou que os alunos construíam uma autoimagem bastante depreciativa, indicando dificuldades e sentimentos negativos em relação à aula de Língua Portuguesa. No entanto, o frame Experiência_Escolar evidenciou vivências positivas, nas quais eles são colocados como agentes no cenário de sala de aula. Ao encontro desses resultados, a dissertação de Siqueira (2013) traçou o perfil de professores de Português por meio da análise de relatos dos alunos. A partir da identificação dos frames Avaliação do Comportamento Docente e Sugestão do Comportamento Docente, foi possível delinear as impressões e sugestões dos alunos acerca das práticas pedagógicas consideradas por eles como positivas ou negativas.

A dissertação de Teixeira (2014) investigou os indicadores de sucesso relativos às práticas docentes em Língua Portuguesa. Por meio de entrevistas com professores de oito escolas mineiras, foi possível tecer uma rede de frames de

práticas exitosas, que se relacionava a aspectos como uso de tecnologias e aplicação de projetos em sala de aula; e uma rede voltada a práticas denominadas pela autora de “rotineiras”, marcadas por uma “[...] emergência do estudo de uma gramática ‘sistematizada’ e do estudo de textos geralmente baseado no livro didático.” (TEIXEIRA, 2014, p. 6). Ao investigar os principais atores dos relatos discentes por meio das instanciações de Elementos de Frame, a autora pôde perceber, por exemplo, que a narração das práticas rotineiras omitia a participação do aluno, atribuindo toda a agentividade ao professor:

Figura 10 - Exemplo de sistematização de Elementos de Frame

Fonte: Teixeira (2014, p. 124).

A tese de Lima (2014) teve por objetivo verificar a perspectiva de graduandos em Letras em relação à estrutura de sua formação superior. As entrevistas foram coletadas no âmbito da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), e a análise dos dados evidenciou a existência dos frames “Formação_profissional_superior em uma relação hierárquica com três subframes que perfilam sua estrutura temporal: Historia_Pregressa, Vivências_no_Curso e Perspectiva_Futura”. Analisando essas estruturas sob uma ótica interdisciplinar e dialogando com autores que estudam políticas educacionais e políticas de currículo, a autora pôde constatar:

(i) as principais razões (amor, paixão, deslumbramento pelo mundo das línguas/das letras e das artes) que mobilizam esses alunos para a escolha do curso de Letras; (ii) o pouco relevo da profissão, em especial a docente, nessa escolha; (iii) e o significativo distanciamento em relação à docência durante e no final do percurso acadêmico. (LIMA, 2014, p. 4).

Após esses produtivos resultados acerca da crise educacional e do papel da área de Letras nesse cenário, o grupo de Miranda iniciou recentemente uma terceira fase, que estabelece “[...] a sua vinculação às pesquisas de natureza interventiva e participativa [...]” (MIRANDA; LOURES, 2016, p. 527). Exemplo disso é o trabalho de Ishikawa (2016), intitulado “A ressignificação das práticas interacionais e linguísticas na sala de aula de Língua Portuguesa”, que transforma a etapa interdisciplinar de análise de frames, contemplada em todos os trabalhos anteriores aqui mencionados, em um estágio diagnóstico, preparatório à etapa interventiva de sua investigação.

Nesse âmbito, a dissertação teve como “[...] meta principal a ressignificação da ‘cena aula’ de modo a torná-la fecunda às metas de letramento almejadas” (ISHIKAWA, 2016, p. 6), e a intervenção ocorreu por meio da criação e aplicação de dois projetos didáticos. A partir de iniciativas como essa, conforme pontuam Miranda e Loures (2016, p. 527), o trajeto de pesquisa do grupo passa a tomar “[...] o rumo da ação, buscando o impacto social desejável”.

No que se refere a trabalhos que se utilizam de frames semânticos e que não partem necessariamente da metodologia delineada pelo criador da Semântica de Frames (FILLMORE; BAKER, 2010), mas que estão inseridos em contextos que se aproximam ao desta tese, encontramos duas recentes pesquisas que analisam corpora de/sobre âmbitos políticos. O estudo de Freitas (2018) investiga manchetes dos jornais brasileiros O Globo e Folha de S. Paulo, de 2014, sobre os então candidatos à presidência Dilma Rousseff e Aécio Neves. Como resultados, a autora conclui que, enquanto Aécio raramente era conceptualizado em frames de ataque, as manchetes que mencionavam Dilma formavam “[...] um universo de palavras em que o frame mais acionado é o embate”. (FREITAS, 2018, p. 73). Alguns exemplos de evocadores encontrados pela autora que evidenciam essas conceptualizações