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A hipótese de Foucault, de que a política é a continuação da guerra por outros meios, aparece em um contexto no qual a relação entre guerra e política é parte fundamental do debate político. De acordo com Jean Terrel, a inversão da fórmula de Clausewitz nasce da prática e do trabalho de Foucault com militantes que se reivindicavam marxistas e que pensavam em uma luta armada363. De modo semelhante, Julien Pallotta afirma que a hipótese de Foucault “soube captar o ar do tempo, e marcar os espíritos por uma fórmula que sintetiza a compreensão da política que teriam então as múltiplas correntes políticas que reivindicam o marxismo”364. Isso se justificaria sobretudo pela relação entre guerra e dialética, que desde meados do século XIX ao início do século XX traçou, também a partir de Clausewitz, um discurso que passa por Marx, Engels e Lenin. Em Guerres et Capital, Maurizio Lazzarato e Éric Alliez destacam o papel importante que a análise da relação entre guerra e capital tiveram para os revolucionários. Segundo os filósofos, em 1915, Lenin teria lido e feito notas sobre a obra de Clausewitz, escrevendo ao lado da famosa fórmula a observação "aproximação com o marxismo"365. Referência que ele retoma um ano mais tarde no texto sobre a falência da segunda internacional:

Aplicada as guerras, a tese fundamental da dialética [...] é a de que “a guerra é um simples prolongamento da política por outros meios” (mais precisamente, pela violência). Tal é a fórmula de Clausewitz, um dos maiores historiadores militares, cujas ideias foram fecundadas por Hegel. E tal foi sempre o ponto de vista de Marx e Engels, que consideraram toda guerra como o prolongamento da política de potências – e das diversas classes no interior dessas últimas [...]366.

Na França, após maio de 68, a fórmula de Clausewitz é retomada no âmbito de uma nova crítica das relações entre guerra e política. Segundo Julien Pallotta, após maio de 68 um discurso sobre a guerra civil começa a ser difundido em torno da “Gauche prolétarienne”,

362 DS, p. 189, p. 202.

363 Terrel, Les politiques de Foucault, p. 52.

364 Pallotta, Politique et État a partir de Louis Althusser, p. 126. 365 Alliez; Lazzarato, Guerres et capital, p. 306.

grupo de extrema esquerda maoísta do qual Foucault era próximo de alguns membros367. Assim, em 1969 Alain Geismar e Serge July publicam o livro Vers la guerre civile. No mesmo ano, André Glucksmann, publica a obra Le discours de la guerre. Contudo, esse debate não se restringia somente à esquerda maoísta. De acordo com Aurélie Knüfer, Clausewitz foi amplamente citado nos trabalhos dos anos 70, tanto por pensadores da extrema esquerda quanto por intelectuais liberais368. Clausewitz estava então no centro das discussões filosófico-políticas da época como, por exemplo, no livro de Raymond Aron, Penser la

guerre, Clausewitz, publicado no mesmo ano do curso de Foucault e resenhado no ano

seguinte por Claude Lefort369.

Que o discurso revolucionário, sobretudo a teoria da revolução desenvolvida por Marx no século XIX, tenha como mote maior a “guerra oculta” no interior da sociedade é um tema já reconhecido e discutido por Foucault370. No entanto, fazer a genealogia desse discurso compreende realocá-lo sob uma perspectiva maior, que é a da contra-história da guerra das raças. No presente curso, Foucault encontra a justificação de sua hipótese no próprio Marx. De acordo com o filósofo francês, Marx escreve a Engels em 1882: “Mas, nossa luta de classes, tu sabes muito bem onde a encontramos: nós a encontramos nos historiadores franceses quando eles narravam a luta das raças”371. Na verdade, Foucault se refere à carta de Marx a Weydemeyer de 1852, em que o filósofo alemão recomenda que se leia as obras históricas de Thierry, Guizot e John Wade a fim de poder “adquirir algumas luzes sobre a história das classes no passado”372. Nessa mesma carta, Marx deixa claro qual a proveniência da ideia de luta de classes: "não é meu o mérito nem da descoberta da existência de classes na sociedade moderna, nem da luta entre elas. Muito antes de mim, historiadores burgueses haviam retraçado a evolução histórica dessa luta de classes, e economistas burgueses haviam colocado em evidência a anatomia econômica"373. Dois anos mais tarde, Marx escreve a Engels uma carta na qual comenta as teses de Thierry, marcando as diferenças entre seu pensamento e a do historiador burguês, sobretudo no tocante à origem do antagonismo entre burguesia e povo. Marx afirma nessa ocasião que Augustin Thierry é o "pai da luta de

367 Pallotta, Politique et État à partir de Louis Althusser, p. 124. Entre os membros da gauche proletárienne que eram próximos de Foucault podemos citar Daniel Defert seu companheiro e André Glucksmann.

368 Knüfer, Métamorphoses d'une formule, s/n.

369 Quatro anos depois do curso de Foucault a relação entre Estado, guerra e Clausewitz também será tema do curso de Gilles Deleuze intitulado Appareil d'état et machine de guerre. Cf. cours du 18 mars 1980.

370 Discutimos esse problema nas duas primeiras seções desse capítulo. 371 DS, p. 67, p. 69.

372 Marx, Oeuvres complètes III, p. 78. 373 Marx, Oeuvres complètes III, p. 79.

classes"374. Portanto, a decifração das dissimetrias e a reativação da guerra constituem, segundo Foucault, pontos importantes que ligam a contra-história da luta das raças ao discurso revolucionário do século XIX. Ademais, apontar essa relação significa tocar em um ponto importante do pensamento marxista, que enxerga na oposição de classes como luta um dos pontos mais originais da ciência marxista da história. Segundo Pierre Dardot e Christian Laval, as teses sobre o antagonismo entre as classes eram já bem pouco originais quando Marx e Engels escrevem o Manifesto Comunista entre 1847 e 1848375. Deste modo, de acordo com os autores, fazer a genealogia desse discurso implica tocar em pontos chaves da compreensão de Marx, como, por exemplo, a ideia de Althusser de um corte epistemológico promovido por Marx e que teria fundado a ciência da história (materialismo histórico).

No entanto, a ligação entre o discurso da luta das raças nos historiadores burgueses e a guerra de classes não é negligenciada por Louis Althusser. Em Sur la reproduction, Althusser, em nota de rodapé, chama a atenção para o fato de que Marx não foi o primeiro a reconhecer a existência e nem mesmo foi o inventor do termo “luta de classes”. O filósofo francês ainda identifica a origem do termo luta de classes, presente entre os trabalhos de ideólogos do feudalismo e da burguesia no século XVI, justamente a partir de uma luta de raças referente à origem da monarquia absoluta: “Podemos notar a esse respeito, um verdadeiro reconhecimento da luta de classes como motor da história, sob o disfarce ideológico da luta de raças (germanos contra romanos ou vice-versa); o objeto explícito dessa polêmica ideológica (a monarquia absoluta)”376. Ao reconhecer sua emergência nos defensores do feudalismo, Althusser vê a origem do esquema da luta das raças ainda mais longe do que Marx pôde constatar na literatura do século XIX.

Em outro momento de sua análise do discurso marxista da luta de classes, Althusser se serve da mesma inversão da fórmula de Clausewitz que Foucault reconhece no discurso histórico-político da guerra das raças. Em seu manuscrito que data de alguns meses após o encerramento do curso de Foucault, Althusser define a política como uma guerra de classe:

Se a guerra, entendida no sentido de uma guerra em que dois Estados se envolvem por seus exércitos, é, segundo Clausewitz, ‘a política continuada por outros meios’, então devemos dizer que a política é a guerra (de classe) continuada por outros meios: o direito, as leis políticas e as normas ideológicas. Mas, sem essa guerra, sem essa violência, sem a violência da

374 Marx, Oeuvres complètes IV, p. 148. A respeito da relação de Marx com os historiadores burgueses do século XIX conferir: "L'histoire comme lutte des classes". In: Dardot; Laval, Marx, prénom Karl.

375 Dardot; Laval, Marx, prénom Karl, p. 229. 376 Althusser, Sur la reproduction, p. 206.

exploração de classe, nós não podemos compreender nem o direito, nem as leis, nem a ideologia377.

É possível que Althusser tivesse acesso ao material dos cursos de Foucault e que, nesse momento, meses depois, ele tenha tomado de empréstimo a hipótese foucaultiana da inversão da fórmula de Clausewitz. Nesse mesmo texto, Althusser cita a carta de Marx, também mencionada por Foucault em seu curso, na qual o filósofo alemão diz ter encontrado a luta de classes nos historiadores e economistas burgueses. De acordo com Pallotta, podemos suspeitar que Althusser tenha encontrado na hipótese de Foucault uma boa caraterização do discurso marxista e da política como luta de classes378. Mas, enquanto Althusser procura mostrar como a guerra de classes recobre uma relação de força anterior a todo direito, a genealogia de Foucault procura fazer ver como o discurso marxista pôde fazer emergir no seio da paz civil do Estado a guerra como luta de classes379.

A relação que Foucault aponta entre a inversão da fórmula de Clausewitz, a contra- história da luta das raças e o discurso revolucionário não diz muito sobre o desenvolvimento da história dialetizada dos historiadores burgueses e do seu seguimento na filosofia de Marx através da noção de luta de classes380. No entanto, como apontam Pierre Dardot e Christian Laval, as reflexões de Foucault a respeito do poder e da estratégia estão ligadas à leitura que ele fez dos escritos políticos de Marx381. Desse modo, traçar algumas correspondências entre as hipóteses de Foucault com a filosofia de Marx e o pensamento marxista podem ajudar a situar melhor o debate da época.

Ao tentar decifrar o discurso do historicismo político percorrendo seus traços na história, chegando até os discursos racistas e o discurso dialético do século XIX, Foucault faz também uma crítica do discurso revolucionário. A crítica ao discurso revolucionário se insere não só nas mudanças das relações entre genealogia e resistência, mas também diz respeito à forma da luta. Em sua primeira aula do curso Il faut défendre la Société, Foucault faz um balanço do que desenvolveu até então e constata que todo o trabalho feito nesses últimos anos se inseriam muito bem em um determinado período. Período que é “aquele que acabamos de viver, os dez ou quinze, no máximo vinte últimos anos, quero dizer, um período no qual se podem notar dois fenômenos [...]”382. O caráter local da crítica e as reviravoltas do saber são

377 Althusser, Les vaches noires : interview imaginaire, p. 214-215. 378 Pallotta, Politique et État a partir de Louis Althusser, p. 126. 379 Cf. Pallotta, Politique et État a partir de Louis Althusser, p. 127.

380 Jean Terrel credita essa falta de precisão a uma "vontade deliberada de criticar o marxismo acadêmico evitando uma confrontação direta com Marx". Cf. Terrel, Politiques de Foucault, p. 52.

381 Dardot; Laval, Marx, prénom Karl, p. 225. 382 DS, p. 6.

os dois fenômenos aos quais Foucault faz referência. Estes seriam o que Foucault identifica como saberes assujeitados, saberes que puderam emergir através de conteúdos históricos possíveis graças a uma crítica que é ao mesmo tempo erudita e saber local. Saberes nos quais se misturam a erudição histórica e o saber de proletários do século XIX, ou operários do século XX. Mas, o que Foucault quer demarcar é que assistimos agora a uma mudança na forma e no conteúdo dessa luta. Segundo Mathieu Fontaine, trata-se agora de “resistências mais do que revolução. Pois se esses saberes estiveram assujeitados, não é porque o capitalismo ou a burguesia o haviam decidido, mas sim porque esses saberes, perturbadores e inquietos, apenas indicam para lutas singulares e conquistas esquecidas e inconfessáveis”383. Foucault faz referência explicita à fenomenologia e ao marxismo, marcadores discursivos a partir dos quais os personagens desse cenário dos últimos “quinze anos” procuraram se situar e se “inserir sub-repticiamente”384. Tal balanço se faz necessário, pois, segundo Foucault, atualmente a batalha não tem inteiramente a mesma cara”385. O campo das relações de força se alterou.

É a partir da mudança nesse cenário que pode e deve ser compreendido o desenvolvimento da genealogia foucaultiana. Lembremos que, se no início dos anos 1970 Foucault ainda hesitava em usar o termo, tentando dar a ele alguma consistência, no curso de 1976 o filósofo descreve da seguinte maneira sua forma de análise:

A genealogia seria, pois, relativamente ao projeto de uma inserção dos saberes na hierarquia do poder próprio da ciência, uma espécie de empreendimento para dessujeitar os saberes históricos e torna-los livres, isto é, capazes de oposição e de luta contra a coerção de um discurso teórico unitário, formal e científico386.

Assim, a genealogia se inscreveria em uma prática que não só analisaria resistências passadas, mas seria também uma ação política de resistência ao fazer emergir os saberes assujeitados e, ao mesmo tempo, serviria de princípio de seu desassujeitamento387. Isso porque o saber, os saberes, são atravessados por lutas de diferentes interesses. Nesse sentido, a genealogia procura se afastar de um modelo de conhecimento aristotélico diferenciando conhecimento de saber e inscrevendo esse último numa lógica agonística. Assim, chamar-se- á:

de conhecimento o sistema que permite dar uma unidade preliminar, um pertencimento recíproco e uma conaturalidade ao desejo e ao saber. [...] se

383 Fontaine, Michel Foucault, une pensée de la résistance, p. 158. 384 OC II, L’ordre du discours, p. 227.

385 DS, p. 12. 386 DS, p. 11, p. 11

chamará de saber aquilo que é preciso arrancar da interioridade do conhecimento para ali recuperar o objeto de um querer, o fim de um desejo, o instrumento de uma dominação, a meta de uma luta388.

Foucault esclarece no início do presente curso que a atividade genealógica se situa na intervenção entre saberes locais, descontínuos, e o que ele chama de insurreição dos saberes. Tal perspectiva deve ser entendida em relação aos “saberes assujeitados”, saberes que eram desqualificados como não conceituais, hierarquicamente inferiores, o “saber das pessoas” (que não pode ser confundido com o senso comum, mas que se relaciona com um saber regional)389. Tal é a definição da genealogia no curso de 1976: “Chamemos, se quiserem, de ‘genealogia’ o acoplamento dos conhecimentos eruditos e das memórias locais, acoplamento que permite a constituição de um saber histórico das lutas e a utilização desse saber nas táticas atuais”390. Ora, esse saber das lutas pode ser reconhecido, no discurso marxista, como o saber que se sublevou dos inquéritos de Marx a respeito das classes operárias. No tocante a esse assunto, Foucault já havia comentado que: “no início do século XIX, os operários realizaram vastas investigações sobre sua própria condição. Esse trabalho forneceu uma grande parte da documentação de Marx; ele foi um dos fundamentos da prática política e sindical do proletariado no século XIX; ele se mantém e se desenvolve através das lutas”391. Dentro dessa perspectiva, os inquéritos de Marx392 poderiam ser vistos como a insurreição de um saber que se contrapõe estrategicamente ao saber dominante.

A compreensão do saber como um discurso que expressa e que traz em si a luta aproxima-se do trabalho que Marx desenvolveu próximo ao proletariado, assim como, segundo Dardot e Laval, da originalidade do trabalho teórico do filósofo alemão. De acordo com os autores, o historicismo político de Foucault, ou seja, a maneira de conceber a história como um campo de batalha faz do historiador um combatente:

Sob esse ângulo, a história como fato e a história como narrativa se confundem, a história escrita faz parte do campo de batalha, ela participa do trabalho de subjetivação nomeando os adversários e arranjando a narrativa que delimite sua identidade e a legitimidade de seu combate393.

Desse modo, as classes sociais formam, a partir dessa narrativa, a consciência política e histórica de seu grupo. É nesse sentido que se deve compreender, segundo os autores, que a

388 LVS, p. 17-18, p. 18.

389 DS, p. 8-9, p. 8-9. 390 DS, p. 9, p. 9.

391 DE I, Par-delà le bien et le mal, p. 1093.

392 Nesse sentido, os inquéritos aplicados pelo GIP nas prisões podem também ser analisados dentro da perspectiva de um “saber das lutas” e do combate que a genealogia trava contra os efeitos de poder de determinados discursos.

luta em Foucault e em Marx comporta sempre um conflito de subjetivação em que o que está em jogo é o assujeitamento ao qual o polo dominante procura submeter o polo que será dominado em termos de status, lugar e função. A imposição procurada pelo polo dominante pode tomar a forma da identidade e da conduta como Foucault mostra, por exemplo, em

Surveiller et Punir e ainda antes no curso La Société punitive em que a classe burguesa se

definiu e procurou definir seu oponente a partir de estratégias sociais de discursos de moralização das classes pobres. É também a partir do entendimento de que as subjetividades são produzidas no afrontamento que Foucault pôde compreender a guerra civil como um acontecimento que permite a constituição de determinadas coletividades394.

É preciso ainda reconhecer que tanto para Marx quanto para Foucault os adversários não estão inteiramente constituídos antes do conflito. Isso quer dizer que antes mesmo da batalha os adversários não têm uma consciência plena sobre os seus objetivos e seu ser. Dardot e Laval observam que os escritos históricos de Marx indicam que os termos do afrontamento se produzem continuamente na própria batalha: "em outros termos, a luta é fundamentalmente criadora, ela é um processo de transformação das condições, das intenções e dos próprios sujeitos da luta"395. A luta, portanto, transforma as condições de existência e, com isso, cria novas possibilidades de emancipação e novos sujeitos que, na luta mesma, se transformam em sujeitos revolucionários. Em Foucault, o sujeito da estratégia emerge das relações de poder existentes nas quais um e outro ator da luta vão se constituir como sujeitos adversários que se "subjetivam" na relação que um tem com o outro396.

Outro ponto importante é o caráter do poder e as estratégias de enfrentamento. No subcapítulo de La volonté de savoir, em que Foucault discute o método empregado em seu livro, o filósofo esclarece sua concepção do poder deixando claro que “não existe, com respeito ao poder, um lugar da grande Recusa – alma da revolta, foco de todas as rebeliões, lei pura do revolucionário”397. De fato, Foucault procura esclarecer aí não só uma questão genérica que seria "o que é o poder?", mas, também, a relação entre estrutura do poder e luta. Em entrevista dada logo após a publicação de La Volonté de savoir, Foucault defende a análise do poder em termos de "relações de poder". Segundo o filósofo, o poder visto enquanto relações de poder permite uma melhor compreensão da relação entre poder e luta, particularmente entre luta de classes. Pois, o que deve ficar claro nessa relação é o caráter da

394 "A guerra civil é o processo através do qual e pelo qual se constituem diversas coletividades novas, que não tinham vindo à tona até então". SP, p. 27, p. 30.

395 Dardot; Laval, Marx, prénom Karl, p. 225. 396 Dardot; Laval, Marx, prénom Karl, p. 226. 397 OC II, La volonté de savoir, p. 106, p. 684.

luta, o que se entende por luta quando se fala em luta de classes. Esse é para Foucault o problema central dessa relação que, contudo, permaneceu em silêncio na maioria dos textos marxistas398. Tal questão foi, sem dúvida, importante para Foucault no desenvolvimento de sua compreensão do poder, sobretudo quando podemos ver através de seus primeiros cursos no Collège de France o papel que a noção de guerra desempenhou em suas hipóteses. Assim é que, em 1978, Foucault volta a essa mesma questão, ao afirmar que a tese de Marx de que o motor da história é a luta de classes consiste em um "fato inegável", mas que até o momento ninguém havia examinado com profundidade o que significava essa luta. Em resumo:

O que é a luta quando dissemos luta de classes? Visto que dissemos luta, trata-se de conflito e de guerra. Mas como essa guerra se desenvolve? Qual é seu objetivo? Quais são seus meios? Sobre quais qualidades racionais ela