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O programa marxista como a expressão científica dos interesses da classe trabalhadora e do progresso social não é derivado simplesmente de um desejo subjetivo por um futuro socialista. O programa marxista necessariamente inclui um entendimento correto da realidade, da qual a mais geral ou abstrata expressão é o materialismo dialético. Entretanto, o próprio Marx escreveu em 1877 no jornal populista russo, Otechestvenniye Zapiski, que ele não oferece uma “teoria histórico-filosófica geral, a virtude suprema a qual consiste em ser supra-histórico” (Marx e Engels, Correspondência Selecionada [1975]). O materialismo dialético é um quadro

conceitual que permite, mas não garante, um

entendimento científico da sociedade em seu desenvolvimento histórico concreto. Em outras palavras, um entendimento da natureza dialética da realidade social guia um complexo de generalizações históricas (por exemplo, que o aparato estatal sob o capitalismo não pode ser reformado em um órgão de administração socialista, que em nossa época um sistema econômico coletivizado representa a dominação social do proletariado) que dão base aos princípios programáticos marxistas.

A mistificação do grupo de Healy da atitude marxista com relação á filosofia é um produto de sua degeneração em um bizarro culto ao mestre. No começo de 1960, a Liga Operária Socialista (SLL) de Healy entendia que materialismo dialético não era nada mais do que uma expressão generalizada de uma visão de mundo unitária, e não um esquema abstrato ou método existente independente da realidade empírica. Os artigos de 1962-63 de Cliff Slaughter sobre os estudos de Lenin sobre Hegel em 1914-15, reimpressos em 1971 como um livro, Lenin sobre Dialética, contém um ataque mordaz conta a idealização da dialética:

“Lenin dá grande ênfase à insistência de Hegel de que a dialética não é uma chave-mestra, um tipo de estojo de números mágicos pelos quais todos os segredos são revelados. É errado pensar na lógica dialética como alguma coisa completa em si mesma e então 'aplicada'

43 a exemplos particulares. Ela não é um modelo de interpretação para ser aprendido, e então enquadrado na realidade a partir de fora; a tarefa é mais descobrir a lei de desenvolvimento da realidade em si própria...

“A ciência da sociedade fundada por Marx não tem espaço na filosofia como tal, na idéia de pensamento independente em movimento, com um desenvolvimento subjetivo-material próprio, independente da realidade mas às vezes descendo para se aplicar nela.” Slaughter cita então o julgamento de Marx sobre o conceito de filosofia na Ideologia Alemã: “Quando a realidade é representada, a filosofia, como um ramo independente de atividade, perde o seu meio de existência.” Mas no fim da década de 1960, o grupo de Healy havia “redescoberto” um meio de existência para a filosofia como uma teoria independente. O materialismo dialético foi apresentado com muita pomposidade como a “teoria do conhecimento do marxismo”, como uma expressão da categoria filosófica conhecida como epistemologia. Assim, em uma coleção de documentos sobre o racha com a OCI (Romper com o Centrismo! [1973]), nós podemos ler:

“O que foi mais essencial na preparação das seções foi desenvolver o materialismo dialético numa luta para entender e transformar a consciência da classe operária para a mudança da condições objetivas. Isso significa entender e desenvolver o materialismo dialético como a teoria do conhecimento do marxismo...

“Nós podemos certamente dizer que o materialismo dialético é a teoria do conhecimento do marxismo, no caminho do enfrentamento entre o erro e a verdade – não verdade “final”, mas avanços contínuos através da luta contraditória para chegar ao verdadeiro conhecimento do mundo objetivo.” Essa noção do grupo de Healy sobre materialismo dialético é ao mesmo tempo enormemente restritiva e uma idealização do conhecimento. Não existe uma teoria do

conhecimento válida em separado. No nível da cognição individual, uma teoria do conhecimento é derivada de investigação científica biológica e psicológica. No nível da consciência social, uma teoria do conhecimento é parte constituinte de um entendimento de relações sociais historicamente específicas. Assim, é central para o entendimento marxista de conhecimento o conceito de falsa consciência, a distorção necessária da realidade associada a vários papéis sociais.

A categoria filosófica tradicional da epistemologia (em ambas suas formas empiricista e racionalista), ao separar o sujeito consciente da natureza e da sociedade, é em si própria uma expressão ideológica de uma falsa consciência. O materialismo dialético critica os vários conceitos tradicionais de epistemologia assim como outros conceitos e categorias filosóficas. Mas o marxismo não critica a filosofia tradicional se colocando como uma filosofia nova, alternativa, que de forma semelhante existe independentemente de um entendimento cientifico (ou seja, empiricamente verificável) da natureza e da sociedade.

A mistificação do grupo de Healy sobre o materialismo dialético - “o caminho do enfrentamento entre o erro e a verdade” – é primariamente uma justificativa para a infalibilidade do culto ao mestre. O programa, análise, táticas e projeções da liderança de Healy são postas como isentos de verificação empírica. Por exemplo, até hoje o grupo de Healy considera que Cuba é capitalista! Dizem aos críticos e opositores que estes não entendem a realidade; sendo essa capacidade monopolizada pela liderança, que sozinha dominou o método dialético. Essa similaridade entre a visão do grupo de Healy sobre dialética e o misticismo religioso não é uma coincidência. Para resumir, a rejeição sistemática do materialismo dialético (por exemplo, Bogdanov, Burnham) levará cedo ou tarde a um rompimento com o programa marxista científico. Mas acreditar, como Healy, que toda diferença política séria dentro de um partido revolucionário pode ou deve ser reduzida a conceitos filosóficos antagônicos é uma espécie de idealismo racional. Tal reducionismo filosófico nega que diferenças políticas

44 normalmente surgem de diversas pressões e influências sociais que atingem a vanguarda revolucionária e seus componentes, e também diferenças ao avaliar as condições e possibilidades empíricas.

Significado

da

Luta

Contra