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Contraponto Legislação, Espaços Escolares, Conteúdo

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CONTRAPONTO LEGISLAÇÃO, ESPAÇOS ESCOLARES, CONTEÚDO

4.1 O ponto de partida

O objetivo deste estudo é verificar se há ou não a ruptura do lúdico nos primeiros anos do ensino fundamental; ainda, de que forma acontece a aprendizagem dessa faixa etária dentro da sala de aula, e como o professor encara o brincar da criança para a aprendizagem.

Durante toda a pesquisa de campo foi possível perceber os principais pontos que determinam as respostas para os questionamentos realizados nesta pesquisa.

4.2 Procedimentos de análise

As análises foram feitas através de tabelas contrapondo às leis e autores já citados anteriormente nesse estudo. As tabelas estão separadas da seguinte forma: Tabela 1 apresenta o perfil de cada participante da pesquisa de campo demonstrando a geração a que pertence, brincadeiras de infância sua formação e tempo de atuação na sala de aula; a Tabela 2 configura a disposição física do espaço escolar e de que forma é utilizada a brincadeira durante a aula; a Tabela 3 trata das concepções que cada professor tem de criança, escola e professor; se ele trabalha a ludicidade e se as brincadeiras da infância influenciam ou não na prática pedagógica.

Cada tabela traz comentários baseados nos estudos realizados pontuando se há ou não a ruptura do lúdico nos primeiros anos do ensino fundamental.

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4.3 Análises comparativas

Ao iniciar a análise das tabelas é importante ressaltar que todo o material aqui analisado encontra-se nas entrevistas transcritas na íntegra no anexo.

4.3.1 – Perfil e Formação para o lúdico

TABELA 1 – Caracterização dos professores entrevistados

Profº Idade Formação

Formação para o lúdico

Tempo de

atuação Brincadeiras de infância A 38 Licenciada em Matemática

e em Pedagogia

Não teve formação para o lúdico

19 anos

Pega-pega, queimada, esconde-esconde, clubinho, boneca, fazer roupinhas.

B* 49

Magistério e Pedagogia, Pós- graduada em Psicopedagogia

Teve formação para o lúdico no magistério e na pós-graduação

31 anos

Jogos com bola,

brincadeiras de roda, passa- passa três vezes, mão na mula, balança caixão , bicicleta, carrinho de rolimã, patins, pipa, charadas, trava línguas, descobrir palavras dentro da música, acrósticos orais, entre outras...

C 35

Magistério, Pedagogia, Pós- graduada em Psicopedagogia e Educação Especial

Teve formação para o lúdico no magistério e na pós-graduação 17 anos Motoca, bola,casinha e bonecas. Utilizava utensílios da cozinha para brincar.

D 45 Pedagogia e Pós- graduada em Psicopedagogia

Teve formação para o lúdico na pós-

graduação

10 Anos

Diversas brincadeiras com bola e brincadeiras de grupo com os amigos da rua.

E* 53

Magistério, Pedagogia e Letras

Teve formação para o lúdico no magistério 18 Anos Brincadeiras de roda, esconde-esconde, músicas, escolinha, cores, letras...

F 51

Magistério e Pedagogia Teve formação para o lúdico no

magistério

12 Anos

Escritório, escolinha, casinha, cartas, jogos com bola, tabuleiro, pega-pega, esconde-esconde, rouba bandeira, mãe da rua, polícia e ladrão, entre outras...

G 26 Pedagogia Teve uma disciplina para formação

lúdica

3 meses

Play graund, bonecas e vídeo- game.

H* 50 Licenciado em Música e Pedagogia

Não teve formação para o lúdico em nenhuma das graduações 25 anos Esconde-esconde, balança caixão, forte apache, autorama, bicicleta, mãe da rua, bastão e brincadeiras de músicas.

I* 56

Educação Física e Pedagogia

Teve formação para o lúdico na Educação física

34 anos

Casinha, bonecas, cantigas de roda, bicicleta, pipa, jogos com bola, entre outras...

*Professores que participaram da observação Fonte: elaborada pelo autor

De acordo com a tabela, verifica-se que somente dois professores não tiveram nenhuma formação para o lúdico. Ainda, quatro professores possuem

47 magistério, três possuem pós-graduação em psicopedagogia e um em educação física. Tais cursos possuem disciplina específica para o lúdico. No magistério devido a especialização em pré-escola (atual educação infantil), na psicopedagogia para aplicar terapia lúdica no consultório e na Educação física tem a disciplina de recreação. Dois professores possuem graduação diferenciada Matemática e Música.

A média da faixa etária dos professores é de 45 anos o que demonstra brincadeiras parecidas realizadas na infância, com exceção de uma que é bem mais nova e que já pertence à outra geração de brincadeiras.

Os relatos mostram que a maioria morou em casa e que brincava com amigos ou parentes na rua ou tinha quintal espaçoso para brincar, também que as brincadeiras trouxeram aprendizagem significativa no tocante à experiência para a vida futura.

Conforme Brougère (2003), as mais diversas brincadeiras realizadas durante a infância delimitam um campo de ação a ser seguido com base no qual regulam seu comportamento. Diante dessa afirmação, podemos perceber que os professores da amostragem confirmam os estudos de Brougère inclusive no relato dos tipos de brincadeiras que desfrutaram nas suas infâncias e o quanto contribuíram para seu desenvolvimento.

È necessário apontar que a professora G, que brincou de videogame e boneca na sua infância e que morou em apartamento durante toda sua vida, descreve as brincadeiras aprendidas durante seu curso de Pedagogia, como deslumbrantes e divertidas, mas que não saberia fazer sem o monitoramento de outrem junto aos alunos.

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4.3.2 Pontos e contrapontos entre legislação, o conteúdo pedagógico, espaço físico da escola e a ludicidade.

A tabela a seguir irá apresentar as propostas referenciadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Fundamental dos primeiros anos e de que forma os professores entrevistados relatam que acontece nas suas unidades escolares e na sua prática pedagógica. Pensando ainda, no objeto da pesquisa que busca entender se há ou não a ruptura do lúdico nos primeiros anos do ensino fundamental, a tabela seguinte poderá esclarecer alguns pontos importantes para esta discussão:

TABELA 2 – Comparação do conteúdo pedagógico, os espaços escolares e a ludicidade na prática pedagógica

Legislação/ Professores

Conteúdo Pedagógico Espaço Físico da Unidade Escolar Ludicidade na Pratica Pedagógica Documento Oficial: Diretrizes Curriculares Nacionais do Ens. Fundamental 1ºAnos [...]desenvolver a capacidade de representação,indispensável para a aprendizagem da leitura, dos conceitos matemáticos básicos e para a compreensão da realidade que a cerca.(MEC,2013p.110)

A escola deve adotar formas de trabalho que proporcionem maior mobilidade às crianças na sala de aula, explorar com elas mais intensamente as diversas linguagens artísticas, utilizando espaços como quadra, parque, horta, entre outros. (MEC,2013 p.120).

Na perspectiva da continuidade do processo educativo proporcionada pelo alargamento da Educação Básica, o Ensino Fundamental terá muito a ganhar se absorver da Educação Infantil a necessidade de recuperar o caráter lúdico da aprendizagem, particularmente entre as crianças de 6(seis) a 10 (dez) anos que frequentam as suas classes, tornando as aulas menos repetitivas, mais prazerosas e desafiadoras e levando à participação ativa dos alunos. (MEC,2013p.120)

A

Alfabetização utilizando letras, textos com atividades específicas e sequencias numéricas e atividades com número

A sala possui mesas redondas com quatro cadeiras e uma sala multiuso que também é utilizada como biblioteca. A unidade não possui espaços para atividades lúdicas

A aprendizagem deve acontecer de forma natural, assim procuro utilizar a ludicidade em minha prática pedagógica

B

De acordo com o projeto anual da escola, os primeiros anos devem priorizar a alfabetização/letramento e a matemática. Porém priorizo o aprendizado através da solução das situações problemas utilizando o questionamento e a mediação.

As unidades não estão preparadas para receber as crianças dos primeiros anos do ensino fundamental, pois as carteiras são individuais, os espaços como quadra e pátio são utilizados para atividades específicas, não há material lúdico, não contempla a ludicidade.

A minha prática pedagógica está calcada na ludicidade em todos os momentos através de trava-línguas, parlendas, charadas, jogos com regras, brincadeiras variadas, respeitando a política da unidade escolar.

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C

Enfatiza a alfabetização, o letramento e o cálculo conforme projeto político pedagógico além da sustentabilidade que é o projeto anual da escola.

A sala é composta por carteiras individuais que eu disponho em duplas e as vezes em grupo, lousa e armários. Há um laboratório de informática e biblioteca. A quadra é utilizada apenas pelo professor de educação física. Falta muito para atender as crianças dessa faixa etária

Utilizo muitas brincadeiras com letras, números e cores,jogos,músicas que falam do cotidiano das crianças, entre outras atividades lúdicas para fixar a aprendizagem.

D

O conteúdo está estipulado no planejamento anual, mas basicamente trata da alfabetização, letramento e matemática. Em ciências tratamos da reciclagem e da alimentação saudável

A sala tem carteiras individuais dispostas em filas, laboratório de informática e biblioteca.

Utilizo atividades como bingo, caça palavras, textos, alguns jogos.

E

Determinado pela unidade escolar através do projeto político pedagógico anual, que consiste para os primeiros anos alfabetização e letramento, além de matemática e projetos desenvolvidos pela classe com minha observação e direcionamento.

Carteiras individuais que coloco em círculo para trabalhar melhor as rodas de conversa, cantinho da leitura na própria sala e laboratório de informática.

Utilizo a ludicidade em todos os momentos da prática pedagógica através de bingos de letras e números, alfabeto móvel, cruzadinhas, parlendas, joguinhos variados e questionando a criança para dar oportunidade dela desenvolver suas habilidades

F

Basicamente alfabetização 1 e matemática especificados no planejamento anual. Esta turma é a mais nova de todos os primeiros anos o que dificulta atingir o conteúdo plenamente.

A sala de aula está disposta em três colunas de carteira duplas para facilitar a socialização. Como espaços complementares temos o laboratório de informática e a biblioteca.

Procuro aplicar atividades lúdicas variadas, utilizando pouco o caderno e mais a folha de sulfite, os jogos com regras e as brincadeiras fica por conta da professora de educação física na quadra.

G

O conteúdo está praticamente voltado para o término do livro do alfabeto, pois minha turma trocou muito de professora e quando assumi, estavam muito atrasados. Também tem o caderno de números que ainda está no 6 e não tem todas as cores, formas e as quantidade

A sala tem a disposição antiga, fileiras e colunas de carteiras individuais Voltadas para a lousa e para a mesa da professora. Tem biblioteca, laboratório de informática e quadra, cada espaço com seus professores específicos e respeitando o calendário semanal.

A ludicidade faz com que os alunos aprendam melhor, no entanto , para poder cumprir os conteúdos propostos até o fim do ano, estou dando preferência para a alfabetização utilizando atividades variadas como bingo, cruzadinhas, caça- palavras, enigmas, entre outros.

H

Alfabetização/letramento e matemática compõem o currículo escolar, no entanto cada professor desenvolve seu projeto/classe respeitando o interesse de cada turma. No meu caso o projeto é de músicas antigas, para envolver os pais nas pesquisas de casa.

Apesar dos tempos estarem mudados, as salas são compostas por carteiras individuais dispostas em colunas, voltadas para a lousa. Podemos contar com laboratório de informática e biblioteca

A ludicidade faz parte da minha prática pedagógica, de forma constante, utilizo músicas para o aprendizagem tanto de alfabetização quanto de matemática, jogos com regras, diversas pesquisas e questionamentos. Utilizo as atividades lúdicas em diversos momentos, na educação física, na sala de aula e no pátio de acordo com o conteúdo e o projeto.

50

I

O conteúdo está disposto no projeto anual da escola e contempla a alfabetização e a matemática além do projeto/classe que é diferenciado para cada professor, pois respeita a necessidade e interesse dos alunos.

A disposição da sala de aula segue o padrão antigo de fileiras e colunas de carteiras individuais voltadas para a lousa. As vezes disponho em círculo. Podemos contar com a quadra, o pátio, além do laboratório de informática e da biblioteca

Utilizo o lúdico como jogos, brincadeiras das mais variadas na sala e nos espaços da escola como quadra, gramado, pátio, além da brinquedoteca. Também aplico charadas, parlendas, músicas, cantigas, textos variados, entre outras.

Fonte: elaborada pelo autor

Ao analisar os conteúdos pré-determinados nos projetos-políticos- pedagógicos relatados pelos professores dá-se prioridade à alfabetização e letramento além dos conteúdos simples de matemática. Alguns professores trabalham com projetos/classe a fim de contextualizar melhor o aprendizado.

Conforme o documento oficial das Diretrizes do Currículo Nacional para o Ensino Fundamental (2013) deve-se dar maior importância à leitura e aos conceitos matemáticos básicos para a inserção da criança ao meio que a cerca. Nesse sentido, o Ensino Fundamental dos primeiros anos enfatizam a alfabetização, a leitura e a matemática, porém cabe ao professor tornar essa aprendizagem prazerosa e significativa.

Com relação ao espaço escolar e seu preparo para receber as crianças de 6 a 9 anos, fica claro no documento oficial que cada unidade escolar deve tornar o espaço físico da escola atraente e que ofereça mobilidade de expressão para que o aluno possa movimentar-se livremente, pois essas crianças necessitam de espaços lúdicos para desenvolverem suas potencialidades. No entanto, ao analisar as respostas dos professores, nota-se que a realidade é um pouco diferente, pois não contém os espaços lúdicos e preparados para receber essa faixa etária nas escolas, conforme descrito no documento oficial (MEC, 2013). Ao contrário, as escolas apresentam modelos de sala de aula, com carteiras individuais, sem espaços livres para mobilidade e ainda somente algumas oferecem laboratório de informática e quadra que só

51 pode ser utilizada pelo monitor de informática e professor de educação física respectivamente.

De acordo com a pesquisa, verificamos que a ludicidade é aplicada, na maioria das vezes, na sala de aula através de atividades como as atividades 1, 2, 3, 4 e 5 do Anexo III. Dessa forma, percebemos que aquilo que os professores chamam de lúdico são atividades de fixação. Segundo Silva (2013), há diferença entre o brincar que é uma atividade própria da criança e a ludicidade que busca o prazer, o divertimento, mas de forma dirigida, com objetivo. Assim, utilizar o lúdico na alfabetização, não significa brincar, pois aprender matemática, por exemplo, não é brincadeira, mas pode ser lúdico através de um jogo confeccionado pelos alunos (ex.: jogo “Tapão” explicado pelo prof. B no anexo II), ou contar histórias, entre outras. Portanto, ter disciplina durante o processo de alfabetização, de acordo com Silva, é natural, pois é uma fase que exige muito da criança, porém usar estratégias que possam ser mais lúdicas no ensino da leitura, escrita e matemática pode obter melhores resultados junto aos alfabetizandos.

4.3.3 Considerações dos entrevistados a respeito das suas concepções.

TABELA 3 – Concepção de criança, escola e professor

Professor Concepção de criança Concepção de escola Concepção de professor A

Ser humano com

potencial para absorver tudo ao seu redor

Espaço de convivência, socialização e Aprendizado. É o mediador do processo ensino/ aprendizagem B

Um ser com emoções e sentimentos,conhecimen- tos e vivências e em constante transformação. Seu desenvolvimento está diretamente ligado ao convívio do dia a dia, e ao meio em que vive

É o espaço adequado com estrutura favorável para a formação integral

dos conhecimentos formais e socioculturais, necessários para a continuidade do aprendizado. Professor é o mediador entre a autonomia e o conhecimento da criança pois ele media dando

direcionamento e

facilitando a aquisição de conhecimento da criança

C

Criança é um ser humano em desenvolvimento com direitos e deveres.

Escola é um lugar para adquirir conhecimento cientifico e interagir com seus pares.

Professor é um mediador entre a criança e o conhecimento

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D

Criança: um ser humano que embora alguns não aceitam, tem tantos deveres a cumprir, quanto

direitos a serem

respeitados.

Escola: espaço que

acolhe, educa e ensina.

Professor: um colaborador

no processo da

aprendizagem. Ensina e também aprende com os educandos.

E

Criança e um ser em

formação constante,

necessita de afeto e apoio sempre.

A escola e lugar para a

promoção do desenvolvimento. O ensinar e aprender. Professor e mediador do conhecimento, amigo, companheiro. F

Criança é um ser ávido

por conhecimento,

curioso pelo mundo e pelas coisas que o cercam. Que tentará saciar esta curiosidade interagindo com o objeto de conhecimento e com o outro e nesta interação

construíra seu

conhecimento.

Escola é um local

privilegiado para o aprendizado para além do senso comum, pois lá há

intencionalidade e

sistematização dos

conhecimentos.

Professor é um profissional capacitado para mediar e facilitar estas interações. Utilizando metodologia e

didática apropriadas

contribui para a construção dos conhecimentos de seus alunos.

G

Entendo a criança é como um ser pronto pra receber tudo, mas que também tem suas preferências. E que a bagagem que traz

de casa ou outra

instituição educacional, é que os diferencia uns dos outros.

A escola é o espaço

adequado para a

transformação da criança em seres capazes e suficientes para exercer seus direitos e aprender os conteúdos que irão lhe proporcionar a clara educação. O professor é o mediador desse processo de transformação do cidadão. H Criança é um ser em constante transformação cuja formação é influenciada e vinculada pela cultura do local onde habita, cultura e hábitos familiares e pelo círculo social que faz nas ruas e durante a permanência na escola.

Ambiente de aquisição de linguagens: oral, escrita, lógica e científica, do desenvolvimento da sociabilidade, enriquecimento do universo cultural, aquisição de valores humanos. Facilitador para a construção da autonomia - o que desperta, interage, ensina a construir rotinas e hábitos, o que trabalha junto com a família para um

crescimento e

desenvolvimento do

educando através de

saberes e fazeres.

I

Criança é um ser lindo, amoroso, carinhoso que nos faz refletir. Sincero,

inocente, mas que

reproduz tudo o que vê em casa e é estragado pelos pais.

A escola e um lugar que reforça a educação que a criança recebe em casa, além do ensino básico e vivência social.

Professor e pessoa que ama ensinar! Pois não basta ser só pedagógico, tem que ter o 'dom' para fazer com que uma matéria aparentemente difícil, seja transformada em uma ação cheia de encanto e prazer. Fonte: elaborada pelo autor

Mello (2007), afirma que a concepção que os educadores têm em relação à criança influencia diretamente no desenvolvimento infantil, pois é a partir da concepção que o professor tem de criança que é planejada as atividades a serem propostas para a classe. Conforme Mello (2007),

53 aperfeiçoar os métodos educativos a fim de garantir o desenvolvimento e a aprendizagem da criança é mais importante que o seu ingresso escolar aos seis anos sem preparo, por parte da escola, para recebê-los.

Segundo o Enfoque Histórico-Cultural, o processo de desenvolvimento é impulsionado por fatores biológicos e culturais, desempenhando papel importante na construção do conhecimento da criança.

Vygotsky (2006) afirma que devemos entender a relação entre aprendizagem e desenvolvimento no geral para depois, averiguar as características dessa inter-relação, no ambiente escolar. É claro que esta aprendizagem deve estar de acordo com o nível de desenvolvimento da criança.

Nesse sentido há que se colocar que segundo Vygotsky (1984), há dois níveis de desenvolvimento. Um determinado como desenvolvimento real ou efetivo, ou seja aquilo que a criança é capaz de fazer sozinha sem ajuda de ninguém. Outro nível, é o de desenvolvimento potencial, tarefas que a criança não é capaz de realizar sozinha, mas realiza com o auxílio de adultos ou crianças mais maduras , com a atividade da imitação. Assim,

A diferença substancial no caso da criança é que esta pode imitar um grande número de ações – senão um número ilimitado – que supera os limites da sua capacidade atual. Com o auxílio da imitação na atividade coletiva guiada pelos adultos, a criança pode fazer muito mais do que com a sua capacidade de compreensão de modo independente. (VYGOTSKY,1989, p.112).

Portanto, a interação de pessoas mais experientes na realização das tarefas é o que faz a mediação cultural ou interação da criança com o mundo externo. Assim, o ambiente mediado pelo educador estabelece uma relação ativa entre o ambiente e a criança, isto é: “O que a criança pode fazer hoje com

auxílio dos adultos poderá fazê-lo amanhã por si só” (VYGOTSKY, 1989, p.

113).

Dessa forma, não é possível encarar a mediação linearmente, como uma simples interação entre o indivíduo e o educador. A prática pedagógica tradicional, centrada no professor, não garante que o conhecimento pode ser socialmente facilitado.

54 Assim, o

[...] ensino representa, então, o meio através do qual desenvolvimento avança; em outras palavras, os conteúdos socialmente elaborados do conhecimento humano e as estratégias cognitivas necessárias para sua internalização são evocados nos aprendizes segundo seus níveis reais de desenvolvimento. Vygotsky critica a intervenção educacional que se arrasta atrás dos processos psicológicos desenvolvidos ao invés de focalizar as capacidades e funções emergentes. (VYGOTSKY ,1991, p.148).

Diante dessa afirmação, o papel e a importância da escola no processo educativo, é de suma importância pois é nesse espaço que a criança irá desenvolver-se de forma significativa ativando sua criatividade ou de forma tradicional reprimindo suas vontades e esplendores. Dessa forma, não podemos perder de vista os propósitos educativos tanto da escola quanto do professor e, principalmente, quem é o indivíduo que se educa e aquilo que, mediado pelo professor, dentro do espaço escolar, ele possa vir a ser.

Segundo Vygotsky (1989), a aprendizagem pode tornar-se mais

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