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Legislação, Educação Brasileira e o Lúdico

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LEGISLAÇÃO, EDUCAÇÃO BRASILEIRA E O LÚDICO 2.1 Estudo da legislação da educação brasileira sobre o lúdico

“O momento atual da educação brasileira e, sobretudo do Ensino Fundamental, remete às grandes transformações sociais e tecnológicas, o que ocasiona mudanças na prática educativa, em virtude da necessidade de se oferecer aos alunos uma formação compatível com as demandas do mundo moderno, valorizando habilidades, competências pessoais, conhecimentos e valores para além da aquisição de quantidade de informações. Esse paradigma fortalece a autonomia do aluno e favorece o desenvolvimento de uma postura empreendedora que dará conta das exigências do mundo globalizado.” (SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DF, 2008 P.38)

A LDB, em seu Art. 32, com a redação dada pela Lei nº. 11.274/2006, afirma que o Ensino Fundamental obrigatório, com duração de 9 anos, gratuito na instituição educacional pública, iniciando-se aos 6 anos de idade, terá por objetivo a formação básica do cidadão, mediante:

I O desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo;

II A compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade;

III O desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e valores;

IV O fortalecimento dos vínculos da família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se assenta a vida social.

O entendimento das questões relativas ao acesso à instituição educacional, ao fluxo institucional e à qualidade de ensino ganha relevância quando se enfoca o Ensino Fundamental, considerando que a legislação determina que a oferta dessa etapa de ensino, pelo Estado, é obrigatória.

O Ministério da Educação ao propor o Ensino Fundamental de 9 anos sugere a nomenclatura de organização e divisão dessa etapa de ensino, conforme quadro a seguir:

31 Quadro 1 – Nomenclatura e divisão do ensino fundamental de 9 anos

ENSINO FUNDAMENTAL

ANOS INICIAIS ANOS FINAIS

1º ano 2º ano 3º ano 4º ano 5º ano 6º ano 7º ano 8º ano 9º ano Bloco Inicial de Alfabetização

Fonte: elaborado pelo autor

Os três primeiros anos do Ensino Fundamental de 9 Anos integram o Bloco Inicial de Alfabetização, de forma que correspondem, respectivamente, à Etapa I, à Etapa II e à Etapa III do referido bloco. Com duração mínima de nove anos, em regime de bloco para o período da alfabetização (do 1º ao 3º ano do Ensino Fundamental de 9 Anos – Etapas I, II e III do Bloco Inicial de Alfabetização), pretende-se que essa etapa de ensino possibilite ao aluno ampliar sua capacidade de aprender, tendo em vista a aquisição de conhecimentos, competências e habilidades, e a formação de atitudes e valores.

O Bloco Inicial de Alfabetização (BIA) além de promover a progressão continuada do processo de ensino aprendizagem, possibilita a criança permanecer por mais tempo na escola para desenvolver as competências que precisa construir. Para que isso aconteça, é necessário adotar estratégias que favoreçam o alcance de tais objetivos, pois somente a implantação do BIA não garante a qualidade do processo de alfabetização.

O objetivo principal do BIA é reestruturar o Ensino Fundamental de 9 Anos, visando garantir à criança, a partir dos 6 anos de idade, a aquisição da alfabetização/letramento na perspectiva da ludicidade e do seu desenvolvimento global.

32 Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Básica propõe:

“[...] a escola pode contribuir para que as crianças construam identidades plurais, menos fechadas em círculos restritos de referência e para a formação de sujeitos mais compreensivos e solidários. Do ponto de vista da abordagem, reafirma-se a importância do lúdico na vida escolar, não se restringindo sua presença apenas à Arte e à Educação Física. Hoje se sabe que no processo de aprendizagem a área cognitiva está inseparavelmente ligada à afetiva e à emocional. Pode-se dizer que tanto o prazer como a fantasia e o desejo estão imbricados em tudo o que fazemos.” DCNEB -MEC,2013 p.116) “ grifo meu”

Partindo da abordagem de que o aluno é o principal personagem de sua aprendizagem, deve ser estimulado ao questionamento, expor suas ideias e opiniões, enunciar conceitos e descobertas, sanar dúvidas, fazer associações e escolhas, pesquisar, concluir, entre outras atitudes positivas, para construir o conhecimento desenvolvendo o pensamento crítico e o fortalecimento da autonomia e da solidariedade.

Segundo o documento Ensino Fundamental de nove anos – orientações gerais, afirma ainda que:

“[...] com base em pesquisas e experiências práticas, construiu-se uma representação envolvendo algumas das características das crianças de seis anos que as distinguem de outras faixas etárias, sobretudo pela imaginação, a curiosidade, o movimento e o desejo de aprender aliados à sua forma privilegiada de conhecer o mundo por meio do brincar [...]”. (MEC, 2004 p.19)

Cabe ao professor encontrar estratégias para oferecer atividades lúdicas para desenrolar a alfabetização de forma prazerosa para o aluno.

Ainda no documento do Ensino Fundamental de nove anos – orientações gerais, os jogos com regras devem estar presentes durante o processo de alfabetização. Para isso, os educadores necessitam estar cientes:

“[...] nessa faixa etária a criança já apresenta grandes possibilidades de simbolizar e conhecer o mundo, estruturando seu pensamento e fazendo uso de múltiplas linguagens. Esse desenvolvimento possibilita elas participar de jogos que envolvem regras e se apropriar de conhecimentos, valores e práticas sociais construídos na cultura [...]”. (MEC, 2004 p.19)

33 Portanto, o educador deve buscar práticas pedagógicas bem estruturadas que motivem os alunos a alfabetizarem-se conhecendo a função da escrita e apropriem-se dela significativamente e não apenas de forma mecânica.

O documento do Ensino Fundamental de nove anos – orientações gerais, aponta ainda as questões sobre o espaço físico e sua importância para acolher alunos de seis anos:

[...] as escolas que irão incluir a criança de seis anos no ensino fundamental, para recebê-las, precisa reorganizar a sua estrutura, as formas de gestão, os ambientes, os espaços, os tempos, os materiais, os conteúdos, as metodologias, os objetivos, o planejamento e a avaliação, de sorte que as crianças se sintam inseridas e acolhidas num ambiente prazeroso e propício para a aprendizagem. É necessário assegurar que a transição da Educação Infantil para o ensino fundamental ocorra da forma mais natural possível, não provocando nas crianças rupturas e impactos negativos no seu processo de escolarização. (MEC, 2004 p.22)

Diante de tais apontamentos, conclui-se que para atender os alunos de seis anos com educação de qualidade é necessário modificar currículo, estrutura e também proporcionar formação continuada aos educadores a fim de entender o que é infância, como a criança se desenvolve e o motivo de incluir o brincar no processo de ensino-aprendizagem.

2.2 A ruptura do lúdico entre a Educação Infantil e o Ensino Fundamental

O capítulo nove do documento das Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Básico sugere:

È desejável que as escolas estabeleçam um Ciclo de Alfabetização, no interior do qual não haja repetência, garantindo a todos os alunos o domínio da leitura e da escrita, instrumentos indispensáveis para o acesso a diferentes formas de conhecimento. (DCNEB MEC, 2013 p.26) “grifo meu”

34 Como vemos, apesar de contemplar o brincar nos primeiros anos do ensino fundamental, priorizam o conteúdo, principalmente a alfabetização/letramento, vista como elemento primordial para essa faixa etária.

No entanto, estudos recentes a respeito da transição do aluno da educação infantil para o ensino fundamental realizado por Elaine Gesibel Teixeira Goes (2012) revelam que não deve haver uma ruptura entre uma fase da educação e outra, essa transição não deve ocorrer de qualquer maneira.

Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais:

Outro desafio com que se depara o Ensino Fundamental diz respeito à sua articulação com a educação infantil e com o ensino médio, assim como é necessária uma integração maior entre os seus anos iniciais e finais. A falta de articulação entre as diferentes etapas da educação básica tem se constituído em barreiras que dificultam o percurso escolar dos alunos. Para a superação desses problemas é preciso que o ensino fundamental se fortaleça, passando a incorporar tanto algumas práticas que integram historicamente a educação infantil, como trazendo para o seu interior preocupações compartilhadas por grande parte dos professores do ensino médio, como a necessidade de sistematizar conhecimentos, de proporcionar oportunidades para a formação de conceitos e a preocupação com o desenvolvimento do raciocínio abstrato, dentre outras. (DCNEB, 2013 p.26)

Ainda considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais, é demonstrado um dos motivos que levam à ruptura do lúdico em detrimento da sistematização dos conteúdos causando uma transição conturbada:

Para evitar que as crianças de seis anos se tornem reféns prematuros da cultura da repetência e que a continuidade dos processos educativos não seja indevidamente interrompida, levando à baixa autoestima do aluno e, sobretudo, para assegurar a todas as crianças uma educação de qualidade, estas diretrizes recomendam fortemente que os sistemas de ensino adotem nas suas redes de escolas a organização dos três primeiros anos do Ensino Fundamental – abrangendo crianças de seis, sete e oito anos de idade - como sendo o Ciclo da Infância, destinado à alfabetização. (DCNEB, 2013 p.28) “grifo meu”

Conforme Saviani (2008) em Goes (2012 p. 46), “ a função da escola é transmitir o saber sistematizado, é mais do que ensinar os conteúdos elementares, é ensinar o homem a refletir”. Goes (2012) afirma que, o processo de transição da educação infantil para o ensino fundamental de 9 anos deve

35 respeitar e atender suas especificidades garantindo todas as condições para que isso ocorra. Afirma ainda que:

[...] é preciso entender que as características das crianças de cinco e seis anos são diferentes de crianças de sete anos, por isso não é possível fazer apenas pequenas adequações nesse novo ensino fundamental de nove anos, são necessárias mudanças significativas. [...] As crianças de cinco e seis anos estão em uma fase na qual o brincar é importante para que as funções superiores se desenvolvam. Não se pode deixar que as crianças, ao chegarem ao ensino fundamental, percam esses momentos de brincar. Na educação infantil as crianças brincam e aprendem, pois brincadeira é aprendizado, então o ensino fundamental de nove anos deve estar repleto desses momentos de brincadeiras. (GOES, 2012 p.37)

Pensando em um primeiro ano do ensino fundamental de qualidade, Kramer, Nunes e Corsino (2011) em Goes (2012 p.38) fazem importantes pontuações sobre essas questões:

[...] é prioridade que instituições de educação infantil e ensino fundamental incluam no currículo estratégias de transição entre as duas etapas da educação básica que contribuam para assegurar que na educação infantil se produzam nas crianças o desejo de aprender, a confiança nas próprias possibilidades de se desenvolver de modo saudável, prazeroso, competente e que, no ensino fundamental, crianças e adultos (professores e gestores) leiam e escrevam. Ambas as etapas e estratégias de transição devem favorecer a aquisição/construção de conhecimento e a criação e imaginação de crianças e adultos. (KRAMER,NUNES E CORSINO, 2011 p.80)

Conforme as autoras em Goes, a educação infantil e ensino fundamental, devem construir um currículo que considere as questões relativas à transição de uma etapa para outra da educação, visto que este processo influencia na aprendizagem das crianças.

Segundo Arelaro, Jacomini e Klein (2011) em Goes (2012 p. 41), a última etapa da educação infantil deveria ser preparatória para o ensino fundamental objetivando principalmente: “[...] “Habituar” as crianças a sentar-se

em carteiras e mesinhas, ter familiaridade com brinquedos pedagógicos com letras e números, ter disciplina, concentração e organização, enfim, preparar-se “culturalmente” para o início do trabalho alfabetizador [...]” (ARELARO;

36 JACOMINI; KLEIN, 2011, p. 38). Portanto, esta etapa de ensino é de suma importância no processo de ensino aprendizagem das crianças.

Conforme Pansini e Marin (2011) em Goes (2012 p.42), é necessário que os professores se qualifiquem para receber, entender e respeitar as especificidades da nova criança do ensino fundamental pois:

Com a entrada da criança aos 6 anos de idade na escola obrigatória, os professores precisam estar preparados para se relacionar com elas considerando a ludicidade, a brincadeira e o jogo como aspectos a serem privilegiados. Caso contrário, as medidas que visem superar os entraves no fluxo dos sistemas de ensino se restringirão a intervenções legais e normativas, provocando polêmicas e conflitos entre gestores, professores e responsáveis pelos órgãos centrais (PANSINI; MARIN, 2011, p. 93). “grifo meu”

Congruente ao sentido dos pensamentos, o brincar deve fazer parte do processo de aprendizagem também no Ensino Fundamental, por isso os professores, dos primeiros anos, devem considerar a questão.

No contexto,

[...] levando em conta os novos conhecimentos sobre o processo de desenvolvimento das crianças [...] devemos deixar contaminar o ensino fundamental com atividades que julgamos típicas da educação infantil [...]. Falo das atividades de expressão como desenho, a pintura, a brincadeira de faz de conta, jogos com regras, a moldagem, a construção, a dança, a poesia e a própria fala, bases necessárias para a aquisição da escrita. [...] sem exercitar a expressão como um todo, o escrever fica cada vez mais mecânico [...] (MELLO, 2005 p. 30-31)

Como vemos, os primeiros anos do ensino fundamental precisam das atividades lúdicas para se desenvolver, pois contribuem para a formação da identidade, da inteligência e da personalidade da criança.

Goes (2012) afirma em seu estudo que além dos aspectos curriculares, devem-se repensar os aspectos concretos, como o espaço físico das salas de aulas, carteiras, armários, materiais lúdicos, pátio para socialização, entre outros. É fundamental que os espaços físicos que acolherão

37 as crianças, sejam organizados de maneira que tenham espaços suficientes para realizar todas as atividades necessárias ao seu desenvolvimento, respeitando seu tamanho, suas dificuldades e necessidades.

No entanto na prática, segundo estudos aqui demonstrados, os primeiros anos do Ensino Fundamental prioriza a alfabetização de forma sistematizada e em espaços inapropriados para essa faixa etária e ainda deixando o lúdico para momentos soltos como recreios, entrada e saída, apesar das muitas pontuações nos documentos nacionais sobre essa ruptura e formas de inserir o brincar e de preparar o espaço físico.

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