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Contrato de Trabalho Artístico do Ator com Vínculo Empregatício

4 TRABALHO ARTÍSTICO DO ATOR

4.3 Negócio Jurídico do Contrato de Trabalho Artístico do Ator

4.3.2 Contrato de Trabalho Artístico do Ator com Vínculo Empregatício

As ponderações ora realizadas à luz da fenomenologia dos fatos jurídicos são pertinentes a qualquer modalidade contratual, ou seja, com ou sem vínculo empregatício.

Sobre a possibilidade de o trabalho artístico ser prestado de formas diversas, Pontes de Miranda preleciona:

A discussão sôbre ser locatio operis ou locatio operarum o contrato de trabalho artístico peca, evidentemente, por abstrair de dados circunstanciais que fazem variar o negócio jurídico. Não se pode dizer que faltem, sempre, o elemento da subordinação e o da continuidade da prestação; nem que tenha sempre esses elementos. O pianista que promete os concertos, sem outra vinculação que a de quem promete obra, não pode ser tido como empregado. Todavia, o grupo de músicos que se enquadra na emprêsa e sob a direção de alguém, que pode ser o empresário, ou não o ser, não é grupo de locadores de obra. A subordinação exsurge, quer haja quer não haja interposta pessoa entre o empresário e os artistas. As exigências de organização da emprêsa, de vigilância dos ensaios, de disciplina e conduta do artista, necessária ao bom êxito da exibição, tornam subordinativos e continuativos os trabalhos artísticos. O artista dificilmente se vincula ao resultado que teria prometido; vincula-se ao trabalho.

Se o contrato de trabalho artístico foi, por exemplo, de execução de três determinadas sinfonias, ou de três peças teatrais precisamente individuadas, nem por isso se hão de invocar as regras jurídicas sôbre empreitada, porque apenas se disse, com escolha convencional, qual o serviço que teria de ser prestado.

Aplicando-se a teoria ao negócio jurídico do contrato de trabalho do ator, tem-se que, se no contrato de trabalho artístico analisado houver a incidência dos fatos previstos no suporte fático do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho, o contrato entrará no plano da existência e será um contrato de trabalho com vínculo empregatício, apto a passar para os planos da validade e eficácia.

Por se tratar de negócio jurídico, de acordo com a classificação dos fatos jurídicos, há no cerne suporte fático do contrato a bilateralidade e a livre manifestação de vontade das partes em realizar o contrato para que este exista. Ultrapassadas essas condições, verificam-se os demais elementos do suporte fático.

Norma Jurídica – art. 3º da CLT Suporte fático – elementos nucleares:

− Pessoa física;

− Prestação de serviços não eventual; − Sob dependência do empregador; − Mediante salário.

Preceito: Consideram-se empregados.

Por tudo que já foi estudado sobre os princípios trabalhistas, esta é a primeira verificação que se deve fazer, não importa o nome que se dê ao contrato, nem a formalização que se faça, se os fatos da vida ocorrem no mundo tal qual como previsto no suporte fático da norma do art. 3º, existirá um contrato de trabalho com vínculo de emprego. Este raciocínio feito à luz da teoria de Pontes de Miranda, nada mais é do que o que os especialistas do ramo do direito trabalhista chamam de contrato realidade. Para Pontes de Miranda o que importa é o fato da vida e para o direito do trabalho o relevante é o contrato realidade.

Por outro lado, ultrapassada a verificação acima, há alguns atores que têm sua imagem consagrada e consolidada como uma marca tão importante e forte, que optam por constituir uma empresa. Ao ser contratada, a empresa pode colocar à disposição do contratante não somente a prestação de serviços do ator, mas também toda a estrutura empresarial que sua empresa possui, inclusive, no que tange ao valor de sua marca, diretamente relacionada à imagem do ator. São os contratos de prestação de serviços personalíssimos de pessoa jurídica.

Seguindo a teoria, para esta contratação de prestação de serviços personalíssimos de pessoa jurídica ser existente, haverá necessidade de se verificar o suporte fático da norma jurídica relacionada a esta contratação, bem como os cernes do suporte fático de todo negócio jurídico, quais sejam a bilateralidade e a livre manifestação de vontade.

Ultrapassada a verificação da incidência dos fatos que implicarão a existência do contrato de prestação de serviços personalíssimos, no plano da validade serão observados os requisitos de validade já estudados e, finalmente, no plano da eficácia, os efeitos previstos no preceito, por exemplo, a tributação específica.

Por meio da teoria, é possível verificar se o contrato de prestação de serviços personalíssimos de pessoa jurídica é existente, válido e eficaz. Por exemplo, caso se verifique que houve uma simulação, o contrato poderá até ser existente, mas não será válido.

Pontes de Miranda já reconhecia a possibilidade de existência deste tipo de contratação, inclusive, no trabalho artístico:

NATUREZA DO CONTRATO DE TRABALHO ARTÍSTICO.

O contrato pode ser individual ou coletivo, inclusive normativo. Discute-se se o contrato é de locação de serviços (locatio operarum) ou de obra (locatio operis). Não se há de afastar que o contrato possa ser de locação de obra, pois, devido à natureza do programa, às vêzes o artista presta obra própria sem subordinação e sem continuidade. Não há, aí, o emprego. Todavia, no contrato de dois ou mais artistas quase sempre há o emprego, a disciplina, com as férias e os períodos de repouso. (cf. NICOLA TABANELLI, Le Scritture teatrali, 4 s.; sem razão, TREVISANI, Il Teatro italiano, 138-159). O que se disse sôbre artistas de teatro também se entende quanto aos atletas, radialistas, televisionistas, cantores e músicos.140

A caracterização de uma ou outra modalidade de contratação do trabalho artístico do ator merece ser aprofundada em outra ocasião com o rigor científico que merece o tema, mas, por meio da teoria, já se tem que o que definirá a forma correta de contratação será o fato ou conjunto fatos que, quando praticados, atingem a existência do fato jurídico.

Não obstante, para efeitos da equiparação salarial, será contrato de trabalho artístico do ator com vínculo empregatício o objeto da presente análise.