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CAPÍTULO 1. AGRICULTURA DE CONTRATOS

1.5 Contratos Típicos da agricultura

Existem diferentes formas de classificação dos contratos e, dada a multiplicidade de aspectos envolvidos, torna-se difícil uma classificação precisa. No setor agrícola, por exemplo, existe uma variedade de tipos de contrato. Eles variam segundo o grau de intervenção e de dependência entre os agentes e dos mecanismos de controle e incentivos

vigentes. Podem ser “desde acordos de comercialização e investimentos específicos até investimentos altamente idiossincráticos pelo produtor contratante, como é o caso de alguns produtores de frutas e legumes” (Schrader, 1986 apud Bando, 1998).

Num estudo sobre contratos entre produtores e a agroindústria no Estado de São Paulo, Thame e Amaro (1987:3) identificaram quatro tipos de contratos mais comuns:

a) Contrato Limitado: não especifica o preço, mas assegura ao produtor um mercado seguro junto a empresas ou negociantes, desde que ele produza sob determinadas especificações. O produtor, porém, arca com todas as decisões da produção.

b) Contrato Integral: os preços são fixados por unidade de produção e também se estabelecem os programas e prazos a serem cumpridos pelo produtor. Pode-se ainda estipular a supervisão de atividades do agricultor que, nesse caso, fica livre dos riscos e ônus sobre a perda da produção. Portanto, são mais rigorosos e mais específicos que o contrato anterior. Em alguns casos, o produtor recebe todos os insumos necessários, ou grande parte deles. Como o contratante assume o risco adicional de perder os insumos investidos, tem interesse em controlar praticamente todos os detalhes da produção, além de reivindicar maior parcela dos lucros obtidos. Existem casos em que a integração é praticamente completa, com o produtor recebendo uma quantia pré-determinada, o que equivale a um salário.

c) Contrato de Produção: são aqueles em que o produtor compromete-se a plantar determinada área, tendo assegurado a venda da produção sob determinado preço por unidade.

d) Contratos de Transferência Administrativa ou Empresarial: são aqueles em que as empresas processadoras arcam quase que integralmente com as decisões de produção. Definem a forma de execução do processo de produção, como a época do plantio, os tratamentos, a colheita e o transporte. Fornecem ainda os insumos de produção. Ao produtor cabe apenas o fornecimento da terra e a contratação

da mão-de-obra direta. Sua função se restringe ao acompanhamento e supervisão das tarefas em torno da produção.

Baseando-se em Makintosh (1977), Thame e Amaro observam que a última modalidade de contrato citada é característica da produção de legumes para processamento na França, Holanda e no Reino Unido. Outras formas de contratos são também encontradas na agroindústria francesa de aves premium. Segundo Menárd (1996), essas formas são bastante semelhantes entre si quanto ao desempenho e podem ser definidas como:

a) Preço Fixo – o contrato estabelece preço, quantidade e data de entrega. A participação dessa modalidade no total de contratos da agroindústria é de apenas 5%.

b) Contrato de Compra e Venda – a contratante fornece os insumos cujo valor é descontado posteriormente, a critério do produtor, e garante a compra da produção por um preço unitário fixo ou por um percentual relativo ao custo de produção. Tal modalidade representa em torno de 33% dos contratos.

c) Contrato para Produção – o produtor recebe todos os insumos e administra a produção. O produto é comprado por um preço-base definido antecipadamente mais um adicional relativo aos índices de produtividade alcançados, de modo que a margem depende do cuidado dos produtores. Constitui-se na maioria dos contratos observados pelo autor.

Bando (1998), analisando as relações contratuais da fruticultura na Zona da Mata Mineira e baseando-se nos estudos e classificações de contratos existentes, classifica os contratos do setor em:

a) Contrato de Garantia de Compra e Venda - nesses contratos define-se o preço-base, fruto das negociações do comitê da agroindústria (caso exista), o produtor obriga-se a vender e a empresa a comprar toda a produção referente à área contratada. Para isto, a produção deve ser realizada segundo determinados critérios (por exemplo, qualidade) prescritos pela empresa e pelo comitê. A empresa não fornece insumos ou créditos, apenas concede uma carta de compromisso para facilitar a obtenção de créditos pelos

produtores junto às instituições de financiamento. Por outro lado, a empresa presta assistência técnica ao produtor durante o ciclo produtivo e também custeia o transporte. Nos contratos ainda estão definidas a área contratada, o cronograma de plantio, a variedade adotada e a colheita. Em caso de punição, os contratos estipulam multa e/ou indenização por perdas e danos, proporcionais à produção contratada.

b) Contrato de Intermediação - as cooperativas são intermediárias nos acordos firmados entre produtores e empresas processadoras. Além de cobrarem uma taxa de administração, elas estabelecem os critérios de produção. Os riscos de produção e a assistência técnica são arcados pelo produtor, pois não há fornecimento de insumos ou créditos pelas empresas. O preço-base é fixado nos contratos.

c) Contrato Parcial de Fomento - nesses contratos encontra-se definido o preço- base. São também estabelecidos o cronograma de plantio, transplante e colheita, assim como a área, a produtividade e a produção a ser entregue. As mudas, assistência técnica e o transporte da produção são arcados pelas empresas. Há transferência parcial de tecnologia, mas os riscos são totalmente assumidos pelo produtor.

d) Contrato Integral de Fomento - tais contratos definem o preço-base, as variedades a serem utilizadas, o cronograma de plantio e colheita, a área e a produção contratada e a produtividade esperada. Contêm ainda especificações dos insumos, fornecendo a empresa contratante assistência técnica ou mesmo financiando ou adiantando os insumos utilizados. Os custos de transporte são arcados pelas empresas e administrados pelos produtores. Os riscos de produção são de responsabilidade do produtor, exceto nos casos em que se comprove a ocorrência de prejuízos à produção, causados por indicações de variedades inadequadas e tratos culturais indevidos por parte dos técnicos da empresas contratante.

e) Contrato de Participação ou Padrão - são contratos em que o preço acompanha as cotações do mercado internacional e é calculado segundo uma

fórmula definida pelo contrato padrão. Contêm especificados o cronograma e a área de plantio, a estimativa da produção, a variedade, a densidade de plantio e o período de colheita. A qualidade do produto é especificada pela empresa contratante e aprovada pelo comitê da agroindústria. As empresas adiantam capital e custeiam o transporte e a colheita. Esse tipo de contrato é amplamente utilizado pelas empresas processadoras de laranja.

f) Contrato de Cessão de Área – nesses contratos todas as decisões e o custeio das operações de plantio, colheita e transporte são assumidos pelas empresas contratantes. Por isso, estas assumem os riscos de produção. Tais contratos são comuns na produção de cana-de-açúcar.

De maneira geral, observa-se que os diferentes tipos de contratos citados são bastante semelhantes entre si e caracterizam-se por apresentar um elevado grau de interferência da empresa sobre o processo de produção agrícola. Os contratos mais simples restringem apenas a fixação da área de produção, quantidade e preço do produto, refletindo, portanto, um reduzido controle da empresa sobre a atividade agrícola. Por sua vez, os mais complexos embutem um controle maior das empresas sobre o processo de produção, controle apenas comparável àquele obtido nas atividades agrícolas conduzidas por elas mesmas.

Veremos, no decorrer do presente estudo, que os contratos adotados na agroindústria de tomate modificam-se concomitante ao desenvolvimento da cultura no Brasil. A complexidade desses contratos varia de acordo com o grau de ingerência da indústria sobre a atividade agrícola, o que ocorre com maior intensidade a partir da década de oitenta, quando se consolidam os complexos agroindustriais, ao mesmo tempo em que ocorrem mudanças no padrão de competição da indústria e alterações no ambiente institucional. No próximo capítulo, discutiremos o padrão de desenvolvimento agrícola no Brasil. Entenda-se que os contratos da agricultura de tomate no Brasil estão inseridos dentro do processo de consolidação dos CAI´s.

CAPÍTULO 2 - DESENVOLVIMENTO AGRÍCOLA: origens e consolidação da