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CAPÍTULO 1. AGRICULTURA DE CONTRATOS

1.4 Motivos para a contratação

Alguns estudos sobre agricultura contratual identificam as principais razões que levam tanto empresas processadoras de alimentos quanto produtores a se engajarem nas relações contratuais. Cada um dos agentes possui diferentes motivações e interesses que permeiam suas decisões.

Em seu aspecto técnico, as vantagens que as empresas obtêm com a contratação podem ser assim descritas. As compras das matérias-primas são definidas antecipadamente. Na época do plantio, definem-se os preços e as quantidades do produto agrícola bem como a data do plantio e o momento da colheita. Esse fato reduz as incertezas que existiriam se as empresas adquirissem a produção no mercado aberto. Nos contratos também estão especificadas as técnicas de produção desejadas pelas empresas para a obtenção de um produto de boa qualidade, o que lhes dá o controle sobre o processo de produção agrícola. Os contratos impedem as agroindústrias de assumir a totalidade das atividades da produção agrícola. Outra vantagem consiste no fato da unidade processadora não assumir integralmente os riscos inerentes à produção agrícola como produtora. Além disso, a coordenação contratual resulta no direcionamento das atividades das empresas somente no âmbito de sua atuação, evitando investimentos elevados na produção agrícola, tais como aquisição de terras, máquinas e implementos agrícolas, o que ocorre com a coordenação vertical.

Para os produtores agrícolas, a relação contratual é uma forma de redução dos riscos e da volatibilidade dos preços característicos dos mercados agrícolas. Eles conhecem de antemão os preços e as quantidades em que irão comercializar sua produção. Portanto, a renda deriva da atividade.

Em alguns casos, os produtores contam com recursos de financiamento do ciclo produtivo, garantidos pelas agroindústrias, a taxas menores que as do mercado bancário.

Tal situação é bastante atrativa, considerando-se que algumas economias possuem escassez de crédito. Mesmo que os créditos públicos sejam subsidiados, tal escassez impõe uma racionalização do seu uso. A provisão de créditos é facilitada, porque a empresa pode deduzir o pagamento dos empréstimos do pagamento da matéria-prima.

Outra vantagem apresentada é o acesso aos novos insumos, máquinas e técnicas produtivas que, utilizados na produção, elevam os ganhos de produtividade. Para os pequenos produtores, segundo Glover & Kusterer (1990), a agricultura contratual seria uma forma de superação de alguns problemas, como o alto risco e custos elevados na adoção de novas tecnologias de produção para fazer frente ao processo competitivo. Os produtores relutam em adotar autonomamente tais tecnologias. Além disso, nos países em desenvolvimento, a oferta de insumos e maquinários é insuficiente e, muitas vezes, estes são obsoletos. A contratação reduz esses riscos, pois facilita a adoção de novas tecnologias. A extensão agrícola é fraca, e tanto o setor privado quanto o setor governamental não estão bem posicionados para oferecê-la. Tanto a oferta de insumos quanto a extensão agrícola estão contempladas na relação contratual e podem ser bem superiores aos serviços governamentais, uma vez que a empresa necessita monitorar os serviços e garantir a eficiência. Os resultados, portanto, encontram-se mais na produtividade e na qualidade da matéria-prima que nos lucros das empresas. A especialização da produção orientada para o processamento garante economias de escalas e é apontada como benéfica à competitividade.

A opção de produzir uma determinada matéria-prima através da relação contratual significa, para os produtores, a diversificação da produção agrícola como forma de diluir os riscos inerentes à produção e de elevar sua renda proporcionalmente à área operada por contratos. Em situações em que a produção requer o uso intensivo de mão-de-obra, como nas propriedades organizadas em torno da agricultura familiar, pode vir a alcançar o uso eficiente da mão-de-obra familiar.

Por fim, de acordo com Glover & Kusterer (1990), os mercados locais de produtos perecíveis e de alto custo tendem a ser estreitos e voláteis. Enquanto a produção de frutas e verduras é adequada à pequena produção, os preços são elevados e podem cair súbita e drasticamente caso apenas poucos produtores realizem simultaneamente a colheita. Uma

vez que as empresas processam o produto agrícola ou o exportam para grandes mercados mundiais, os produtores não mais enfrentam mercados estreitos. O último ponto a considerar é que os mercados internacionais não estarão acessíveis aos pequenos produtores até que canais de comercialização específicos tenham sido estabelecidos. As empresas agroindustriais originárias de países desenvolvidos fornecem aos produtores o acesso a seus lucrativos mercados, através de suas experiências, marcas ou canais de comercialização.

Além dos aspectos técnicos, Glover & Kusterer (1990) consideram alguns aspectos políticos que motivam os agentes a participarem das relações contratuais. Para as empresas, alguns benefícios advêm dessa relação. Elas não possuem interesse em investir em terras, empregar um grande contingente de trabalhadores nem tampouco administrar as operações agrícolas de grande escala. Isso deslocaria o seu foco principal que consiste no processamento primário. Vantagens associadas aos custos também são possíveis. Em culturas que demandam um número expressivo de trabalhadores e requerem um cuidado redobrado, a pequena produção pode ser mais eficiente do que as de grande escala. Em se tratando dessa produção, os proprietários locais empregam trabalhadores rurais a um preço menor que as empresas transnacionais.

Outra vantagem adicional consiste no fato do crédito agrícola para os produtores locais ser mais fácil do que para as empresas multinacionais. Geralmente são recursos com custo mais baixo, o que também permite às empresas evitarem os riscos financeiros associados à instabilidade da produção agrícola. Por último, a agricultura de contratos contribui para a formação de alianças com empresas locais que defendem os interesses das empresas transnacionais em determinadas questões.