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CAPÍTULO 3. PRODUTORES DE TOMAT E AS RELAÇÕES

3.3 Novas Relações Contratuais

3.3.2 Perfil dos produtores de tomate

Para retratar as condições das relações contratuais na agroindústria de tomate em Goiás, o primeiro passo foi traçar o perfil dos produtores. Isto se fez necessário na medida em que são as condições econômicas, aliadas às oportunidades de negócios em outras atividades e/ou outras culturas agrícolas, que definem o grau de motivação dos produtores às relações contratuais.

Nesse caso, uma variável importante é o tamanho da propriedade dos produtores. A pesquisa identificou que 17% dos entrevistados operam em pequenas propriedades, 48% em propriedades que variam de 100 a 500 ha e 34% naquelas com mais de 300 hectares, conforme a próxima tabela. A maior predominância das pequenas e médias propriedades pode estar relacionada ao maior interesse das agroprocessadoras em minimizar seus custos de monitoramento, tais como os de operação e contratação de produtores, acompanhamento das atividades agrícolas, recepção e transporte.

Os dados revelam que existe uma tendência para se desenvolver a cultura de tomate em médias e grandes propriedades, o que reforça a inclinação já delineada no período anterior, quando a cultura deslocou-se para a Alta Sorocabana de Presidente Prudente. Ao contrário dessa região, não é comum a prática de arrendamento de terras na região do cerrado. A pesquisa detectou que somente uma pequena parcela dos entrevistados, 7 (sete) produtores, utiliza terras arrendadas para produzir. Essas áreas variam entre 25 e 1.000 ha, com uma média de 409,1 ha. Apenas quatro produtores não possuem áreas próprias e, portanto, arrendam terras para a realização da lavoura de tomate. Os demais produtores provavelmente utilizam terras arrendadas para o cultivo de outras lavouras, o que evidencia a extensão de área cultivada, média de 409,1 ha, em contraposição às áreas próprias com média de 240,4 ha.

Tabela – 4. Distribuição das propriedades por área.3

Tamanho da propriedade (ha) Nº de propriedades

Menos de 10 0 10 a 99 5 100 a 199 3 200 a 499 11 500 a 1999 6 > 2000 4 Total 29

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria.

O restrito recurso ao arrendamento de terras na região do cerrado pode ser parcialmente explicado pelo fato de que, durante a fase expansiva da lavoura de tomate para Goiás e Minas Gerais, a atividade da pecuária já se constituía na principal atividade agrícola da região, com os pastos já formados.

Em todas as propriedades visitadas cultivam-se, além do tomate, outras lavouras. O produto cultivado por um grupo maior de propriedade é o milho doce, seguido pelo feijão e pela soja. O feijão é a única cultura produzida em todas as regiões pesquisadas. A rotação de cultura é uma das exigências ao cultivo de tomate, como forma de reduzir o índice de doenças e pragas a que o tomateiro está sujeito. Por isso, o uso do milho doce em rotação com o tomateiro é bastante vantajoso, já que existem vários herbicidas recomendados para uso na cultura do milho e que controlam as plantas daninhas (Pereira, 2000). Esse fato explica parcialmente os dados levantados na pesquisa, segundo os quais o milho é cultivado em quase todas as propriedades. O feijão é uma cultura que concorre com a produção de tomate. Nos períodos em que os preços do feijão estão mais favoráveis que os do tomate, os proprietários aumentam o plantio do primeiro em detrimento do segundo. Também pelo

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O IBGE não faz uma estratificação dos produtores segundo o tamanho de área. A Instituição apenas classifica os estabelecimentos segundo os grupos de área total (ha). Utilizamos o mesmo intervalo elaborado pelo IBGE. No entanto, para os propósitos do trabalho, definimos os intervalos - menos de 10 e 10 a menos de 100 – como sendo de pequenos estabelecimentos; os intervalos - 100 a menos de 200 e 200 a menos de 500 - como de médios estabelecimentos; e os intervalos - 500 a menos de 2000 e 2000 ou mais – de grandes estabelecimentos.

fato de ser o feijão um produto que compõe a alimentação básica, o seu plantio é realizado em todas as propriedades pesquisadas.

Tabela 5 – Participação das Culturas nas Propriedades

Culturas (em %) Arroz 3,6 Milho (grão) 14,5 Milho (doce) 24,1 Soja 19,3 Feijão 20,5 Outras 18,0

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria.

A tabela 5 mostra a participação dos cultivos nas propriedades pesquisadas. Deve-se ressaltar que a comparação não se refere às áreas utilizadas, mas sim à variedade de cultivos que se pratica em cada região pesquisada. O milho doce é cultivado em 24,1% das propriedades que realizam outros cultivos, enquanto o feijão participa com 20,5% e a soja com 19,3%. Outros plantios detectados foram campo-semente, abóbora e melancia no município de Pontalina; campo-semente, sorgo e forrageiro em Piracanjuba; goiaba em Itapaci; abóbora, milho-semente e ervilha em Morrinhos; cevada em Luziânia; ervilha, cevada, algodão e trigo em Cristalina. Observa-se, portanto, que não há muita coincidência entre as culturas nos diferentes municípios analisados.

No tocante à área destinada para as lavouras, observa-se que a área média destinada ao cultivo de milho doce é de 119 ha, enquanto para o feijão e a soja é de 99 ha e 545,2 ha, respectivamente. Além da soja, outras culturas que utilizam uma grande extensão de área plantada são o milho em grão e o algodão. Note-se que esses cultivos, embora não estejam em todas as propriedades, são responsáveis pelo maior emprego de área, conforme atesta a tabela 6.

Tabela – 6. Área média destinada para diferentes tipos de lavoura.

Culturas Número de

estabelecimentos

Área Total (ha) Área Média (ha)

Arroz 3 239 79,7 Milho (grão) 6 1665 277,5 Milho (doce) 23 2754,3 119,7 Milho (semente) 5 676 135,2 Feijão 15 1485 99,0 Soja 18 9814 545,2 Algodão 1 3000 3000 Trigo 1 100 100

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria.

A coexistência de atividades de agricultura e pecuária é característica marcante nas propriedades analisadas. Dos vinte e nove proprietários entrevistados, vinte e um praticam algum tipo de criação paralela de animais. A criação predominante é de rebanho bovino, que está praticamente em todas as propriedades que possuem atividade criatória, mas há também criação de aves, eqüinos e suínos. Em algumas delas, tal atividade não tem caráter comercial, destinando-se somente ao consumo próprio. Isso pode ser comprovado ao observarmos os dados da tabela a seguir, que mostra a participação de cada produto na composição média da renda dos estabelecimentos. Apenas para nove proprietários o rebanho bovino é comercial. Segundo a tabela 7, a renda média obtida com a atividade pecuária gira em torno de 15% da renda da propriedade.

A partir dos dados desta tabela, podemos ainda notar que o produto que responde pela maior proporção na geração da renda média das propriedades em que é cultivado é o tomate. Dos 26 proprietários pesquisados, o tomate participa em média com 39,2% da renda gerada nas propriedades. Em seguida vem o milho-semente, com um percentual de 31,7%. Com exceção daquelas propriedades em que se plantam soja semente e algodão (um caso de cada), o tomate é a cultura que desempenha um papel mais importante na geração da renda do conjunto dos entrevistados.

Tabela – 7. Composição média da renda para o conjunto dos entrevistados (%)

Produto Total de estabelecimentos Renda Média Milho (Grão) 2 17,5 Milho (semente) 6 31,7 Milho (doce) 23 15,8 Soja 14 25 Feijão 14 17,3 Tomate 26 39,2 Rebanho 9 15,4

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria.

No entanto, o tamanho das áreas de cultivo de tomate é relativamente pequeno se comparado à renda obtida com a referida lavoura. A maioria dos entrevistados dedica ao tomate áreas que vão de 41 ha a 60 ha (cerca de 31% dos entrevistados), conforme demonstrado na tabela 3. A segunda maior freqüência é de cultivo em áreas entre 1 e 20ha. Como pode ser verificado na mesma tabela, a maioria dos produtores possui áreas superiores a 250 hectares (41,39% possuem área superior a 300 hectares), que não são dedicadas exclusivamente ao tomate. Comparando as tabelas 2 e 3, infere-se que a área destinada ao cultivo do tomate não é predominante em relação à área total da propriedade.

O nível tecnológico das propriedades onde se cultiva o tomate é bastante elevado. A tabela 8 traz uma listagem dos equipamentos utilizados na sua produção. Além de apresentar a discriminação da maquinaria, ela ainda fornece dados sobre a origem desses equipamentos. Como se pode observar, as máquinas necessárias à condução da lavoura de tomate pertencem ao próprio produtor. Apenas uma pequena parcela de produtores recorre ao aluguel e ao empréstimo de máquinas para a lavoura. Alguns produtores não responderam quando não possuíam certos equipamentos que foram listados.

Tabela –8. Maquinaria utilizada na lavoura de tomate durante a safra de 2001

Próprio Alugado Emprestado Não Precisa

Sem resposta Total Tratores 93% 3,5% 3,5% - - 100% Pulverizador 96,6% - - - - 96,6% Distribuidor de Calcário 79,3% 3,5% 17,2% - - 100% Adubadeira / Plantadeira 75,9% 10,3% - - - 86,2% Colhedeira 17,2% 3,5% 3,5% 3,5% 55,1% 24,2% Roçadeira 51,7% 3,5% - 34,5% 10,3% 55,2% Grade / Arado 79,3% 3,4% - 13,8% 3,4% 82,8% Pivô 75,9% 10,3% 3,5% - 10,3% 89,7% Gotejamento 13,8% - - - 86,2% 13,8% Aspersor 7% - - - 93% 7%

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria.

Não é surpreendente o fato de encontramos nessas propriedades um aparato técnico moderno e adequado à cultura do tomate. Segundo os técnicos agrícolas, para constar do cadastro de uma empresa é necessário que os produtores tenham estrutura física, ou seja, devem destinar pelo menos 35 ha de terra para a lavoura de tomate, módulo mínimo de terra que sustenta a produtividade média exigida, estar localizados num raio de até 180 km da fábrica, possuir máquinas e implementos agrícolas específicos à cultura e o solo corrigido.

Tal critério de seleção elimina um contingente expressivo de produtores rurais (Dias, 2001). Assim, somente produtores que atendem aos requisitos mínimos à produção de tomate são escalados para serem fornecedores de matérias-primas às agroindústrias processadoras. A pesquisa detectou um significativo número de produtores com experiência anterior em culturas irrigadas. A grande maioria, porém, não possuía quaisquer conhecimentos sobre a cultura do tomateiro. Para esses, o contato com as técnicas de cultivo ocorreu basicamente através dos técnicos agrícolas das empresas agroprocessadoras. Outros disseram que adquiriram esses conhecimentos com os técnicos agrícolas ou agrônomos contratados pela própria propriedade.

As agroprocessadoras possuem um quadro de funcionários qualificados para a atividade agrícola. São engenheiros agrônomos ou técnicos agrícolas que têm como tarefa

principal ensinar aos produtores novatos no cultivo de tomate as técnicas necessárias para a condução da lavoura. Além disso, devem acompanhar o ciclo de produção.

Na quase totalidade das propriedades pesquisadas, a produção de tomate não é obtida através do trabalho familiar. Uma parcela muito pequena das propriedades utiliza esse recurso. Elas possuem trabalhadores permanentes em seu quadro de funcionários, porém em um número muito reduzido. Segundo os produtores, a fase inicial do ciclo produtivo do tomateiro não requer um grande contingente de trabalhadores, e somente o efetivo das propriedades consegue realizá-la. No entanto, em períodos de colheita – e sendo esta manual – são contratados trabalhadores temporários. A duração do trabalho é definida pela extensão dos dias necessários à colheita, e a jornada varia de 8 a 12 horas/dia. O número de trabalhadores, por sua vez, depende da produtividade da produção de tomate.

A maioria dos agricultores diz não encontrar dificuldades para contratar mão-de- obra adequada à lavoura do tomate quando necessário. As grandes exceções são os municípios de Paraúna e Silvânia. Neles, os produtores disseram ter problemas no momento da contratação da mão-de-obra. Em Piracanjuba, a facilidade é variável ,e o maior problema é a escassez de oferta de mão-de-obra adequada. A oferta reduzida, aliás, parece ser o principal entrave no momento da contratação da mão-de-obra, pois a quantidade de trabalhadores para a colheita é muita elevada. Um cálculo aproximado mostra que, se se considera uma produtividade média de 80 t/ha, são necessários 35 trabalhadores por hectare para a realização da colheita.

A Tabela 9 mostra que, dos agricultores que disseram ter dificuldades no momento do recrutamento da mão-de-obra, a maioria deles associa essa dificuldade à escassez da mão-de-obra. Os dados dessa tabela consideram apenas os produtores que afirmaram ter problema no momento da contratação de trabalhadores.

Tabela – 9. Maiores dificuldades associadas à mão-de-obra (nº de casos)

Municípios Pouca Oferta Pouca Qualificação Outros

Paraúna 2 2 Piracanjuba 4 Itapaci 3 Morrinhos 1 Silvânia 1 Total 8 3 2

Fonte: Pesquisa de campo. Elaboração própria.

A mão-de-obra temporária para a lavoura pode ser contratada de diversas formas: através de cooperativas de trabalhadores, de contratações avulsas ou de empreiteiros. Na maioria dos casos (quase na totalidade deles), a contratação fica por conta dos empreiteiros, mas essa não é uma forma exclusiva de contratação, ou seja, o produtor pode também se valer de outros meios para selecionar seus trabalhadores. Podem coexistir formas diferentes de contratação em uma mesma propriedade.

Em síntese, os produtores de tomate são relativamente diversificados e extraem dessa cultura grande parcela da renda da propriedade. Além disso, em termos de porte, eles se distribuem em três categorias: pequeno, médio e grande produtor. De maneira semelhante ao médio e grande produtor, os pequenos também possuem um nível tecnológico compatível com as exigências atuais das agroprocessadoras. A menor participação dos pequenos produtores deve estar relacionada à estrutura agrária do estado de Goiás, com uma maior preponderância de médios e grandes produtores, fato esse que também está presente na agroindústria de tomate.