• Nenhum resultado encontrado

As Contribuições da CEPAL – Educação e Conhecimento: eixo da transformação Produtiva com Eqüidade

3 DIRETRIZES INTERNACIONAIS E NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO BRASILEIRA: o foco na política de formação de professores

3.1 DIRETRIZES DOS ORGANISMOS INTERNACIONAIS PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

3.1.2 As Contribuições da CEPAL – Educação e Conhecimento: eixo da transformação Produtiva com Eqüidade

Além da UNESCO, outro organismo que tem marcado relevante atuação na elaboração das políticas educacionais, interferindo especialmente na política de

formação de professores para a América Latina, é a CEPAL (Comissão Econômica para a América Latina e Caribe).

A proposta educacional da CEPAL, apresentada no documento Educação e Conhecimento: eixo da transformação Produtiva com eqüidade CEPAL (1992), foi elaborada tendo como referência o documento intitulado Transformación productiva com equidad (1990). Esse documento foi traduzido para o português em 1995, e trata-se de estratégia econômica para a América Latina, na qual se defende a tese da centralidade da educação no processo de desenvolvimento dos países.

Tal proposição orienta-se na perspectiva da transformação produtiva com eqüidade, a partir da definição de estratégias e políticas de formação de recursos humanos nos países da América Latina e do Caribe. Consideram-se, para tanto, as contribuições teóricas e as experiências surgidas em décadas anteriores, no tocante aos vínculos estabelecidos entre educação e desenvolvimento humano e social, e propõe-se contribuir para a criação de condições educacionais (de capacitação e de incorporação do progresso científico-tecnológico), capazes de transformar as estruturas dos países em desenvolvimento, e fazer desses países um marco de progressiva eqüidade social.

Destaca-se ainda, na referida proposta, a importância da cooperação regional e internacional no processo de redefinição de políticas de formação de recursos humanos e a articulação entre o sistema de educação e a geração de conhecimento com o setor produtivo. Quanto à política de formação de professores, o documento da CEPAL propõe a profissionalização docente por meio de programas especiais de capacitação de fácil acesso, associados e adequados aos esquemas de incentivos, como, por exemplo, as modalidades de educação a distância e formação continuada e/ou em serviço. Para a concretização dessas políticas, a CEPAL destaca a importância do Banco Mundial e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO na mediação e no financiamento da reforma educacional nos países da América Latina e Caribe, nos quais já se tem visto algum avanço, mas não o suficiente para atingir a eqüidade.

No que diz respeito à política de valorização de professores, o documento Educação e Conhecimento: eixo da transformação Produtiva com Eqüidade enfatiza que “a política materializa-se em respeito social adequado além das diversas formas de estímulos e garantia de condições adequadas de aprimoramento profissional e pessoal” (UNESCO/CEPAL, 1995, p. 172).

No entanto, dados da Divisão Conjunta CEPAL de Indústria e Tecnologia e Escritório Regional de Educação da UNESCO, esclarecem que

a remuneração dos professores primários da América Latina e Caribe equivale, em média, a pouco mais duas vezes o PIB per capita, embora com amplas diferenças entre os países. E que a recente recuperação dos salários do magistério não obedeceu diretamente às mudanças no nível educacional médio ou na qualidade ou desempenho dos professores, mas a decisões políticas, em resposta à deteriorização salarial já insuportável e às conseqüentes pressões sindicais (UNESCO/CEPAL, 1995, p. 351).

Segundo a CEPAL, a remuneração dos professores é um assunto crítico em vários países da região da América Latina e Caribe, devido à marcante deterioração dos salários reais. A questão salarial do magistério reveste-se de especial importância para atrair e manter um magistério eficiente, condição fundamental para conquistar a qualidade da educação. Porém, não se deve incluir o salário de professores no quadro geral das remunerações da administração pública pelo fato de haver prejuízos na sua flexibilidade, impedindo que atinjam nível competitivo. Para resolver esse impasse, do ponto de vista desse organismo, sugerem-se esquemas de incentivos e bonificações, por produtividade, que complementem o salário-base.

O Documento Conhecimento: eixo da transformação produtiva com eqüidade, ao tratar das percepções e tendências para a formação de recursos humanos no Continente Latino-americano, destaca que, nessa região, os países necessitam de profunda transformação de seus modos de transmitir, produzir e aplicar conhecimento. E que a inserção desses no novo contexto internacional exige que os sistemas de capacitação bem como o volume das atividades no âmbito da ciência e da tecnologia sejam amplamente modificados. A política de formação, por sua vez, deve alinhar-se a esse contexto.

contínua deve ter preponderância sobre a inicial, pois a primeira garante uma aprendizagem para toda a vida. O documento enfatiza, entre outros pontos, que, para atingir esse objetivo, se deve priorizar a qualidade da educação, a profissionalização e a projeção dos professores.

No que se refere à profissionalização e à projeção docente, assim expõe:

A situação atual de subvalorização social, econômica dos professores e acadêmicos, encapsulados numa atividade que vem perdendo prestígio enfrenta dificuldades para estruturar-se internamente e recrutar jovens e adultos com talento e vocação pedagógica. A profissão docente precisa ser socialmente valorizada, adequadamente remunerada e estruturada em função de méritos, exigências e desempenhos (CEPAL/UNESCO, p. 192).

Entende-se muito bem, conforme está posto, que os países devem apoiar a profissionalização dos professores e a valorização de seu papel, embora o documento não revele a forma como se processará essa profissionalização. Vale esclarecer quanto à instituição da remuneração por desempenho que esta já despontava, nessa época, como uma das direções para incentivar a formação de professores no âmbito da CEPAL.

Nesse sentido, vinculam-se os benefícios por meio de incentivos e bonificações, tendo como parâmetro a participação docente em atividades ou em áreas desfavorecidas, bem como seu desempenho no projeto educacional da instituição. Portanto, nesse momento, as exigências formativas já sinalizavam para a necessidade de uma adequação à lógica do mundo empresarial e às políticas focalizadas. Além desse documento em análise, a CEPAL trata da política de formação de professores em outro documento: Investir melhor para investir mais (2005). 4

É importante destacar que, apesar da abordagem econômica do documento Conhecimento: eixo da transformação produtiva com eqüidade, as propostas

4

Esse documento defende a necessidade de políticas de formação de professores que sustentem uma aprendizagem permanente, necessária ao fortalecimento do exercício de ensinar, ou seja, uma política de formação que integre a formação inicial, a formação em serviço, e uma política salarial que inclua salários e incentivos.

apontadas exerceram influências nas diretrizes educacionais brasileiras, principalmente no que diz respeito à mobilização da comunidade escolar em algumas instituições, devido à redefinição do Projeto Pedagógico nas escolas, assim como exerceram influência na reestruturação do Projeto Principal da Educação.

3.1.3 Projeto Principal da Educação: um modelo homogeneizador para