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NÚMERO DE PROFESSORES QUE ATUAM NAS LICENCIATURAS DO CEFET-RN E SEU GRAU DE FORMAÇÃO

5 O CURRÍCULO PROPOSTO PARA A LICENCIATURA DE GEOGRAFIA DO CEFET–RN: o foco na prática profissional

5.4 PRÁTICA PROFISSIONAL: COMPONENTE CURRICULAR NOS CURSOS DE FORMAÇÃO DOCENTE

5.4.2 Prática profissional: Componente Curricular

A Prática Profissional como componente curricular nos Cursos de Formação de Professores emerge, desde suas origens, relacionada ao Estágio Curricular. Para melhor se compreender o seu desenvolvimento nos currículos de formação docente, procurar-se-á situar em diferentes momentos da história dos Cursos de Formação, a partir da década de 1930 até 1946, passando pelas décadas de 1970 e 1980, até à década de 1990. Nesses diferentes momentos, ocorre variação do conceito de Prática Profissional vinculada às mudanças de legislação desses Cursos. Em 1930, no contexto das então Escolas Normais, o componente curricular Prática Profissional é colocado como uma disciplina que seria realizada nas escolas regulares, visando à aquisição de técnicas metodológicas e métodos de ensino, com duração de uma semana e meia. Essa configuração fazia com que a Prática Profissional fosse entendida como Estágio de Ensino.

Aliava-se a essa disciplina a Prática Pedagógica, considerada também disciplina de cunho teórico que constava nas Escolas Normais. Destaca-se, entretanto, que essa configuração não acontecia no mesmo formato em todos os estados brasileiros, pois cada estado tinha uma concepção diferente. Assim, no

Ceará, a Prática Profissional (conhecida atualmente como “Estágio de Ensino”) acontecia de maneira obrigatória, uma vez por semana. No Maranhão, essa disciplina se dava sob a forma de regência, aulas-modelos, preparação e crítica de planos de aula, trabalhos de escrituração e administração escolar, organização de testes e excursões. E como disciplina de cunho teórico, havia Didática e Metodologia Geral e Especial. Segundo Pimenta (1995), no estado do Rio Grande do Norte, Prática de Ensino, Metodologia Geral e Metodologia Especial eram disciplinas obrigatórias.

Em 1946, a Lei Orgânica do Ensino Normal (o Decreto-Lei 8530/46) acabou com essa diferenciação da formação de professores nos Estados brasileiros. De acordo com essa Lei, o Ensino Normal foi dividido em dois Ciclos: o primeiro, de nível secundário, com duração de quatro anos, destina-se a formar professores para atuar nas primeiras séries do Ensino Fundamental, denominado na época de Ensino Primário. E o segundo Ciclo, com três anos, direciona-se à formação de professores primários de Nível Colegial. Nesse novo contexto, foi instituída a disciplina Metodologia do Ensino Primário, no segundo/terceiro períodos, e o que até então era Prática Profissional foi transformada na disciplina Didática e Prática de Ensino, no terceiro ano do Curso.

A partir de 1960, segundo Pimenta (1995), quando a mulher começou a ter necessidade de completar a renda familiar, o magistério foi prioridade para o sexo feminino, por se coadunar com o trabalho doméstico. Nesse contexto, o magistério não foi considerado profissão, o que levou a se refletir sobre a concepção de Prática Profissional, entendida como reprodução e exercícios dos modelos por meio da prática de ensino, ocorrendo o distanciamento entre a teoria e a realidade.

Em 1970, a Lei 5.692/71, período de governos autoritários, transformou o Ensino Normal em uma das habilitações do então 2º Grau, de caráter profissionalizante obrigatório. A Prática Profissional (recebendo a denominação de Prática de Ensino) passou a ser considerada o Estágio Supervisionado, a ser realizado nas escolas oficiais de ensino, por meio da observação. Esse novo formato regulamentado pelo Parecer 349/72 deixa explícita a relação entre a Didática, entendida como teoria prescrita da prática, e o Estágio Supervisionado,

entendido como sendo a prática. Para Candau (1986) apud Pimenta (1995), essa Lei reforça a dissociação entre teoria e prática. A referida autora nega essa dicotomia e defende a visão de unidade entre teoria e prática, entendida como não sendo única identidade, mas relação recíproca e simultânea de autonomia e dependência.

Nos anos 80, os professores articulam dois movimentos nacionais encampados pela ANPED E ANDES: o de revitalização do Ensino Normal e o de reformulação dos Cursos de Pedagogia. Desses movimentos, resultou, segundo Pimenta (1995), a publicação da Lei 7.044/82. Daí, então, várias propostas assumem a indissociabilidade entre teoria e prática no Estagio Supervisionado.

Na década de 1990, a Prática Profissional emerge como componente Curricular no cenário das discussões sobre Currículo, primeiramente nas Diretrizes Nacionais para a Formação de Professores (Resolução CNE/CP 01/99, Parecer CNE/CP nº 09/2001 e Parecer CNE/CP nº 21/2001); depois, estendendo- se o emprego do termo para a educação profissional de nível técnico e tecnológico. Nas Diretrizes, justifica-se o emprego do termo por se constituir componente curricular articulador das dimensões teóricas e práticas do processo de formação inicial, articulando as atividades de Pesquisa, Extensão e Ensino desde o início do curso, embora não se perceba clareza em relação à sua operacionalização.

Nessas Diretrizes, a Prática Profissional assume uma concepção de componente curricular, o que “implica vê-la como uma dimensão do conhecimento que tanto está presente nos cursos de formação, nos momentos em que se trabalha na reflexão sobre a atividade profissional, como durante o estágio, nos momentos em que se exercita a atividade profissional”.

A concepção de Prática enquanto componente curricular nos Cursos de Formação de Professores é justificada nas Diretrizes de Formação como uma maneira de superar a concepção dominante, que segmenta o Curso em dois pólos isolados entre si: um caracteriza o trabalho na sala de aula, e o outro, as atividades de estágio. O primeiro pólo supervaloriza os conhecimentos teóricos, acadêmicos, desprezando as práticas como importante fonte de conteúdos da formação. O segundo pólo, por sua vez, supervaloriza o fazer pedagógico,

desprezando a dimensão teórica dos conhecimentos como instrumento de seleção e análise contextual das práticas. Neste caso, há uma visão ativista da prática (PARECER CNE/CP 09/2001, p.45).

A Prática Profissional como componente curricular, como foi mencionado anteriormente, teoricamente assume a função de eixo articulador das dimensões teóricas e práticas, perpassando por diferentes atividades desde o início do Curso de formação docente. Entretanto, as próprias Diretrizes dicotomizam essas dimensões, especialmente no Parecer CNE/CP 21/2001, que trata da duração e carga horária dos Cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em Nível Superior, do Curso de Licenciatura plena.

Esse Parecer discute o componente Prática Profissional, não mais usando essa terminologia, mas, sim, Prática de Ensino, uma vez que “a prática de ensino é, pois, o que o próprio nome diz: uma prática que produz algo no âmbito do ensino”. E a expressão prática profissional passou a ser entendido no Parecer CNE/CP 21/2001 enquanto exercício da ação docente.

Nesse sentido, a Prática de Ensino, como componente curricular, envolve diferentes formas de ser realizada, tais como: seminários, apresentações, exposições, participação em eventos científicos, estudos de caso, visitas técnicas, eventos culturais e comunitários, produções coletivas, monitorias, resolução de situações-problema, projetos de ensino, ensino dirigido, aprendizado de novas tecnologias de comunicação e ensino e relatórios de pesquisas, entre outras atividades. Para tanto, destinam-se 400 (quatrocentas) horas para a realização dessas atividades, 200 (duzentas) para atividades científico-culturais e 400 (quatrocentas), para a realização do Estágio.

Vale salientar que o Parecer reconhece, teoricamente, a necessidade de unir as dimensões teórica e prática na formação de professores, como coloca textualmente,

Não resta dúvida que estes pontos não devem e não podem ser entendidos como atividades estanques ou como blocos mecânicos separados entre si. Estes pontos devem e podem formar um todo, em que todas as atividades teórico-práticas devem ser articuladas em torno de um projeto pedagógico elaborado de modo orgânico e consistente (BRASIL, Parecer

CNE/CP 21/2001, p. 6).

A dicotomização da teoria e prática se evidencia, ainda, na distribuição da carga horária destinada à prática e outra, de 1.800 (mil e oitocentas) horas do trabalho acadêmico que inclui o ensino presencial exigidos pelas Diretrizes, sob a alegação de se atingir o padrão de qualidade na formação docente. O Estágio Supervisionado também é entendido nesse Parecer como um outro componente curricular obrigatório nos Cursos de Licenciatura.

Nesse sentido, podem-se compreender as contradições das Diretrizes ao estabelecer a relação entre teoria e prática no âmbito da formação profissional do professor. Essa proposta torna-se utópica, ou, no mínimo ideológica, uma vez que a organização do trabalho no sistema capitalista se funda na separação entre os que pensam os processos e os que executam.

5.4.3 A Estrutura Organizacional do Componente Prática Profissional na