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Contribuições das neurociências para a educação

No documento Neurociências, educação e saúde (páginas 52-56)

O órgão mais importante do sistema nervoso é o cérebro, devido a ele to-mamos consciência das informações transmitidas pelos órgãos dos sentidos e as processamos (COSENZA; GUERRA, 2011). As neurociências explicam que é por meio do funcionamento cerebral que somos capazes de aprender, uma vez que esse funcionamento é feito mediante os circuitos nervosos, formados por dezenas de bilhões de neurônios, que são células especializadas em rece-ber e levar informações.

Embora estudos apontem ser o processo de aprendizagem biológico, é im-portante reconhecer que esse processo depende fundamentalmente da intera-ção entre o indivíduo e o meio (RIBEIRO, 2015). As neurociências mostram

4 – Neuroeducação: contribuições das neurociências, psicologia e educação para as práticas pedagógicas

que, logo nos primeiros anos de vida do bebê, a capacidade de formação de novas sinapses no sistema nervoso é muito grande, porém é necessária a inte-ração do indivíduo com o ambiente a fim de que seja feita no cérebro a maior parte das conexões.

Enquanto o indivíduo interage com o ambiente, as sinapses entre os neu-rônios, que constituem as redes neurais, se tornam mais estabelecidas e com-plexas (CRUZ, 2016). As sinapses podem ser entendidas como estruturas nas quais ocorrem a passagem de informações entre as células, sendo essas es-truturas que regulam as transmissões das informações no sistema nervoso.

Portanto, a sua importância é fundamental na aprendizagem.

Para compreendermos o funcionamento cerebral, no que concerne à aprendizagem, torna-se importante conhecer como as informações sensoriais chegam ao sistema nervoso e circulam no cérebro. Os sentidos como a visão ou a audição têm receptores e cadeias neurais que conduzem determinada in-formação até uma região do córtex cerebral, onde essa inin-formação se tornará consciente. Dessa forma, é por intermédio das informações sensoriais trans-portadas mediante os circuitos específicos e processadas pelo cérebro que ob-temos conhecimento, pois “o cérebro se liga aos órgãos periféricos tanto para receber informações como para enviar os comandos que permitem a interação com o mundo exterior” (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 27).

Quanto mais se esclarece acerca do funcionamento do cérebro, como ele se forma e se desenvolve, mais aumenta o interesse dos pesquisadores e pro-fissionais da educação em compreender os aspectos biológicos relacionados à aprendizagem, às habilidades e deficiências que cada indivíduo pode apre-sentar (OLIVEIRA, 2014). Esses conhecimentos podem auxiliar tanto os pais como os educadores na tarefa de educar.

Para explicar melhor como os conhecimentos das neurociências sobre o cérebro podem contribuir com as práticas educativas, Cosenza e Guerra (2011) escreveram que a apropriação de tais conhecimentos pode auxiliar o professor no cotidiano na escola, junto ao aluno e à sua família:

O trabalho do educador pode ser mais significativo e eficiente quando ele conhece o funcionamento cere-bral. Conhecer a organização e as funções do cérebro, os períodos receptivos, os mecanismos da linguagem, da atenção e da memória, as relações entre cognição, emoção, motivação e desempenho, as dificuldades de

aprendizagem e as intervenções a elas relacionadas contribui para o cotidiano do educador na escola, junto ao aprendiz e a sua família. Mas saber como o cérebro aprende não é suficiente para a realização da

“mágica do ensinar e aprender” (COSENZA; GUER-RA, 2011, p. 143).

Os neurocientistas acreditam que podem ajudar nas práticas pedagógicas por meio de ideias que qualificam as escolhas para melhores estratégias de ensino e aprendizagem, porque os fundamentos das neurociências possibi-litam uma melhor compreensão dos processos cognitivos envolvidos com o aprendizado. Entretanto, as neurociências não prometem soluções para as di-ficuldades de aprendizagem, mas podem auxiliar nas escolhas de práticas de ensino que respeitem o modo como o cérebro funciona (FILIPIN et al., 2017).

Nesse sentido, torna-se importante que o educador tenha conhecimentos sobre o funcionamento cerebral a fim de que consiga elaborar estratégias para aprendizagem que estimulem o aluno, uma vez que o cérebro é um órgão fas-cinante, que controla desde as suas funções vitais basais até as emoções e o aprendizado (OLIVEIRA, 2015).

A partir do entendimento de como o cérebro funciona, as neurociências podem contribuir com a educação por meio de conhecimentos sobre como ocorre o processo de aprendizagem no cérebro. Mas, para que isso aconteça, pesquisas no campo das neurociências vêm avançando e se destacando, pois o interesse em entender o funcionamento do cérebro e suas potencialidades, junto ao avanço tecnológico, tem apresentado um progresso científico signifi-cativo (RIBEIRO; SENA, 2014). O avanço das pesquisas neurocientíficas vem favorecendo o entendimento da mente humana e seus desdobramentos.

Visto que as neurociências descrevem o funcionamento cerebral, estudar o cérebro, para muitos, significa dedicar-se ao estudo do órgão humano respon-sável pela aprendizagem (CRUZ, 2016). Contudo, ainda que o encéfalo seja um órgão extremamente complexo, não deve ser considerado o único respon-sável pelo processo de aprendizagem, uma vez que esse processo utiliza bem mais que o cérebro (OLIVEIRA, 2014). Pensar que o cérebro isolado do corpo é capaz de aprender pode ser considerada uma concepção reducionista do ser humano, pois, segundo, Amaral e Jandrey (2015), quem aprende é uma pessoa que tem história e está inserida em um contexto social.

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Há outros fatores intrínsecos que estão relacionados com o processo de aprender e devem ser considerados, como as atividades físicas, os níveis de interesse, os graus de motivação, a nutrição e o sono (COSENZA; GUERRA, 2011; CRUZ, 2016; OLIVEIRA, 2014; SANTIAGO JÚNIOR, 2016; WALKER;

STICKGOLD, 2006).

Ainda que o cérebro não seja o único responsável pelo processo de apren-dizagem, Cosenza e Guerra (2011, p. 73) defendem que, para a escolha de me-lhores práticas educativas, “as estratégias eficientes serão aquelas que atentem para os princípios do funcionamento do cérebro”. Dessa forma, na tentativa de aplicar estratégias que tornem a aprendizagem mais eficiente no contexto escolar, Carvalho (2010) discorreu acerca da importância dos conhecimentos neurocientíficos serem incluídos na formação dos educadores:

Quantos professores sabem que um simples traba-lho de memorização de diferentes tipos de textos exige diferentes níveis de oxigenação do cérebro?

Que quanto mais complexa a atividade proposta e à medida que se eleva o grau de raciocínio, o fluxo sanguíneo no cérebro é mais intenso? O professor tem noção de que sua ação pedagógica desencadeia no organismo do aluno reações neurológicas e hor-monais que podem ter influência na motivação para aprender? Como pode o professor desconhecer a di-nâmica mente/cérebro? Basta a análise dessas ques-tões para que se compreenda a importância desse tipo de informação na adequação de metodologias de ensino (CARVALHO, 2010, p. 546).

A compreensão de como se processa a aprendizagem no cérebro pode pro-porcionar aos educadores métodos e estratégias para se tentar reduzir as difi-culdades de aprendizagem, mediante o auxílio de intervenções que podem ser utilizadas nesse processo.

Dessa forma, professores que percebem a aprendizagem como processo humano vinculado às ciências biológicas e condicionantes socioculturais as-sumem uma coordenação mais eficaz, tanto das emoções como da aprendi-zagem de seus alunos (RIBEIRO; SENA, 2014). Portanto, é importante que o educador seja capacitado para compreender as individualidades no pro-cesso de aprendizado de seus educandos, a fim de que haja possibilidades de

maximizar seus potenciais e minimizar suas dificuldades durante a prática educativa.

Visto que as neurociências têm se mostrado uma importante aliada à edu-cação, disponibilizando o seu saber sobre o sistema nervoso central, a fim de colaborar com a diminuição dos problemas educacionais (SANTOS; SOUSA, 2016), suas contribuições no contexto educacional podem trazer novas ideias para que intervenções sejam realizadas por meio de estratégias pedagógicas, que estejam fundamentadas na compreensão dos processos cognitivos envol-vidos no processo de ensino e aprendizagem.

No documento Neurociências, educação e saúde (páginas 52-56)