Seja X uma T-variedade n~ao singular e F XT uma componente conexa
(=irredutvel) do lugar dos pontos xos. Escreva dF = codim(F).
As classes de Chern T-equivariantes cTk(EjF) e cTd F(
NF=X) podem ser cal-
culadas no anel de Chow equivariante AT
(F) em termos dos caracteres que
comparecem na decomposic~ao deEjF e
NF=X em auto-subbrados e das clas-
ses de Chern destes ultimos.
2.6.1 Pontos xos isolados
Quando XT e um conjunto nito de pontos, as classes
cTk(EjF) e cTd F(
NF=X) =cTdim(X)(X)
podem ser descritas puramente em termos dos caracteres associados aos auto- brados. De maneira mais precisa, feita a decomposic~ao EjF =
L
EjF em
auto-espacos, por conta de 2.2.2 conhecemos as classes de Chern equivariantes de cada somando, cTk(E jF) = r k k; r = posto de E jF: (2.6.1.1)
Note que, na express~ao acima, k siginica o k-iterado do operador primeira
classe de Chern introduzido em (1.7.1.1). Em particular, conclumos que cTmax(EjF) e representada no anel de Chow equivariante do ponto xo F pelo
produto de todos os caracteres que aparecem da decomposic~ao da bra EjF
2.6 Contribuic~ao de pontos xos
31
esta sendo considerado como atuando no anel equivariante, de acordo com (1.7.1.1). Veja o exemplo 2.6.4.Vamos explicitar a passagem de RT = Z[t] para RT = (R+T) 1(RT) = Q[t;t 1]; no caso em que T =C
, um toro unidimensional.
No lado direito da formula de Bott (2.5.1.1), o numerador pT(E
jF) e um
polin^omio homog^eneo de grau n = dimX nas variaveis que s~ao os caracteres que ocorrem na decomposic~ao em auto-subbrados. Tipicamente, suponha que o polin^omio original contem um termo igual a cn 21
c2, enquanto que,
digamos, EjF = 21 + 2. Temos assim cT1(EjF) = 21 + 2, o lado direito
agora com o signicado de (1.7.1.1). Analogamente,cT2(EjF) = 21+ 21 2.
Aquele termo fornece por m, o operador de grau n dado por (21+ 2)n 2
(21 + 21 2). No caso em tela, cada caracter e da forma i = ta i; a
i 2 Z.
O operador induzido em RT e ai t, perd~ao pelo abuso, cf. (1.8.0.1) onde
desta vez t signica classe hiperplana! O referido termo ganha a forma nal (2a1+a2)n 2(a21+ 2a1a2)tn2RT.
Ou seja, o numerador e o denominador no lado direito de (2.5.1.1) s~ao multiplos inteiros de tn. Cancelando, obtemos assim um numero racional.
Portanto, o lado direito de (2.5.1.1) e uma soma nita de numeros racionais obtidos a partir dos pesos como descrito em (2.6.1.1).
Mais precisamente, denote por 1(E;F);:::;r(E;F) os pesos que ocorrem
na decomposic~ao de EjF em auto-subbrados, e para cada inteiro k
0, seja
k(E;F) a k-esima func~ao simetrica elementar desses pesos. Temos ent~ao os
corolarios seguintes.
2.6.2 Corolario.
Nas notac~oes acima, cada classe de Chern equivariantecTk(EjF) e representada no anel de Chow equivariante do ponto xo F por
k(E;F). 2
2.6.3 Corolario.
A classe de Chern equivariante maxima do brado tangente de X e dada no anel de Chow equivariante de um ponto xo F pelo produto dos pesos que ocorrem na decomposic~ao da bra respectiva. 2No proximo captulo mostraremos de forma explcita como aplicar a formula de Bott em geometria enumerativa. No momento, vamos usar o resultado acima para calcular o numero de zeros de um campo vetorial emPn.
2.6.4 Zeros de campos vetoriais em
PnEscrevamos F = hx0;:::;xni para o espaco vetorial das formas lineares
32
O teorema de localizac~ao de T = Cdada por t
xi = tixi. V^e-se facilmente que o conjunto dos pontos
xos emPne formado pelos n + 1 pontos unitarios
P0 = [1;0;:::;0];:::;Pn= [0;:::;0;1]:
SejaA o subbrado do brado vetorial trivialF cuja bra sobre cada P 2Pn
e o espaco das formas lineares que se anulam no pontoP. O brado tangente admite a express~ao (cf. [19],p.200) Pn=A _ F A: (2.6.4.1)
A bra sobre, digamosP0, e dada, com notac~ao evidente, por hx1;:::;xni
_
hx0i:
Logo, a decomposic~ao do espaco tangente em auto-espacos pode ser descrita simbolicamente por P 0 Pn= (t 1+ +t n)t 0=t 1 + +t n:
(Usamos aqui a propriedade de que o peso do dual (resp. de um produto tensorial) e::: ) O produto dos caracteres que comparecem na decomposic~ao fornece
cTn(P 0
P
n) = ( 1)nn!tn;
o termo tn agora signicando n-iterados de classes hiperplanas.
Sabe-se que, sob condic~oes convenientes de regularidade, a classe, no grupo de Chow usual, dos zeros de uma sec~ao de um brado vetorial representa a classe de Chern maxima desse brado. Em particular, se os zeros de um campo vetorial em Pn s~ao isolados, ent~ao
R
cn( Pn)\[Pn] fornece o numero desses
zeros (com multiplicidades).
Na formula de Bott (2.5.1.1) aplicada a presente situac~ao, guram no lado direiton + 1 parcelas, todas iguais iguais a 1!
De fato, cada componente F se reduz a um ponto Pi, de maneira que o
homomorsmo de integrac~ao F :
RT ! RT e a identidade. O numera-
dor e denominador das frac~oes que ocorrem la s~ao ambos iguais a cTn( P n jP
i).
Recuperamos assim o fato de que o numero de zeros vale n + 1.
Evidentemente, o mesmo argumento mostra que, em geral, se X e uma variedade lisa completa munida de uma C
-ac~ao com exatamente N pontos
xos isolados, ent~ao a caracterstica de Euler de X vale R
Xcn(X) = N. O
subgrupo a 1-par^ametro induz, por diferenciac~ao, um campo vetorial X ! X, x7! d
dt(tx)
jt=1, cujo lugar dos zeros e precisamenteX T.
Captulo 3
Aplicac~oes a geometria
enumerativa
Nosso objetivo nesses dois captulos nais e dar uma ideia da utilidade da formula de resduos de Bott para calcular alguns numeros caractersticos.
Comecaremos com exemplos simples que certamente poderiam ser trata- dos de maneira mais elementar e econ^omica do que a aqui exposta. Os dois primeiros servir~ao de modelo para o entendimento computacional.
3.1 Duas retas em
P2Talvez um dos problemas mais simples e instrutivos seja contar o numero de pontos na intersec~ao de duas retas genericas do plano projetivo P2. O leitor
percebera rapidamente que a resposta a nossa pergunta e um:::
Agora que ja conhecemos de antem~ao o tamanho da resposta, podemos complicar um pouco a discuss~ao e fazer as contas no anel de Chow usual,
A( P 2) = Z[h]=hh 3 i onde h = c1(O P
2(1)) representa classe de uma reta de P
2. Analogamente, h2
e a classe de um ponto. Lembrando que o produto e induzido por intersec~ao, v^e-se logo que estamos interessados em calcular o grau
Z
c1(O P
2(1))2:
Nossa intimidade com o anel de Chow de P2 e suciente para proclamar que
34
Aplicac~oes enumerativas I Mas o que interessa aqui, para ns de ilustrac~ao da formula de Bott, e apenas saber que o ciclo que traduz a presente quest~ao geometrica se expressa como func~ao polinomial de classes de Chern de brados vetoriais equivariantes para uma ac~ao adequada de um toro.3.1.1 Escolha do toro
Na pratica, basta considerarmos ac~oes deC
,i.e., subgrupos a 1-par^ametro
criteriosamente selecionados emT GL3, um toro maximal agindo diagonal-
mente sobre P2.
Escolher um subgrupo a 1-par^ametro C
T e equivalente a escolher um
ponto (w0;w1;w2) no reticulado de pesos Hom(C
;T) = Z
3. Os caracteres
associados a ac~ao diagonal de C
s~ao dados por
i =twi.
Vamos assim renomear doravante T = C
, toro unidimensional agindo em P2 de modo que as coordenadas homog^eneas x0;x1;x2 s~ao auto-vetores com
pesos w0;w1;w2, ou seja, txi =t wi xi para todo t 2C : O lugar dos pontos xos desta C
-ac~ao e dado pelo sistema de equac~oes
x0 =tw0 x0 ;x1 =tw 1 x1 ;x2 =tw 2 x2 ; 8t2C :
Este sistema tera como conjunto-soluc~ao
F = f[1;0;0]; [0;1;0]; [0;0;1]gP 2;
desde que os wi 's sejam escolhidos todos distintos, hipotese desde ja incorpo-
rada.
Vamos inicialmente aplicar a vers~ao da formula de resduos no caso em que o lugar dos pontos xos e um conjunto nitoF e a localizac~ao do anel de Chow equivariante de um ponto (1.4.1.1) eRT =Q[t;t 1].
3.1.2 Decomposic~ao em auto-subbrados
Lembramos que cadaT-brado vetorial E restrito ao lugar dos pontos xos decomp~oe-se canonicamente em uma soma direta de subbradosL
E, onde
E denota o auto-subbrado deE em que a ac~ao e dada pelo caracter .
No caso em quest~ao, examinaremos as decomposic~oes de P2 e O P
2(1).
Este ultimo e o brado em retas obtido pelo quociente do brado trivial
F =hx0;x1;x2i das formas lineares de P2, pelo subbrado A das formas que
se anulam em cada ponto. Lembrando (2.6.4.1), temos
P 2= Hom( A;O P 2(1)) =A _ O P 2(1):