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Contributo da arquitetura vernácula para o TER

Capítulo IV – Arquitetura Vernacular

4.6 Contributo da arquitetura vernácula para o TER

As construções vernaculares, têm cada vez mais, despertado o interesse dos visitantes, na busca da história e da perícia artesanal das populações que se envolvem diretamente com esta arquitetura. Esta é conhecida pela sua integração na paisagem rural, em contextos verdes, onde a agricultura se processa, entre os pastos e matas, que prendem a atenção do transeunte, com as suas casas carregadas de história, de um tempo em que o homem e a natureza se tentavam estabelecer no mesmo lugar.

Na composição destas paisagens, o património arquitetónico assume um grande valor, onde as casas tradicionais estabelecem uma das expressões mais emblemáticas da ruralidade. Sendo essa atração complementada pela própria forma de construir e de habitar em meios rurais, evidenciando-se as casas rústicas, que assumiram um papel emblemático na arquitetura vernacular percetível nos dias de hoje tanto em Portugal

como no estrangeiro (Leal, 2000). Estas casas são caraterísticas pelo seu modelo de habitação mais simples e próximo daquele que seria típico dos camponeses com algumas posses, dado que os mais humildes, quando possuíam casa, o seu recheio era visivelmente mais pobre com pouco mobiliário e roupa (Sobral 1999).

Um outro tipo de alojamento, mais requintado e próximo daquele que se associa às elites de província, era constituído pelo solares e casas apalaçadas, este tipo de espaços desperta interesses nos turistas pelo seu carater magnificente despertando o desejo de experimentar os estilos de vida das elites de província, sendo este um produto caraterístico das Pousadas de Portugal. Estas casas são também muito apreciadas devido à história dos próprios edifícios de suporte, que muitas vezes é multissecular.

Os turistas impressionam-se também com o fato de, em alguns casos, estas casas, pertencerem à mesma família desde a sua construção inicial, isso implica que também as famílias sejam objeto de fascínio pelo seu estatuto social e por serem eles próprios os porta-vozes das histórias inerentes ao edifício. O estatuto social destes proprietários, em alguns casos detentores de títulos nobiliárquicos, como o caso do conde de Calheiros no Minho e da viscondessa de São Sebastião na Beira Interior, é um símbolo que também remete para a componente histórica. Por outro lado, a participação dos próprios turistas nas atividades campestres é feita por uma via mais elitista, isto é, enquanto o turismo de habitação é procurado pela sua carga senhorial, as restantes modalidades são procuradas pela sua relação com o popular.

Esta emblematização das formas da arquitetura popular, também se verifica no universo das residências secundárias, onde se constata que um número crescente de citadinos, retentores de maiores recursos económicos, têm vindo a adquirir ou construir este tipo de edifícios fora do seu local habitual de residência/ trabalho. É também importante referir que as formas de arquitetura popular caraterísticas do TER são muitas vezes consideradas, como expressões típicas da cultura portuguesa, reconhecendo-se como uma identidade própria do país no contexto das diferentes nações. Esta foi também uma perspetiva defendida por alguns etnógrafos, antropólogos, historiadores e arquitetos que, desde a segunda metade do século XIX até meados do século XX, procuraram alicerçar a cultura e a identidade nacional portuguesa à arquitetura popular de matriz rural (Leal, 2000; Sobral, 2004). Devido a essa conotação, a arquitetura vernacular é

para os turistas, muitas vezes considerada como um símbolo da tradição, que no seu entender existe no campo e não na cidade.

A preservação e valorização destes documentos históricos pode ser portanto, uma forma de qualificar o desenvolvimento da região, gerando um processo de sustentabilidade através da cultura e identidade específica conferida ao lugar. O turismo rural pode dessa forma ser visto como um agente poderoso desta vertente, permitindo o desenvolvimento socioeconómico do município, aliado à preservação da paisagem cultural através da sua integração nos roteiros culturais que consideram o património arquitetónico, os atrativos naturais e produtos da agricultura local. Neste sentido, falar da casa, não é falar apenas de arquitetura, com a sua conotação técnica, considerando-se mais o espaço habitado, onde se verifica uma relação efetiva entre o homem e o lugar, pois a habitação pressupõe uma identificação com o lugar.

Numa perspetiva mais formal, para suscitar o interesse do turista, e considerando que as formas construídas são encaradas como parte integrante da paisagem, existem padrões que conferem á paisagem, um determinado valor, podendo este ser: científico, cénico, económico e cultural (Quaranta, 1997). São estes valores que muitas vezes motivam os turistas no desenvolvimento da sua atividade e que são potencializados por se encontrarem no domínio da ruralidade.

O valor científico - Considera três critérios: a raridade natural ou construída (relativa à excecionalidade dos objetos geomorfológicos e dos elementos construídos que se encontram na paisagem), a exemplaridade didática (relativa ao conhecimento e à originalidade dos elementos da paisagem) e o testemunho geomorfológico.

O valor cénico – Constitui o aspeto estético da paisagem, em termos de tamanho, altura, largura, etc. Implica portanto uma análise do contributo estético da paisagem, sendo que para isso depende da subjetividade do observador. Não obstante, usando a filosofia da paisagem, também se podem estudar os fatores que suscitam emoções positivas, geralmente baseados nas cores, nas sombras, nas luzes, nas relações de volume entre as formas, que variam em função da distância que separa o observador da forma considerada.

O valor cultural - Trata-se de saber qual é o lugar que ocupam os elementos da paisagem na tradição cultural através da observação do seu legado histórico, ou seja, da elaboração de um conhecimento profundo e constante acerca do lugar.

O valor económico - Está ligado ao meio ambiente, natural e construído, e que permite proteger os elementos que o compõem, incentivando assim um desenvolvimento a longo prazo para o território e sua região. No caso do património arquitetónico, este é considerado como elemento-chave do lugar, marcando seus pontos atrativos da visita. Também, a valorização turística em termos arquitetónicos, passa pelo aumento da notoriedade da arquitetura ou de um determinado lugar, sendo que a atração do visitante depende da maneira de apresentação dos objetos ou acontecimentos, que podem ser: in situ ou in context. A primeira privilegia a presença dos visitantes e a experimentação e a segunda valoriza a colocação de objetos ou dos acontecimentos segundo enquadramentos logísticos. Atualmente pode-se encontrar uma ou outra ou ambas as situações dentro do mesmo suporte arquitetónico, segundo as necessidades dos acontecimentos ali apresentados (Moreira, 2007).

Por fim, percebe-se que a arquitetura vernacular é um forte marco dentro da paisagem rural. Ainda assim, além desta se adaptar ao contexto do lugar onde se insere, a sua aparência exterior, ao nível do turismo, não é tão importante quanto à importância dos espaços de acolhimento. Visto que a receção do visitante, é muito valorizada nos dias de hoje pelos turistas. Desta forma, o espaço rural para alem de enaltecido com as características locais, naturais e construídas, deve contar também com boas condições de acolhimento, sendo essa uma mais-valia ao seu desenvolvimento.

4.7 Contributo da arquitetura vernácula para a construção