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Desenvolvimento sustentável e a atividade turística

Capítulo III Desenvolvimento rural e sustentável

3.4 Desenvolvimento sustentável e a atividade turística

Até ao final da década de 70, o modelo de desenvolvimento turístico assentava em pressupostos economicistas centrados nos fluxos internacionais dos países emissores que correspondiam aos países mais desenvolvidos. Modelo este, que provocou uma explosão de infraestruturas, acessos e alojamento turístico nos países recetores menos desenvolvidos (Joaquim, 1994). Desta forma, o desenvolvimento da atividade turística atua como um fator de desenvolvimento das áreas menos favorecidas resultando num efeito multiplicador, baseado numa atividade consumidora de recursos naturais e construídos (Hall, 1998).

As Nações Unidas, em 1963, estimularam este pensamento defendendo que a prática de turismo era fundamental ao desenvolvimento económico em áreas geográficas desfavorecidas, ganhando uma grande dimensão com o aumento do tempo livre e dos rendimentos na Europa e nos Estados Unidos, o que provocou uma série de impactos e constrangimentos a nível social, cultural e ambiental nas áreas-destino (Joaquim, 1994). Em 1980, no seguimento da Conferência de Manila, foram abordados estes constrangimentos, onde concluiu daí, ser necessária uma nova abordagem ao modelo de desenvolvimento tornando-o mais harmonioso integrado e sustentável, refutando o turismo internacional por uma abordagem ao turismo como fenómeno social (Inskeep, 1991).

Nessa perspetiva, estruturou-se um plano que pretendia orientar uma gestão articulada e cuidadosa do setor turístico, auxiliando tanto as entidades públicas como as entidades privadas que, devido ao caráter recente da atividade turística, revelam pouca experiência na criação e implementação de planos de desenvolvimento. Também, pelo fato do turismo aparecer de forma fragmentada envolvendo vários setores, sendo necessário um plano que assegure o desenvolvimento tanto no turismo como nas restantes áreas envolvidas, Joaquim (1994) defende que para tal o turismo necessita dos seguintes recursos:

● Infra estruturas, equipamentos e acessos; ● Alojamento e restauração; ● Atrações; ● Recursos histórico-culturais; ● Recursos naturais; ● Hospitalidade.

Aliado a esta gestão de recursos, é necessário que o plano compreenda também meios eficazes para gerir os benefícios socioeconómicos esperados e prevenir a degradação ambiental (Costa, 2004).

A perceção ao nível dos impactos ambientais (poluição, mudança climática global, desflorestação, erosão dos solos) e as consequências que isso pode trazer à humanidade, revelam-se assim assuntos atuais e urgentes que ganham uma maior dimensão nos países mais desenvolvidos. Assim se dá o reaparecimento da expressão “desenvolvimento

sustentável” que fundamenta a relação entre a natureza e a sociedade. Este novo

pensar, trouxe grandes transformações ao nível económico, social e cultural, às quais a atividade turística não passou sem ser igualmente afetada pelo espírito da sustentabilidade.

Dessa forma, e tendo em conta o turismo de massas, com as suas consequentes repercussões negativas no destino, considerou-se urgente a implementação de medidas sustentáveis na atividade económica. Isto porque o turismo desenvolvido de forma desorganizada e intensiva no tempo e no espaço pode trazer consequências graves ao produto turístico, sendo que muitas vezes esse produto se traduz na própria identidade de um povo cujos recursos naturais são imprescindíveis à própria vida local (Burnay, 1997).

A OMT no seguimento deste espirito, tem vindo a estabelecer variadas ações com o objetivo de desenvolver a conjetura do binómio desenvolvimento/conservação e à promoção de um turismo sustentável, dessas ações, destaca-se o Código Mundial de Ética do Turismo em 1999, que se tornou um marco na evolução do desenvolvimento sustentável. Este código, conta com a cooperação de todos os intervenientes na

proteção do futuro do setor turístico, procurando contribuir para a prosperidade económica, a paz e o entendimento entre as nações (Brito, 2003).

Todas estas ações, expressam a busca por parte da OMT e dos países envolvidos em desenvolver o turismo de forma sustentável, conciliando o desenvolvimento com o planeamento, desta forma pretende-se a melhor gestão dos recursos para que estes não sejam explorados até à exaustão, mantendo-se a diversidade biológica e os princípios éticos, de forma a que as populações se preocupem com o próprio processo de desenvolvimento, promovendo e intervindo na distribuição equilibrada dos benefícios resultantes da prática turística (Williams, 1998).

3.4.1 O turismo como potenciador do desenvolvimento rural e sustentável

Desde cedo se têm debatido questões relativas à relação entre o rural e o urbano, tendo como grande impulsionadores teóricos como Park, Burgess, Redfield e Wirth da Escola de Chicago (1910), que estabeleceram a base teórica para a sua problematização e concetualização (Barata, 1991). Esta dicotomia, diferencia os principais traços entre urbano, que se associa à ideia de grandes centros urbanos, industrializados, com um elevado número de habitantes onde se verificam fracas relações entre os mesmos, e o rural, caraterístico pelos seus pequenos aglomerados populacionais cujas relações sociais são de vizinhança, coletivas e onde a principal atividade se baseia na agricultura (Barata, 1991).

De fato, as áreas rurais, localizam-se geralmente fora do perímetro das cidades, e devido a questões já referidas, como o êxodo rural, são conhecidas pelas suas carências demográficas, economia centrada na agricultura de subsistência e familiar e pela fraca oportunidade de emprego. Contudo, estas áreas, têm sofrido grandes transformações, marcadas essencialmente pela revolução industrial e mais tarde pela segunda Grande Guerra. Podendo portanto se perceber o desenvolvimento rural em três períodos, como se constata na tabela 3.1.

Tabela 3.1 – Características do meio rural ao longo da história. Fonte: Adaptado de Pereira, 2000:77 citando Ferrão, 2000.

Período Características

Antes da Revolução Industrial

- Produção de alimentos

- Agricultura consiste na atividade económica principal - Grupo social base é a família

Durante a Revolução Industrial

- Perde importância como centro produtor

- Dá lugar ao desenvolvimento de centros urbano-industriais - Início do processo do êxodo rural

- Desertificação demográfica