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1. INTRODUÇÃO

3.4. SOBRE O CONTROLE DAS AGÊNCIAS REGULADORAS

3.4.3 Controle executivo

O controle do Poder Executivo sobre a atuação das agências reguladoras tem escopo de coordenação e orientação, voltando-se ao cumprimento das linhas estabelecidas pelas políticas públicas setoriais.

Essa é razão pela qual o artigo 15, caput, da Lei 13.848/2019 estabelece que as agências devem anualmente prestar contas de suas atividades, destacando “o cumprimento da política do setor, definida pelos Poderes Legislativo e Executivo”. A ênfase no objeto sobre o qual deverão recair os esclarecimentos periódicos dos órgãos reguladores (reiterada no inciso II do respectivo § 1º) realça os ideais republicanos de transparência e de responsabilização dos agentes eleitos pela obtenção daqueles objetivos democraticamente estabelecidos para aqueles setores relevantes ao convívio coletivo, constituindo a pedra angular de toda atividade de controle da atividade regulatória.

Trata-se de controle preponderantemente reativo, já que os relatórios anuais de atividades encaminhados aos Ministros de Estado possibilitarão que o Poder Executivo deflagre inciativas tendentes a promover a eventual adequação dos planos de gestão estratégica e anual (arts. 15, § 2º; 17, § 1; e 18, § 2º).

A assertiva não vai de encontro ao primado da autonomia dos entes reguladores, que, conquanto não possam ser manietados no exercício de sua atividade-fim por restrições decorrentes do poder hierárquico, têm o dever de considerar as consequências de seus atos sobre os interesses públicos envolvidos (art. 4º, caput), mantendo abertos canais de cooperação com o Poder Público e com a sociedade, de modo a permitir a interlocução processualizada de todos os interessados (art. 15, § 1º, II).

E ao atribuir aos relatórios anuais o objetivo de viabilizar o acompanhamento de seus atos (art. 15, § 1º, incs. I e IV), a Lei 13.848/2019 consolidou a possibilidade de controle concomitante (o que vem reforçado pelos artigos 6º, caput, e 9º, § 7º), permitindo que o Poder Executivo avalie ex ante a aderência da atividade regulatória de cunho normativo ao “cumprimento das políticas públicas definidas em lei”, com foco na eficiência e na obtenção de resultados (art. 15, § 1º, III).

Trata-se de um controle finalístico,120 que decorre da circunstância de que, a despeito de autônomas, as agências integram cenários institucionais específicos,

120 Segundo Hely Lopes Meirelles, o controle finalístico “[n]ão tem fundamento hierárquico, porque não há subordinação entre a entidade controlada e a autoridade ou órgão controlador. É um controle teleológico, de verificação do enquadramento da instituição no programa geral do Governo e de seu acompanhamento dos atos de seus dirigentes no desempenho de suas funções estatutárias, para o

devendo alinhar sua atuação às diretrizes públicas gerais,121 como se vê do artigo 17, § 1º, da Lei 13.848/2019.

O Brasil não dispõe de uma autoridade central de coordenação, o que é essencial para garantir a aderência das normas regulatórias às diretrizes de políticas públicas, evitando custos decorrentes da duplicação de tarefas e facilitando a detecção de incoerências sistêmicas.122

E na compostura do Poder Executivo, ao menos três estruturas são destinadas ao diálogo com as agências regulatórias. Pelo Decreto 6.062/2007 foi instituído o “Programa de Fortalecimento da Capacidade Institucional para Gestão em Regulação” (PRO-REG), voltado à melhoria do sistema regulatório, que, dentre outras, tem como atribuições “a melhoria da coordenação e do alinhamento estratégico entre políticas setoriais e processo regulatório” e “o fortalecimento da autonomia, transparência e desempenho das agências reguladoras” (art. 2º, incs. III e IV).

No âmbito da Casa Civil, a Subchefia de Análise e Acompanhamento de Políticas Governamentais tem competência para “análise do mérito, da oportunidade e da compatibilidade das propostas e dos projetos submetidos ao Presidente da República (...) com as diretrizes governamentais” (art. 12, inc. II, do Decreto 9.678/2019).

E o Ministério da Economia é competente para avaliação do impacto dos atos regulatórios, contando com a Secretaria de Advocacia da Concorrência e Competitividade, que tem dentre suas atribuições “analisar o impacto regulatório de políticas públicas”, e com a Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria, com atribuições para “analisar o impacto regulatório de políticas públicas no setor de energia” (arts. 43, inc. VIII, e 119, incs. IV e XI, al. “b”, do Anexo I do Decreto 9.745/2019 e art. 20 do Decreto 10.411/2020).

Considerada a amplitude das áreas abarcadas, portanto, conclui-se que o Poder Executivo coordena e uniformiza a integralidade dos processos regulatórios, à luz da política pública vigente.123

atingimento das finalidades da entidade controlada.” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro, op. cit., p. 742).

121 ARAGÃO, Alexandre Santos. Agências reguladoras: a evolução do direito administrativo econômico. 2 ed. Rio de janeiro: Forense, 2003, p. 354-355.

122 O aspecto consta do documento da OCDE intitulado Relatório sobre a Reforma Regulatória BRASIL - Fortalecendo a governança para o crescimento, p, 38 e 341, 2007. Disponível em: <http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/publicacoes-oficiais/catalogo/lula/ocde-2013-relatorio-sobre-a- reforma-regulatoria-brasil-fortalecendo-a-governanca-para-o-crescimento/view>. Acesso em: 14 ago. 2020.

E ainda que o controle não tenha feições hierárquicas, o eventual descompasso entre a proposição regulatória e a política pública setorial acarretará a necessidade de ajustes por parte da agência, na forma do artigo 15, caput, da Lei 13.838/2019.

Há, ainda, mais um aspecto das agências regulatórias sobre o qual o controle executivo se desenvolve a posteriori: na avaliação da conformidade da atuação dos integrantes das agências aos parâmetros éticos que regem toda a Administração Pública. Assim, por meio do “Sistema de Gestão da Ética do Poder Executivo Federal” instituído pelo Decreto 6.029/2007, são emanadas orientações e apuradas eventuais infrações de conduta (art. 4º, II e III), com atuação conjunta de várias comissões voltadas a apurar a conformidade das condutas (arts. 2º e 9º).124

De outro lado, o controle executivo assume contornos proativos quando se trata da indicação dos integrantes das agências reguladoras, pois que, ainda que o Presidente da República esteja jungido pelos requisitos legais concernentes à expertise e à idoneidade dos candidatos (vide Capítulo I), é inegável que as indicações (e as respectivas aprovações pelo Senado Federal) apresentem componentes políticos e levem em conta o alinhamento a determinadas concepções ideológicas e perspectivas de futuro.125