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Controlo Político

No documento UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE (páginas 48-56)

3.4. Abstenção em Manjacaze

3.4.6. Controlo Político

votar ou fazem o voto em branco para os líderes não perceberem que não votaram” (Entrevista, Homem (19anos), Vila Manjacaze, 10 de Março de 2015).

O não cumprimento das promessas eleitorais e a certeza eleitoral quanto ao vencedor, levam uma parte do eleitorado a ausentar-se dos processos eleitorais.

3.4.6. Controlo Político

Vários foram os entrevistados, que abordaram a questão da recolha dos números de cartões por parte da estrutura local do distrito. Por exemplo, nas instituições estatais, deslocavam brigadas do partido no poder e nas povoações os próprios chefes locais encarregavam-se de em períodos eleitorais irem de casa em casa ou, convocarem a população para reuniões em espaços públicos, como fontenárias, onde se efectuava a recolha dos números dos cartões de eleitores. Por esta ser uma prática recorrente a cada pleito eleitoral, segundo nossos interlocutores as pessoas mostravam-se apreensivas em relação a isso, por não saberem porque recolhiam os números, criando muitas especulações no seio deles. Uns diziam que com base nisso, iriam controlar quem foi ou não votar, por isso muitos iam votar por medo de represálias.

Porém, enquanto uns iam votar, muitos diziam que ou iriam votar por eles os que recolheram seus números, ou então como já sabiam que a Frelimo iria ganhar e o seu voto não mudaria nada na contagem, muitos ficavam em casa. Foi o que aconteceu com a nossa entrevistada que recusou entregar o cartão antes que fosse esclarecida para que serviria, pelo que não foi bem respondida: “não votei porque me disseram com os chefes do bairro que o meu voto não interessa, no dia de recolha de número de cartão na aldeia... mesmo que coloquem arma numa mão e caneta noutra não posso votar” (Entrevista Mulher, 43anos, 10 de Março de 2015). Outros até foram, mas seus nomes não constavam na lista: “Eu fui uma das pessoas que não conseguiu votar, porque meu nome não tinha na lista e acabei voltando para casa” (Entrevista Homem, 60anos, 17 de Março de 2015). Mas não se pode descartar a hipótese de ter sido intencional, como forma de reduzir os escassos votos à favor da oposição.

Para certificar se os seus membros votariam no seu candidato, eles iam mais longe: “houve alguns problemas, porque depois de votar eles levavam alguns boletins para dobrar pessoalmente para descobrirem quem

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votou na oposição, até ele foi confusionado por ser da oposição...” (Entrevista, Mulher, 24anos, Chibonzane, 14 de Março de 2015). Este controle foi-nos confirmado por um membro activo do partido, que deu mais peso à todas outras declarações:

“... conhecemos algumas pessoas que não foram votar, 3 famílias dos próprios Mondlanes, mas vamos trabalhar com eles. Sobre a oposição identificamos algumas famílias e fomos dar capulanas e camisetas por isso só tiveram cinco votos, dos quais um do delegado. Impedimos algumas pessoas que eram da oposição, o líder[comunitário] era delegado de lista organizava as filas para as pessoas votarem” (Entrevista, Homem, 67anos, Chalala, 06 de Março de 2015).

O dedo pintado era como um passaporte para circular dentro do distrito, por isso qualquer carro que passasse, as pessoas levantavam a mão, não para saudar mas sim mostrar o dedo com tinta, sinal de que votou. Os outros chefes subalternos tinham a missão de ir às casa para certificar se as pessoas tinham o dedo pintado:

“...todos que conheço foram votar, porque depois da votação, os nossos líderes andavam de casa em casa a controlar para ver quem foi votar, aqui era obrigatório votar, se não votar era grande complicação com os líderes da zona... votamos todos porque senão não teria como ser atendido no hospital, e quando quer tratar algo nos

chefes tinha que apresentar o cartão [de eleitor] e confirmar que votou...” (Entrevista, Mulher, 22anos, Chibonzane, 14 de Março de 2015).

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Portanto, se é verdade que o controle político contribui para uma maior participação à favor da Frelimo, as altas taxas de abstenção eleitoral são em parte um produto indesejado deste controlo, desempenhado pelas lideranças locais. Este controlo, contribui para que só o partido no poder realizasse suas actividades de campanha à vontade e a intolerância política em relação à oposição. Mas, não é só pelo controlo que a oposição tem resultados insignificantes neste distrito, é também pelo fraco trabalho que esta exerce, fazendo-se presente somente em momentos eleitorais.

Estes, são alguns dos factores que os eleitores de Manjacaze trouxeram ao de cima quando questionados sobre os altos índices de abstenção eleitoral. Os pontos arrolados acima não esgotam por completo os seus factores, mas podem dar uma ampla visão do que pode estar a influenciar no crescimento do fenómeno.

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CONCLUSÃO

Em jeito de conclusão, pode-se dizer que a abstenção eleitoral em Manjacaze pode ser explicada por uma multiplicidade de factores. Ela não resulta somente da percepção que os eleitores deste distrito tem sobre a inutilidade do seu voto, associado, por um lado, a confiança na vitória da Frelimo e, por isso, não vem o impacto significativo do seu voto sobre os resultados finais, por outro, depois de votar, não registam melhorias nas condiçoes de vida das suas famílias e da comunidade.

Mas há outros factores como por exemplo, as distâncias em relação as mesas de voto, má formação dos MMV’s e desorganização do processo, desilusão com a governação da Frelimo, o forte controlo político entre outros, estes enquadrados na nas dimensões de facilitação (institucional e individual) e na mobilização (institucional e individual) da matriz de Sinnott.

Esta abstenção, que geralmente é associado às regiões com forte domínio da oposição, quando vista a partir dos dados oficiais, parece não ter nenhum impacto sobre a hegemonia da Frelimo neste distrito. Contudo, os resultados reais mostram que este partido tem vindo a perder grande parte do seu eleitorado para a abstenção, que mesmo que contribua para a sua permanência no poder, não impede que sua legitimidade popular seja colocada em causa.

Em relação ao engajamento dos cidadãos de Manjacaze com a Frelimo, podemos destacar duas principais razões: a ligação étnica com os líderes fundadores deste partido e as dinâmicas da guerra dos 16 anos.

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Lista de Pessoas Entrevistadas em 2015

A., S., 2015. Entrevista Manjacaze, Vila Sede de Manjacaze 09/10/14.

Homem (19anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Vila Sede de Manjacaze, Mapandane, 10/03/15, 10:02h. Homem (22 anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Chibondzane, Chiguivitane, 14, 03/2015, 11:36h. Homem (23anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Chibonzane, Malene, 13/03/15, 10:18h.

Homem (29anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Macuácua B. Eduardo Mondlane, 08/03/15, 12:56h. Homem (37anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Vila Sede de Manjacaze, 17/03/15, 11:25h.

Homem (60anos), 2015a. Entrevista – Inquérito Manjacaze, Vila Sede Manjacaze, 17/03/15, 09:30h. Homem (60anos), 2015b. Entrevista Manjacaze, Nguzene, Mavangue, Chilumbele, 13/03/15, 08:45h. Homem (60anos), 2015c. Entrevista Manjacaze, Vila Sede de Manjacaze, 17/03/15, 09:30h.

Homem (67anos 2015. Entrevista Manjacaze, Chalala, Mussengue, 06/03/15, 11:31h. Homem (72anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Chibonzane, Vamangue, 14/03/15, 15:43h. Homem (78anos), 2015. Entrevista Manjacaze Vila Sede Manjacaze, 17/03/15, 12:25h. M., S., 2014. Entrevista Manjacaze, Vila Sede de Manjakaze, 15/10/2015.M., S., 2014. Entrevista Manjacaze, Vila de Manjacaze, 09/10/2014.

Mulher (22anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Chibonzane, Chiguivitane, 14/03/15, 09:20h. Mulher (24), 2015. Entrevista Manjacaze, Machulane, Chibonzane, 14/03/15, 14:25h.

Mulher (29 anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Vila Manjcaze, Magoene, 16/03/2015, 12:30h.

Mulher (43anos), 2015. Entrevista Manjacaze, Vila Sede de Manjacaze, Mapandane, 10/03/15, 11:26h). T., S., 2014. Entrevista, Manjacaze, Vila Sede de Manjakaze, 09/10/2014.

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ANEXOS

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