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Origem e História Política de Manjacaze

No documento UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE (páginas 31-35)

As invasões Nguni ou Anguni ao Império de Gaza12 estão associadas ao nome de Mandlakazi ou Manjacaze. Comummente alia-se a origem deste nome à vitória de Mudungaz ou Ngungunhane sobre o Rei Xope na luta pela dominação da região dos Cambane e Xope, por volta do século XIX, dando ao distrito o nome de “mandla yangazi” que significa “mãos de sangue”, isto porque o povo desta região resistiu à dominação de Ngungunhane, mesmo sofrendo várias baixas.

Contudo, mesmo antes de Ngungunhane ser rei, há hipóteses de Manjakaze já ser uma capital, mas de carácter migrante, e só ter-se tornado fixa neste local, durante o reinado de Ngungunhane (Liesegang, 2012, p. 19; Rita-Ferreira, 1982, p. 186), tendo durado até à data de sua captura por Mouzinho de Albuquerque em Chaimite, a 28 de Dezembro de 1895 e levado para Açores onde veio a perder a vida em 1906.

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Teve três capitais, a primeira em Mussorize (Manica), a segunda foi fixada em 1839 na região de Tchaimity ou Chaimite, no vale do Limpopo e por fim em Manjakaze em 1884.

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Mas também é neste distrito que mais tarde nasce Eduardo Chivambo Mandlane, 20 de Junho de 1920. Considerado o arquitecto da unidade nacional e fundador da Frente de Libertação de Moçambique – FRELIMO, tornou-se no primeiro presidente do movimento até a data de sua morte, a 03 de Fevereiro de 1969, na explosão de uma encomenda bomba.

Sucede-o Samora Machel, primeiro presidente de Moçambique independente, que morre em 1986, vítima de acidente de aviação, sucedido por Joaquim Chissano. Quer Mondlane quer Samora e Chissano são oriundos de Gaza, concretamente de Manjacaze, Choqwé e Chibuto, respectivamente, o que faz com que esta província seja por alguns considerada como “Terra de

Heróis”.

O facto de Ngungunhane ter fixado a capital do seu reino e mais tarde ter nascido parte das lideranças do partido Frelimo, pode de certa forma contribuir para que Gaza no geral e Manjacaze em particular tenham um sentimento de pertença ao partido no poder, sendo frequente ouvir pessoas mais velhas do distrito dizerem que eles não se sentem parte integrante da Frelimo, mas sim eles “são a própria Frelimo”.

Depois da independência de Moçambique à 25 de Junho de 1975, a FRELIMO assumiu o poder e Samora Machel tornou-se no primeiro presidente negro do país, dirigindo um Partido-Estado que viria a se denominar “marxista-leninista” (Macagno, 2009). Mas, se é verdade que nos primeiros anos ninguém duvidava da legitimidade do poder dos dirigentes da Frelimo, cuja integridade e força moral e política impressionavam e seduziam os observadores, também não é menos verdade que esta construção da nação moderna nos moldes autoritários de negação de existência social das sociedades tradicionais e, feita de topo para a base, não tinha pernas para andar, porque era nada mais que a continuação da nação capitalista colonial, que tanto fora combatida e negada (Geffray, 1991, p. 14). Aliás, tal como diz Fry, 2005 citado por Macagno (2009, p. 21):

“...do ponto de vista estrutural, havia pouca diferença entre um estado capitalista autoritário, governado por um pequeno grupo de portugueses “esclarecidos” e de “assimilados”, e um estado socialista autoritário, governado por um partido de vanguarda igualmente diminuto e igualmente esclarecido”.

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Este grupo diminuto e esclarecido o qual Fry refere-se, e que podemos chamar de elites da FRELIMO, era maioritariamente composta por pessoas oriundas do sul de Moçambique que, de uma forma geral não se identificavam com as estruturas tradicionais e eram diferentes dos camponeses do Centro e Norte do país. Isto porque, contrariamente a estes últimos, estes tinham relativamente prosperado graças as rendas provenientes da cultura do algodão e sobretudo, das que provinham dos mineiros moçambicanos na África do Sul.

São estes que de acordo com Brito (2010, p. 18), fora a adição dos três movimentos, os intelectuais e assimilados [do sul], vão ocupar cargos de direcção e os jovens de origem camponesa do centro e norte vão formar o grosso do exército da FRELIMO. E enfatizar a fusão dos três movimentos, era muito importante para este grupo se for entendido tal como o autor explica:

“...numa perspectiva de legitimação política e social: ao apresentar-se dessa maneira, a FRELIMO apropria-se ao mesmo tempo da „representação parcial‟ de cada um dos „movimentos‟ e aparece como o movimento da „unidade nacional‟. Não só isso lhe permite reivindicar-se como representante de todo o „povo moçambicano‟, como afirmar-se como depositária da legitimidade

nacional, por oposição ao„regionalismo‟ daqueles movimentos”.

Esta situação pode ter contribuído para o reforço dos antagonismos que, em parte, estariam por detrás da criação de uma base de apoio da RENAMO contra a visão da FRELIMO, facto que culminou em 1984 com a quase totalidade do território rural moçambicano no controle das forças da RENAMO e o país mergulhado na fome, miséria, pobreza e nudez (Chichava, 2007; Macagno, 2009).

Assim, supõem-se que é nas populações com ligações ao Estado e à FRELIMO que a RENAMO semeava terror, como forma de demonstrar que o poder que eles apoiavam era fraco e que o exército que os deveria proteger era incapaz. O mesmo pode ter acontecido em Manjacaze, onde ainda hoje há pessoas que contam a “crueldade” do ataque do dia 10 de Agosto de 1987, um ano depois do massacre de Homoíne, mostrando as ruínas das infra-estruturas destruídas e valas comuns, num total de três, duas das quais na vila e uma em Chidenguele, ao longo da estrada Nacional nº 1 como testemunho, o que pode ter feito com que esta região até hoje seja relativamente hostil à oposição, tal como evidenciam os dados colhidos no terreno.

22 Vala comum do ataque do dia 10 de Agosto de 1987, situada na Vila Sede de Manjacaze.

Com o fim da guerra, introduz-se a nova Constituição em 1990, assinam-se os Acordos Gerais de Paz (AGP) ao 04 de Outubro de 1992 em Roma e, em 1994 realizam-se as primeiras eleições multipartidárias, marcando assim uma nova fase na vida política do país. No entanto, Moçambique como outros países da África subsaariana que alcançaram suas independências na Terceira Onda de Democratização, vem realizando eleições regularmente, mas em quase todas elas a abstenção participa com maior percentagem dos votos (Diamond, 1996; Geffray, 1991; Lourenço, 1998, p. 83), o que coloca um problema de legitimidade nas instituições e nos resultados daí resultantes, como veremos nos capítulos posteriores.

Em Manjacaze, a abstenção tem evoluído significativamente, o que, por hipótese, está associado à percepção dos eleitores sobre a inutilidade do seu voto, dado que, apesar da victoria da Frelimo em todos processos eleitorias, não se têm registado melhorias significativas na vida dos cidadãos eleitores de Manjacaze. Nesta perspectiva, antes de manter o foco nos factores da abstenção, importa analisar o que contribuiu para a prevalência do forte engajamento dos cidadãos de Manjacaze para com a Frelimo, não obstante a precariedade das condições de vida do distrito.

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No documento UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE (páginas 31-35)

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