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A Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da Organização

5 DOS MARCOS NORMATIVOS INTERNACIONAIS À LEI ANTICORRUPÇÃO BRASILEIRA (Lei 12.846/2013)

5.3 A Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais da Organização

para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE é uma organização pública internacional, formada pela associação de países-membros. Sua missão é a promoção de políticas que proporcionem a melhoria das condições econômicas das nações e o bem-estar econômico e social das pessoas.

As origens da OCDE remontam à aplicação do Plano Marshall, após a 2ª Grande Guerra Mundial, quando surgiu a Organização para a Cooperação Econômica Europeia, que gerava os recursos trazidos por esse plano e coordenava os esforços de reconstrução da Europa. Observa Petrelluzzi (2014, p. 25) que, justamente, o prestigioso e eficaz organismo da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico foi escolhido para o exercício da pressão norte-americana, já no início dos anos 1990, para convencer a comunidade internacional a adotar a responsabilização de seus países, devido a atos de corrupção praticados no exterior. Lembra Furtado (2015, p. 172) que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OCDE tem concentrado seus esforços na repressão ao pagamento de subornos, que ocorrem em operações transnacionais.

Conforme já referido neste trabalho, a pressão norte-americana trouxe como resultado, em 1994, o primeiro Tratado Internacional Anticorrupção, denominado Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais. Esse documento foi firmado pela totalidade dos membros da OCDE, com prerrogativa de adesão de não membros, como é o caso do Brasil. Para Carvalhosa (2015, p. 109-110), trata-se do primeiro, considerado o mais importante instrumento no combate internacional à corrupção. O Brasil aderiu aos seus termos, consoante o Decreto Legislativo, tendo a Convenção entrado em vigor em 23 de outubro daquele mesmo ano.

Ferreira (2013, p. 266, http://www.seer.ufrgs.br) destaca que o Conselho da OCDE, em 1994, se reuniu para emitir uma declaração que afirmava que o suborno é um fenômeno generalizado em transações comerciais internacionais, incluindo comércio e investimento. Essa realidade levanta sérias preocupações morais e políticas, como também traz distorções na condição competitiva internacional. A referida declaração da OCDE indica que a responsabilidade no combate à corrupção em transações internacionais deve ser compartilhada por todos os países. Dessa forma, apelou aos Estados-Membros para que tomem as medidas necessárias a fim de combater o fenômeno, através de reformas em seu direito interno.

Justamente a partir da década de 90, se observa que a comunidade internacional passou a ter maior atenção ao exame das consequências e impactos da corrupção na condução de negócios internacionais. Nesse contexto, vários desafios, tais como o combate à corrupção internacional em um cenário de globalização crescente, subsidiaram a concepção da Convenção da OCDE sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais. E foi suborno de funcionários públicos estrangeiros o tema inicialmente tratado pelo Grupo de Trabalho da OCDE sobre Suborno em Transações Comerciais Internacionais. A Controladoria Geral da União (2007.

http://www.plane jamento.gov.br) observa que o trabalho desse Grupo resultou, em 1994, no primeiro acordo multilateral relacionado ao combate do suborno de servidores estrangeiros. E, em 1995, a OCDE adotou a Recomendação sobre a Dedução de Impostos de Subornos de Funcionários Públicos Estrangeiros.

Em 17 de dezembro de 1997, a "Convenção sobre o Combate à Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais" foi firmada pelos estados-membros da OCDE, aos quais se somaram Brasil, Argentina, Bulgária, Chile e República Eslovaca. A Convenção entrou em vigor em 1999. No Brasil, a Convenção foi ratificada em 15 de junho de 2000 e promulgada pelo Decreto nº 3.678, de 30 de novembro de 2000. O principal objetivo da Convenção é o de prevenir e combater o delito de corrupção de funcionários públicos estrangeiros na esfera de transações comerciais internacionais.

A Convenção sobre o Combate da Corrupção de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Comerciais Internacionais trata, majoritariamente, da adequação da legislação dos Estados signatários às medidas necessárias à prevenção e ao combate à corrupção de funcionários públicos estrangeiros no contexto do comércio internacional. Através da Convenção da OCDE, os Estados-

Partes acordaram que, para os fins da Convenção, são considerados funcionários públicos estrangeiros: qualquer pessoa que ocupe cargo nos Poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário de um país estrangeiro, independentemente de ser essa pessoa nomeada ou eleita, bem como, qualquer pessoa que exerça função pública para um país estrangeiro; ou o funcionário ou representante de organização pública internacional. Assim sendo, os Estados-Partes devem adotar um conceito de funcionário público que contemple a abrangência dessas categorias.

Conforme Petrelluzzi (2014, p. 25-26), a Convenção da OCDE dispõe que os países signatários deverão criminalizar a conduta de corromper agentes públicos estrangeiros e, no campo da responsabilização das pessoas jurídicas, impõe que

“cada Parte deverá tomar todas as medidas necessárias ao estabelecimento das responsabilidades de pessoas jurídicas pela corrupção de funcionário público estrangeiro, de acordo com seus princípios jurídicos”.

Ela vai além da aplicação do princípio da territorialidade penal e se utiliza de instrumentos que até então eram estranhos à atuação de organismos multilaterais.

Destaca Furtado (2015, p. 172) que são estabelecidos mecanismos para verificar o efetivo cumprimento das medidas previstas na Convenção, como também criar o Grupo de Trabalho sobre Suborno, composto por especialistas indicados pelos países-membros. E, para Petrelluzzi (2014, p. 26), o referido Grupo de Trabalho examina a adequação dos signatários aos termos da convenção e, sustenta ainda, que a OCDE e os signatários da Convenção emitam relatórios e recomendações aos países signatários.

Exemplifica muito bem Ramina ( 2008, p. 87) que o Grupo de Trabalho sobre Suborno expediu uma recomendação e deliberou que estará acompanhando outros temas como “atos de corrupção em relação a partidos políticos estrangeiros;

vantagens prometidas ou conferidas a qualquer indivíduo em antecipação ao fato de esse tornar-se um funcionário público estrangeiro; corrupção de funcionários públicos estrangeiros como decorrência da lavagem de dinheiro; e o papel de empresas subsidiárias e de centros financeiros offshore.

Levando-se em conta que algumas nações não admitem a responsabilização penal das pessoas jurídicas, ficou estabelecido que essas seriam submetidas às sanções compatíveis com os princípios jurídicos adotados por cada país membro.

Nas palavras de Petrelluzzi (2014, p. 26) ficou acordado também que, na hipótese de impossibilidade de sancionamento penal da pessoa jurídica, cada signatário

“deverá assegurar que as pessoas jurídicas estarão sujeitas a sanções não criminais

efetivas, proporcionais e dissuasivas contra a corrupção de funcionário público estrangeiro, inclusive sanções financeiras”.

Lembra a publicação do Ministério da Transparência, fiscalização e controle, (2016, http://www.cgu.gov.br), que a Convenção da OCDE, além de abarcar todos os três Poderes dos Estados signatários, também considera que na expressão "país estrangeiro" incluem-se todos os níveis e subdivisões de governo, do federal ao municipal. Dessa forma, determina que os Estados signatários criminalizem o oferecimento, a promessa ou a concessão de vantagem indevida, pecuniária ou de qualquer outra natureza, a funcionário público estrangeiro que, direta ou indiretamente, por meio de ação ou omissão no desempenho de suas funções públicas, realize ou dificulte transações na condução de negócios internacionais. E, com relação a efetividade dos termos da Convenção, faz-se importante mencionar que, independentemente da nacionalidade, qualquer indivíduo ou entidade que cometa atos de suborno de funcionário público estrangeiro no território de um Estado signatário da Convenção da OCDE sujeita-se às proibições definidas na Convenção.

Complementa Petrelluzzi (2014, p. 26) que a Convenção da OCDE determina também a imposição da manutenção de registros contábeis que dificultem a lavagem de dinheiro e o pagamento de vantagens indevidas a funcionários estrangeiros.

O Ministério da Transparência, fiscalização e controle, (2016, http://www.cgu.gov.br), em material publicizado para o conhecimento da Convenção também destaca que as regras de contabilidade constantes da Convenção da OCDE requerem o estabelecimento da proibição de "caixa dois" e de operações inadequadamente explicitadas. Também determinam a proibição de quaisquer operações que facilitem a ocultação da corrupção de funcionários públicos estrangeiros, como, por exemplo: os registros de despesas inexistentes e o lançamento de obrigações com explicitação inadequada de seu objeto. Da mesma forma o uso de documentos falsos por empresas com o propósito de corromper os funcionários públicos. Para garantir a efetividade dessas proibições, a Convenção estabeleceu que cada Estado Parte deverá cominar sanções civis, penais e administrativas pelas omissões e falsificações em livros e registros contábeis, contas e declarações financeiras.

Com relação ao Brasil, é necessário observar que, conforme Petrelluzzi (2014, p. 26), em 2004 e depois em 2007, foi avaliada pelo OCDE a adequação da

legislação interna brasileira aos termos da Convenção. Embora algumas dúvidas tenham sido apontadas pelo Grupo de Trabalho, notadamente quanto ao estabelecimento de jurisdição brasileira, não houve nenhuma objeção séria à adequação da legislação brasileira aos termos da Convenção. E parece haver maior adequação tendo em vista os termos da Lei n. 12.846/2013 - Lei Anticorrupção.

Seguindo o estudo com relação a estes importantes documentos internacionais, que objetivam o combate à corrupção, passarão a ser tratados a Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, procurando destacar seus mais importantes aspectos.

5.4 Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção das Nações

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