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Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

5 DOS MARCOS NORMATIVOS INTERNACIONAIS À LEI ANTICORRUPÇÃO BRASILEIRA (Lei 12.846/2013)

5.4 Convenção Interamericana contra a Corrupção e a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção

Quando são estudados os esforços regionais, com relação à prevenção e ao combate da corrupção, é necessário destacar, além dos realizados na Europa, o trabalho realizado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Em 1996, foi assinado, no âmbito da OEA, a Convenção Interamericana contra a Corrupção.

Relata Furtado (2015, p. 172-173) que essa convenção representa o primeiro esforço de âmbito regional de combate à corrupção, influenciando fortemente a postura do BID em relação ao tema. A Convenção da OEA previu o mecanismo de Acompanhamento da Implementação da Convenção Interamericana contra a corrupção. Ela tratou de questões específicas, como a necessidade de cooperação entre seus países-membros no esforço de combater esse fenômeno transnacional.

Podem ser destacados como os principais e mais relevantes aspectos da Convenção: a definição de suborno; a criminalização do pagamento de suborno a funcionário público, (suborno ativo); o fornecimento de orientação para aplicação de sanções; a fixação de regras para assistência judicial e legal; a fixação de parâmetros para os sistemas de contabilidade e auditoria; a disponibilização do monitoramento da implementação das medidas previstas na Convenção; e a proibição da dedução tributária do pagamento de suborno.

A Convenção Interamericana contra a Corrupção foi o primeiro texto a cuidar da temática da corrupção sob uma ótica internacional. As negociações do tratado se deram na cidade de Caracas e foram finalizadas no ano de 1996. Até agora, 23 países ratificaram a Convenção, dentre eles o Brasil. Os pontos positivos, e mais

importantes, destacados por Petrelluzzi (2014, p. 27-28), são que o texto tipifica atos de corrupção, elenca princípios e prevê a implementação de mecanismos contra práticas corruptas, incluindo, aí, a assistência recíproca entre os países, a criação de sistemas de compras governamentais comprometidos com a publicidade, equidade, eficiência e, inclusive, com procedimentos de cooperação para a extradição, sequestro de bens, dentre outros. Observa-se que a Convenção impõe, conforme já abordado, a criminalização dos atos de corrupção de funcionários públicos estrangeiros. Engloba um grande elenco de práticas corruptas e seu alcance é considerado bem maior que o da Convenção da OCDE, constituindo-se em importante marco regional na luta contra a corrupção.

A referida Convenção Interamericana contra a Corrupção estabeleceu que os Estados signatários proibirão a oferta de subornos a funcionários públicos nacionais (artigo VI) e a funcionários estrangeiros (artigo VIII). Para Ferreira (2013, p. 266, http://www.seer.ufrgs.br), influenciado pela FCPA, o instrumento regional é muito importante, porque foi o primeiro a lidar, ainda que brevemente, com a corrupção feita por empresas transnacionais. Lembra Carvalhosa (2015, p. 112) que ela foi assinada em de 29 de março de 1996, e que a Convenção foi aprovada no Brasil, pelo Congresso Nacional, em 25 de junho de 2002, e promulgada pelo Decreto n.

4.410, de 07 de outubro daquele mesmo ano.

Apesar de as medidas contra práticas corruptas no exterior terem se originado, principalmente, devido a preocupações concorrenciais e geopolíticas, destaca-se uma segunda causa para que ocorresse o endurecimento legislativo contra a corrupção. Essa segunda causa deve-se ao discurso que relaciona as práticas corruptas ao déficit democrático e ao subdesenvolvimento, causa, inclusive, que já estava na agenda das organizações internacionais e de outros países. Explica Carvalho (2015, p. 38-39) que a partir de então, a Organização das Nações Unidas também implementou uma convenção internacional contra a corrupção, adotada em 2003 e vigente desde 2005, que foi chamada de Convenção das Nações Unidas Contra a Corrupção, promulgada no Brasil pelo Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006. Os fundamentos utilizados pelas Nações Unidas divergem da linha concorrencial, ligada à liberdade e à boa prática do capitalismo, que deu origem ao FCPA, como resumiu o discurso do Secretário-Geral das Nações Unidas:

Quando os recursos públicos são roubados para obter benefícios pessoais, diminuem os recursos destinados à construção de escolas, hospitais, estradas e instalações de tratamento da água. Quando a ajuda externa é desviada para contas bancárias privadas, os grandes projetos de

infraestrutura são suspensos. A corrupção permite que se introduzam no mercado medicamentos falsificados ou de má qualidade e que se lancem resíduos perigosos nos aterros e nos oceanos. As pessoas mais vulneráveis são as primeiras a ser afetadas e as que mais sofrem. (UNODC, 2009, https://www.unodc.org)

Para Carvalhosa (2015, p. 104), a corrupção das pessoas jurídicas, seja proativa, seja receptiva, acaba afetando, de forma devastadora, tanto as políticas públicas como a gestão pública. Ela traz desvios nas prioridades de atendimento ao bem público, conforme o critério da economicidade. Os gastos, através de cometimento de práticas corruptivas, para o referido autor, seriam aumentados e desperdiçados. Tal ocorre devido à deficiente, retardada e inconclusiva feitura de obras e de prestações de serviços públicos, que teriam sempre péssima qualidade em todos os setores essenciais.

Faz-se necessário ressaltar alguns aspectos históricos com relação à proposta e à aprovação da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. No âmbito das Nações Unidas, a Assembleia Geral, fortemente influenciada pelas iniciativas ocorridas na Europa, aprovou, no ano de 1996, uma resolução que conclamava os países a adotarem medidas efetivas de combate a qualquer forma de corrupção.

Assim, no ano de 2000, foi aprovada, em Palermo, a Convenção contra a Delinquência Organizada Transnacional. Furtado (2015, p. 173-203) observa esse cenário, em que diversas organizações internacionais, com diferentes âmbitos de atuação, passaram a atuar no combate à corrupção resultou na aprovação, na cidade de Mérida, no México, da primeira Convenção de âmbito mundial sobre a corrupção. Destacam-se os esforços, após a iniciativa da OCDE, que culminaram com a criação desse novo tratado com alcance global. À vista disso, em 2003, foi assinado em Mérida, a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção. Entrou em vigor em 2005. O texto da Convenção de Mérida, sobre a corrupção, teve como objetivo alcançar diversas áreas vulneráveis à corrupção, sugerindo distintas medidas com vistas à prevenção e à repressão da corrupção. É considerado o mais importante instrumento jurídico sobre o tema já aprovado no âmbito internacional.

A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção – Convenção de Mérida, também foi firmada pelo Estado Brasileiro, conforme deliberado pela Assembleia Geral, em 21 de outubro de 2003. Nos ensina Carvalhosa (2015, p. 112) que ela foi subscrita pelo Brasil em 09 de novembro do mesmo ano e, por sua vez, promulgada pelo Decreto n. 5.687, de 31 de janeiro de 2006. E esse Tratado da ONU foi precedido pela Convenção da OEA – Organização dos Estados Americanos –

Convenção Interamericana contra a Corrupção – de 29 de março de 1996, aprovada pelo Congresso Nacional, em 25 de junho de 2002, e promulgada pelo Decreto n.

4.410, de 07 de outubro daquele mesmo ano.

Para Petrelluzzi (2014, p. 28-29), a Convenção também auxilia na confecção de legislações nacionais, com relação ao combate à lavagem de dinheiro e dos instrumentos por ela utilizados, como, por exemplo, o sigilo bancário. Admite também a possibilidade de os Estados adotarem medidas mais duras em relação ao sigilo bancário e à maior relevância que cada Estado possa dar ao crime de evasão fiscal. Ela estabelece, ainda, que existe uma grande conexão entre a corrupção e o desvio fiscal, impondo aos Estados a obrigação de se negarem a aderir à prática de permitir a dedução como despesa das empresas, dos gastos em propinas e facilitações.

A Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, ou como alguns nominam como Convenção de Mérida, é um importante marco legal no conjunto de normas anticorrupção, devendo ser levada em conta como suporte para a interpretação das normas legais nacionais.

Na sequência, destaca Ferreira (2013, p. 269, http://www.seer.ufrgs.br) que, após a iniciativa da OCDE, vários tratados regionais anticorrupção foram criados. Da Europa podem ser citadas: a “Convenção sobre a Proteção dos Interesses Financeiros das Comunidades Europeias” (1995); a “Convenção da União Europeia na luta contra a corrupção, envolvendo funcionários europeus ou funcionários dos Estados-Membros da União Europeia” (1997); o “Conselho da Convenção Criminal Europeia sobre a Corrupção” (1999); e o “Conselho da Convenção Civil Europeia sobre a Corrupção” (1999). Da África, destacam-se o “Protocolo SADC contra a Corrupção” (2001) e a “Convenção da União Africana sobre a Prevenção e o Combate à Corrupção” (2003).

O objetivo principal de um regime internacional de controle da corrupção com foco no setor privado, é a criação de um compromisso entre os países para o enfrentamento do problema, por meio de troca de experiências e da harmonização das legislações nacionais, para, assim, impedir a existência de zonas de impunidade.

Como argumenta Ferreira (2013, p. 262; http://www.seer.ufrgs.br), posição à qual este estudo está alinhado, o foco nas empresas transnacionais pode fazer a diferença. Seria bem mais fácil prevenir a corrupção em empresas transnacionais complexas do que impor reformas institucionais em vários países em

desenvolvimento. O ataque na oferta da corrupção tornaria mais difícil, para os agentes corruptos, alcançar seus objetivos. Outro aspecto importante que deve ser destacado é da possibilidade de essas empresas transnacionais disseminarem seus valores ao redor do mundo entre seus parceiros comerciais. Assim, esses parceiros se verão numa situação de serem obrigados a adotar práticas anticorrupção. Se não o fizerem, estarão correndo o risco de, no futuro, não serem capazes de fazer negócios com empresas éticas.

Diante desse cenário, em que pese que os primeiros instrumentos legais de combate à corrupção tiveram como motivo a questão concorrencial, com relação a práticas corruptivas transnacionais, que trazem prejuízos à concorrência empresarial e, mais, que, conforme argumentos da Convenção das Nações Unidas, também trazem inúmeros prejuízos aos direitos fundamentais sociais, conforme já abordado, defende-se que é necessária a construção de um regime internacional de controle da corrupção com foco no setor privado.

5.5 A Lei Anticorrupção Brasileira (Lei 12.846, de 1º de agosto de 2013) como

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