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2 COOPERATIVISMO: ORIGENS, DESENVOLVIMENTO E TENDÊNCIA

2.5 Minas e São Paulo

2.5.2 Cooxupé e Coopemar

A Cooperativa de Crédito Agrícola Guaxupé foi criada em 1932 por um grupo de

24 produtores rurais. Apenas em 1957 transformou-se em cooperativa de cafeicultores e tinha

95 associados. A estrutura era limitada: não havia armazéns, nem maquinários.

Naquele ano o presidente eleito foi o engenheiro Isaac Ribeiro Ferreira Leite,

formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Indicado por amigos para

assumir a liderança, ele afirma ter se inspirado nos ideais de Tomás Alberto Whately15, de

Ribeirão Preto, um dos grandes fundadores de cooperativas de cafeicultores.

O presidente da Cooxupé revela que, como Whately, sempre procurou valorizar e

difundir os princípios rochdaleanos, mas nunca perdeu de vista a necessidade de transformar

a cooperativa em empresa competitiva. Para isso, Isaac Ferreira Leite contratou profissionais

para atuar na gestão estratégica da Cooxupé. A preocupação sempre foi promover o lucro, que

na linguagem cooperativa é chamado de “sobra”.

O crescimento da cooperativa e o incremento das exportações de café foram

marcas registradas da gestão de Isaac Ferreira Leite. Em 1977, a Cooxupé iniciou seu

processo de expansão pelos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Em três anos inaugurou os

núcleos de Monte Santo de Minas, Cabo Verde e o prédio onde até hoje funciona a matriz, em

Guaxupé. Na década de 1980 foram inauguradas mais sete filiais: cinco em Minas Gerais, nas

cidades de Guaranésia, Nova Resende, São Pedro da União, Alfenas e Carmo do Rio Claro; e

duas no Estado de São Paulo, em Caconde e São José do Rio Pardo. A cooperativa tem hoje

17 unidades espalhadas entre o sul de Minas, a região do cerrado mineiro e o norte do Estado

de São Paulo.

A primeira exportação foi feita em 1979, quando a cooperativa embarcou 900

15

Whately fundou a Cooperativa de Cafeicultores de Ribeirão Preto, a Cooperativa Regional da Mogiana, a Cooperativa Central dos Cafeicultores da Região da Mogiana e a Federação Brasileira das Cooperativas de Cafeicultores. Ele morreu durante uma reunião de cafeicultores realizada em Jaú, quando era debatido o embarque da safra de 1960-61.

sacas. Na safra 81/82 o sul de Minas foi responsável por 60% da produção nacional de café e

a Cooxupé recebeu apoio do

IBC para exportar mais.

Em 1984, já com

um escritório de exportação

em Santos, a Cooxupé aparece

pela primeira vez na lista dos

maiores exportadores de café

do Brasil. Seus principais

mercados consumidores são

os mais exigentes: Europa,

Fachada da matriz da Cooxupé, em 2004

Ásia e América do Norte.

Com um faturamento de 930 milhões de reais em 2004, a Cooxupé divulga-se

como a maior cooperativa de cafeicultores do mundo, com 9.750 cooperados. Apesar de 73%

serem considerados pequenos cafeicultores, a diretoria assume a “relação 80-20”. Dirigentes

admitem que 80% dos agricultores cooperados são responsáveis por apenas 20% do

movimento financeiro da cooperativa. Em contrapartida, 20% dos cooperados respondem por

80% das movimentações de café. Em 2004, passaram pelos seus armazéns 11,7% da produção

nacional de café e 18% da produção mineira16. Do volume anual que padroniza, metade

destina-se à exportação direta, 25% vão para empresas exportadoras, 24% ficam no mercado

interno e 1% é utilizado pela torrefação da própria cooperativa.

Doutor Isaac, como é tratado pelos funcionários, diretores e cooperados, é hoje,

aos 94 anos, o presidente de honra da Cooxupé. Freqüenta diariamente a cooperativa,

participa de reuniões, mantém contatos internos e externos. Vem recebendo diversas

homenagens de entidades representativas do agronegócio brasileiro, que o consideram uma

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liderança legítima e carismática.

Quem assumiu a presidência em 2003 foi o então vice-presidente Carlos Alberto

Paulino da Costa, engenheiro agrônomo. A transição foi aparentemente tranqüila, até porque

não houve disputa nem chapa de oposição. Diretores e cooperados entrevistados reconhecem

na figura do atual presidente a imagem da continuidade e da estabilidade da cooperativa,

demonstrando a estrutura monolítica de poder.

A Coopemar foi criada em 1961 por 116 pioneiros insatisfeitos com a relação de

dependência que mantinham com os donos das máquinas de café. Além de beneficiarem o

produto, eles eram responsáveis pela comercialização e obtinham altas margens de lucro

porque compravam o café em coco a preços baixos. Essa não foi a primeira cooperativa do

município –outras três experiências foram registradas nos setores de mandioca, de crédito

agrícola e de consumo entre 1938 e 1944, mas não tiveram continuidade.

Criada com o nome de Cooperativa Mista dos Agricultores da Zona de Marília,

seu primeiro presidente foi Francisco Wilson de Almeida Pirajá, que permaneceu no comando

até agosto de 1970. A história da cooperativa passa pelas pesquisas científicas que permitiram

desenvolver tecnologias e apoiar os cafeicultores da região. Junto com o IAC (Instituto

Agronômico de Campinas) e a Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), a

Coopemar pesquisou e descobriu que mudas enxertadas de café eram resistentes ao

nematóide. Passou a produzir essas mudas, tecnologia adotada posteriormente em várias

regiões do país.

Mais tarde, em 1989, a Coopemar também inovou ao iniciar a produção de mudas

em tubetes, em substituição aos balaios de plásticos. A nova técnica trouxe vantagens como a

obtenção de mudas uniformes, com controle sanitário mais apurado e melhor aproveitamento

de espaço. Em vez da terra, as mudas passaram a ser cultivadas em um substrato, eliminando

a necessidade do uso de defensivos, e hoje são produzidas em bandejas suspensas, o que

Fachada da matriz da Coopemar, em Marília, em 2004

A cooperativa de

Marília sempre estimulou os

cooperados a diversificar a

produção. Há registros de

apoio técnico para a

implantação de lavouras de

pupunha, coco anão,

fruticultura, amendoim e

pecuária. Apesar da tradição

cafeeira, como já foi dito, a

maioria do quadro social da Coopemar é composta por pecuaristas.

O atual presidente é o engenheiro agrônomo François Regis Guillaumon, formado

pela Esalq em Piracicaba. Ele está no cargo desde 1983 e já venceu oito eleições, todas sem

chapa de oposição. A tendência ao continuísmo manifesta a personalidade conservadora dos

produtores rurais e a capacidade dos atuais diretores de esvaziar eventuais movimentos

oposicionistas.

Entrevistado para este trabalho, François Guillaumon afirma que um presidente

deve permanecer no cargo enquanto tiver disposição para participar de todas as atividades,

que incluem viagens, reuniões, conversas com cooperados e funcionários, festas agrícolas e

churrascos. Quando o entusiasmo acabar, deve ser dada a ignição do processo sucessório. A

exemplo da Cooxupé e em nome da estabilidade, a administração da cooperativa de Marília

não deve sofrer mudanças radicais.

A Coopemar chegou a manter oito filiais e um escritório exportador em Santos, já

desativado. Tem hoje cinco filiais e 1.700 cooperados –já chegou a ter 3.500. Enfrenta uma de