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Os poetas populares descobriram seu papel social, como porta-voz e autor de um texto que reflita os desejos, as aflições e os medos do povo, afirma Carvalho (1994). A informação vem sofrendo, nas últimas décadas, um crescimento desenfreado e a sua grande utilização implicou no surgimento da tecnologia. E esta vem constantemente sofrendo avanços, resultados das necessidades do homem aliadas à pesquisa e a informação. Com o avanço tecnológico, alguns autores pessimistas diziam que os suportes informacionais impressos tenderiam a desaparecer em pouco tempo e a realidade vêm mostrando o contrário. A mídia tem o seu espaço consolidado, mas acredita-se que os livros e todos os materiais impressos não irão desaparecer por conta disso. A mídia e a imprensa podem conviver de maneira salutar, pois ambas têm limitações e uma complementa a outra.

O cordel vem conquistando espaço nas ramificações da mídia, no rádio, na televisão e na internet. Aliás, ele possui características midiáticas que serão analisadas no último capítulo deste trabalho. Dentre essas características podemos já adiantar a sua intenção e predisposição para a informação; o modo como o cordel transforma fatos em notícias; o modo como as divulga; a mesma tendência midiática à espetacularização; sua inclinação a emitir juízos de valor e opiniões, absorvendo o potencial opinativo da mídia, bem como o modo atual com que a mídia faz suas ancoragens de notícias, mensagens e informações etc. Uma outra característica midiática do cordel é o modo como ele pauta nosso dia-a-dia e agenda informações. Ou seja, para muitos o cordel faz parte verdadeiramente de suas vidas e de forma bastante presente. Ele cumpre a missão que vários outros veículos informacionais têm, sem deixar a desejar. Voltaremos a isso no último capítulo.

Essa trajetória midiática do cordel começou quando alguns cantadores e repentistas conseguiram espaço em programas de rádio, apresentado cantorias e recitando poesias, geralmente em cidades de interior nordestino, difundindo a oralidade do cordel. Isso se dá em proporções muito maiores, pois as ondas do rádio vão muito mais longe e alcançam um número de lares cada vez maior.

2.4.1 O cordel e suas facetas midiáticas

O cordel é uma manifestação da cultura popular que procura abranger diversos assuntos, de diversas áreas, desde que sejam ricos e importantes. Assuntos polêmicos podem causar reações diversificadas na população, como aborda Kunz (2001), ao se reportar ao caso de folhetos relatando o milagre de Padre Cícero, que sofreram censura, não tendo isto impedido que alguns poetas se arriscassem a escrever sobre Padre Cícero e sua grande importância para o povo nordestino.

Além de ter um poder fascinante sobre as pessoas, a cantoria as aproxima de sua terra, como se as deixasse mais próximos da própria essência. E as deixa saudosas, talvez de uma época que não viveram ou de um lugar que não conheceram, e as fazem querer bem mais da vida e de forma bem mais singela, como simplesmente ouvir uma bela poesia cantada ou recitada. E são essas características responsáveis por sua sobrevivência mesmo nos grandes centros.

A partir da 2ª metade do século XX, passam a ser produzidos folhetos sob encomenda, sendo que grande parte destes era de cunho comercial. O folheto noticioso faz uso de acontecimentos atuais, para retratar de forma mais irreverente casos marcantes. E também para noticiar como um bom veículo de informação deve fazer. Então, acabam tornando mais fácil o entendimento de certos assuntos que são veiculados, por vezes, de maneira um pouco complicada principalmente para quem não tem muito "conhecimento". Assuntos como morte de alguma pessoa famosa ou acontecimento marcante, como a vitória de algum candidato à eleição, assuntos esportivos entre tantos outros. Um exemplo disto é o folheto Brasil

(PB) foi publicado juntamente com vários outros folhetos. Este projeto surgiu com o intuito de editar obras de poetas veteranos e novatos. Então alguns folhetos prontos foram aproveitados e outros foram feitos especialmente para serem divulgados no momento atual.

O cordel informa, pois trata de assuntos diversos, explicando-os e podendo atingir um público totalmente amplo a partir desse método. Ele divulga, comentando novidades, sejam elas materiais ou não, entre os quatro cantos do folheto, despertando o interesse naqueles que ainda não conhecem o produto. E noticia, através de seus folhetos noticiosos, torna a informação mais próxima e mais fácil de se assimilar.

2.4.2 O cordel com espaço de divulgação e manifestação na grande mídia

Os anúncios também fazem parte dos programas de cantoria e repente, pois com o dom de envolver e conquistar as pessoas os anunciantes estariam com certeza fazendo um bom negócio. Em programas de televisão como Ceará Caboclo (da TV Ceará - Canal 5), Nordeste Caboclo (da TV Diário - Canal 22) e Ao som da Viola (também transmitido pela TV Diário), que são apresentados por poetas, são valorizados os aspectos de cantorias, repentes e da cultura popular. Algumas revistas e jornais abordam, vez por outra, matérias relacionadas ao cordel e sua utilização como incentivo à leitura e valorização da cultura, entre suas várias outras facetas.

A regionalidade passou a existir na publicidade cearense para fazer com que esta região fosse mais valorizada. Para caracterizar uma cultura local se faz necessário usar expressões características, citações de tipos populares até se chegar à criação de oportunidades e negócios, recriação folclórica e fugir ao lugar- comum. Carvalho (2005) nos diz que os cordéis têm sido cada vez mais usados para fins comerciais, como divulgação, ou propagandas políticas. E isso foi uma estratégia de marketing, pois, ao usar o folheto como meio de divulgação, se fazia uma boa exposição do produto em todas as classes, e se mantinha uma maior

proximidade principalmente com o povo nordestino.

A publicidade passou a fazer esse trabalho na divulgação de grandes empresas, a fim de se aproximar do povo simples. Uma linguagem própria das regiões passou a ser incrementada, o que para uns era bom, pois divulgava a cultura, e linguagem local, para outros era ruim, pois estereotipava um povo.

Poetas ou, às vezes pessoas que não são do ramo, escrevem sob encomenda poesias envolvendo produtos e marcas e a quarta-capa do folheto é aproveitada para divulgação destes, idéia essa que há algum tempo já vinha sendo utilizada para colaborar nos custos dos folhetos, mesmo os que não são de cunho comercial.

E finalmente, o cordel chegou à internet. Segundo Gadzekpo (2004), o cordel brasileiro ganhou seu primeiro site na 2º metade da década de 1990, como home- page de José Honório da Silva. O site é composto por cordéis de sua autoria, pesquisas na área, sites interessantes, xilogravuras, recanto da viola e livro de visitas. No mesmo, são apresentados estudos sobre Leandro Gomes de Barros e Pinto de Monteiro, da autoria de Pedro Nunes Filho que se utiliza de depoimentos de Luís da Câmara Cascudo, João Martins de Athaíde, Severino Nunes de Farias e Carlos Drummond de Andrade, para dar ênfase a seu discurso.

Gadzekpo (2004) apud Franklin Machado: "...nas décadas recentes com xerox e offset, o cordel sobreviveu naquilo que lhe compete concretizar qualquer tema que um poeta projete." O cordel na internet é mais uma de suas facetas e formas de exibição, mas não perdeu as origens populares da oralidade do folheto da literatura de cordel. É apenas mais uma forma de disseminação, mas que não substitui as anteriores, em forma de cantorias e folhetos.

Enfim, fica claro que o computador é apenas mais um recurso, talvez o último na linha de métodos da comunicação humana. O importante papel da informática é a facilidade, economia, rapidez de produção e divulgação. Mas ainda não abrange a todos e nem se sobrepõe aos meios supramencionados.

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