CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO CURSO DE BIBLIOTECONOMIA
Ana Kátia Gomes Marreiro
A LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
A LITERATURA DE CORDEL COMO MEIO DE
INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Monografia apresentada ao Curso de Biblioteconomia, Departamento de Ciências da Informação da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Biblioteconomia. Orientação: Prof. Dr. Luiz Tadeu Feitosa.
M358l Marreiro, Ana Kátia Gomes.
A Literatura de cordel como meio de informação e comunicação / Ana Kátia Gomes Marreiro. Fortaleza: 2008.
74 f.; il. Color.
Monografia (Graduação em Biblioteconomia) – Departamento de Ciências da Informação / Universidade Federal do Ceará, 2008. Orientador: Prof. Dr. Luiz Tadeu Feitosa.
ANA KÁTIA GOMES MARREIRO
Submetida ao Curso de Biblioteconomia,
Departamento de Ciências da Informação
da Universidade Federal do Ceará, como
requisito parcial para a obtenção do grau de
Bacharel em Biblioteconomia.
Aprovada em: / /
BANCA EXAMINADORA:
__________________________________________
Prof. Dr. Luiz Tadeu Feitosa (Orientador) – UFC
___________________________________________
Profa. Msc. Rute Batista Ponte – UFC
____________________________________________
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia aos meus pais,
Luiz e Irene, que são a minha referência
de vida, meus anjos e meus guias. A
quem, tudo devo e tudo dedico. Meus
amados e queridos pais, obrigada por
Primeiramente, agradeço a Deus, nosso pai, que nos guia e nos abençoa em
todos os momentos e de quem mais nos consola nos momentos difíceis.
Agradeço a minha família, primeiramente aos meus pais, Luiz e Irene, e
também aos meus irmãos, Jorge Luis e Luiz Júnior por seu apoio em momentos de
extremo cansaço e por sua ajuda no que foi possível.
Agradeço aos meus amigos, que me deram força pra continuar nessa
caminhada. A todos que participaram de minha vida acadêmica e fizeram com que
ela fosse mais feliz. Vou citar alguns dos quais participaram de forma bastante
próxima Andréa Ribeiro, Cynthia Guerra, Sandra Simões, Danielle Guedes, Nonato
Ribeiro, Francisco Ramos, Luciane Silva, Jonathas Luiz, entre outros. Agradeço
também a força dos amigos fora do meio acadêmico, como Ismara Leal e Ana
Késsia Farias.
Agradeço também ao Prof. Luiz Tadeu Feitosa, por ter orientado esta
pesquisa e por ter acompanhado o desenvolvimento da mesma, com toda sua
experiência e dedicação.
“Todo poeta de fato
É grande observador
Seja da rua ou do mato
Seja leigo ou professor
Faz verdadeira pesquisa
Vasto estudo realiza
Buscando essência e teor”
Relata-se a importância e a abrangência da literatura de cordel nos meios
informacionais e comunicativos, através de exemplos do cotidiano e da cultura.
Apresenta-se o histórico do cordel, da oralidade ao folheto, e deste às mídias
modernas; bem como as características próprias desse tipo de poesia popular.
Descreve-se sua participação nos processos midiáticos e educacionais, que tem
intuito de conquistar mais espaço para sua divulgação e torná-lo mais atrativo ao
público, à medida que incentiva o gosto pela leitura e a apreciação da poesia.
Enfatiza-se a atuação do cordel como divulgador da cultura popular através das
expressões utilizadas, do formato e das características físicas do folheto. Tem-se
como objetivo apresentar as expressões do cordel, com o intuito de desmistificar e
ampliar as possibilidades deste objeto. Além de apresentar as diferentes facetas da
Literatura de cordel, mostrar sua expressão informacional e comunicacional,
esclarecer a riqueza de conhecimentos presentes na poesia popular, e mais
especificamente no cordel. As metodologias utilizadas para o desenvolvimento desta
pesquisa são a exploratória e a bibliográfica. Conclui-se, enfim que a literatura de
cordel é multidisciplinar, pois atua em diversos meios e cumpre um papel de
comunicadora e mediadora da informação.
On rapporte l’importance et la portée de la Littérature de Cordel dans le milieu
informationnel et comunicatif, à travers des exemples du quotidien et de la culture.
On présente l’historique de ce genre de littérature, dès l’oralité à sa forme imprimé en
feuillette, et de celui-ci aux médias modernes; ainsi que les caractéristiques propres
à ce genre de poésie populaire. On décrit sa participation dans les processus
médiatiques et éducationnels, pour conquérir plus d’espace à sa diffusion et devenir
plus attirant au public, parce que stimule le goût pour la lecture et l’appréciation de la
poésie. On met en relief l’importance du cordel dans la diffusion de la culture
populaire à travers des expressions utilisées, de sa forme et de sa présentation. On
a le but de présenter les expressions du cordel. Notre but est de démystifier et
accroître les possibilités de cet objet. En plus, on a aussi le but de présenter les
différents visages de la Littérature de Cordel, montrer son expression
informationnelle et communicative, dévoiler la richesse des connaissances présentes
dans la poésie populaire, notamment dans le cordel. On a utilisé dans le
développement de cette recherche les méthodologies bibliografique et d’exploitation.
Finalement, on conclut que la Littérature de cordel est multidisciplinaire, parce qu’elle
agit dans des divers milieux, jouant um rôle de communicatrice et mediatrice de
l’information.
Figura 1 – Arte em madeira ... 29
Figura 2 – Lampião e Maria Bonita ... 30
Figura 3 – A cura do boi ... 30
Figura 4 – Tecnologias da Informação ... 38
Figura 5 – Cordel sobre educação no trânsito ... 63
Figura 6 – Cordel sobre educação ambiental ... 63
Figura 7 – Coleção Baião das Letras ... 63
Figura 8 – Ilustração do Projeto Acorda Cordel na sala de aula ... 65
1 INTRODUÇÃO ... 11
2 PERCURSOS DO CORDEL: DA ORALIDADE À MÍDIA ... 14
2.1 Origens do cordel: momentos de uma trajetória ... 14
2.1.1 Marcas do cordel pelo mundo ... 16
2.1.2 O Cordel no Brasil ... 18
2.2 O Cordel através da Oralidade ... 20
2.3A poesia popular impressa ... 26
2.4 O Cordel ganha espaço na mídia ... 32
2.4.1 O cordel e suas facetas midiáticas... 33
2.4.2 O cordel como espaço de divulgação e manifestação na grande mídia ... 34
3. INFORMAÇÃO E COTIDIANO: O FOLHETO PUBLICANDO SOLUÇÕES ... 36
3.1 Informação: conceitos e processos ... 36
3.2 Comunicação: espaço de desenvolvimento do cordel ... 39
3.3 Informação no cotidiano ... 40
3.3.1 Trovas e trovadores: marcas de uma expressão informativa e comunicacional ... 41
3.3.2 Mitos ... 41
4 LITERATURA DE CORDEL E SUAS CARACTERÍSTICAS INFORMACIONAIS ... 43
4.1 O folheto de cordel: difusor da cultura popular ... 43
4.2 Cordel transportando informação ... 44
4.3 O folheto presente na comunicação ... 46
CONCLUSÃO ... 67
1 INTRODUÇÃO
Num mundo cada vez mais deslumbrado com as tecnologias e com os
recursos informacionais e comunicacionais que elas e os artefatos tecnológicos
possibilitam, falar de cordel pode – aos ouvidos de alguns desavisados – parecer
que é de uma peça de um folclore distante que se está falando.
A literatura de cordel como manifestação da cultura popular, surgiu no Brasil
após a chegada dos portugueses a essas terras, trazendo da Europa uma literatura
típica daquele continente. E logo que o cordel chegou ao Brasil sofreu adaptações
até chegar ao formato que possui hoje. Tornou-se, então, um meio de difusão de
informações, ao exercer em épocas passadas, o papel de principal veículo de
comunicação da população.
Não obstante se saber que alguns folcloristas tomam o cordel à luz de sua
expressão mais simples, como sendo apenas uma espécie de “literatura popular”,
impressa em papel barato e estereotipada pelo clichê de que suas produções são
postas à venda dependuradas em cordões, não é absolutamente essa noção que se
deseja aqui.
O cordel apresentado nas reflexões deste trabalho configura-se como uma
expressão informacional e comunicacional presente nos cotidianos nordestinos –
para citar inicialmente apenas este – como uma expressão viva da tradição e da
cultura, que tem por meta mediar as relações das pessoas com os acontecimentos
do mundo. Isso quer dizer que não se contemplará aqui apenas seu formato livresco
ou sua feição poética.
Para dar conta dessas expressões informacionais e comunicativas do cordel,
faz-se necessário como encaminhamento metodológico, mostrar a que campo do
conhecimento o cordel inicialmente se liga. Daí, porque, o presente trabalho terá
como natureza do tema a Literatura de Cordel, berço primordial do mesmo.
interfaces com a Literatura. Para tanto, se realizará uma explanação da relação do
cordel com esta área do conhecimento, enfocando aspectos gerais que vão desde
sua origem até os dias atuais e das suas relações com os meios que o influenciaram
como ferramenta comunicativa.
As revisões de literatura feitas sobre o assunto, não apenas atenderam às
exigências metodológicas para a construção de um trabalho monográfico, como
também serviram para uma melhor compreensão das características do cordel. Ele
possui características típicas do Nordeste, por ser essa a região do país que mais
produz nesse setor, e por ser também onde tudo começou, partindo da tradição
primária, adaptando-se e reinventando-se para um novo público cada vez mais
exigente.
Baseado nos moldes de uma pesquisa onde a metodologia é de natureza
exploratória, cujos resultados jamais podem ser dados a priori, mas contemplados
pelas literaturas que sobre o objeto se debruçam, as reflexões sobre o assunto
mostram o quanto a literatura de cordel se desenvolveu e expandiu por diversas
áreas, trazendo benefícios para todos, tanto para seu público, como para os poetas
cordelistas. Exercendo funções importantes na educação, no acesso ao
conhecimento, na publicidade, na comunicação, como também para a população
brasileira.
Alguns dos objetivos traçados durante a realização da pesquisa que ora se
apresenta, intentaram adentrar o mundo da literatura de cordel, mostrando seu
desempenho e sua riqueza de assuntos. Mas, sem dúvida alguma, a justificativa
desta pesquisa que também é seu objetivo principal, consiste na possibilidade de
demonstrar aqui as capacidades informacionais e comunicativas do cordel.
Por conter uma literatura encantadora, de sabedoria popular, dinâmica, rica
em informação e até mesmo com certo “ar de molecagem”, a literatura de cordel
surge como interessante e versátil meio de comunicação, podendo abranger
diversas mídias de modo informal e atrativo, além de não ser desprezível seu
No decorrer do texto, o leitor descortinará todo o universo explorado
realizadas no desempenho deste trabalho. No segundo capítulo, são apresentadas
as origens do cordel. De seu surgimento na Europa e sua vinda para o Brasil, até
instalar-se e desenvolver-se por aqui, tornando-se um fenômeno midiático e
informacional. Neste capítulo a passagem da oralidade, para o formato impresso
chegando, por fim, à mídia em formato digital, fincando nesta última forma uma nova
faceta do cordel, com características e linguagens reformuladas.
No terceiro capítulo são apresentadas as teorias da informação e da
comunicação, bem como suas definições, para aplicá-las ao cordel, contemplando
assim o que se espera de uma pesquisa exploratória, cujos instrumentos principais
que a subsidiam são dados eminentemente por uma pesquisa bibliográfica.
Portanto, a partir dos resultados dessa pesquisa documental, serão explorados os
conceitos e processos da informação, o desenvolvimento do cordel na comunicação,
e a informação no cotidiano, incluindo breves análises sobre a presença dos mitos
nos cordéis, além de reflexões sobre as trovas e os trovadores.
Enquanto isso, no quarto capítulo, as funções do cordel são analisadas ponto
a ponto, e em cada área distinta. Nas áreas de cultura popular, comunicação e
informação serão apresentadas explanações e comparações levando o cordel a
debater com os assuntos mencionados. Trazendo trechos de folhetos a serem
analisados de acordo com sua especificidade e seu papel exercido.
Acerca dos principais instrumentos de pesquisa aqui usados, destaque deve
ser dado para a pesquisa bibliográfica. Utilizando materiais impressos, como livros e
artigos de teóricos da área da cultura, educação e comunicação. Um dos teóricos
mais utilizados como base para esse trabalho foi Gilmar de Carvalho, pois este, é
pesquisador da área de cultura popular e cordel. Mas, além deste, também se
destacam as obras de Paul Zumthor, pesquisador da expressão oral. Alguns outros
autores foram utilizados a fim de nortear a pesquisa nos rumos de educação e
informação. Tendo tido também muita importância para o desenvolvimento desta, a
2 PERCURSOS DO CORDEL: DA ORALIDADE À MÍDIA
2.1 Origens do cordel: momentos de uma trajetória
O cordel é uma forma de expressão que retrata as ações e manifestações de
um povo, narrando suas conquistas e suas mazelas; criando e re-significando os
sentidos de seus cotidianos; construindo processos de significação
histórico-simbólicos advindos das relações gregárias entre os sujeitos. Assim sendo, uma das
características do cordel é sua condição de linguagem. Desde seus primeiros passos
no Brasil, o cordel se apresenta como uma linguagem própria utilizada para contar e
cantar o povo brasileiro.
Por mais que possa parecer um lugar comum e qualquer afirmação nesse
sentido reclama maiores elucidações, o cordel nasce e se difunde nos meios
populares, podendo ser entendido por popular algo que está inserido na tradição.
Aquilo que permanece na cultura ou nos produtos simbólicos que uma geração
transmite para a outra.
Diante de manifestações culturais que surgiram na Europa e, através da
colonização portuguesa, chegaram ao Brasil, o cordel foi tomando formato e estilo
próprios. Desenvolveu-se conforme a cultura brasileira, tendo se enraizado na região
nordeste, onde conquistou muitos seguidores, poetas, e também a população local.
A essência do cordel enfim, chegou-nos através dos mares e aqui fincou raízes
profundas que marcaram a tradição e cultura do Nordeste, como será discutido
adiante.
Atualmente o cordel é admirado por pessoas de todas as classes, tendo
sofrido em tempos passados muitas discriminações pelas classes média e alta que
dele faziam uma idéia deturpada, que se referiam a esta expressão literária como
literatura de baixo calão, por ser originária da classe menos favorecida, do povo em
geral.
necessário dizer dos laços que o cordel mantém com a oralidade. Segundo Zumthor
(1997), a descoberta do folclore e do que se denominou, “literaturas orais”, foi feita
quando a Literatura se empenhava em procurar sua própria identidade. Ao surgir, a
oralidade entendeu-se a necessidade de uma origem. E juntamente com ela há
outras formas de expressão, como escrita através de letras ou desenhos, gestual,
visual.
A oralidade sofreu várias transformações nos âmbitos de espaço que ocupa,
onde existem atualmente várias outras manifestações. A partir do momento em que
existe a escrita em forma de poesia, a leitura em um dado momento vai surgir e
então a voz estará fazendo sua função de servir como alimentador das memórias
coletivas acerca de assuntos populares.
A poesia de cordel se expressa em versos, o que permite a musicalidade dos
mesmos. A perfeição na sua composição é equilibrar a técnica – regida por normas
de rimas, como a sextilha, a mais utilizada no meio poético, que é composta por
estrofes de seis versos, cada um com sete sílabas, e deve rimar entre si os versos
pares, seguindo também a regra de metrificação, que faz a divisão das sílabas
poéticas, dos sons. Baseando-se nessa regra, são construídos versos e rimas e uma
idéia que tenha representatividade para quem a compõe e para o público que
receberá as mensagens.
O seu formato impresso consiste em pequenos folhetos, medindo estes 16x11
cm mais comumente, de apresentação simples, em papel jornal e sua mão de obra é
predominantemente artesanal. A sua capa é considerada um atrativo a mais,
podendo ser feita a partir da xilogravura (arte de gravar na madeira), em clichê ou
reproduzidas imagens retiradas de cartões postais. São utilizados poucos recursos,
e com números de páginas variáveis pelo múltiplo de oito.
Seus compositores, geralmente, são poetas do meio popular ou rural. Porém,
algumas vezes, os admiradores desta arte invertem o papel com o poeta e, mesmo
podendo ser de áreas diversas, se sentem a vontade à compor poesias, causando
muitas vezes surpresas. Percebe-se que aqueles que tem um contato maior com a
transmitem com mais ênfase e sentimento a mensagem tratada no folheto.
Conhecem com propriedade as estórias dos folhetos que foram inspiradas em seu
cotidiano e segue toda a linha de construção do cordel pela intuição, sem
preocupação maior com regras, por ter o ouvido aguçado para captar e reconhecer
uma poesia.
A denominação do cordel pode variar, como nos afirma Souza (1976), de
acordo com a região, podendo ser chamado “ABC”, “arrecife”, “folheto”, dentre
outras denominações. Mas a denominação “cordel” trazida de Portugal, não era
utilizada no Brasil, segundo Santos (2002), afirmando também existirem as
seguintes denominações de “verso” ou “rumance”. Um dos atrativos nele encontrado
é o preço; como possui uma produção barateada por conta do material utilizado e
dos patrocínios recebidos, seu valor se torna bastante acessível. Enquanto isso, os
pontos de venda são outros atrativos, pois nas cidades nordestinas, principalmente,
são facilmente encontrados em bancas de jornais, livrarias, centros culturais, feiras
populares, praças e festas.
2.1.1 Marcas do Cordel pelo mundo
De acordo com Luyten (1992), o cordel surgiu pela primeira vez no Ocidente
no século XII, e já apareceu como manifestação popular, em linguagem regional, e
que divergia da língua oficial da época usada pela Igreja que era o latim.
A tradição oral de onde o cordel provém, tem origem no cancioneiro medieval.
Podemos entender por literatura popular medieval, um conjunto de formas poéticas,
onde textos formam juntos um contexto significativo no qual se remonta a situação
global, porque manifesta ligação entre letra e voz. Zumthor (1993) afirma que nessa
época a escritura era predominante, e a oralidade era tida por marginalizada,
enfrentou momentos de repressão por ser contrária ao erudito ou escrito. Foi
renegada e ocultada durante um certo tempo, no inconsciente das pessoas. Ao
mesmo tempo, poetas da época medieval, conhecidos como cancioneiros levavam a
e interpretações teatrais.
Na Espanha e em Portugal, a poesia de cordel ganhou postura literária,
depois de sofrer muitos preconceitos e dificuldades. Em alguns países da Europa os
folhetos eram vendidos em feiras livres e nas ruas, ficando pendurados em cordões
ou sendo recitados em locais públicos. A França destaca-se por sua grande
produção de folhetos, mas, ainda menor que a do Brasil, possui uma literatura
correspondente ao cordel que é chamada de Biblioteca Azul. Os materiais que a
compunham eram brochuras normalmente encapadas em papel (nem sempre azul)
e com um custo de produção de menos de um centavo por exemplar (o preço de
revenda era maior, mas ainda acessível).
Os livros azuis se tornaram progressivamente, entre 1660 e 1780, um
elemento particular da cultura camponesa. Esta, por sua vez, constitui-se de um
acervo que buscava o leitor e isso foi um ponto importante para seu sucesso: as
distâncias entre livro e leitor foram encurtadas pelos mascates que eram como
distribuidores ou vendedores que iam de lugarejo em lugarejo levando mercadorias
para vender, inclusive as publicações.
De acordo com Dourado [200-], as influências do cordel são multidiversas e
vão desde a poesia árabe, mediterrânea, hindu e persa à poética
egípcio-hebréia-greco-latina e afro-indígena. Entretanto, a poesia de cordel recebe a sua influência
maior da Espanha e de Portugal, onde conseguiu ganhar um reconhecimento maior.
Muitos pesquisadores escreveram sobre esta vertente da cultura popular. E
no meio acadêmico ela está sendo cada vez mais estudada e reverenciada.
Pesquisadores como Gilmar de Carvalho, Joseph Luyten e Martine Kunz são alguns
dos principais estudiosos desse ramo. Luyten, foi o maior pesquisador até hoje de
Literatura de cordel no Brasil. Entretanto, Gilmar de Carvalho também merece
destaque, por ter toda sua formação acadêmica voltada para esta área do
conhecimento, a cultura popular através de versos e poesias, buscando
incessantemente difundi-la. Além disso, a literatura popular também é estudada em
outros países por se assemelhar à literatura que lá existe e por oferecer tão grande
As matrizes poéticas do cordel, guardam marcas da oralidade, do
trovadorismo e da performance. A oralidade, bastante estudada por Zumthor (1997),
é ligada ao folclore e à cultura popular. É um processo comunicativo, objeto de
tradição, através do qual as poesias são passadas adiante, sendo elas lidas ou
cantadas. E, expressando essa veia oral os cantadores, repentistas e violeiros se
reúnem em prol de um só desejo: alegrar as pessoas ao som de boas poesias e
cantorias. O Trovadorismo implicou no surgimento dos cantadores, versejadores e
poetas, por suas características. E a performance é o que hoje consiste na
interpretação ao narrar, no ato de versejar sentindo os versos.
2.1.2 O Cordel no Brasil
O cordel, segundo PARDAL (2004), foi trazido para o Brasil com os
colonizadores portugueses, no século XVII e então adaptado à realidade deste país.
Tem como função principal informar, divertir, comunicar e ensinar. Ele reflete as
mudanças na sociedade, nos seus costumes, nas suas relações sociais e na vida
das pessoas.
Sendo alimentado pelas culturas e suas dinâmicas, muitas das quais
constituídas nos cotidianos das pessoas, o cordel tem como inspiração o povo e
suas ações. Assim sendo, ele não só é inspirado pelo que vem dos orbes populares
como é feito com auxílio da população, direta ou indiretamente. A identificação do
cordel com o povo nasce, portanto, das muitas possibilidades de este se ver
retratado naquele.
O cordel é um dos mecanismos tradicionais que auferem às culturas suas
marcas. Assim sendo, ele é um veículo difusor de valores culturais tradicionais. Mas
não de valores arraigados ou perpetuados num modelo equivocado de tradição
fossilizada no tempo. Como a tradição, o cordel se nos apresenta como uma cultura
cíclica, que se renova e se reinventa o tempo todo, como acontece com a própria
população, que tem suas ações sempre atualizadas pelas ações de seu cotidiano.
A propósito disso, o Manifesto sobre aculturação (1953), apud Laraia (1992)
afirma que qualquer sistema cultural está num contínuo processo de modificação e
que o contato, muitas vezes, estimula a mudança mais brusca, geral e rápida do que
as forças internas. Entende-se então que são totalmente aceitáveis a mudança e a
adaptação das pessoas a ambientes e culturas distintas. No âmbito de formação
cultural, as pessoas têm sede de novidades e precisam conhecer o novo, o que
difere de nossa realidade, de nosso mundo. Até porque os costumes e as tradições
nunca estão acabados, vez por outra surgem novos conceitos e costumes são
adotados pelo povo à essa gama de conhecimentos já existentes, conhecidos como
cultura popular.
Voltando à análise do cordel nesse contexto cultural, de acordo com Luyten
(1992), o Brasil é o maior produtor de poesia popular do mundo. Dentro do Brasil, o
maior desenvolvimento dessa poesia foi na região nordeste, onde no século XIX
surgiram as primeiras tipografias exclusivas para impressão de folhetos. Por ser uma
terra fértil de acontecimentos populares, a literatura de cordel rapidamente fez
muitos admiradores, sendo eles leitores ou ouvintes, pois graças aos repentistas,
que cantavam poesia e improvisavam estórias, quem não sabia ler passava a ficar
sabendo o que estava escrito e fazia uso de sua memória para passar essas
estórias adiante.
Segundo o pesquisador Souza (1976), o chamado ‘’auge’’ da literatura de
cordel no Nordeste brasileiro, ocorreu de fato nas décadas de 40 e 50, do século
passado, época em que predominava a política populista de Getúlio Vargas. As
tiragens de folhetos de personalidades famosas batiam recordes.
As duas maiores festas religiosas do Ceará, de Juazeiro do Norte e Canindé,
respectivamente Festa de Padre Cícero e de São Francisco das Chagas
representam, ainda hoje, a maior aglomeração das populações rurais nordestinas,
principalmente dos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte,
Paraíba e Pernambuco. Nessas festas, ate o final da década de 70, era grande o
número de vendedores de folhetos, como também era grande a procura do público
Existe atualmente no Sudeste do Brasil a produção de folhetos que conta com
a poesia de nordestinos e paulistas, cariocas, ou mesmo pessoas de outros estados.
Mas, o folheto que lá existe difere do folheto existente no Nordeste brasileiro, pois
seu tamanho é bem maior, o estilo da capa é um pouco diferente e é colorido.
Os cordelistas cearenses Zé Maria de Fortaleza, Arievaldo Viana, Gonçalo
Ferreira, Vidal Santos, Rouxinol do Rinaré e Klévisson Viana realizam uma
campanha pela revitalização do folheto no Nordeste, fazendo o resgate do mesmo
em seu formato tradicional, bem como a reedição da obra de grandes mestres como
Leandro Gomes de Barros, José Bernardo da Silva, João Martins de Athayde, José
Camelo de Melo Resende e José Pacheco. Esse trabalho de revitalização, que já
perdura há seis anos, resultou no lançamento de mais de trezentos títulos,
promovendo uma verdadeira propagação da poesia popular impressa em todo o
Nordeste. Projetos similares vêm sendo desenvolvidos em outros estados por
instituições ligadas a literatura de cordel, como a Editora Coqueiro (Recife-PE) e a
Queima-Bucha (Mossoró-RN). E também a Academia Brasileira de Literatura de
Cordel na região sudeste do Brasil.
Leandro Gomes de Barros foi, de acordo com Luyten (1992), um dos maiores
poetas a publicar seus versos no Brasil e é até hoje o autor mais conhecido no
campo da poesia popular, tendo sido mencionado por Carlos Drummond de Andrade
como “rei da poesia do sertão e do Brasil em estado puro”; José Bernardo da Silva,
era um romeiro que chegou à cidade de Juazeiro do Norte atraído pela fé e lá
estabeleceu-se, tornando-se, posteriormente, um dos mais importantes editores de
folhetos; a princípio, fazia impressões em locais cedidos e de forma improvisada, até
conseguir montar sua própria tipografia tendo comprado o direito das publicações
de João Martins de Athayde, José Camelo de Melo Resende e José Pacheco.
2.2 O cordel através da oralidade
“A linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o
comunicação oral.” Nesse trecho, Laraia (1992) afirma que a linguagem resulta da
cultura, e a cultura não existe sem a linguagem. Portanto, afirma que a linguagem é
uma peça primordial no processo comunicativo e, consequentemente, na cultura. A
cultura popular é difundida de muitas formas, pela linguagem gestual, escrita, visual,
entre outras. Porém, a mais abrangente de todas ainda é a oral.
Segundo Zumthor (1997), a palavra constitui a manifestação principal, mas
não é a única, nem talvez a mais vital. Através da oralidade atinge-se pessoas que
não têm acesso à leitura. Enfim, uma gama infinitamente maior de pessoas.
Entende-se por oralidade um enunciado com um ou com vários discursos que
ultrapassam o valor do diálogo entre pessoas. E que revelam a necessidade do
homem de externar sentimentos através da palavra.
A voz surge como resposta a uma necessidade vital do homem de
comunicação mais próxima e por meio de sons. Ainda seguindo o pensamento de
Zumthor (1997), o folclore foi uma das formas de difusão da oralidade, desde a sua
descoberta no século XIX, pois histórias eram contadas e poesias eram criadas e
cantadas, sendo posteriormente utilizadas até como músicas. Essas manifestações
tinham como principal público a classe popular.
Neste final de século XX, nossa oralidade não possui mais o mesmo regime
dos nossos antepassados. Viviam eles no grande silêncio milenar, em que a voz
ressoava como sobre uma matéria: o mundo visível em sua volta repetia-lhes o eco.
“Estamos submersos em ruídos que não podemos colher, e a nossa voz tem
dificuldades em conquistar seu espaço acústico; mas basta-nos um equipamento ao
alcance de todos os bolsos, para recuperá-la e transportá-la em uma valise.”
(Zumthor, 1997)
A sociedade atual, com todo o desenvolvimento tecnológico a que tem
acesso, está se acostumando com todas as tecnologias e desaprendendo a lidar uns
com os outros. O contato com o outro é de extrema importância e hoje é cada vez
mais difícil às pessoas se ouvirem, pois o excesso de sons e de ruídos é, por vezes,
ensurdecedor. E é disso que nos fala Zumthor (1997). As pessoas não ouvem mais
vida moderna, que em alguns momentos ajuda e em outros, atrapalha a vida das
pessoas.
Os discursos anônimos da tradição oral caracterizam-se por uma transmissão descontrolada, boca a boca, ao longo da qual a forma do testemunho pode se perder e o conteúdo variar. Às vezes, estas mudanças dependem da necessidade de criar um ambiente, da fantasia do transmissor ou de seu desejo de interessar uma audiência distinta; outras perseguem um objetivo estético-ético-didático, mas sempre desempenham uma função na comunidade em que se originam e sobrevivem. (REYZÁBAL, 1999, p.264)
A comunicação se dá, entre outras formas, através da oralidade e a partir dela
são percebidos costumes e culturas, como gírias, expressões, formas de tratamento
que variam de acordo com alguns fatores. Enfim, ela é uma grande fonte de
informação. O teatro popular, que consiste na contação de estórias em locais
públicos, teve sua origem em autos medievais, tinha grande participação do público
e era composto por estórias críticas e irreverentes.
A literatura popular, de acordo com Luyten (1992) se reporta a tudo o que é
criado pelo povo. Ela é a representação da forma escrita de manifestações
tipicamente orais, como poesia e prosa.
No século XII, originou-se no Ocidente a literatura popular, sendo esta uma
literatura que retrata o povo, e difere da cultura erudita, por sua origem e suas
características, pois apesar de possuir regras como qualquer outra, precisa retratar
sentimentos e defender pensamentos da população. Era difundida através de
peregrinações onde as pessoas contavam estórias umas para as outras, em alguns
casos eram encontros de poetas nômades que contavam novidades e cantavam
poemas de aventuras e valentias. Em países como a Índia, ainda hoje são muito
comuns cantadores oficiais de estórias.
Uma das manifestações culturais mais fortes é a poesia, por sua
dinamicidade e força de expressão. E ela oferece uma constante mudança,
sentimentos, costumes e crenças. E na poesia popular, a oralidade também é uma
grande aliada, pois antes de ser impressa só existia de forma falada. Mas,
pertencentes à literatura popular podemos citar ainda os contos, mitos, anedotas,
que se apresentam em forma de prosa.
A poesia pode ser classificada em fixa e móvel, sendo a fixa composta por
poemas e versos decorados e passados a diante e, a móvel é formada por poesias
que são criadas no momento, são improvisações de poetas, mais conhecidas como
repente. O repente geralmente é acompanhado por uma viola, onde são cantadas as
mágoas e as alegrias da vida, o passado e o presente.
O folheto possui um importante papel de criticar a sociedade e suas mazelas
de forma bastante irreverente e externando a opinião do povo. Kunz (2001) afirma
que “... ainda que exprima de modo espontâneo uma crítica social sem palavras de
ordem que coalizem, o poeta oferece ao seu público, através de seus versos, uma
forma de revanche poética.” Folhetos noticiosos, por exemplo são bastante utilizados
para aludir a fatos reais e, algumas vezes para criticá-los, podendo fazê-lo mais
discretamente ou de forma bastante exposta.
O povo não possui muitos meios de expressar suas desilusões e
desaprovações diante de questões como política, desigualdade social, fome, entre
outros. Deste modo, ele enxerga no folheto uma forma de extravasar idéias e vê-las
impressas e difundidas pelos folhetos. Assim, sente-se conforto de saber que o seu
pensamento é compartilhado por outras pessoas.
Nessa arte podem ser citados muitos poetas, mas um dos mais conhecidos
no Brasil e até em outras partes do mundo é Patativa do Assaré, grande gênio
cearense na arte de escrever poesia e também na de versejar. Ele soube como
ninguém retratar o seu povo, suas origens e sua cultura fazendo uso de artifícios
puros e simples, mas bastante cativantes, o que o tornou o grande ícone que é
atualmente e fez com que suas obras fossem estudadas até na França, apesar de
no Brasil não serem tão valorizadas como deveriam. A seguir, é mostrada uma
... esse poeta do povo
um defensor do agreste
Quando faz um verso novo
Traz o canto do Nordeste
Que tem o cheiro da roça
a pobreza da palhoça
E a fome tão tirana,
Mas sua voz é ativa
Qual cantar da patativa
Lá na Serra de Santana...(Lucarocas, 2002, p.3)
A forma como é escrito, com rimas e musicalidade tornam o cordel mais
apropriado para ser narrado ou cantado. Dentre as formas de versejar, a mais
comum é a sextilha, mas também existem o martelo agalopado, o quadrão, o
mourão e muitas outras.
Antigamente, o trovador de cordel vivia exclusivamente de seus livros, ele ia ter contatos com o público, ele ia pra feiras, cantava. Eu por exemplo transmitia a minha mensagem lendo os meus folhetos, fazia graça, assumia o papel do personagem no folheto, se chorasse, eu chorava; se gritasse, eu gritava. Tinha outros que cantavam. Hoje, o mercado não é como era. Hoje, nós vendemos, mas sem ler, sem cantar os nossos folhetos. Rodolfo Cavalcante (1980 apud KUNZ, 2001)
Na citação acima percebe-se um comentário feito por Rodolfo Cavalcante, a
respeito das mudanças do público com relação ao cordel. O poeta popular, em
alguns casos, tinha como único meio de sustento seus folhetos, e então saía
peregrinando pelas feiras e festas populares, aonde montava sua banca ou somente
colocava seus folhetos expostos sobre uma mala e começava a cantoria, versejando
o que estava ali escrito em forma de canção. Mas, muitos desses poetas hoje,
sentem a diferença de não ter tanto contato com o seu público, e percebem que vem
diminuindo o número de admiradores e leitores dos folhetos convencionais,
enquanto um novo público vem surgindo há algum tempo. E além de terem
precisado aderir a temas urbanos, passaram a mesclar temas fantasiosos com
O cantador ou o repentista tem em suas vozes autoridades diante do público
e o que eles falam é visto como verdade, principalmente em cidades pequenas. Ele
ocupa o papel de comunicador, informador, mediador de informações, divulgador da
cultura popular, apresentador em programas de cantorias, e também de vendedor
pois com sua mensagem consegue envolver o público facilmente.
Os violeiros, porém, são mais hábeis e pródigos, na expressividade de sua
arte, do que os “historiadores”, pois sabem dizer o seu pensamento e os sentimentos
com mais graça, ritmo, conteúdo e forma, afirmam Amâncio e W. Pereira (2004). O
cantador é um poeta popular que canta poesia com a intenção de atingir o povo, a
massa. Esta arte constitui em cantar de forma improvisada, versos que saem de
suas almas. É a tradicional cantoria de viola. Costumeiramente acontece uma
disputa entre dois cantadores, chamada de peleja, na qual, através de versos e
assuntos improvisados testam suas habilidades na improvisação de formas orais de
poesia. Algumas vezes com assuntos indicados pelo público. O primeiro canta um
verso que seja, ao mesmo tempo uma armadilha para deixar o outro sem resposta.
Então o segundo, sem fugir do assunto, tem que responder à altura, e assim por
diante até que um não tenha resposta para o verso anterior, o que muitas vezes não
acontece. Em algumas ocasiões, nas respostas, surgem coisas surpreendentes e
inesquecíveis, que revelam a imaginação e a agilidade mental desses poetas
rústicos, afirma Benevides (1980).
Amâncio e W. Pereira descrevem o cantador como “algo magnífico, sua
espontaneidade é instintiva, natural como as fontes ou as brisas errantes que
despertam as matas e caatingas nas antemanhãs”. O poeta popular nasceu com o
dom de versejar, de criar, de improvisar e de tocar o outro no fundo de suas almas.
Consiste em algo divino. Pois, liga os homens de maneira improvisada, simples, mas
2.3 A poesia popular impressa
A princípio, houve a invenção da imprensa, o que revolucionou o mundo
literário, por tornar mais acessíveis obras diversas. De acordo com Merklin (1988),
em meados do século XV, Johannes Gensfleisch zum Gutenberg, alemão,
desenvolveu um sistema de prensas móveis de metal. Ele gravava cada sinal (letra,
acento ou pontuação), sobre um buril de metal bastante duro que pressionava sobre
um metal macio, obtendo assim a matriz em que eram fundidos os tipos ou
caracteres em uma liga de chumbo, antimônio e estanho. Para imprimir no papel,
Gutenberg construiu uma prensa manual de madeira, com parafuso sem fim,
semelhante às utilizadas na fabricação do vinho.
Os tipos eram colocados na máquina, manualmente, um a um na hora da
composição do texto. Para garantir um melhor aproveitamento da tinta, o papel era
molhado antes de ser impresso. E a esse acontecimento se denominou ‘revolução
da imprensa’, que tornou a produção bem mais rápida e as obras literárias tiveram
seu custo bastante reduzido, o que incentivou o aumento do número de leitores. A
partir de então, a arte da impressão se espalhou rapidamente por toda a Europa. E,
baseados no tipo móvel criado por Gutenberg, foram adaptados e criados vários
outros até se chegar às máquinas de alta tecnologia dos dias atuais.
No processo de impressão gráfica são utilizadas atualmente em todo o
mundo, inclusive no Brasil, máquinas de grande porte para impressões com maior
rapidez, precisão, qualidade e em maior quantidade. Esse grande desenvolvimento
da imprensa, tornou a impressão uma novidade disponível e acessível a uma gama
de pessoas muito maior.
Dentre os vários tipos de informação gerados a partir da imprensa, podemos
citar a poesia popular. O cordel é esta poesia de forma impressa. Após a invenção
da imprensa os jornais, folhetos, folhetins passaram a exercer mais influência sobre
as pessoas que tinham um poder aquisitivo relevante. A partir do surgimento de
tipografias exclusivas na produção de folhetos de cordel, estes se tornaram mais
O século XX foi o apogeu das impressões de literatura popular, tendo sido
impulsionado pelo desenvolvimento da imprensa. Um grande passo para a
passagem do oral para o escrito em solo cearense, de acordo com Carvalho (1994),
se deu na emancipação política de Juazeiro do Norte, pois as poesias eram lidas e
cantadas, e então as pessoas queriam levar aquela poesia junto de si, de forma
material, por esse motivo os folhetos passaram a existir e sua popularidade cresceu
bruscamente.
Entretanto, Aracati foi a primeira cidade no Ceará, a produzir jornal em 1831 e
possuir três gráficas (entre 1860 e 1869), enquanto a edição de folhetos no Ceará
passou a existir primeiramente em Juazeiro do Norte, que a partir da chegada de
Padre Cícero Romão Batista, em 1872, passou a ser a mais populosa, significativa e
importante cidade do interior cearense. Essa supremacia de Juazeiro fez com que os
folhetos produzidos nesta cidade fossem mais divulgados e vistos por um público
bem diversificado. E por esse motivo os folhetos eram consumidos por pessoas de
toda parte do Nordeste. Entre eles estava o romeiro José Bernardo da Silva, que
passou a ser um dos mais importantes editores de folhetos.
Surgiram várias tipografias, de acordo com Carvalho (1994), sendo que a
maioria delas era de caráter familiar, e com a morte de seus donos o acervo da
mesma era vendido à outra tipografia. Entre elas podem ser citadas, a “Tipografia
Minerva”, em Fortaleza, no ano de 1892, a primeira gráfica a imprimir folhetos, tendo
ela posteriormente seus direitos de publicação adquiridos por Olegário Pereira Neto,
que já possuía uma folhetaria em Juazeiro do Norte chamada “Santa Lúcia do
Norte”, e depois de sua morte em 1946, este acervo foi passado para o nome de
José Bernardo da Silva; a “Luzeiro do Norte”, de João José da Silva, em Recife; a
“Tipografia São Francisco”, de José Bernardo da Silva, em Juazeiro do Norte, entre
outras.
A “Tipografia São Francisco” foi a mais expressiva gráfica de folhetos
existente no Ceará, segundo Carvalho (1994), e surgiu de maneira bem simples e
improvisada na Diocese do Crato e na Tipografia Cariri. Mas, com a aquisição de
uma máquina a pedal, o negócio se aprimorou e José Bernardo comprou vários itens
Editora em caráter artesanal. Era muito popular na cidade e no ramo da poesia.
Houve muitos incentivos à produção dos poetas em suas terras para que as
divulgassem. Porém, a “São Francisco”, teve um rumo tumultuado após a morte de
seu proprietário, José Bernardo da Silva, em 1972. Sua família tentou dirigir a gráfica
mas, com o tempo chegou a conclusão que seria melhor vendê-la, pois estavam
sendo feitas mudanças sem base no seu mercado consumidor. Depois disso,
passou-se então a posse para a Secretaria de Cultura do Estado do Ceará e teve
seu nome modificado para “Lira Nordestina”. Ao comprá-la, a SECULT doou à
Academia Brasileira de Cordel (ABLC), que no Ceará seria administrada pelo Centro
Cultural dos Cordelistas do Nordeste (CECORDEL). A sede da "Lira" era na região
do Cariri, interior do Ceará e, em 1988, a URCA que tem sede na cidade assume a
responsabilidade da "Lira" levando-a para seu Campus. Hoje ela só imprime folhetos
de terceiros e da própria URCA.
Percebe-se que, várias tipografias surgiam e logo fechavam suas portas, por
falta de estrutura, ou por questões de saúde do proprietário, como a Folhetaria São
Joaquim, em Guarabira (PB), que mudou seu nome para Graças Fátima e por
questões familiares vendeu seu acervo a Manoel Caboclo. Podendo ser percebida a
dificuldade em gerenciar e entender o negócio.
Leandro Gomes de Barros, foi um dos primeiros poetas a publicar seus
versos no Brasil e é até hoje o poeta mais conhecido da literatura popular brasileira.
De acordo com Carvalho (1994), ao morrer em 1918, Barros teve toda sua obra
adquirida por João Martins de Athayde, tendo este feito uma substituição do nome
de Barros pelo seu, na reedição de alguns folhetos. João Martins tinha sua própria
editora, mas após um problema de saúde vendeu tudo para José Bernardo da Silva,
com Escritura de Compra e Venda registrada em Cartório. As tipografias e editoras
especializadas na produção de folhetos são verdadeiras "fábricas de tesouros", pois
apesar de em alguns casos a produção não ser feita em larga escala, são feitas com
muito capricho.
Abordaremos uma outra questão dos folhetos, o seu interior, a sua essência,
veremos um pouco sobre as formas de seus versos. Por exemplo, a sextilha é a
anteriormente. Além dela temos também a setilha, a gemedeira, o mourão de sete
pés, o mote, o martelo agalopado, entre outros. Como acontece com a sextilha,
nessas outras formas são utilizadas regras de versificação que designam quantos
versos terá na estrofe, quantas sílabas no verso e os pares de estrofes que vão
rimar entre si.
Na forma impressa, um grande atrativo é a capa do folheto que geralmente é
composta por gravuras que produzem as matrizes das xilogravuras, arte de gravar
em madeira. Pode-se ver abaixo uma figura da arte desenhada na madeira, para
depois ser transferida para o papel.
Figura 1 - Arte em madeira
Fonte: Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC)
Acredita-se que a origem da xilogravura seja chinesa, sendo conhecida desde
o século VI. No Ocidente, ela já se afirma durante a Idade Média através das
iluminuras e confecções de baralhos. Mas até então, a xilogravura era apenas
técnica de reprodução de cópias. Só mais tarde é que ela começa a ser valorizada
como manifestação artística em si. Poderemos visualizar abaixo dois exemplos de
Figura 2 - Lampião e Maria Bonita Figura 3 - A cura do boi
Fonte: Site da UFPe Fonte: www.arara.fr
Xilogravuras
Ao lado da literatura de cordel, essas xilogravuras refletiam ideais, anseios e
sonhos do homem nordestino. Segundo Carvalho (2005), elas passam a mensagem
da poesia juntamente com o texto, apesar de seu impacto ser às vezes o fator
decisivo de vendas, antes de se ler o texto. Afinal ela acaba se configurando como
uma espécie de propaganda do cordel. Alguns de seus principais profissionais são
Abraão Batista (Juazeiro); Dila (Caruaru); Ciro Fernandes (Rio de Janeiro); José
Costa Leite (Condado); Marcelo Alves Soares (São Paulo); Minelvino Francisco Silva
(Itabuna); Severino Gonçalves de Oliveira (Recife).
A partir do surgimento das tipografias, apareceram juntamente os
autores/editores, tendo este grupo como maior personalidade e mais atuante nome,
Leandro Gomes de Barros. Autores-editores eram aqueles poetas que criavam e
produziam seus folhetos e de outros. Às vezes acontecia de um folheto ser feito e o
autor não fazer questão de que seu nome fosse indicado na autoria, então ele perdia
sua autoridade em detrimento do editor-proprietário. Entretanto, aconteciam
também, casos em que os editores omitiam por conta própria o nome do autor e
destinavam a si mesmos a autoria dos folhetos.
Após a Revolução Industrial, a concorrência com o cordel aumentou, pois
surgiram o rádio, depois a televisão, os jornais, as novelas, as revistas, e as pessoas
cômodo. Então, aconteceu uma multiplicação de temas, a fim de manter o público
dos folhetos. Os temas variavam de casamentos a aniversários, anedotas a lendas,
notícias, entre outros. Mas, o folheto noticioso é o que faz mais sucesso ainda hoje,
e é um dos meios mais utilizados na divulgação de notícias da atualidade. A seguir
Kunz (2001) faz um comentário acerca dessa modalidade de folheto:
Os objetivos desse novo tipo de folhetos são vários. Eles podem cumprir uma função pedagógica pela vulgarização de conhecimentos técnicos, pretender difundir os direitos do cidadão ou propor novas idéias, lançar-se a campanhas propagandistas a serviço de homens políticos, ou em prol de comercialização de produtos.
São usados em vários meios como veremos adiante, sendo eles motivados
pela educação, pela publicidade, como suporte e veículo de informação, como
divulgador de história, entre outros. Contempla várias áreas e ainda transporta e
transmite uma cultura local, portanto é um veículo que tem todos os elementos
necessários para que a comunicação aconteça plenamente.
As manifestações populares impressas foram adaptando-se à modernidade
por questão de sobrevivência. Sua confecção hoje é de melhor qualidade, utiliza
recursos mais avançados, os temas são bem mais diversificados e atuais de forma
que possam atrair um público maior e mais satisfeito.
O cordel, para sobreviver, absorveu esses recursos tecnológicos para se manter vivo e adequado aos padrões e exigências do público atual. Hoje, o cordel é uma produção híbrida, que mistura vários elementos do passado e do presente. (FROTA, 2004, p.13)
O folheto foi obrigado a se adaptar à atualidade e as tecnologias como meio
de sobrevivência, verdadeiramente, pois precisou se modernizar, sem deixar de lado
suas características principais, como poesia, verso, melodia, sentimento, mas se
inserindo em novos meios para que não perdesse seu público e pudesse também
Os cordéis em Fortaleza existem atualmente em locais especializados na
venda de cordel, como a banca do Centro Cultural de Cordelistas do Nordeste,
CECORDEL que fica no Largo dos Correios e a Editora Tupynanquim, na Praça do
Ferreira. Além de alguns folheteiros que divulgam folhetos em eventos, bancas e
feiras abertas ao público.
2.4 O cordel ganha espaço na mídia
Os poetas populares descobriram seu papel social, como porta-voz e autor de
um texto que reflita os desejos, as aflições e os medos do povo, afirma Carvalho
(1994). A informação vem sofrendo, nas últimas décadas, um crescimento
desenfreado e a sua grande utilização implicou no surgimento da tecnologia. E esta
vem constantemente sofrendo avanços, resultados das necessidades do homem
aliadas à pesquisa e a informação. Com o avanço tecnológico, alguns autores
pessimistas diziam que os suportes informacionais impressos tenderiam a
desaparecer em pouco tempo e a realidade vêm mostrando o contrário. A mídia tem
o seu espaço consolidado, mas acredita-se que os livros e todos os materiais
impressos não irão desaparecer por conta disso. A mídia e a imprensa podem
conviver de maneira salutar, pois ambas têm limitações e uma complementa a outra.
O cordel vem conquistando espaço nas ramificações da mídia, no rádio, na
televisão e na internet. Aliás, ele possui características midiáticas que serão
analisadas no último capítulo deste trabalho. Dentre essas características podemos
já adiantar a sua intenção e predisposição para a informação; o modo como o cordel
transforma fatos em notícias; o modo como as divulga; a mesma tendência midiática
à espetacularização; sua inclinação a emitir juízos de valor e opiniões, absorvendo o
potencial opinativo da mídia, bem como o modo atual com que a mídia faz suas
ancoragens de notícias, mensagens e informações etc. Uma outra característica
midiática do cordel é o modo como ele pauta nosso dia-a-dia e agenda informações.
Ou seja, para muitos o cordel faz parte verdadeiramente de suas vidas e de forma
bastante presente. Ele cumpre a missão que vários outros veículos informacionais
Essa trajetória midiática do cordel começou quando alguns cantadores e
repentistas conseguiram espaço em programas de rádio, apresentado cantorias e
recitando poesias, geralmente em cidades de interior nordestino, difundindo a
oralidade do cordel. Isso se dá em proporções muito maiores, pois as ondas do rádio
vão muito mais longe e alcançam um número de lares cada vez maior.
2.4.1 O cordel e suas facetas midiáticas
O cordel é uma manifestação da cultura popular que procura abranger
diversos assuntos, de diversas áreas, desde que sejam ricos e importantes.
Assuntos polêmicos podem causar reações diversificadas na população, como
aborda Kunz (2001), ao se reportar ao caso de folhetos relatando o milagre de Padre
Cícero, que sofreram censura, não tendo isto impedido que alguns poetas se
arriscassem a escrever sobre Padre Cícero e sua grande importância para o povo
nordestino.
Além de ter um poder fascinante sobre as pessoas, a cantoria as aproxima de
sua terra, como se as deixasse mais próximos da própria essência. E as deixa
saudosas, talvez de uma época que não viveram ou de um lugar que não
conheceram, e as fazem querer bem mais da vida e de forma bem mais singela,
como simplesmente ouvir uma bela poesia cantada ou recitada. E são essas
características responsáveis por sua sobrevivência mesmo nos grandes centros.
A partir da 2ª metade do século XX, passam a ser produzidos folhetos sob
encomenda, sendo que grande parte destes era de cunho comercial. O folheto
noticioso faz uso de acontecimentos atuais, para retratar de forma mais irreverente
casos marcantes. E também para noticiar como um bom veículo de informação
deve fazer. Então, acabam tornando mais fácil o entendimento de certos assuntos
que são veiculados, por vezes, de maneira um pouco complicada principalmente
para quem não tem muito "conhecimento". Assuntos como morte de alguma pessoa
famosa ou acontecimento marcante, como a vitória de algum candidato à eleição,
assuntos esportivos entre tantos outros. Um exemplo disto é o folheto Brasil
(PB) foi publicado juntamente com vários outros folhetos. Este projeto surgiu com o
intuito de editar obras de poetas veteranos e novatos. Então alguns folhetos prontos
foram aproveitados e outros foram feitos especialmente para serem divulgados no
momento atual.
O cordel informa, pois trata de assuntos diversos, explicando-os e podendo
atingir um público totalmente amplo a partir desse método. Ele divulga, comentando
novidades, sejam elas materiais ou não, entre os quatro cantos do folheto,
despertando o interesse naqueles que ainda não conhecem o produto. E noticia,
através de seus folhetos noticiosos, torna a informação mais próxima e mais fácil de
se assimilar.
2.4.2 O cordel com espaço de divulgação e manifestação na grande mídia
Os anúncios também fazem parte dos programas de cantoria e repente, pois
com o dom de envolver e conquistar as pessoas os anunciantes estariam com
certeza fazendo um bom negócio. Em programas de televisão como Ceará Caboclo
(da TV Ceará - Canal 5), Nordeste Caboclo (da TV Diário - Canal 22) e Ao som da
Viola (também transmitido pela TV Diário), que são apresentados por poetas, são
valorizados os aspectos de cantorias, repentes e da cultura popular. Algumas
revistas e jornais abordam, vez por outra, matérias relacionadas ao cordel e sua
utilização como incentivo à leitura e valorização da cultura, entre suas várias outras
facetas.
A regionalidade passou a existir na publicidade cearense para fazer com que
esta região fosse mais valorizada. Para caracterizar uma cultura local se faz
necessário usar expressões características, citações de tipos populares até se
chegar à criação de oportunidades e negócios, recriação folclórica e fugir ao
lugar-comum. Carvalho (2005) nos diz que os cordéis têm sido cada vez mais usados para
fins comerciais, como divulgação, ou propagandas políticas. E isso foi uma
estratégia de marketing, pois, ao usar o folheto como meio de divulgação, se fazia
proximidade principalmente com o povo nordestino.
A publicidade passou a fazer esse trabalho na divulgação de grandes
empresas, a fim de se aproximar do povo simples. Uma linguagem própria das
regiões passou a ser incrementada, o que para uns era bom, pois divulgava a
cultura, e linguagem local, para outros era ruim, pois estereotipava um povo.
Poetas ou, às vezes pessoas que não são do ramo, escrevem sob
encomenda poesias envolvendo produtos e marcas e a quarta-capa do folheto é
aproveitada para divulgação destes, idéia essa que há algum tempo já vinha sendo
utilizada para colaborar nos custos dos folhetos, mesmo os que não são de cunho
comercial.
E finalmente, o cordel chegou à internet. Segundo Gadzekpo (2004), o cordel
brasileiro ganhou seu primeiro site na 2º metade da década de 1990, como
home-page de José Honório da Silva. O site é composto por cordéis de sua autoria,
pesquisas na área, sites interessantes, xilogravuras, recanto da viola e livro de
visitas. No mesmo, são apresentados estudos sobre Leandro Gomes de Barros e
Pinto de Monteiro, da autoria de Pedro Nunes Filho que se utiliza de depoimentos de
Luís da Câmara Cascudo, João Martins de Athaíde, Severino Nunes de Farias e
Carlos Drummond de Andrade, para dar ênfase a seu discurso.
Gadzekpo (2004) apud Franklin Machado: "...nas décadas recentes com
xerox e offset, o cordel sobreviveu naquilo que lhe compete concretizar qualquer
tema que um poeta projete." O cordel na internet é mais uma de suas facetas e
formas de exibição, mas não perdeu as origens populares da oralidade do folheto da
literatura de cordel. É apenas mais uma forma de disseminação, mas que não
substitui as anteriores, em forma de cantorias e folhetos.
Enfim, fica claro que o computador é apenas mais um recurso, talvez o último
na linha de métodos da comunicação humana. O importante papel da informática é a
facilidade, economia, rapidez de produção e divulgação. Mas ainda não abrange a
3 INFORMAÇÃO E COTIDIANO: O FOLHETO PUBLICANDO SOLUÇÕES
Falou-se até aqui das ações e manifestações do cordel entre nós e de suas
relações com a cultura popular e, mais precisamente, com a cultura do Nordeste
brasileiro. A fim de ampliar suas ações de cunho informacional para, no último
capítulo, demonstrarmos suas características midiáticas, abordaremos aqui alguns
conceitos de informação e processos informacionais.
Essas abordagens objetivam enfocar o cordel não como uma mera ‘fonte de
informação’, posto que gostaríamos de realçar suas formas de expressão e
comunicação mais do que sua forma física, como comum e equivocadamente muitos
fazem, mas como uma expressão de caráter informacional e mediador entre as
informações veiculadas e suas respectivas demandas.
Assim, portanto, interessa a este capítulo elucidar alguns conceitos de
informação a fim de aplicar-lhes sobre as ações informacionais dos cordéis nas
variadas formas de mediação que eles estabelecem entre as informações e
mensagens que veiculam e as necessidades destas para a vida das pessoas. Esses
esclarecimentos preliminares elucidarão de modo mais preciso as facetas
informacionais e midiáticas do cordel no contexto das comunicações. O cordel vem
sendo apresentado neste trabalho não apenas como uma fonte física e material de
informação, mas como uma expressão comunicativa e informacional que guarda
semelhanças muito próximas com a mídia em geral.
3.1 Informação: conceitos e processos
Informação consiste no conhecimento inscrito (registrado), em forma escrita
(impressa ou digital), oral ou audiovisual, em um suporte (Le Coadic, 2004). Com
base nesta afirmação, percebe-se que não importa o suporte no qual a informação
esteja armazenada, mas a partir do momento que forma algum sentido e tem um
Le Coadic, 2004), a informação é produto, uma substância, uma matéria. “É um
termo muito abrangente utilizado para fazer referência a todo e qualquer tipo de
dado. Informação é o termo que designa o conteúdo daquilo que permutamos com o
mundo exterior ao ajustar-nos a ele, e que faz com que nosso ajustamento seja nele
percebido. Viver de fato é viver com informação”. Wiener (apud Mc Garry, 1999).
O objetivo maior da informação é a apreensão de sentidos, que possa levar à
construção do conhecimento. Como foi visto nos demais documentos, a informação
é formada por dados, que juntos fazem com que a mesma tenha algum sentido e
exerça sobre quem a recebe possibilidades reais de aquisição de conhecimentos
com os quais possamos intervir no curso de nossas vidas.
Duas vertentes são importantes para o futuro da informação, que são a
importância da linguagem e a acessibilidade à informação. Ou seja, é preciso que a
comunicação exista de forma correta a partir da linguagem, seja ela verbal ou escrita
para melhoria na troca de informações. Além disso, a acessibilidade da informação,
gerada pelas novas tecnologias, tornou mais prática a vida das pessoas referente a
pesquisas diversas, onde independente da distância física poderá se acessar, como
por exemplo, a Internet.
A informação deve ser ordenada, estruturada ou contida de alguma forma,
para que possa ser utilizada quando necessário. Ela tem uma relação profunda com
a comunicação. A comunicação é dependente da informação, pois toda
comunicação consiste na transmissão de uma informação entre partes; se nenhuma
informação é transmitida não há comunicação.
Entretanto, um novo tipo de conhecimento que gera informação e vêm sendo
desenvolvido é o tecnológico que envolve as novas mídias, suportes e formatos de
apresentação dessas informações. Fernandes e outros (2005) fazem um apanhado
sobre a questão tecnológica, onde afirma que a informação é a responsável por
todos os avanços e desenvolturas ocorridas nos últimos tempos.
O desenvolvimento tecnológico chega a um ritmo muito intenso. A informação passa a ter muita importância para o homem. A velocidade com que novas informações são geradas cria a necessidade ao homem de permanente atualização. Grande ênfase é dada à comunicação, um volume maior de informação é transmitido a distâncias cada vez maiores em tempos progressivamente menores. O acesso a determinadas informações possibilita às pessoas vantagens de ação antes inexistentes. O homem passa a ser encarado como um processador e um agregado de informações.
O homem através da informação e da tecnologia supera cada vez mais os
limites antes existentes, a ponto de, hoje ser um grande curioso, que ao ponto que
deseja descobrir, aprender e comprovar mais, ele descobre que mais e mais coisas
tem a se conhecer.
É crescente a necessidade atual de estar informado, de se capacitar quanto
ao conhecimento adquirido, termo muito utilizado atualmente para definir a tentativa
do homem de acompanhar os avanços e as constantes mudanças em meio à
explosão informacional existente no mundo de hoje.
O processo informacional compõe um ciclo, formado por produção,
distribuição e consumo. A produção consiste no ato de compor as informações,
formulá-las; consequentemente, a fase de distribuição é composta por distribuir
essas informações produzidas a fim de que fiquem disponíveis para consultas; e o
consumo, como a própria palavra já diz, é o ato de pesquisar, entrar em contato,
acessar essas informações.
Fig. 4 – Tecnologias da informação