• Nenhum resultado encontrado

3. INFORMAÇÃO E COTIDIANO: O FOLHETO PUBLICANDO SOLUÇÕES

4.4 Cordel na educação

A educação é um processo de repasse de conhecimentos, orientação sobre regras, normas e ensinamentos estabelecidos por uma instituição de ensino, pela família, ou também pelo círculo de convívio. Nas séries iniciais da escola acontece o primeiro contato com esse novo mundo, onde se aprende a conviver em sociedade, fazer atividades em grupo e a linguagem se desenvolve mais com novos termos adquiridos.

Reyzábal (1999), nos diz que “Educação é um processo de adequação ao meio natural, cultural e social. Alimenta-se de atividades de assimilação,

acomodação e transformação, pois o indivíduo reúne informações do seu meio para oferecer uma resposta ativa.”

Através da educação são moldados vários aspectos do ser humano, e isso se dá através do contato e da convivência, a ponto que são adquiridos costumes e linguagens próprias de determinados meios.

Nesse momento a linguagem e a comunicação surgem como mediadoras das pessoas com o mundo, fazendo-as interagirem através de códigos, símbolos e sinais. Podendo estes serem variáveis de acordo com a cultura. Dentre os códigos, temos a oralidade, forma de expressão mais utilizada e mais dinâmica do que a escrita. Através da qual acontecem contatos, descobertas, diálogos, trocas,

ensinamentos, enfim uma série de eventos sociais do dia-a-dia das pessoas.

Um dos âmbitos onde se pode utilizar a oralidade é a educação, transmitindo informações, proporcionando às pessoas a percepção correta de sua língua para que saibam então debater assuntos diversos. O incentivo à leitura é uma questão bastante trabalhada por professores, educadores e profissionais da área educacional. A leitura, por ser algo novo para estudantes das séries iniciais, precisa se fazer presente no meio de estudos e de vivência dos alunos, para que nesse período de adaptação à novidade possa nascer o gosto pela leitura.

Desenvolver atividades com o cordel na escola é interessante por ser uma leitura gostosa, por sua riqueza poética como os recursos da rima, ritmo e musicalidade, que facilitam a memorização. Além de ser uma literatura acessível e de fácil compreensão, ela facilmente cativa um público numeroso e variado.

Dentro da poesia popular, segundo OLIVEIRA (2004), existe um gênero que se chama poesia matuta, onde os versos são escritos da forma como são falados pelo matuto, erroneamente de acordo com as normas da gramática, e mostrando sua suposta ingenuidade. Essa poesia é essencial para alunos de séries iniciais, que estão aprendendo a ler e escrever, pois, passam a conhecer essa linguagem desde cedo, adaptando-se a ela. Para que não corram o risco de copiar o erro adiante. Por ser um inspirador para as crianças, com as poesias, as rimas, e por estar escrito

elas podem acreditar que aquilo está correto, o que vai de encontro com a crença imposta pela sociedade desde cedo que o que está registrado de forma escrita ou impressa é a verdade absoluta.

Fig. 5 - Cordel sobre educação no trânsito Fig. 6 - Cordel sobre educação ambiental

Fonte: Site da Secretaria Municipal de Fonte: Site da Agência Estadual de Transportes do Rio de Janeiro Meio Ambiente e Recursos Hídricos

de Pernambuco

4.4.1 O folheto como incentivador de leitura

Fig. 7 - Coleção Baião das Letras Fonte: Site da Editora Tupynanquim

A Secretaria de Educação do Estado do Ceará (SEDUC) vem distribuindo desde o final do ano de 2006, vários folhetos e pequenos livretos de cordéis, que

foram adaptados para quadrinhos ou simplesmente ilustrados, aos professores da rede estadual de ensino, para que estes sejam trabalhados em sala de aula, pois todo cordel traz uma lição e esta pode ser debatida em sala de aula com os alunos.

De acordo com uma matéria feita por Denise Pellegrini (2006), na Revista Nova Escola, estudar cordel aprimora a escrita ao permitir a percepção da diferença entre a língua escrita e a falada, aproxima os alunos da cultura popular e incentiva o gosto pela leitura. Nela foi mostrada a força de vontade e o empenho de uma professora em cativar seus alunos e passar um pouco da cultura popular retratada nos folhetos.

A professora Francisca das Chagas Menezes Sousa, personagem da matéria feita por PELLEGRINI, fez um mutirão na localidade de Cágado, distrito de São Gonçalo do Amarante (CE), recolhendo doações de folhetos que os moradores tinham, a fim de trabalhá-los na Escola Municipal João Pinto Magalhães, com alunos de 8º série o projeto “Cordel: rimas que encantam”, com o qual conquistou o prêmio Victor Civita de Educadora do Ano -2006.

O cordel foi escolhido por retratar uma linguagem muito próxima daquelas crianças, que vivem em meio a estórias e cantorias de avós e pais. Os alunos de Francisca das Chagas, durante essa pesquisa desenvolveram muitos aspectos e talvez o mais importante tenha sido a diferenciação da linguagem falada e da escrita, com isso eles passaram a ter mais interesse pela leitura, pois tinham um melhor entendimento da língua e das regras.

4.4.2 Projeto Acorda Cordel

A importância de estudar o cordel em sala de aula vêm sendo enfatizada em projeto ousado e inovador, que tem como título “Acorda Cordel na sala de aula”, coordenado pelo poeta popular, radialista, ilustrador e publicitário cearense Arievaldo Viana, nascido aos 18 de setembro de 1967, na cidade de Quixeramobim, interior do Ceará, terra que também viu nascer o beato Antônio Conselheiro.

A proposta tenta romper com os paradigmas da educação formal, segundo o que foi dito no Diário do Nordeste de 20.03.06. A idéia é que ao aprenderem a ler as crianças tenham nas bibliotecas das escolas, folhetos para que comecem a ler outras coisas e se familiarizem com o mundo da leitura e da escrita.

Fig. 8 - Ilustração do Projeto Acorda Cordel na sala de aula Fonte: Site da ABLC

O projeto está fazendo sucesso em muitos lugares do Brasil. Ceará, Rio Grande do Norte, Tocantins, Paraná, Paraíba, Minas Gerais e São Paulo já conhecem e aplaudem essa idéia, diz Arievaldo Viana, o criador do projeto Acorda Cordel na Sala de Aula.

O Projeto Acorda Cordel na Sala de Aula propõe a revitalização do gênero e a sua utilização como ferramenta paradidática na alfabetização de crianças, jovens e adultos, a partir do lançamento de uma caixa de folhetos, contendo 15 obras de diferentes autores, acompanhadas de um livro (manual) intitulado “LITERATURA DE CORDEL NAS ESCOLAS” (da autoria de Arievaldo Viana, Zé Maria de Fortaleza e Rouxinol do Rinaré), contendo um Curso Prático de Literatura de Cordel e dicas para os educadores, acerca da utilização dos folhetos na sala de aula. Essa caixa será distribuída e trabalhada nas escolas de vários municípios do Nordeste, onde os poetas selecionados têm sua área de atuação. O projeto será amplamente divulgado nas escolas através de aulas, oficinas, palestras, simpósios e estudos a partir da linguagem e informações diversas contidas nos folhetos.

Além de estimular o hábito da leitura, estudantes de qualquer faixa etária terão contato com a legítima cultura popular nordestina. As experiências obtidas em cidades como Campina Grande-PB e Canindé-CE nos autorizam a afirmar que a receptividade entre os alunos é excelente, sobretudo em atividades como leitura em grupo e até mesmo a elaboração de novos folhetos entre os próprios estudantes.

O Projeto compreende ainda a publicação da obra “LITERATURA DE CORDEL NA SALA DE AULA”, da autoria de José Maria do Nascimento, Rouxinol do Rinaré e Arievaldo Viana, um manual com cerca de 100 páginas, que será uma ferramenta de grande utilidade para os professores que desejam trabalhar com o CORDEL na sala de aula.

Fig. 9 - Biblioteca de cordéis Fonte: Site Cordelon

5 CONCLUSÃO

Este trabalho buscou explicitar a efetividade da literatura de cordel nos meios de informação e comunicação, como representante da cultura popular. Esta como foi visto, tem sido âncora para o seu desenvolvimento. Pudemos perceber ainda, que o folheto de cordel tem trazido grandes contribuições para as culturas e para seus povos.

A partir dos resultados obtidos nas pesquisas bibliográficas, foi possível expor algumas contribuições sobre o tema abordado. Pude perceber que a literatura de cordel tem um bom desempenho ao transitar por outras áreas e consegue se manifestar de diversas formas, partindo de conhecimentos e expressões de um povo à transposição do dia-a-dia para as páginas dos folhetos. Conseguindo surpreender ainda como publicitário, agente facilitador da leitura e comunicador. Vimos que ele continuou com seu estilo e sua intenção de representar idéias do povo.

Percebeu-se ainda que o folheto saiu do ambiente oral e se revelou na forma impressa, fazendo parte de todo um contexto histórico, onde tinha mais valor o que estava registrado de forma escrita. À medida que a comunicação oral fosse reduzida, tendo se perdurado por muitos e muitos anos.

O cordel vem passando pelo rádio, pela televisão e pela internet, fazendo uma troca de informações onde colhe tudo que for preciso para si e para que sua experiência seja melhor ilustrada e passa a diante nesses meios os seus conhecimentos, fazendo um mixto de um representante da tradição com um resultado da modernidade.

Nesse trabalho, verificou-se que o folheto não está como muitos pensam, destinado ao fracasso. Pois, mesmo com o surgimento de outros meios, e de toda a tecnologia se desenvolvendo e se superando a todo o momento, o folheto tem seus seguidores e sua importância.

Apesar de existir em outros meios e em outros formatos, o folheto assim como o livro tem seu espaço atualmente e acredito, continuarão tendo futuramente. De maneira que um meio complemente o outro e não o substitua.

Por fim, é importante saber que a literatura de cordel, ao atuar como meio de informação e comunicação, cumpre de forma única um papel bastante relevante. Levando informação, comunicação, cultura, lições de aprendizagem, e conhecimento ao público leitor.

REFERÊNCIAS

ALVES, Valdecy. A Lei Maria da Penha em cordel. Fortaleza: Tupynanquim, 2007.

AMÂNCIO, Geraldo; PEREIRA, Wanderley. Gênios da cantoria. Fortaleza: [s.n.], 2004. 398 p.

ARAÚJO, Francisco Melquíades Araújo. Artimanhas de Chico Pezão: o maior craque do mundo. Canindé: Edições Lamparina, 2006.

ARAÚJO, Paulo. Tragédia, romance, valentia: é o cordel unindo arte e poesia. Nova

Escola. São Paulo, n.176, out. 2004.

AZULÃO, Mestre. O poder que a bunda tem. Fortaleza: Tupynanquim, 2002.

BARROS, Leandro Gomes de. O cachorro dos mortos. 3. ed. reimp. Fortaleza: Tupynanquim, 2000.

BENEVIDES, Artur Eduardo. Literatura do povo: alguns caminhos (Ensaios). Fortaleza: Secretaria da Cultura e Desporto/ IOC-BEC, 1980. 89 p.

BORDENAVE, Juan E. Diáz. O que é comunicação. São Paulo: Brasiliense, 1982. Coleção Primeiros Passos, n. 67. 105 p.

CARVALHO, Gilmar de. Lyra popular: o cordel de Juazeiro. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, 2006. 99 p.

______. Publicidade em cordel: o mote do consumo. São Paulo: Maltese, 1994. 205 p.

______. Tramas da cultura: comunicação e tradição. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secretaria da cultura do Estado do Ceará, 2005. 112 p.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. v.1. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 1996.

CORDEL, Gadelha do. Valentino, o covardão (ou a história do pittboy). Fortaleza: Printmark, 2005.

CRIPPA, Adolpho. Mito e cultura. São Paulo: Convívio, 1975. 214p

COSTA, Pedro. O que é cordel?: (Literatura do repente). (Folheto de cordel) [s.l.]: [s.n.], [199-].

CRÍTICA RADICAL. Col.: Rouxinol de Rinaré. Greve do voto: mortos vivos dominam o mundo. Fortaleza: Crítica Radical, [200-].

DOURADO, Gustavo. Literatura de cordel. Site Gustavo Dourado. Disponível em: <http://www.gustavodourado.com.br/literaturadecordel.htm>. [200-]. Acesso em 10.09.2007.

ELIADE, Mircea. Mito e realidade. Perspectiva, 1994. 179 p.

FAHEINA, Rita Célia. Literatura de cordel estimula estudantes na sala de aula. O

Povo, Fortaleza, 27 maio 2008. Ceará, Boas Idéias, p.11.

FERNANDES, Ângela Silva; MARINHO, Iracema; SOUSA, Paulo de Tarso Costa de. Tecnologia e informação: conceitos, evolução, teórica e histórica. In: MIRANDA, Antônio; SIMEÃO, Elvira. (Org.) Informação e tecnologia: conceitos e recortes. Brasília: Universidade de Brasília, 2005. Cap. 1. p. 21-51.

GADZEKPO, John Rex Amuzu. Do folheto à tela cibernética: histórico, cotidiano e sobrevivência do cordel. In: MARTINS, Clerton (Org.). Antropologia das coisas do

povo. São Paulo: Roca, 2004. p.165-196.

KUNZ, Martine. Cordel: a voz do verso. Fortaleza: Museu do Ceará/ Secretaria da Cultura e Desporto do Ceará, 2001. 111 p.

LACERDA, Josenira. O linguajar cearense. Fortaleza: Acauã Edições, 2001.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. 6.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992. 116 p.

LUYTEN, Joseph Mari. O que é literatura popular. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1992. 73 p.

MCGARRY, Kevin. O contexto dinâmico da informação. Brasília: Briquet de Lemos/Livros, 1999. 206 p.

MEDEIROS, Antônio Américo de. Os mestres da literatura de cordel. Fortaleza: Tupynanquim, [s.d.].

MENEZES, Otávio. Se um livro é importante imagine uma biblioteca. Fortaleza: [s.n.], 2005.

MERKLIN, Werner. A arte de imprimir: dos caracteres móveis ao microcomputador. O Correio. v. 16. n. 9. set. 1988.

MONTEIRO, Manoel. A mulher de antigamente e a mulher de hoje em dia. [s.l.]: [s.n.], [s.d.].

MORAES, Jair. A dança do Clodoaldo. Fortaleza: [s.n.], 2006.

NOGUEIRA, Carlos. O essencial sobre a literatura de cordel portuguesa. [s.l.]: Imprensa Nacional/ Casa da Moeda, 2004. 93 p.

OLIVEIRA, Simone de Oliveira. Poesia popular nordestina: o mundo da oralidade. Fortaleza: Banco do Nordeste, 2004. 44 p. Série Curso de Apreciação de Arte.

ENSINAMENTOS dos cordéis, Os. Diário do Nordeste, Fortaleza, 20 mar 2006. Caderno 3, Sala de Aula, p.6.

PARDAL. (Gerardo Carvalho Frota). O folheto de cordel como veículo noticioso

na obra de Abraão Batista. 2004. 83 f. Monografia (Graduação em Comunicação

Social na Universidade Federal do Ceará).

PELLEGRINI, Denise. A arte de escrever bem. Nova Escola. São Paulo, n. 198, p.42-45, dez. 2006.

REYZÁBAL, Maria Victoria. A comunicação oral e sua didática. Bauru: EDUSC, 1999. 355 p.

RINARÉ, Rouxinol. O esperado encontro de Coxinha com seu Lunga. Canindé(CE): Edições Lamparina, 2005.

RIOS, Audifax. Bode-Ioiô: vida e morte. Fortaleza: [s.d.], 2000.

__________. Canto à Fortaleza de Assumpção. Fortaleza: [s.n.], 2002.

__________. O sol vaiado na praça. Fortaleza: Edições Livro Técnico, 2002.

ROCHA, Natércia. Artista popular divulga cultura do cordel. Diário do Nordeste, Fortaleza, 04 nov 2006. Regional, Mala do Folheteiro, p. 1.

SANTOS, Francisca Pereira dos. Romaria dos versos: mulheres autoras na ressignificação do cordel. Fortaleza: UFC / URCA, 2002. 156 p. (Dissertação de Mestrado em Sociologia)

SINDEAUX, Jesus Rodrigues. A diferença do pobre para o rico. Fortaleza: Edições Livro Técnico, 2000.

SOUZA, Liêdo M. de. Classificação popular da literatura de cordel: em texto integral de 23 folhetos. Petrópolis: Vozes, 1976. 104 p.

VIANA, Arievaldo; VIANA, Klévisson. Carta de um jumento a Jô Soares. 2. ed. Fortaleza: Tupynanquim, 2002.

VIEIRA, Guaipuan. A triste partida do rei do baião. Fortaleza: [s.n.], 2004.

ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: a “literatura medieval”. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. 324 p. Tradução de Amálio Pinheiro; Jerusa Pires Ferreira.

______. Introdução à poesia oral. São Paulo: Hucitec, 1997. 323 p. Tradução de Jerusa Pires Ferreira.

Documentos relacionados