• Nenhum resultado encontrado

COROA DO REI IDENTIFICAÇÃO GERAL

CENTRO DAS ROMÃS

FICHA 2 COROA DO REI IDENTIFICAÇÃO GERAL

Denomiação: Amostra de motivo em tecido Tipo: Centro (motivo único ou repetido) Nome: Coroa do Rei ou Coroa de Portugal.

Datação: Imprecisa Origem: Almalaguês

Origem (fabrico): Alcina Simões Dimensões: 40x40cm

CARACTERÍSTICAS MATERIAIS

Fibras: Trama em fibras de algodão / teia em algodão / fio 12/2 Cor: Natural (branco ou cru)

Técnica de Tecelagem: Tafetá

Técnica artesanal: Puxado, “olhos” ou “borbotos”

Categoria: Ponto miúdo

MOTIVOS E ORNAMENTOS

Motivos: Brazões;

Observações: Alcina afirma tratar-se de uma amostra muito an-

tiga que começou a executar logo no início da sua actividade. A sua proveniência é familiar e segundo a tecedeira deve vir da avó ou bisavó.

Figura C. 1. 41

Amostra do Brazão

115 Almalaguez | PhD Design | 2017

O BRAZÃO

À semelhança de outras tecelagens nacionais o brazão monár- quico em Almalaguês é um motivo recorrente. Conhecidos como “Brasão” ou “Coroa de Portugal”, atravessam gerações e são iden- tificadas em diferentes regiões.

As bandeiras armoriais quadradas viriam a ser substituídas no reinado de D. Manuel I (1495-1521: D. Manuel I a D. João III) pas- sando a utilizar-se uma bandeira de fundo rectangular com o brasão no centro. O fundo mantém-se branco, existindo um es- cudo peninsular e no seu interior cinco escudetes azuis e os sete castelos encimado pela uma coroa real.

No reinado de D. Sebastião, entre 1557 e 1816 (D. Sebastião a D. João VI) surgiram duas alterações: a coroa passou a ser fechada e o número de besantes em cada escudete passa a ser de cinco e passa também a fixar-se os sete castelos na bordadura.

É esta a bandeira que prevalece com o cardeal D. Henrique (1578- 1580), com D. António, prior do Crato (Junho-Agosto de 1580 no Continente, 1580-1583 em algumas ilhas dos Açores, nomeada- mente a Terceira), com a dinastia filipina e boa parte da dinastia de Bragança.

D. João IV (1640-1656) limitou-se a mudar o formato do escudo (ponta redonda), cabendo a D. Pedro II (1683- 1706) a adaptação do brasão às mais recentes modas, passando a coroa a ter cinco hastes em vez de apenas três. Com D. João V, a coroa «virou» forrada de um barrete vermelho e o escudo terminava em bico contracurvado, no formato dito francês.

No reinado de D. João VI (1816-1826) a bandeira passa a possuir a esfera armilar, usada nas naus do caminho marítimo para o Bra- sil. O escudo volta a ter a ponta redonda, no formato português. De 1826 a 1910 (D. Pedro IV a D. Manuel II) surge a mais conhe- cida bandeira da monarquia. Metade é azul, metade branca com o escudo ao meio sem a presença da esfera armilar {De- zembro, 2012}.

Figura. 50

El-Rei Dom Manuel (1495-1521) {+ El-Rei Dom João III (1521-1573) e El-Rei Dom Sebastião (1573-1578)}

Figura. 51

El-Rei Dom Sebastião (1578) {+ El-Rei Dom Henrique (1578-1580)}

Figura. 52

El-Rei Dom Pedro II (1667-1706)

Figura. 53

El-Rei Dom João V (1706-1750) {+ El-Rei Dom José (1750-1777), El-Rei Dom Pedro III (1777-1786) e Rainha Dona Maria I (1777-1816)}

Figura. 54

El-Rei Dom João VI (1816-1826) {+ El-Rei Dom Pedro IV (1826), Rainha Dona Maria II (1826-1828) e El-Rei Dom Miguel (1828-1833)}

116 António João | PhD Design | 2017

O brasão mais vezes registado em Almalaguês poderá então ser datado num determinado espaço histórico. Assim, este motivo tradicional utilizado aquando dos casamentos poderá ser datado entre 1683 e 1910. O brasão apresentado mostra-se semelhante às duas bandeiras, porém sem o barrete por baixo da coroa, o que poderá indiciar uma de duas razões. Por um lado, poderá sig- nificar uma transição entre a bandeira de D. Pedro II e de D. João V, por outro, o barrete poderá não estar apresentado unicamente por uma dificuldade técnica do puxado. Não obstante, à seme- lhança de outros motivos, o traço exterior do barrete poderia estar facilmente presente na peça. Cruzando estas informações com o levantamento realizado no terreno verificámos que duas colchas apresentavam bordadas a data dos casamentos dos seus proprietários, 1875 e 1893.

Uma outra amostra encontrada poderá também ser um contri- buto para uma localização cronológica do motivo. Nas amostras de Alcina por vezes surgem apontamentos do número de fios e do nome das peças. Na peça apresentada ao lado, encontramos a referência de D. João V (nascimento: 1689 / morte: 1750). Quando questionámos a origem do nome foi-nos referido que desde de criança que o reconhece assim. A mesma tecedeira tem também uma outra amostra única na região, a do dragão. Não sabemos a sua proveniência, sabemos apenas que a mãe já a realizava em criança, porém são notórias as semelhanças entre o dragão repre- sentado na amostra e o símbolo da Dinastia de Bragança (1640 a 1910). Deste modo, e com a identificação do motivo do brasão numa colcha com a data bordada no ano de 1875(?), estamos con- victos que o motivo poderá situar-se no século XVIII ou XVIII. O motivo atrás tem as dimensões de 40x40 cm, apresentando-se como uma composição de brazão e poderá adquirir uma varieda- de cromática considerável, contudo sempre foi replicada na cor natural (dependendo da linha e da trama). Esta amostra data dos anos 40, pois tem sido replicada entre familiares por gerações. A título de informação, Lewis afirma que a alma dos tapetes orientais reside nos seus desenhos únicos que são transmitidos

Figura. 55

{Rainha Dona Maria II (1833-1853), El-Rei Dom Pedro V (1853-1861), El-Rei Dom Luís (1861-1889), El-Rei Dom Carlos (1889-1908) e El-Rei Dom Manuel II (1908-1910)}

Figura C. 1. 42

Amostra de motivo Inscrição ” D. João V”

Fonte: António Gomes

Figura C. 1. 43

Amostra de motivo

Inscrição “seclo 20” Fonte: António Gomes

117 Almalaguez | PhD Design | 2017

através dos séculos em zonas geográficas específicas, e são per- tença de tribos ou de origem familiar {Lewis, 1913, p. 98}. A im- portância deste motivo revela-se na sua riqueza decorativa e na própria técnica de execução, destacando-se o puxado e o fio de algodão de 14/2, que permitem fazer desenhos de grande porme- nor com uma densidade de puxados elevada.

O motivo é atravessado por um eixo de simetria longitudinal que será produzido e dois panos de 80 cm ou de 100 cm e será poste- riormente cozido à mão. Foram encontradas outras variações de menor qualidade de replicação, mostrando (também) alguma in- genuidade relativa ao desenho e provando que as amostras não eram de pertença pública. Apesar de quase todas as tecedeiras afirmarem que já realizaram este motivo, ele aparece diferente na sua configuração de tecedeira para tecedeira. Estas imagens provam também a existência de diferentes níveis de saber (es) e de reconhecimento social entre as tecedeiras. Realça-se ainda que as amostras desta região são sempre em algodão e que po- derão ser replicadas em panos, toalhas, colchas e tapetes em lã.

Figura C. 1. 44

Símbolo da Casa dos Bragança

Foto: Negges, Johann Simon, 1726- 1792 : Iosephus I. D. G. Rex Portug. ... / J. S. Negges sc.. - Aug. Vind.: J. S. Negges exc., [1756]. - 1 gravura: maneira negra, p&b

Fonte: http://purl.pt/4194/3/ Acedido em: 1 Setembro 2017

Figura C. 1. 45

Amostra de motivo “Cavalos Marinhos”

118 António João | PhD Design | 2017 Figura C. 1. 46 Motivo “Brazão”

Fonte: António Gomes

Figura C. 1. 47

Motivo “Brazão”

Fonte: António Gomes

Figura C. 1. 48

Motivo “Brazão”

Fonte: Victor Costa

Figura C. 1. 49

Motivo “Brazão”

119 Almalaguez | PhD Design | 2017

120 António João | PhD Design | 2017

1.4 | TECIDOS DE RESISTÊNCIA