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Capítulo II – Fundamentação teórica

2.3 A técnica de execução do acordeão e os seus problemas

2.3.1 Corpo e posicionamento do instrumento

O acordeonista executa o instrumento, geralmente, sentado. Esta posição permite maior conforto corporal e facilita o manuseamento do instrumento em aberturas de fole maiores, pelo menor esforço do braço esquerdo. No caso de acordeões maiores e mais pesados, somente a posição sentada é aconselhada, para que o instrumento esteja corretamente suportado e ambas as mãos possam usufruir da extensão completa dos teclados. Igualmente, o tipo de cadeira utilizada é de extrema importância, nomeadamente durante as frequentes sessões de estudo diárias. É recomendável utilizar uma cadeira de altura ajustável, de assento mais sólido e redondo ou um banco quadrado sem suporte para os braços. As cadeiras normais não são tão aconselháveis pelo facto de possuírem encosto. Este dificulta o movimento do ombro esquerdo (Jacomucci & Delaney, 2013, p.18). Para evitar este problema, o executante poder-se-á sentar mais no canto frontal e esquerdo da cadeira, facilitando o movimento do ombro e, igualmente, da perna esquerda.

O contacto principal do acordeonista com a cadeira deverá ser feito através dos designados ossos ísquios, situados na base da cintura pélvica. Deve-se evitar o assento no osso sacro ou exageradamente direito e rijo (contacto das coxas com a cadeira). O tamanho indicado da cadeira deve ser tal que permita as coxas estarem quase paralelas ao chão, sem permanecerem, no entanto, em contacto com o banco. Para isso, como atrás referido, o acordeonista deve-se sentar mais no canto frontal e esquerdo do banco (Jacomucci & Delaney, 2013, p.18).

51 Tradução do autor: “[...] a procura da absoluta eficiência – tanto nos aspetos técnicos como

O acordeonista não deve afastar ou juntar demasiado as coxas. Ao executar o instrumento, terá de mover ligeiramente a perna esquerda no sentido do movimento, para um maior suporte do instrumento. Os pés devem estar alinhados com os joelhos para que toda a sola de cada um esteja em contacto com o chão. No movimento de abertura, será necessário elevar ligeiramente o joelho esquerdo ocasionalmente, através do levantamento do calcanhar. Se o executante sentir que, para estar confortável, necessita de colocar as pernas para a frente (em relação aos joelhos), a cadeira é muito baixa; se sentir que deve elevar constantemente os joelhos, a cadeira é muito alta (Jacomucci & Delaney, 2013, p.19).

The important thing is the way we sit, which depends very much on the neck-head-back relationship. A poised and alert attitude, and not a rigid posture, is what guarantees a proper weight distribution, it prevents injuries in the lower back and increases endurance.52 (Jacomucci & Delaney, 2013, p.19)

O acordeão deve ser posicionado o mais vertical possível, em contacto total com o tórax do executante. A base do instrumento deve repousar nas coxas, perto da pélvis.53Existe ainda alguma tendência em “deitar” o acordeão nas pernas diagonalmente, o que compromete a estabilidade e controlo do mesmo no corpo. O canto inferior direito deve ser colocado e segurado na coxa direita e o fole

suportado pela perna esquerda, que servirá de pivot de todo o instrumento. (Jacomucci & Delaney, 2013, pp.18-19).

O suporte do instrumento é complementado com as correias. Estas estabilizam os movimentos de fole, através da conexão da parte direita do instrumento com as costas do executante. Quando corretamente apertadas, ao abrir/puxar o fole, a correia direita entra em funcionamento; ao fechar/empurrar, a esquerda. Jacomucci (2013, p.21) revela que, como a parte direita do instrumento deve estar centrada com

52 Tradução do autor: “O mais importante é a forma como nos sentamos, a qual depende bastante

da relação pescoço-cabeça-costas. Uma atitude pronta e alerta, e não uma postura rígida, garante uma adequada distribuição do peso, previne lesões na zona inferir das costas e aumenta a resistência.”

53 Imagem retirada do site Amici della Musica di Modena. Acedido maio 7, 2016, em

http://www.amicidellamusicamodena.it/concerti/archivio/stagione-2013-14/claudio-jacomucci- Figura 29 - Exemplo de um posicionamento correto do corpo e do instrumento - Claudio Jacomucci 53

o eixo do tórax, ambas as correias devem ter o mesmo comprimento, contrariando algumas ideias do passado e ainda bastante atuais. Aconselha também a utilização de pequenas correias de conexão entre as correias principais, nomeadamente ao nível das omoplatas e lombar.

As correias não devem estar nem muito largas nem muito apertadas. Para verificar, o músico poderá recorrer ao movimento de bellows shake: se o instrumento não estiver firme e houver espaço entre o mesmo e o tórax, este irá mover-se lateralmente descontroladamente, exigindo inúmeros movimentos desnecessários por parte do executante para estabilizá-lo, como segurar a borda do teclado direita com a palma da mão, levantar ou puxar os ombros atrás, empurrar o peito à frente e a cabeça para trás, criando-se demasiado tensão corporal. Se as correias estiverem exageradamente apertadas, o acordeão não irá permanecer sempre nas coxas e o tórax terá de suportar grande parte do peso do mesmo. É aconselhável reapertar as correias antes de cada sessão de estudo, consoante a mudança de vestuário (Jacomucci & Delaney, 2013, pp.21-22).

O acordeão possui uma correia na sua parte lateral esquerda. Ao contrário do braço direito, o braço esquerdo não é totalmente livre para teclar, tendo o seu movimento condicionado por esta correia. Este braço é responsável pelo controlo completo do fole. O executante deverá ter em atenção se está a exercer estes movimentos através do antebraço e não da mão ou pulso: estes necessitarão estar livres da correia para evitar limitações na coordenação de dedos. Não é aconselhável colocar o polegar estendido sobre a lateral do teclado esquerdo, para que o mesmo possa ser igualmente utilizado. Se a correia estiver muito apertada, o braço não se conseguirá mover ao longo do teclado com facilidade; se estiver muito larga, haverá falta de firmeza, compensando-se esta de forma errada através da força do polegar na lateral e, consequentemente, tensão no pulso (Jacomucci & Delaney, 2013, p.24).