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Capítulo II – Fundamentação teórica

2.3 A técnica de execução do acordeão e os seus problemas

2.3.2 Produção de som fole

Através da combinação entre os vários tipos de manuseio do fole e a velocidade do pressionar e libertar dos botões (abertura das válvulas), é possível criar-se uma grande variedade de formas de produzir som, com várias articulações e dinâmicas. Jacomucci (2013, p.25) tem em vista os princípios mecânicos do instrumento na sua abordagem da técnica acordeonística, associando a mesma, igualmente, com as direções que assumimos fisicamente e psicologicamente.

[...] there are many ways of doing something, and, most of all, there are many ways of understanding how to do something.54 (Jacomucci & Delaney, 2013, p.25)

Segundo Jacomucci (2013, p.25), existem claras semelhanças entre cantar, tocar um instrumento de sopro e tocar acordeão. No caso deste último, o fole assume o papel dos pulmões, o braço esquerdo o do diafragma e/ou músculos abdominais e os botões o de articulação da língua e/ou lábios. As variedades de som são conseguidas, mais especificamente, através da combinação dos elementos acima referidos.

O autor descreve, no seu livro, diferentes tipos de articulação de início e término de som e os variados procedimentos técnicos para os atingir. Estes recursos são extremamente importantes para a total compreensão do espectro sonoro do instrumento, aumentando a sensibilidade auditiva e entoação (Jacomucci & Delaney, 2013, pp. 25-27):

- Para um ataque suave, iniciar o pressionar do botão sem produzir som. Lentamente e gradualmente, aplicar compressão do fole;

- Para um ataque agressivo ou acentuação, iniciar uma forte compressão do fole em silêncio. Em seguida, pressionar os botões rapidamente. Para isso, a mão deve atacar um pouco distante e permitir que o pulso ressalte ligeiramente, consoante a força exercida. O executante poderá atenuar a compressão de fole imediatamente após o ataque, para um efeito menos agressivo (sforzando – subito piano);

- Para um curto crescendo no início da nota (pode-se considerar um pequeno retardo no início do som), iniciar uma forte compressão do fole em silêncio, seguida de um suave pressionar dos botões;

- Para um tipo de articulação normal com som direto, iniciar uma compressão média do fole em silêncio, seguida de um pressionar de botões em velocidade de ataque média;

- Para um decair de som em estilo fade out, reduzir a compressão de fole até ao desaparecimento da nota e soltar suavemente os botões;

- Para um corte imediato de som, soltar rapidamente os botões mantendo uma contínua compressão do fole. O som deverá desaparecer ainda em compressão de fole;

- Para um corte imediato e acentuado de som, soltar rapidamente os botões durante uma compressão de fole crescente e rápida. Igualmente, o som deverá desaparecer ainda em compressão de fole;

- Para um decair de som imediato mas menos agressivo, cessar a compressão de fole rapidamente sem soltar os botões.

Jacomucci (2013, p.28) refere que muitos acordeonistas não se apercebem dos seus movimentos inadvertidos durante a execução do instrumento. Desta forma é

difícil manter uniformidade e constância de som, devido às irregularidades da circulação do ar no instrumento. A viragem de fole é geralmente agreste pela imediata e antecipada tensão do tórax e dos ombros. É muito importante abordar o estudo dos aspetos técnicos do fole da mesma forma como os instrumentistas de sopro o fazem: notas longas, prestando atenção às oscilações de som e ar. Esta abordagem melhora a qualidade de som e suaviza as viragens de fole. Estes princípios são a base da técnica acordeonística, e estão intrinsecamente relacionadas com todos os outros aspetos da aprendizagem do instrumento. No entanto, para atingir esse fim, é necessária uma coordenação corporal base.

O executante deve-se sentar com uma atitude ativa e atenta, permitindo que o peso do corpo e do instrumento seja distribuído uniformemente em ambos os ossos ísquios. O pescoço não deverá estar tenso, a cabeça deverá estar balançada no topo da coluna, as costas alongadas e em expansão, para que os ombros se libertem. A abertura do fole deverá ser controlada pelo braço esquerdo, com o auxílio da rotação do tórax. A perna esquerda serve de pivot para o fole em expansão. Ao atingir o momento de viragem de fole, o executante terá de permitir que as costas rodem da esquerda para a frente. O braço irá guiar novamente o fole, com auxílio da perna, até o fechar totalmente. Este método permite que o acordeonista possua conforto no ato de fechar o fole, seja qual for o comprimento de abertura. Durante a abertura, não deverá estender e forçar o braço para baixo e para a frente mas sim manter o ombro livre e seguir a rotação do torso ao longo do seu eixo. É necessário permitir que o ombro se expanda para fora, a favor do movimento do fole, evitando-se que o braço exerça todo o esforço (Jacomucci & Delaney, 2013, pp.28-29).

Um problema muito comum dos acordeonistas é o de abrir o fole através da força da gravidade (peso da parte esquerda do instrumento). Isto fará com que o braço esquerdo se alongue em demasia, empurrando o acordeão para a frente e em direção ao chão. Consequentemente, a viragem de fole será mais custosa, gerando várias tensões corporais, nomeadamente no pescoço, tórax e ombros. Alguns executantes, numa tentativa de contrariar a força da gravidade, inclinam o torso para a direita. Esta ação é incorreta por proporcionar maior descoordenação física, nomeadamente nos membros superiores, e conduzir a rigidez e apneia. Provoca também um controlo impreciso do fole em dinâmicas e articulações e limita a ação dos dedos da mão esquerda (Jacomucci & Delaney, 2013, pp.30-31).

Jacomucci (2013, p.31) refere ainda que um bom domínio do bellows shake55, sem tensões e em velocidades elevadas (aspeto muito ambicionado por acordeonistas) só é possível através da assimilação de muitos dos princípios base referidos nos dois tópicos anteriores. Torna-se necessário parar reações contra produtivas como contrair a cabeça para trás e para baixo, comprimir o torso, firmar os ombros e os braços e suster a respiração.