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um corpo que urge 1 Ana Laura Giongo

No documento CORPO: ficção, saber, verdade (páginas 40-49)

1 Trabalho apresentado no Congresso Internacional da APPOA – Corpo: ficção, saber, verdade, novembro de 2015, em Porto Alegre.

2 Psicanalista; Membro da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA )e do Instituto APPOA; Mestre em Psicologia do Desenvolvimento pela UFRGS. E-mail: algiongo@uol.com.br

A

clínica com meninas pré-adolescentes traz interrogantes para pensar- mos o trabalho psíquico de apropriação do corpo na passagem para a adolescência. Algumas manifestações clínicas remetem a uma metáfora: “um corpo que urge”. Seja no desconforto brutal com a imagem que surge com a puberdade, ou nos atos infligidos sobre seu corpo, nos deparamos com sujeitos cujo corpo grita, sangra, pede tradução. O significante urge aponta para a urgência, a pressa, e demarca a necessidade premente de desdobrar estas questões.

A chegada à adolescência traz consigo a reedição de elementos que estiveram presentes no estádio do espelho. A imagem ideal de si, constituída na relação com o Outro, volta à cena. É frequente o descompasso, o desen- contro e o desencanto com a imagem que agora surge. A emergência da pu- berdade coloca em xeque a imagem que se constituiu, sendo que por vezes este momento se aproxima a algo da ordem de um trauma. Há a emergência do real, que produz uma necessidade de elaboração.

Allouch (2010) revisita a teoria de Lacan sobre o estádio do espelho3

colocando ênfase no fato de que neste momento, em que a criança se apro- pria de uma imagem ideal, assegurada pelo olhar do Outro, fica de fora seu sexo. Em suas palavras: “a experiência do espelho não funciona sem um branco na imagem, um algo que não é integrado pela identificação imagi- nária constituinte do eu (moi), e esse branco está precisamente no lugar do sexo” (p.156). Remete-se a Lacan no seminário RSI (sessão de 11/03/1975), quando, ao referir-se à sua elaboração do estádio do espelho, este se lembra de um filme trazido por Jenny Aubry, em que uma criança jubila-se diante do espelho, com a mão sobre o sexo. Lacan refere que havia nesta imagem a elisão disso que poderia ser um falo, ou talvez sua ausência. Lacan (citado por Allouch, 2010, p.158) afirma: “O falo é o real na medida em que é elidido. O falo não é a ex-sistência do real, mas, há um real que ex-siste nesse falo e que se chama gozo”.

O falo ou sua ausência não são especularizáveis. O tempo do estádio do espelho é o tempo do ser. “Ser o falo” antecede e não contempla a possibili- dade de tê-lo ou não. A criança goza nesta posição especular, ao encarnar o significante da falta do Outro. Aqui se constitui o eu ideal, sendo que a identi- ficação a esta imagem sustenta seu narcisismo primordial.

3 Allouch retoma a noção de estádio do espelho a partir do conceito de “objeto a”, sendo esta uma formulação posterior em Lacan. Tomar o estádio do espelho levando em conta a teorização do objeto a implica relativizar ou rever a ideia de que haveria um “todo”, uma imagem “completa” no espelho. A partir do conceito de objeto a, essa “completude” fica relativizada.

Ao longo da infância, vivendo as interdições edípicas que apontam para um gozo além desta relação com o Outro, o falo surge em outra posição. A psicanálise, desde Freud e Lacan, toma a passagem pelo complexo de Édipo como um momento em que se institui a função do pai como detentor deste significante, portador do falo. O pai passa a ser uma referência que aponta os caminhos do gozo fálico. Assim, o gozo fálico é promessa, é norte, orienta algumas escolhas e identificações da criança. Entretanto, para sustentar sua imagem ideal, seu sexo fica – nas palavras de Allouch (2010, p.163) – “con- finado à negligência”. Às vezes se manifestando em sintomas, mas em geral recalcado.

Aproxima-se, então, a puberdade. O que era resto, não especularizável, vem à tona. Emerge algo do real. Vai ser preciso retomar a relação com sua imagem desde outro ponto. Como diz Allouch:

O adolescente precisa autorizar a parte de seu corpo que escapava à idealidade para dar satisfação a exigências que não domina, des- conhece, correndo o risco de deixa-las funcionar fora do campo de seu narcisismo (Allouch, 2010, p.163).

Associo essa ideia ao sofrimento, ao desconforto ou à inconformidade com a imagem do corpo que vai se formando com a puberdade. A imagem ideal herdada do estádio do espelho é esburacada pela emergência do sexu- al. Já não há imagem ideal. Há corpo em falta. Urge um trabalho psíquico de habitar este corpo e constituir uma nova imagem de si, que abarque a castra- ção e o ingresso à possibilidade de exercício do gozo fálico.

Na clínica com adolescentes, ou mesmo com adultos que narram sua passagem pela adolescência, escutamos muitas histórias das relações de um sujeito com este corpo que surge com a puberdade. São histórias que envolvem o sofrimento com um corpo que toma forma à revelia do desejo, ou do ideal daquele que o habita. E histórias que costumam falar de um descom- passo no tempo. Pois há um corpo que, apresentando a forma “adulta”, con- voca o Outro a demandar do sujeito um posicionamento desde a sexuação, para o qual este não se vê pronto.

Assim, falar de um corpo que urge é falar dos efeitos que a emergência do real tem sobre um sujeito, num certo desencontro no tempo; entre a ima- gem que surge no espelho e a necessidade de construir novas formas de se representar no mundo; constituir uma nova imagem com a qual se identificar e encontrar caminhos de se fazer reconhecer através de seus atos e de sua fala. Neste sentido, nos remetemos à noção de representação apresentada por Ana Costa, em Corpo e escrita (2001), entendendo a representação como

um ato sobre o real que funciona como um espelho do sujeito, mas que pre- cisa do consentimento e do reconhecimento do Outro.

O período de tempo, entre a emergência do real da puberdade e a possibilidade de se fazer representar e se ver representado numa condição sexuada, abre um hiato que pode ser vivido em tom de urgência. Algumas meninas vivem um desespero diante da imagem que veem surgir no espe- lho e da dificuldade em se fazerem representar numa condição sexuada. Assim, se colocam em busca desenfreada, na tentativa imaginária de con- trolar de algum modo as mudanças em seu corpo. Sintomas em relação à alimentação ou ao excesso de atividade física entram em cena em meio a sentimentos de vergonha, inadequação, nojo ou raiva de si mesmas. Esta experiência algumas vezes é acompanhada de atos sobre o corpo, como cortes e perfurações.

Casos como estes nos remetem ao peso da elaboração que o adoles- cente precisa fazer e ao risco associado à operação adolescente, que coloca em xeque a estrutura psíquica, envolvendo a reconstituição de referenciais imaginários e simbólicos. A partir deste ponto, desdobraremos duas questões emergentes da clínica com meninas na passagem para a adolescência. Uma se refere ao lugar da imagem do corpo para uma mulher; a outra diz respeito aos atos sobre o corpo, tentando articular que lugar estas manifestações po- dem ocupar no trabalho de apropriação de uma nova imagem de si.

A chegada à adolescência convoca a menina a encontrar algum cami- nho a partir da castração. O que fazer com seu sexo? De que forma gozar deste novo corpo? Pensar sobre esta problemática nos remete a formulações da psicanálise – lacaniana – sobre a feminilidade. Cabe trazer dois elementos para esta discussão: a ausência de um significante próprio que represente A

mulher4, e a impossibilidade de uma identificação ao pai que escape à refe-

rência ao falo, questões que levam a uma dificuldade para a constituição da identificação feminina.

Lacan ([1953-1954] 1995, p.214), em seu primeiro seminário, ao falar sobre a constituição do imaginário, declara que é a relação simbólica que define a posição do sujeito como vidente. É o ideal de eu, insígnia fundamen- tal, que se constitui na identificação simbólica ao pai, que define o maior ou menor grau de perfeição, de completude, de aproximação do imaginário. O

4 Esta questão é extensamente trabalhada por Lacan em seu seminário Mais, ainda, seminário 20 ([1972-1973] 1985).

ideal de eu é o organizador da relação com a imagem de si. A identificação imaginária i(a) depende de um traço significante tomado do Outro. É desde o simbólico que se constitui o ponto de observação a partir do qual o sujeito se vê.

Pensar no drama da menina diante de sua imagem, nos remete à dificul- dade implicada na constituição da identidade feminina, por uma falta ao nível da identificação simbólica5, já que não existe um significante propriamente feminino para assentar sua identidade de mulher. Serge André (2010) coloca que a falta desse ponto de apoio simbólico para a identificação especifica- mente feminina “faz com que a imagem corporal, numa mulher, não possa revestir e erotizar completamente o real do corpo”(p.132). Assim, uma mulher sempre se encontraria um pouco em falso no plano de sua identificação ima- ginária. Nas palavras de André: “sua imagem corporal, lhe aparece sempre como alguma coisa essencialmente vacilante e frágil” (2010, p. 134). Na falta de um referente simbólico, há um trabalho psíquico constante para se asse- gurar de seu lugar de mulher.

Uma das possibilidades para a mulher é deslocar o “ter o falo” para uma tentativa de encarná-lo. Ser desejada e amada por aquilo que ela não é, apresentando-se como falo – significante do desejo – buscando ser causa do desejo de um homem, no exercício da mascarada. Algo desta ordem parece estar em jogo nos casos em que há desespero diante do corpo que surge. A menina investindo – quase exclusivamente – na imagem do corpo como pos- sibilidade de exercício de uma posição sexuada e de acesso ao gozo fálico.

Entretanto, cabe ressaltar que nem todos os casos de uma relação ur- gente com o corpo passam, necessariamente, pelo desencanto brutal com a imagem, ou se restringem a essa problemática. Aqui nos remetemos a nossa segunda questão: os atos sobre o corpo, quando o corpo é o terreno onde fica encenado, deflagrado, um mal-estar de outra ordem.

Lacan ([1948] 1998), ao trabalhar sobre o papel da agressividade na constituição psíquica, fala de um tempo inicial quando a experiência de indi- ferenciação entre eu e Outro se rompe através da manifestação agressiva. E traz algo importante que remete à adolescência: a ideia de que cada me-

5 Cabe levantar a questão de se esta fragilidade no terreno do simbólico seria exclusiva das mul- heres, já que também nos deparamos com outras formas de sofrimento na relação com o corpo e na assunção de um lugar sexuado do lado dos homens. Entretanto, no âmbito deste trabalho nos dedicaremos à condição das meninas.

tamorfose instintiva6 a escandir a vida do sujeito irá novamente questionar a delimitação eu/Outro. (p.116). Podemos pensar que somos “metamorfoses ambulantes”, em termos pulsionais, pois nossa relação com o Outro sempre nos leva a ter que refazer as bordas.

No entanto, na adolescência, com a perda da representação infantil de si, a premência de construir outra representação, agora sexuada, traz à tona a necessidade de separação do Outro de modo mais radical. A adolescência é uma operação psíquica estruturante que tem por eixo central o trabalho de separação eu/Outro.

Em meio à escrita deste trabalho, por coincidência, emerge o relato de uma amiga que observava que seu filhinho, de um ano e dois meses, passara a se morder diante de uma contrariedade, quando era frustrado pelos pais. O olhar que lançava para a mãe fazia com que esta percebesse que a mordida era dirigida a eles, pais, apesar de ser feita em si mesmo.

Impressionante a semelhança desta manifestação tão precoce com o que se mostra nas meninas-moças. Em alguns casos, a reação agressiva, em seu próprio corpo, é a primeira ou única reação diante do desconforto. Algumas meninas falam disso como um vício, algo incontrolável. De fato, há situações em que esta manifestação aparece como compulsão.

Parece haver um resto infantil muito primordial nisto de machucar-se: sendo a tentativa de corte no Outro, através do cortar o próprio corpo; numa cena em que aparecem o eu e o Outro ainda numa condição transitivista. Ana Costa (2013) fala que a produção de cortes no corpo busca inscrever uma borda, um furo no Outro. Como se o corpo não fosse do sujeito, mas palco onde se monta uma cena endereçada ao Outro. Na tentativa de dar contorno ao que é eu e ao que é Outro. Entretanto, o ato pode tornar-se compulsão, já que dependerá da forma como é registrado, ou não, ou mesmo de que maneira é significado. Por exemplo, ao causar horror e fascínio, em lugar de afastar, pode capturar ainda mais o Outro.

Na clínica, percebemos que são casos em que, de algum modo, a se- paração em relação ao Outro primordial está encontrando entraves para se operar. Seja por excesso de presença ou de ausência, a relação eu/Outro carece de bordas. Nas narrativas, aparecem fantasias em que a adolescente se percebe objetalizada, não sendo tomada como sujeito de seu desejo. A luta para sair deste lugar, às vezes, passa pela experiência de “cortar o Outro de si”.

Esse ponto se associa a uma singularidade nesses casos: a dificuldade de as meninas estabelecerem uma diferenciação em relação à mãe. Mães e filhas se apresentam enredadas em dramas que podem parecer um só. Uma afundando agarrada à outra. Como numa frase ouvida por uma menina. Sua

mãe dizia: “teu pai não nos ama”. Esta frase pode ser tomada como metáfora

da condição em que a mãe vê a filha como extensão de si, continuidade de sua tragédia. O que resta para a menina aí? Se tomar literalmente esta fala, fica sem pai, nem mãe. Não se sente amada pelo pai, e não é vista como um sujeito diferenciado pela mãe.

Situações como esta remetem à noção de devastação7, na relação entre

mãe e filha: a filha esperando da mãe uma referência simbólica para a iden- tificação feminina, e encontrando ali somente o vazio e a própria dificuldade da mãe em sustentar um lugar feminino viável.

Tornar-se sujeito de seu desejo é operação muito mais difícil quando não se encontra retaguarda simbólica. A menina tem uma tarefa peculiar aí, pois para se constituir como mulher, precisará passar pela identificação à mãe que não se sustenta em um significante que responda ao que é uma mulher. Vai depender do que sua mãe puder legar, em termos de caminhos para o gozo feminino. Vai estar referida à experiência da castração e do gozo da mãe, como mulher. Assim, a passagem da menina à condição de mulher pode se dar através de uma crise adolescente com este tom urgente. Os atos sobre o corpo ganham espaço como tentativa do sujeito de se diferenciar e na ausência de outros recursos de representação, seja porque ele ainda não os construiu, seja porque não há um Outro em posição de testemunhar e reconhecer.

Entretanto, podemos perceber algo singular nesta clínica: com a entrada em análise, aparece muito rapidamente uma redução nestas manifestações. Se não desaparecem, pelo menos deixam de se mostrar de modo compulsivo. Aqui, nos remetemos ao que Lacan [(1962-63) 2005] trabalha acerca do acting out, no seminário sobre a angústia: o acting out é uma mostração. É um ato em busca de interpretação. Nas palavras de Lacan: “O Acting out é o começo da transferência. É a transferência selvagem. Não é preciso análise para que haja transferência. Mas a transferência sem análise é o acting out” (p.140).

Um corpo que urge, e que se mostra marcado pela tentativa de corte na relação com o Outro, demanda olhar, demanda escuta. É ato de um sujeito cla- mando por tradução. É tentativa de representação em busca de testemunho.

7 Noção trazida por Lacan em O aturdito. (L´Etourdie, Autres écrits. Paris: Editions du Seuil,

Podemos pensar em dois momentos, dois tempos, nesta clínica. Um primeiro tempo, sendo o tempo do ato, do “agir” em busca de uma diferenciação entre eu e Outro. Neste tempo, há um corpo que urge. Não por acaso, nos ocorre a metáfora de uma ferida aberta, um corpo que sangra. O encontro com alguém em posição de analista permite um segundo momento. Com a constituição de um endereçamento na transferência, o ato repetitivo passa a ser inscrito numa narrativa. Assim, o ato pode abrir caminho para o campo das representações, a partir de uma posição de testemunho encontrada no Outro.

Lacan nos adverte para a delicadeza na condução da transferência nes- tes casos. Ele diz:

trata-se de um acting out, logo, dirige-se ao Outro, e, quando se está em análise, dirige-se ao analista. Se ele ocupou este lugar, pior para ele. Afinal, ele tem a responsabilidade que cabe ao lugar que concordou em ocupar (Lacan [1962-63] 2005, p.142).

Com a entrada em transferência, passa a existir a presença simbólica do analista, que encarna um Outro e sustenta uma posição de alteridade dian- te da cena. Também passam a existir os efeitos da narrativa construída na análise, quando a implicação com o que se pensa e diz produz um efeito em relação aos atos sobre o corpo. A delicadeza da transferência parece residir em escutar sustentando o lugar de analista. Entra em jogo o desafio de não se assustar, não se alvoroçar em salvar o paciente, não se mostrar decep- cionado. Como ensina Lacan, neste mesmo seminário, em tais situações de nada adianta interpretar, proibir, ou reforçar o eu. A experiência clínica nestes casos nos ensina que é importante escutar o agir como um dizer, retirando qualquer demanda do lado do analista e sustentando uma posição de teste- munho que possa permitir alguma via de simbolização.

Enfim, parece haver certa “linha de percurso” que se repete nestas aná- lises. Atos sobre o corpo que aparecem primeiramente numa repetição, às vezes compulsiva, e que com a entrada em tratamento tomam outro sentido. Retomando a idéia de tempos neste processo, situamos então o tempo do ato, como momento de tentativa de corte eu/Outro. E um segundo tempo, o tempo das representações, em que, a partir da relação com um Outro – agora exteriorizado – que sustenta o lugar de testemunho, a menina busca cons- tituir uma nova representação de si. Podemos pensar que, nestes casos, a dificuldade de diferenciação eu/Outro estava trazendo impedimentos para a constituição de uma imagem de si, numa condição sexuada.

A análise abre o caminho para que este processo se opere. E é muito in- teressante perceber que, a partir deste espaço, as meninas encontram novos

recursos. Para além das sessões, começam a tentar colocar em palavras as situações de angústia que as levariam ao ato. Aparecem palavras dirigidas à analista, que vêm através de mensagens de voz, de texto, ou cartas: “Estou te escrevendo, porque pensei em me cortar”, “Estou explodindo e preciso falar, para não me cortar”. Com o tempo, surgem aos poucos, e conforme o estilo pessoal de cada uma, outras formas de representação que as acompa- nham para além da análise: a escrita de textos e de poesias, a composição de músicas, os desenhos, as pinturas ou até a ideia de fazer uma tatuagem. Uma vontade que algumas vezes é ensaiada, quando desenham nos bra- ços a tatuagem imaginada, no lugar antes ocupado pelos cortes. Ana Costa (2004) lembra-nos que na adolescência se vive uma condição de transicio- nalidade na relação eu/Outro, em que é preciso o suporte de um objeto para constituição de um novo corpo representacional. Assim, este tempo de pro-

dução de representações de si – atos sobre o real que funcionam como um

espelho a partir do testemunho do outro – segue, literalmente, “dando corpo” ao trabalho psíquico envolvido em “tornar-se mulher”.

Cortar, falar, escrever, desenhar, tatuar... Percursos singulares, e uma busca comum. Uma clínica em que os traços procuram testemunho para a validação de uma representação de si em outra posição.

REFERÊNCIAS

ALLOUCH, Jean. O sexo do mestre: o erotismo segundo Lacan. Rio de Janeiro: Com- panhia de Freud, 2010.

ANDRE, Serge. O que quer uma mulher. Rio de Janeiro: Zahar, 2. ed., 2011.

COSTA, Ana. Corpo e escrita: relações entre memória e transmissão da experiência.

No documento CORPO: ficção, saber, verdade (páginas 40-49)

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