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CORPORIFICACIONISMO, COGNIÇÃO DISTRIBUÍDA E MENTE ESTENDIDA

Tem sido uma comparação comum entre filósofos e cientistas cognitivos aquela entre a mente humana e um computador. Mais precisamente, a ideia é que a mente está para o cérebro assim como o software (a programação) está para o hardware (a máquina). Isso não deixa de ser curioso do ponto de vista histórico, uma vez que, inicialmente, isto é, na época moderna, o ser humano é que era modelo das máquinas, dos autômatos ou bonecos animados, dotados de estrutura ou mecânica, ou hidráulica, que lhes dava movimento. O próprio Descartes, que comparava o corpo humano e os dos outros animais com má- quinas hidráulicas, também admirava esse tipo de invenção que já era utilizada para fins recreativos nos jardins dos palá- cios da realeza de então. Mais tarde, o clássico de Julien Offray

de la Mettrie, L’homme machine, também explorou essa ana-

logia entre o corpo humano e os autômatos, opondo-se ao dua- lismo cartesiano.67

67 Cf. LA METTRIE, 1865 [1748]. O tema, de fato, era bastante co-

mum nas discussões dos filósofos desde Descartes até o século XIX. Outros pensadores famosos, como Leibniz (1695), também usam a comparação do ser humano com os autômatos, embora com objeti- vos argumentativos diferentes. E aqui vale também darmos uma explicação sobre o título de nosso livro já citado, Autômatos geniais (DUTRA, 2017). Os autômatos geniais — uma associação de ideias à primeira vista inapropriada — são as pessoas comuns, aquelas dota- das de consciência reflexiva e discernimento, como vamos ver no próximo capítulo. São autômatos, num certo sentido, porque sua mente funciona segundo condições de base e fatores emergentes condicionantes, mas são geniais, ao mesmo tempo, porque sua ação produz realidades novas, como aquelas que emergem no mundo

De fato, desde os filósofos modernos até hoje, a compa- ração entre as máquinas de processamento e funcionamento automatizado e o ser humano, hoje os robôs e as pessoas, tem funcionado em ambas as direções: ora é o ser humano que é modelo das máquinas, ora são elas que são modelo do ser hu- mano. Hoje a comparação entre robôs mais sofisticados e o ser humano é mais detalhada. O robô é uma máquina com dispo- sitivos mecânicos e eletrônicos controlados por uma CPU, por um computador que é programado; e tal programação é feita em uma linguagem-suporte, uma das linguagens de programa- ção, dentre as muitas que há no mundo da informática e que são capazes de ser traduzidas em linguagem de máquina, o

código binário — de uns e zeros que representam, respectiva-

mente, a passagem de corrente elétrica ou sua interrupção. Desse modo, a CPU, por meio de dispositivos periféricos, con- trola as operações da máquina.

Dado esse modelo, a comparação com o ser humano que hoje é tão sugestiva o vê como uma espécie de robô natural ou biológico, seu cérebro como sua CPU, seu dispositivo de controle, e sua mente como a programação. Esse modelo foi levado tão a sério na ciência cognitiva que fez com que muitos levantassem então a hipótese de haver uma linguagem interna, uma espécie de linguagem do pensamento, na qual nossa men-

te seria programada.68 Se tal linguagem do pensamento existe,

ela não é uma das línguas naturais que falamos, e não sabemos exatamente como ela é, mas, em princípio, segundo a concep- ção de autores como Jerry Fodor, trata-se de uma forma de linguagem com propriedades sintáticas e semânticas bem de-

social graças ao uso da linguagem verbal. Portanto, esses autômatos geniais nada têm a ver com robôs ou computadores.

68 Cf. FODOR, 1975. Esse autor é um dos que defendem a existência

dessa linguagem do pensamento e que se notabilizou por isso. Cf. também o já mencionado GARDNER, 1985; 1995, que discute tam- bém esse ponto na ciência cognitiva. O inatismo (ou nativismo) na linguística e na filosofia da linguagem, mencionado em seguida, tem como principal representante Noam Chomsky (cf., por exemplo, CHOMSKY, 2009 [1966]; 1972).

finidas, tal como as linguagens de programação da informáti- ca. Essa linguagem teria de ser pelo menos em parte inata.

Uma das concepções materialistas de que tratamos antes, o funcionalismo, tem ligações conceituais e programáti- cas com essa forma de encarar o ser humano. A ideia também já mencionada dos defensores da IA forte é que os robôs pode- rão realizar um dia aquilo que mentalmente os seres humanos já realizam. Assim, desse ponto de vista, a mente humana seria apenas a programação que a evolução de nossa espécie nos legou. A mente dos robôs do futuro — inclusive, talvez, consci-

entes — será a programação neles implantada.

Se tomarmos essas ideias como elementos de ficção científica, então não há problema algum do ponto de vista ci- entífico e filosófico. E, desse ponto de vista, não deixa de ser interessante pensar a mente humana como uma espécie de programação, pois uma programação é algo abstrato; é uma série de comandos em uma linguagem de programação. Em última instância, portanto, a mente seria uma coleção arruma- da de representações internas. Segundo esse modelo, que é bastante comum na ciência cognitiva hoje, ou pelo menos na- quela forma de ciência cognitiva dita tradicional ou padrão, o pensamento é uma espécie de processamento dessas represen- tações internas. E a forma de representar é, portanto, verbal, isto é, proposicional. Uma representação interna é uma sen- tença da linguagem de programação ou, se tal linguagem do pensamento existe, uma representação na mente humana é uma sentença da linguagem do pensamento, algo similar às sentenças das línguas naturais, na comunicação entre nós, que também são formas de representação verbal.

Todavia, o que há de interessante nessa forma de enca- rar a mente humana é apenas o fato de que ela é concebida como algo abstrato, como um sistema abstrato, assim como é abstrato qualquer sistema de programação de uma máquina. E a comparação é boa porque elimina certo mistério que havia no mentalismo tradicional, como na teoria de Descartes, que vimos no capítulo 2. Aqui não há mistério sobre a interação da mente com o corpo porque a programação abstrata da CPU da máquina é capaz de interagir com o restante dela graças a cer- tos dispositivos de interface que, como já mencionamos, tra-

duzem os comandos da programação em linguagem de máqui- na e controlam os dispositivos eletrônicos que deixam passar a corrente elétrica ou a interrompem. Se esse modelo servir para explicar a mente humana, então o problema da relação entre mente e corpo se revolverá da melhor forma que podemos imaginar hoje.

Contudo, esse modelo tem um inconveniente grave, que é o fato de isolar a mente humana do mundo, não apenas do corpo humano, mas do ambiente em relação ao qual a men- te é também um dispositivo de controle, como vimos no capí- tulo precedente. A ciência cognitiva procura lidar com essa limitação, mas isso leva os pesquisadores a se distanciarem do próprio modelo acima mencionado. A conexão da mente com o corpo e com o ambiente parece pedir conceitos heterodoxos em relação às concepções da informática, da inteligência artifi- cial e da ciência cognitiva tradicional. A teoria da mente corpo- rificada é uma dessas alternativas atuais, assim como a teoria da cognição distribuída e a teoria da mente estendida. Essas três têm muito em comum e merecem ser comentadas, pois representam formas mais promissoras de superar as dificulda- des do modelo padrão que vimos acima da relação entre mente

e corpo, de um lado, e mente e ambiente, de outro.69

É claro que o cérebro humano — ou, talvez, o mais cor-

reto seja dizermos a mente humana — é um dispositivo de

processamento, assim como é um dispositivo de representação e de armazenamento de informação. E é claro também que uma parte das representações mentais que temos são proposi- cionais, isto é, expressáveis em sentenças declarativas de al- guma língua ou forma de linguagem. Mas não é pacífico que todas as nossas representações internas ou mentais sejam

69 Para essas teorias todas, uma obra introdutória e bem informativa

é SHAPIRO, 2011; cf. também SHAPIRO, 2004, e DUTRA, 2017, cap. 2. Sobre a teoria da mente corporificada, cf. VARELA et al., 1991; 2000, e THELEN; SMITH, 1994. Sobre a teoria da cognição distribu- ída, cf. HUTCHINS, 1996. Sobre a teoria da mente estendida, cf. CLARK, 1998 e 2008, e MENARY, 2010. Sobre o conexionismo, co- mentado adiante, cf. HARNISH, 2002.

proposicionais, assim como não é pacífico que a mente huma- na processe a informação de maneira similar àquela dos com- putadores digitais que há hoje. Um dos aspectos a esse respei- to que tem dificultado a comparação de nosso processamento mental com aquele dos computadores é que certas inferências que fazemos ou certas conclusões que tiramos em um argu- mento (uma sequência de premissas conduzindo a uma con- clusão) são impossíveis nos computadores, mesmo mediante as formas de programação mais sofisticadas que foram elabo- radas nos últimos anos. Um dos casos que dizem respeito a isso é aquele em que um conflito de informação não pode ser superado pela máquina, que para. Mas isso não acontece com os seres humanos. O que alguns especulam hoje, como é o caso com os modelos conexionistas da mente humana, é que en- quanto o processamento dos computadores digitais é serial, aquele da mente humana seria paralelo, tal como nas máqui- nas conexionistas.

Contudo, um aspecto mais geral que torna a compara- ção entre os computadores e a mente humana menos sugestiva é que nossas representações internas nem sempre são proposi- cionais. E, além disso, particularmente, alguns estados men- tais, como os estados de consciência básica (uma dor, uma coceira, uma sensação prazerosa etc., ou mesmo qualquer da- do sensorial bruto, digamos, como ver uma cor, ouvir um som etc.) não são propriamente representativos. Assim, a compara- ção entre nossos estados mentais e os estados de processamen- to dos computadores se restringe a alguns de nossos estados de consciência reflexiva, aqueles que são expressáveis em sen- tenças declarativas, mesmo que se suponha que esse proces- samento mental possa se dar de maneira inconsciente. Em suma, é uma concepção cognitivista e muito restritiva da men- te humana que permite a comparação com os computadores.

Os defensores da concepção da mente corporificada pretendem romper com esse modelo mesmo no caso de nossos estados cognitivos representativos que são proposicionais e que envolvem conceitos. E algo semelhante é sustentado pelas concepções da cognição distribuída e da mente estendida. As- sim, essas três teorias se restringem à dimensão cognitiva da mente, mas rompendo com a ciência cognitiva padrão, de certa

maneira, modificando radicalmente os próprios conceitos de cognição e de processo cognitivo. É claro que a mente humana, além de ser um sistema de controle, como vimos no capítulo anterior, é também um sistema cognitivo; e em parte é porque é um sistema cognitivo que pode ser um sistema de controle, pelo menos da ação e das relações do indivíduo com o ambien- te.

Os corporificacionistas se concentram inicialmente na própria aquisição de conceitos, que é algo fundamental para que haja representações mentais, memória e processamento da informação. Além disso, insistem na ideia de que, ao intera- girmos com o ambiente, alguns processos representacionais internos, simbólicos e considerados algorítmicos pelas teorias cognitivas tradicionais, são dispensáveis. Por fim, outra noção fundamental para essa perspectiva é que a cognição envolve também elementos ambientais e que esses últimos também são constitutivos da cognição, e não apenas fontes de estímulo para o organismo. A teoria da mente estendida, que vamos comentar adiante, é uma das versões mais específicas dessa forma de corporificacionismo. Mas mesmo antes de envolver- mos elementos ambientais ou de fora de nosso corpo, ele mesmo é encarado não apenas como fonte de informação e determinante para as ideias que temos, mas também como executor de processos cognitivos em certo sentido, mas que são processos não representacionais. De fato, como veremos em seguida ao comentarmos a teoria da cognição distribuída, essa postura requer pensar a cognição de uma forma muito diferente do que faz o mentalismo tradicional e o mentalismo típico das teorias cognitivistas padrão.

Nosso corpo é determinante para os conceitos que pos- suímos, em primeiro lugar, em virtude dos próprios órgãos dos cinco sentidos que temos. Um caso facilmente compreensível a esse respeito é o da visão das cores. Hoje sabemos que a maior parte dos seres humanos é de tricromatas, isto é, vemos cores compostas a partir de três cores básicas, que correspondem à sensibilidade das células cone da retina humana a três diferen- tes faixas do espectro eletromagnético da luz que incide em nosso planeta. Os diversos tipos de daltonismo conhecidos, em virtude de constituições menos comuns dos olhos humanos,

por exemplo, o dicromatismo, o monocromatismo e o acroma- tismo, fazem com que os indivíduos desses subgrupos cromáti- cos humanos vejam outras cores, ou vejam apenas tons de cin- za etc. E há também casos muito mais raros de humanos tetra- cromatas, cuja visão das cores a maioria da população (de tri- cromatas) nem pode imaginar. Além disso, mesmo no caso do acromatismo, certos contrastes são vistos, o que permite iden- tificar visualmente objetos. E, assim, de qualquer forma, não podemos imaginar um mundo em que nenhum tipo de visão cromática seria o caso. Esses indivíduos não seriam cegos, mas eles não veriam quaisquer objetos caso, por exemplo, também as células bastonetes de suas retinas fossem diferentes; essas células são as que reagem à intensidade da luz.

Desse modo, a constituição de nossos olhos, assim co- mo dos outros quatro sentidos, é responsável por toda uma gama de conceitos físicos fundamentais. Pensemos também no caso da ideia de objeto sólido, que está associada à nosso con- ceito de espaço tridimensional. A noção de profundidade e perspectiva que temos, e que nos faz ver o mundo tal com o vemos, não depende só da visão, mas também da audição e do tato. Ora, esses sentidos poderiam ser diferentes em nós, de tal forma que, por exemplo, poderíamos não conceber o espaço como tridimensional, mas bidimensional, ou unidimensional, ou talvez tetradimensional, o que é mais difícil ainda de imagi- nar, praticamente impossível, embora possamos representar algebricamente, como se faz em algumas teorias científicas.70

Além disso, há também os casos em que podemos dizer que a cognição é realizada pelo corpo, ainda que sempre seja preciso que haja alguma participação do sistema nervoso cen- tral. Mas não há a ocorrência de processos representacionais, embora eles possam estar envolvidos em uma parte do apren- dizado que vai levar à implantação de certos automatismos. Por exemplo, uma pessoa que aprende a dirigir automóveis pode fazê-lo (e é melhor que seja assim) sob a orientação de um instrutor. Mas depois de aprender bem e de dirigir por um

70 A esse respeito é interessante a leitura – desafiadora para a imagi-

tempo, ela pode automatizar todo o processo de direção de seu automóvel, tanto que ela não terá na maior parte das vezes consciência das operações específicas que executou em deter- minado trajeto ao dirigir. Isso significa não só que ela passou a executar tarefas inconscientemente, mas também que uma espécie de memória muscular, digamos, elimina a necessidade de certos estados representacionais e de processamento no sistema nervoso central. Mais uma vez, não é que não haja a participação do sistema nervoso central, mas ela não é uma participação na forma de manipulação de representações in- ternas.

Uma ideia semelhante já se encontra na epistemologia ao distinguir entre saber que e saber como, ou seja, entre o conhecimento proposicional e o conhecimento como habilida- de. O caso do automóvel é mais difícil, mas uma pessoa pode aprender sozinha a andar de bicicleta sem ter nenhuma infor- mação que lhe seja passada de modo proposicional sobre o que é preciso fazer para se equilibrar sobre uma bicicleta. Essa habilidade, quando implantada, cria hábitos musculares e mo- tores que não são representacionais. Mas podemos dizer que esse também é um caso em que há algum tipo de cognição, pelo menos no sentido de que determinados problemas são resolvidos. O tempo todo, ao executar uma dessas operações mecânicas automatizadas, a pessoa tem de ter em conta modi- ficações do ambiente e de seu próprio corpo, e compensá-las adequadamente, de forma a atingir o objetivo, por exemplo, seguir pela rua de bicicleta sem cair, sem se chocar com outros objetos, até chegar a seu destino. Ora, se há a resolução de problemas, se há o exercício de controle em virtude de mudan- ças ambientais e se uma tarefa predeterminada é cumprida, então não podemos dizer que não há cognição nesse processo.

O mentalista tradicional e o cognitivista vão concordar que há, mas eles vão argumentar que isso se deve ao fato de que, de qualquer forma, o cérebro inconscientemente faz cál- culos e manipula informação. Para o corporificacionista, o corpo faz isso em diversos momentos, liberando o cérebro para outras atividades. De qualquer maneira, é verdade que, em um momento mais crítico em que os hábitos musculares e motores não são suficientes, o cérebro assume de forma representacio-

nal e intelectual a tarefa. Mas isso só mostra que o organismo humano é suficientemente sofisticado do ponto de vista men- tal para distribuir a cognição e o controle de funções, e retomá- lo de maneira centralizada apenas quando necessário.

A noção de distribuição da cognição é encarada de ma-

neira mais radical por Edwin Hutchins,71 que apresenta em seu

livro uma análise detalhada de casos em que não apenas nosso corpo participa dos processos cognitivos, mas esses processos envolvem necessariamente outros elementos ambientais, que podem ser outras pessoas ou dispositivos mecânicos e eletrô- nicos, máquinas, ferramentas etc., isto é, qualquer coisa que no ambiente possa fazer parte de um sistema de cognição dis- tribuída. Essa é uma teoria heterodoxa da cognição, uma vez que ela a concebe como um processo no mundo, um processo observável, dentro do qual cada um de nós pode estar, em vez de tê-lo dentro de si, dentro de sua cabeça, em seu cérebro.

A ideia básica aqui é que se determinada tarefa cogniti- va, em determinado contexto, não pode ser executada por um indivíduo humano sozinho, mas deve envolver outros indiví- duos e outros objetos do ambiente, então o processo cognitivo é distribuído. Um exemplo longamente explorado por Hut- chins é o da manobra de atracação de um navio antes que os aparelhos de GPS existissem. Basicamente, isso envolvia um piloto, um navegador e dois observadores laterais no navio. Esses últimos observavam as posições do navio em relação a determinados pontos da costa, passando tais informações ao navegador que, com base nelas e com o uso das cartas náuti- cas, traçava a rota e comunicava isso ao piloto. Esse processo reiterado é que permitia que o navio entrasse no porto e atra- casse em segurança. Embora uma pessoa possa fazer o mesmo se estiver, por exemplo, em um pequeno barco, num navio de grande porte, não há como fazê-lo a não ser do modo acima descrito. E mesmo depois dos aparelhos de GPS, enquanto cognição distribuída, o processo não mudou essencialmente, pois esses dispositivos, por assim dizer, fazem o papel dos ob- servadores laterais e mesmo do navegador. Assim, podemos

dizer que nesses casos é a própria embarcação que resolve o problema cognitivo ou, melhor dizendo, quem especificamente o resolve é o sistema constituído pelos indivíduos e equipa- mentos pertencentes a tal sistema de navegação e pilotagem.

É claro que há também processos cognitivos internos aos indivíduos humanos envolvidos nesses processos de cogni- ção distribuída, assim como há processos informacionais e computacionais nos equipamentos de diferentes níveis de so- fisticação mecânica e eletrônica envolvidos no sistema. Mas esses são outros sistemas cognitivos menores, digamos, que estão inseridos no sistema maior. Trata-se, portanto, de um sistema complexo, tal como vimos no capítulo anterior. A cog- nição distribuída, nesse caso, é um fenômeno emergente e que diz respeito ao sistema de cognição distribuída como um todo.

Nossa participação em sistemas de cognição distribuída do tipo comentado acima, como aquele caso da navegação de um barco de grande porte, pode ser episódica e pode envolver basicamente estados de consciência reflexiva nossos. Mas, há também aqueles casos em que nossa participação é inconscien- te, o que não faz com que o processo de cognição distribuída