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Muitos materiais de reação alcalina podem ser utilizados para corrigir a acidez do solo, como por exemplo: cal virgem, cal apagada, calcário calcinado, conchas mari- nhas moídas, cinzas, resíduos industriais, etc. Os corretivos mais comumente disponí- veis e utilizados no Brasil são os calcários agrícolas, obtidos pela moagem de rochas calcárias.

Devido à grande variabilidade na qualidade e no preço dos produtos existentes no mercado, é necessário determinar seu valor corretivo. A eficiência de um corretivo depende principalmente do teor e do tipo de compostos que neutralizam a acidez do solo e da velocidade de reação de neutralização, a qual depende da sua granulometria (tamanho das partículas).

8.1.1 - Teor e tipo de neutralizantes

Os corretivos podem apresentar teores variáveis de impurezas, como sílica, argila, água, etc., que não corrigem a acidez e, portanto, diminuem sua qualidade.

Os principais compostos neutralizantes de acidez presentes nos corretivos são os carbonatos de cálcio e de magnésio (CaCO3e MgCO3, respectivamente) nos calcá-

rios; os óxidos de cálcio e de magnésio (CaO e MgO) na cal virgem; e os hidróxidos de

cálcio e de magnésio [Ca(OH)2e Mg(OH)2] na cal apagada. Os calcários calcinados

contêm carbonatos e óxidos de cálcio e de magnésio. O carbonato de cálcio é o prin- cipal componente das conchas moídas. Os resíduos industriais podem conter carbo- natos, óxidos e hidróxidos de cálcio e de magnésio, dependendo das matérias-primas e processos utilizados.

Devido à sua composição química variável, os corretivos têm diferentes capaci- dades de neutralização de ácidos. Esta capacidade, chamada de poder de neutraliza- ção (PN), é expressa em relação àquela do carbonato de cálcio puro, ao qual é atribuído o valor de 100%. Assim, a capacidade de neutralização ou PN dos compostos e corretivos é também chamada de equivalente em carbonato de cálcio (ECaCO3).

Quanto maior o PN de um composto ou corretivo, maior é a quantidade de ácidos que ele neutraliza. Assim, para corrigir uma determinada quantidade de ácidos no solo, será necessário tanto mais corretivo quanto menor for seu PN ou ECaCO3. Na Tabela

8.1, são apresentados a composição química, os valores de PN e as quantidades equivalentes em CaCO3de compostos existentes em materiais corretivos de acidez.

Em laboratório, a determinação do PN ou ECaCO3é feita pela reação de amostra

do corretivo com quantidade conhecida de ácido, titulando-se o excesso de ácido com hidróxido de sódio. A legislação brasileira (Brasil, 2004c) permite o cálculo do PN pelos teores de cálcio e de magnésio solúveis em ácido, expressos na forma de óxidos desses elementos (CaO e MgO). O teor de óxidos é apenas a forma de expressar os resultados analíticos no laudo, à semelhança do que é feito para os fertilizantes, mesmo que o Ca e o Mg estejam em outras formas químicas. Nos calcários agrícolas, por exemplo, o Ca e o Mg estão na forma de carbonatos e não de óxidos. Assim, quando a origem de um possível material corretivo é desconhecida, deve-se determinar o PN pelo método

Tabela 8.1. Composição química, poder de neutralização (PN) ou equivalente em CaCO3

(ECaCO3) e quantidades equivalentes a uma tonelada de CaCO3dos principais compostos presentes em corretivos de acidez

Corretivo Fórmula PN ou ECaCO3 Quantidade equivalente

% kg

Carbonato de cálcio CaCO3 100 1.000

Carbonato de magnésio MgCO3 119 840

Hidróxido de cálcio Ca(OH)2 135 741

Hidróxido de magnésio Mg(OH)2 172 581

Óxido de cálcio CaO 179 559

direto por reação com ácido, pois as determinações de Ca e de Mg e posterior expres- são como CaO e MgO podem não indicar adequadamente o teor de neutralizantes do material.

Para calcular o valor do PN de um corretivo, utilizando-se os teores de CaO e de MgO, deve-se usar as relações entre os pesos moleculares desses materiais e do CaCO3(Tabela 8.1) ou seja 100/56 = 1,79 para o CaO e 100/40 = 2,48 para o MgO. Por

exemplo, se o fabricante garante os teores de 30% de CaO e 15% de MgO, tem-se:

PN devido ao CaO = 30% x 1,79 = 54%;

PN devido ao MgO = 15% x 2,48 = 37%; PN do corretivo = 54% + 37% = 91%.

8.1.2 - Tamanho de partículas

Os corretivos de acidez têm partículas de vários tamanhos, desde pó até grânulos de 2,0 mm de diâmetro. Alguns materiais, como os resíduos industriais úmidos e/ou não moídos, podem ter agregados maiores que 2 mm. Quanto maior o diâmetro das partículas do corretivo, tanto maior será o tempo necessário para a reação com os ácidos do solo. O calcário moído que passa em peneira ABNT nº 270 (orifícios de 0,053 mm), a cal virgem e a cal apagada reagem rapidamente e, portanto, corrigem a acidez em poucas semanas, se o solo estiver úmido. Os calcários agrícolas são materiais muito pouco solúveis, portanto devem ser finamente moídos para aumentar a superfície de contato entre as partículas e o solo. Resultados de pesquisa a campo indicam que as partículas menores que 0,053 mm (passam em peneira ABNT nº 270) reagem completamente em menos de um mês, e partículas entre 2,00 e 0,84 mm (ficam retidas na peneira ABNT nº 20, mas passam na peneira ABNT nº 10) necessi- tam de prazo maior que 60 meses para completa reação (Pandolfo & Tedesco, 1996). O efeito do tamanho de partículas na eficiência do corretivo é expresso pelo fator reatividade (RE). Essa se refere à eficiência relativa das frações granulométricas do corretivo. A separação das partículas em frações granulométricas possibilita a esti- mativa da reatividade de um corretivo, conhecendo-se os índices de eficiência de cada fração. Assim, pela legislação atual, os valores de reatividade são: 1,0 para partículas com diâmetro menor que 0,30 mm; 0,6 para partículas entre 0,30 e 0,84 mm; 0,2 para partículas entre 0,84 e 2,00 mm; e zero para partículas maiores que 2,00 mm de diâ- metro (Brasil, 2004c).

A reatividade de um corretivo pode ser facilmente calculada pela análise granu- lométrica. Por exemplo, se um calcário apresentar a seguinte composição granulométrica:

- 20% passa na peneira no20, mas é retido na de no50 (³ 0,30 e < 0,84 mm) - 18% passa na peneira no10, mas é retido na de no20 (³ 0,84 e <2,00 mm) - 2% é retido na peneira no10 (³ 2,00 mm),

a sua reatividade (RE) é a soma das eficiências das quatro frações: RE = (60% x 1,0) + (20% x 0,60) + (18% x 0,20) + (2% x 0,0) = 75,6%.

8.1.3 - Eficiência do corretivo (PRNT)

A eficiência de um corretivo depende de suas características químicas, expres- sas pelo PN ou ECaCO3, e de suas características físicas, expressas pela RE. A eficiência

do corretivo é indicada pelo "poder relativo de neutralização total" (PRNT),da seguinte

forma:

PRNT (%) = (PN x RE)/100.

Por exemplo, se um corretivo tem PN=91% e RE=75,6%, seu PRNT será: PRNT = (91 x 75,6)/100 = 68,8%.

Esse valor indica que uma quantidade de 1.000 kg deste corretivo terá, em 2 ou 3 anos, o mesmo efeito de correção da acidez do solo que 688 kg de CaCO3puro e fina-

mente moído. Portanto, o PRNT indica a proporção do corretivo que efetivamente neutra- liza a acidez do solo num período de 2 a 3 anos. Assim, para neutralizar a acidez de um solo, deve-se usar tanto mais calcário quanto menor seu PRNT, ajustando-se a dose a ser aplicada, pois as recomendações são feitas considerando-se um produto com PRNT 100% (Tabela 6.2). Para uma recomendação de 3,0 t/ha, deve-se aplicar do corretivo acima:

3,0 x 100/68,8 = 4,4 t/ha.

Ao adquirir um corretivo, é importante considerar o custo do produto por unidade de PRNT, posto na área a corrigir e não o custo por tonelada de produto.

Além do PRNT do corretivo, deve-se também considerar o seu teor de magné- sio, por ser este um nutriente geralmente determinado em menor teor que o cálcio nos solos ácidos do Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Por essa razão, como orientação geral, recomenda-se optar, sempre que possível, por corretivos que contenham magnésio, como os calcários dolomíticos. Em algumas situações, como a aplicação de calcário na linha de semeadura ou a necessidade de rápida correção da acidez, deve-se utilizar um produto finamente moído, com predominância de partículas menores que 0,15 mm de diâmetro (tipo "filler"). Em outras situações em que não será mais possível o revolvimento do solo após a correção da acidez (por ex.: no estabeleci- mento do plantio direto ou na correção do solo na camada de zero a 40 cm antes da

implantação de pomares) pode-se utilizar calcário com partículas maiores (mas inferi- ores a 2,0 mm), corrigindo a dose a aplicar pelo PRNT. Nesse caso o efeito residual será prolongado.

8.1.4 - Legislação

Os valores mínimos de equivalente em CaCO3admitidos pela legislação brasi-

leira atual, de acordo com a natureza do

material, são apresentados na Tabela 8.2. Na Tabela 8.3, é apresentada a classificação dos corretivos conforme seu teor de MgO. Por essas tabelas, verifica-se que os valores mínimos para PN e PRNT são de 67% e de 45% respectivamente.

Em relação à granulometria, a legislação exige que 100% do material corretivo passe em peneira de 2,0 mm (ABNT nº 10), com tolerância de 5% (mínimo de 95% de partículas menores que 2 mm); 70% passe em peneira de 0,84 mm (ABNT nº 20) com tolerância de 5%; e 50% passe em peneira de 0,30 mm (ABNT nº 50). Os corretivos de acidez poderão apresentar, no máximo, até 10% de umidade. Outras informações sobre a legislação brasileira de corretivos são apresentadas no Anexo 2.

8.1.5 - Uso de gesso agrícola

O gesso agrícola (CaSO4.2H2O) é um subproduto da fabricação de ácido fosfó-

rico na indústria de fertilizantes fosfatados. É também denominado fosfogesso por conter uma pequena quantidade de fósforo (0,5 a 0,8% de P2O5).

Por sua natureza, o gesso agrícola não é um corretivo de acidez de solo. Pela legislação, é classificado como corretivo de sodicidade e condicionador de solo (Brasil,

Tabela 8.2. Garantias mínimas de poder de neutralização (PN), da soma de óxidos

(CaO + MgO) e de PRNT exigidas para os principais corretivos da acidez do solo(1) Corretivo PN (ECaCO3) CaO + MgO PRNT (mínimo)

- - - % - - - -

Calcário agrícola 67 38 45

Cal virgem agrícola 125 68 120

Cal hidratada agrícola 94 50 90

Calcário calcinado agrícola 80 43 54

Outros 67 38 45

(1)Fonte: Brasil (2004c).

Tabela 8.3. Classificação dos calcários

de acordo com o teor de MgO(1) Classificação MgO % Calcítico < 5 Dolomítico ³ 5 (1) Fonte: Brasil (2004c).

2004c). Constitui fonte dos nutrientes cálcio e enxofre para as plantas. Devido à sua maior solubilidade, comparativamente ao calcário, pode proporcionar um aumento dos teores de cálcio, de enxofre e, em menor quantidade, de magnésio em profundidade no perfil do solo, aumentando a saturação por bases e diminuindo a saturação por alu- mínio (Raij, 1988). Esse efeito é variável e depende do tipo de solo e da quantidade aplicada.

Os resultados de vários trabalhos de pesquisa conduzidos nos solos dos Esta- dos do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina indicam que a aplicação de gesso não aumenta o rendimento das culturas em situações onde não há deficiência de cálcio e/ou de enxofre, principalmente em solos calcariados (Ernani et al., 1992; Ernani, 1993). A aplicação de gesso pode ser recomendada para culturas exigentes em cálcio, como, por exemplo, a macieira.

Foi observada, recentemente, resposta à aplicação de gesso em cultivos de milho e de soja em Campos Novos (SC) após seis anos da aplicação, devido à maior profundidade do sistema radicular das culturas, principalmente quando ocorreu verão com estiagem (Nuernberg et al., 2002).

A adição de gesso a corretivos da acidez reduz o PRNT das misturas, visto que este produto não apresenta efeito neutralizante da acidez.

8.1.6 -

Outros aspectos referentes a corretivos de solo

Relação Ca:Mg

O teor de magnésio é outro fator a considerar na escolha de um corretivo de acidez. Corretivos com teor muito baixo de Mg, como os calcários calcíticos e conchas marinhas moídas, por exemplo, não são recomendados para solos com baixo teor deste elemento. Entretanto, para a maioria das culturas, a relação Ca:Mg dos correti- vos pode variar entre limites muito amplos, desde que ambos estejam em nível de sufi- ciência (ver item 5.4, p. 52). Em alguns casos, porém, esta relação deve ser considerada, como no cultivo da macieira, em que alto teor de Mg no corretivo pode inibir a absorção de Ca pelas plantas, prejudicando a qualidade e a conservação dos frutos. Nesse caso, os calcários calcíticos são, às vezes, recomendados.

Presença de outros componentes

Os corretivos geralmente contêm outros componentes, presentes nos ambien- tes de origem. Pequenas quantidades de Na, P, K, micronutrientes e metais pesados podem ser determinadas, geralmente em quantidades menores que 0,01%. Com a dissolução das partículas do corretivo, estes elementos participam das reações quími- cas que ocorrem no solo. Porém, a contribuição destes elementos para o teor total no

solo é, em geral, muito pequena, podendo ser desconsiderada como adubação ou con- taminação do solo. Os teores de metais pesados deverão, entretanto, ser considerados quando são utilizados resíduos industriais como corretivos de solo (item 9.7).