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5 NÃO É SÓ ENTRETENIMENTO – OBSERVAÇÕES PARA UMA SOCIOLOGIA

5.1 COWBOYS, COWBICHAS E QUEERPIRAS

É domingo e o mês é maio. Estou na casa dos meus pais, na pequena comunidade rural onde cresci, formada por aproximadamente 3 mil habitantes, localizada a menos de 10 quilômetros de distância do centro da cidade de São Carlos. Por volta das 8 horas da manhã, um amigo de infância envia uma mensagem perguntando se eu gostaria de acompanhá-lo a uma festa comunitária que aconteceria em outra comunidade rural, situada a aproximadamente 30 quilômetros dali. Aceito o convite.

Festas assim são organizadas pelas paróquias e ocorrem uma vez ao ano. São eventos que integram o calendário anual das comunidades, de modo que esses momentos são esperados e, quando acontecem, costumam ser prestigiados pelos moradores locais. A festa do padroeiro, como é chamada, ocupa todo o final de semana atraindo moradores de outros municípios e pessoas que vivem em fazendas, sítios ou nas incontáveis pequenas chácaras que se espraiam pela região.

Convencionalmente, cada comunidade tem uma paróquia e cada paróquia escolhe um domingo para render homenagens ao santo padroeiro do local. Na zona rural, o número de eventos públicos e oportunidades de lazer nesses espaços é limitado em contraste com as cidades médias e menores da região. Em comunidades como a que cresci, a sociabilidade no espaço público é predominantemente organizada em torno das praças, das igrejas católicas e neopentecostais e dos bares. Sendo assim, ocasiões desse tipo são experimentadas como um acontecimento relevante para a comunidade porque representam um momento de deslocamento na rotina local.

Durante as festas paroquiais, sagrado e profano confluem gerando novas oportunidades de negócios para muitos moradores da comunidade. As festividades cumprem um roteiro. Na noite de sábado, por volta das 23 horas, no salão de festas da paróquia, acontece

o “baile” embalado pela música caipira alternado com hits do sertanejo universitário. Esta é uma valiosa oportunidade para as bandas locais se apresentarem ao público.

No domingo, as atividades se desenrolam intercalando a programação religiosa e atividades profanas. Pela manhã, as atividades se concentram em torno da cavalgada, como é chamado o desfile de cavaleiros e amazonas que levam seus animais pelas ruas do centro, onde fica a igreja, para receberem as bênçãos concedidas pelo padre. Entusiasmados com a festa, muitos jovens seguem direto do baile para o desfile. Após o almoço, o período da tarde é ocupado pela missa que se desenrola com a procissão, quando todas as imagens de santos e santas da igreja são expostas e desfilam pelas ruas sobre andores enfeitados com flores naturais coloridas cuidadosamente encaixadas entre tecidos de cetim recobertos com tule. As famílias de moradores locais se organizam e dividem a responsabilidade pela preparação das imagens e pelos enfeites que irão adornar os andores de cada santo, tal atividade é predominantemente atribuída às mulheres.

Durante o final de semana, enquanto acontecem os festejos, as ruas são preenchidas por pequenas barracas especializadas na venda de comidas, bebidas e artefatos de todos os tipos: artesanatos, enfeites e presentes em meio a uma incalculável variedade de souvenires fabricados na China. O espaço das barracas é locado pela igreja e, ao que tudo indica, os rendimentos financeiros obtidos com o evento é destinado à manutenção do prédio, à implementação e às melhorias na infraestrutura da própria festa, o que garante os meios necessários para a sua realização no ano seguinte.

Nos meses que antecedem o evento, parte significativa da comunidade católica local está, de alguma maneira, envolvida com esse dia. Segundo as normas de gênero que regulam as atividades, enquanto as mulheres cozinham, limpam e enfeitam, os homens cuidam dos negócios que envolvem o dinheiro, o que equivale a assumir os compromissos em torno da organização da estrutura da festa

Há vários sentidos em jogo no contexto da festa do padroeiro. Para as famílias de fiéis envolvidas com as comemorações, a festa é mais uma oportunidade para reafirmar a fé e para fortalecer os vínculos de solidariedade que nutrem a comunidade. Para o comércio, pequenos biscateiros locais, e para a igreja é uma valiosa oportunidade de aumentar os lucros. Para os moradores em geral, especialmente para os mais jovens desprovidos de recursos financeiro que lhes garantam mobilidade de maneira relativamente autônoma, a festa representa uma das raras oportunidades de diversão no espaço público, agora movimentado e repleto de pessoas “desconhecidas”. Por algumas horas, a paisagem local destoa da rotina pacata da comunidade em que todos se conhecem.

Ao cair da noite, a praça em frente à igreja matriz fica mais movimentada à medida que passa a contar com a animação de modestas apresentações musicais. Por vezes, os pequenos shows se revezam com discursos proferidos por políticos locais em busca de votos e pelo pároco local, que se desdobra em agradecimentos aos apoiadores do evento. Em geral, essa é uma oportunidade de visibilidade não apenas para líderes político, mas, sobretudo, para as duplas de música caipira e pequenos grupos sertanejos formados por moradores da região, que ganham a vida se apresentando em eventos do mesmo tipo. Para esses artistas, assim como para os barraqueiros e biscateiros locais, as festividades dos padroeiros formam um circuito de eventos que se sucedem e lhes garante sustento durante o ano todo.

Em termos ocupacionais, a população local está predominantemente organizada em torno do agronegócio, cuja principal face é a indústria sucroalcooleira. Também há um número significativo de pessoas que tiram sustento da agricultura familiar praticada em pequenas fazendas e sítios dispersos pela região, além de um número menor de residentes alocados no funcionalismo público, no comércio ou em algum setor dos serviços privados prestados na região. Nas pequenas comunidades da zona rural também não é incomum encontrar muitas pessoas que sobrevivem tirando sustento de ocupações temporárias e perenes, conhecidos como “diaristas”. Em termos educacionais, a população local é formada predominantemente por pessoas com ensino fundamental completo que se soma a uma pequena parcela de pessoas, em geral jovens, com grau de especialização técnica ou superior.

Existem algumas dezenas de pequenas comunidades rurais semelhantes espraiadas por essa região do interior paulista. Muitas são formadas por descendentes de imigrantes espanhóis, italianos e japoneses e por migrantes das regiões Norte e Nordeste que vieram em busca de novas oportunidades de trabalho. No contexto local, a relevância da festa paroquial não pode ser desprezada. As pessoas se preparam para no dia da festa vestirem suas melhores roupas e, revelando as dinâmicas de gênero locais, as garotas se enfeitam e vão ao cabeleireiro. Enquanto elas cuidam dos cabelos e da maquiagem, os rapazes preparam os chapéus, botas e cintos ornamentados que usarão durante o evento.

As atividades do domingo começam bem cedo. Pouco depois das 7 horas da manhã já é possível ver um grande número de pessoas que se aglomeram pelas as ruas estreitas. Moradores locais esperam o desfile em frente de casa enquanto conversam com parentes ou conhecidos que se deslocaram para participar do evento. Cerca de 300 cavalos e seus donos se espraiam por todas as ruas por onde os pedestres se espremem e disputam o espaço. Todos estão à espera da cavalgada. Além de cavalos, também é possível ver, em menor quantidade, alguns homens e mulheres montados em búfalos e touros domesticados.

Assim que chegamos, meu amigo me explicou que antes de irmos ao local da festa passaríamos na casa de Alan, um conhecido dele, para que pudéssemos nos juntar a um grupo que estava lá se aprontando para o evento.

Em pequenas comunidades rurais como a que cresci e como esta - formadas por menos de 10 mil moradores - não é um exagero afirmar que todos se conhecem. Famílias que vivem a mais tempo na região são conhecidas pelo sobrenome de tal modo que não é incomum que alguém explique sobre o contexto local dizendo apenas: “aqui são todos parentes”. A proximidade entre parentes também pode ser entendida como indicativo a respeito de como o número reduzido de pessoas se reflete no mercado matrimonial local.

Torna-se também compreensível as razões pelas quais as redes de relações podem ser continuamente usadas pelas pessoas para posicionar conhecidos e desconhecidos - tal como fazia Graziela - a dona do bar localizado na cidade de Rafael -, de quem falei anteriormente. Em comunidades menores, alguém sempre é casado com o primo ou o primo da prima de alguém conhecido. Alguém é sempre parente de alguém e esse dado situa os sujeitos na rede de relações sociais.

Chegando à casa de Alan, nove pessoas conversavam e tomavam café enquanto se preparavam para sair. Logo que entrei, percebi que quatro rapazes eram pessoas com quem eu já havia conversado pelos aplicativos e de pronto notei que também fui reconhecido. Devo explicar que, embora tenha crescido em uma dessas comunidades rurais, há mais de uma década moro em outras cidades, o que resulta em certa dificuldade para posicionar de pronto as pessoas nas redes de relações, sobretudo, as mais jovens. Ainda assim, uma vez que sou nativo, muitos me reconhecem a partir da minha família, formada por mãe e tias professoras que lecionam na região, mas também porque, ao longo do mestrado, durante um curto período, eu mesmo trabalhei como professor de sociologia em escolas localizadas áreas rurais.

Enquanto caminhávamos em direção à igreja matriz, Pedro, um dos rapazes que estavam na casa de Alan, puxando assunto comigo, perguntou-me se eu havia parado de dar aulas na escola local. Respondi que sim, que desde que havia conseguido a bolsa de estudos, há cerca de três anos, passei a me dedicar exclusivamente aos estudos e, por isso, tive que deixar as aulas. Perguntei se nos conhecíamos da escola, afinal, considerando que ele tinha 22 anos, poderia perfeitamente ter sido um dos meus alunos. Ele me respondeu que não, mas que já havíamos conversado algumas vezes pelo aplicativo. Pedro demonstrou interesse em conversar comigo e, mais tarde, informado sob as condições da pesquisa, aceitou colaborar com meu estudo.

Pedro trabalha como cabeleireiro, ofício que aprendeu aos 16 anos quando foi contratado pela cabeleireira da rua onde morava para, aos finais de semana, ajudá-la cuidando de preparar os cabelos das clientes para o corte. Incentivado pela avó materna, com quem viveu dos 12 aos 20 anos, o trabalho começou como uma ocupação para obter uma renda extra. Pedro diz que logo foi pegando jeito e gosto pela coisa. Aprimorando seus conhecimentos, mais tarde ele conseguiu um emprego em um grande salão da “cidade”, como os moradores locais costumam se referir ao maior município próximo da comunidade.

Morando em São Carlos, com frequência, Pedro retorna a antiga comunidade para rever os avós e os amigos de infância, com quem mantém uma relação bastante próxima.

Percebendo que falávamos sobre os aplicativos e sobre as particularidades de viver em uma comunidade pequena, Sávio, um dos amigos de Pedro, deu sua opinião explicando que também crescera ali, mas que, naquele momento, estava desempregado e vendo o fim de suas economias teve como única opção retornar para a casa dos pais como uma alternativa para sobreviver até que conseguisse um novo emprego.

Sávio tem 25 anos. Ele contou que em seu último emprego trabalhava como estoquista, mas que antes disso já havia passado por diversos postos de trabalho, como office boy, moto- taxi e, também, durante 2 anos, trabalhou como motorista em uma das usinas de cana-de-açúcar da região, função mais estável e na qual permaneceu mais tempo dentre as experiência de emprego.

Assim como Pedro, Sávio também prontamente reconheceu minha imagem, associando-me aos aplicativos. Ele me explicou que, diferente do que se passa em uma grande cidade como a que vivia antes, nas comunidades menores são poucos os usuários presentes nos aplicativos e que, por isso, acaba sendo mais fácil que as pessoas se encontrem e se reconheçam.

Na pequena comunidade rural poucos rapazes são, como meus colegas, abertamente homossexuais. Em contextos rurais, marcados pela moral familista e religiosa, assumir-se gay quase sempre implica na possibilidade de ruptura com os vínculos familiares, o que permite entender as razões pelas quais, enquanto caminhávamos até a praça da matriz, Alan me perguntou se eu sabia que andando com eles, todos saberiam que eu também era gay. Respondi que provavelmente poderia acontecer, mas que isso não representava um problema para mim. Como Sávio, nem todos dispõem dos meios necessários (materiais e psicológicos) para arcar com as consequências decorrentes de uma ruptura familiar e isso explica as razões pelas quais, desde que voltou a morar com os pais, ele diz ter procurado “segurar a onda”. Menor ainda é o número dos que, como Pedro, podem contar com o apoio dos avós para sobreviver às tensões presentes no ambiente da família nuclear.

Pergunto porque Pedro passou a viver com os avós. Meu interlocutor explica que a decisão se deu quando ele, então na puberdade, passou a ser vítima das investidas críticas do pai sobre sua aparência, seus maneirismos e sua personalidade, considerados excessivamente femininos. Uma vez acolhido pela avó, o afastamento emocional entre Pedro e o pai se aprofundou. Ao falar sobre a relação dos dois, ele pondera dizendo que muitas coisas mudaram com o tempo e que ter paciência foi fundamental para assistir a uma mudança de postura por parte do pai, que se tornou menos agressivo e autoritário. Assim, nas palavras dele, atualmente os dois conseguem manter “uma relação de cordialidade e respeito mantida a uma distância segura”.

Perguntei para Pedro o que então havia motivado a sua mudança da casa dos avós para a cidade. Ele me explicou que depois de adulto, já com alguma estabilidade financeira, sentiu que precisava aproveitar mais a vida, viver com mais liberdade e ter novas experiências. Embora considerasse boa a vida com os avós, Pedro diz que acha a vida na cidade melhor, mas não apenas por questões salariais, haja vista que a cidade oferece uma série de oportunidades que são inacessíveis para quem vive na zona rural. Perguntei então a quais oportunidades ele se referia. Ele me respondeu que tinha a ver com um maior número de opções de trabalho, consumo e lazer, além da possibilidade de encontrar alguém para uma simples diversão momentânea ou até mesmo para um namoro.

Para rapazes como Pedro, Alan e Sávio a mudança de cidade em busca de novas oportunidades de trabalho representa também ter maiores condições de autonomia e liberdade. Mudar-se também significa abrir uma janela de oportunidade para constituição de novos laços de amizade e de afeto baseados mais em afinidades do que no local de moradia. Além disso, ser homossexual e viver em uma pequena comunidade rural implica em lidar com a escassez de um mercado amoroso e sexual no interior de um mercado moldado pela escassez de parceiros. Em outras palavras, o número reduzido de pessoas se torna ainda mais restrito quando se considera apenas as pessoas que vivem abertamente homossexualidade e isso diminui ainda mais as chances de que as pessoas possam consolidar uma relação estável.

Minhas observações permitem sugerir que, entre casais formados por pessoas do mesmo sexo, é mais comum que a relação se estabeleça entre duas pessoas assumidas ou entre duas pessoas “no armário”. Logo, são mais raros os relatos de relacionamentos estáveis entre uma pessoa assumida e outra que não é assumida. Essa característica dos relacionamentos pode ser compreendida levando em consideração o fato de que pessoas que vivenciam experiências homoeróticas em segredo temem a exposição pública e, por isso, acabam evitando se associar a pessoas reconhecidamente homossexuais.

É possível aventar que o baixo número de experiências afetivas e amorosas consideradas bem-sucedidas apontadas pelos meus três interlocutores opera como parte da gramática afetiva que operam se molda às restrições presentes nos contextos onde cresceram.

Enquanto conversávamos sentados em uma barraca próxima à entrada da igreja, perguntei aos meus interlocutores se a distância funcionava como um impeditivo para conhecer pessoas por meio dos aplicativos. Minha pergunta foi elaborada considerando que, nos apps, a distância é um elemento fundamental para as interações. Sendo assim, distâncias mais longas, como a que separa a comunidade rural das cidades mais próximas, poderia funcionar como um impeditivo para o contato, uma vez que exigiria alguma mobilização para um encontro face a face.

Alan me respondeu que, geralmente, usava o aplicativo buscando rapazes nas cidades próximas, onde também têm outros amigos e parentes e para as quais acabava viajando com relativa frequência. Sávio disse que, quando estava na casa dos pais na zona rural, buscava contatos com rapazes que estavam em Ribeirão Preto, cidade onde morava antes, sendo que os encontros aconteciam apenas quando ele retornava para lá. Pedro brincou dizendo que, quando não estava conversando com os “meninos” - seus amigos Alan e Sávio - pelo aplicativo, também buscava rapazes das cidades mais próximas e os encontrava depois.

Em comum, sob o ponto de vista dos três amigos, a internet emerge como uma ferramenta para conhecer “caras interessantes”. Diante da afirmação reiterada, perguntei a eles quais características atribuíam a um “cara interessante” e, em contrapartida, quais seriam aquelas capazes de tipificar um “cara desinteressante”. Nas palavras de Pedro:

Aqui você vai encontrar um monte de peão, que é um tipo de cara mais rustico, chucro. Mas tem seu valor. Isso não quer dizer que eles não deixem as coisas rolarem, eles deixam. Mas é aquele negócio: são caras que vão transar e acabou. Não é uma figura com quem vai rolar você trocar uma ideia depois do sexo e nem ter um momento de carinho. É sexo e pronto, acabou. Se é só pra se divertir, tudo bem, não tem problema. Não quer dizer que os caras não sejam gostosos, não é isso. É que é sempre mais do mesmo, não tem nada novo, nada de interessante. A gente costuma brincar dizendo que o mundo dos cowboys é a coisa boa daqui, mas tem a coisa ruim, que é você ter de disputar eles com as cowgirls e com as outras cowbichas para ver quem pega primeiro. (Diário de campo do pesquisador).

A fala de Pedro chamou minha atenção por diferentes motivos. Em primeiro lugar, porque ela explica como, nesse contexto, os aplicativos se tornam ferramentas poderosas que permitem a esses jovens - ao menos tese - driblar as restrições espaciais garantindo que conheçam pessoas que consideram “interessantes”. Em segundo lugar, porque aqueles considerados os caras interessantes parecem ser com quem se pode ter uma relação mediada por expressões de afeto e carinho.

Além disso, há outro elemento que revela uma linha conectando a sociabilidade dos jovens gays (cowbichas) à sociabilidade dos cowboys, que até então pareciam se tratar de universos configurados como se fossem radicalmente apartados. Nesse sentido, Pedro chamou minha atenção para como, embora aparentemente não mantivessem relações sexuais com outros homens, os cowboys mantinham realações com as “cowbichas”.

Ao falar sobre cowboys e cowbichas, Pedro estava sendo irônico. Embora conheça os códigos da cultura local, ele não é reconhecido como um cowboy e nem se identifica dessa maneira. Entretanto, ele sabe que na região há outros rapazes gays que se vinculam à estética e aos elementos culturais da zona rural. Diferente do que ocorre com meus colegas, esses rapazes, que também estão pela festa, guardam uma profunda identificação com o universo dos cowboys e aderem ao estilo country transitando entre acessórios e normas de gênero. Além do mais, é preciso entender um pouco das dinâmicas locais: as comunidades rurais são marcadas pelos fluxos e deslocamentos dos moradores, mas também por rivalidades e disputas.

Embora sejam muito parecidas em termos sociológicos, os moradores locais expressam considerações diferentes sobre cada uma das pequenas comunidades rurais. Essas considerações expressam noções sobre a paisagem geográfica e social. Assim, algumas são rotuladas pelos meus interlocutores como sendo “mais rurais”, “mais pobres”, “com menos