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O CPDoc JB, arquivo e lugar de memória

No documento O CPDOC JB, arquivo e ligar de memória (páginas 67-93)

Vimos que o objeto desta pesquisa recebeu ao menos três nomenclaturas ao longo dos anos de sua existência: Departamento de Pesquisa e Documentação; Editoria de Pesquisa (que parece não ter sido muito usado); e Centro de Pesquisa e Documentação. Nas duas primeiras, ele é percebido como um dos setores do Jornal do Brasil, funcionando em conjunto com a atividade de produção de notícias. Já na designação de CPDoc, o que ganha mais evidência é a função do órgão de ser um gestor de documentos, tendo certa autonomia, embora ainda vinculado ao JB ao menos em seu nome. Como instituição de guarda documental, qual das diferentes designações, abordadas no primeiro capítulo, melhor definiria o CPDoc JB?

A se considerar pelo título de “centro de pesquisa e documentação”, num primeiro momento poderíamos pensá-lo como um centro de documentação. Contudo, conforme visto, estas instituições se caracterizam por reunirem acervos temáticos, especializados; isto é, seus documentos dizem respeito a temas específicos, permitindo conhecer os mesmos em profundidade (cf. BELLOTTO, 2006, p. 37), por exemplo: medicina, topografia, história local etc. Este não é o caso do CPDoc JB, uma vez que seu acervo não é especializado e seus documentos tratam de temas diversificados.

Vimos também a possibilidade que o centro de documentação tem de funcionar apenas como órgão referenciador (cf. BELLOTTO, 2014, p. 32; BELLOTTO, 2006, p. 39), fornecendo instrumentos de pesquisa e catálogos que remetem aos acervos de outras instituições. Segundo Martinez Comeche (1995, p. 131), neste tipo de instituição de guarda há exclusivamente documentos secundários: catálogos e instrumentos de referência. Isto não ocorre no CPDoc JB, que possui acervo próprio e não faz referência alguma a documentos de outras entidades. Por fim, Bellotto (2014, p. 31) afirma que os tipos documentais predominantes no centro de documentação são as reproduções, únicas ou múltiplas, em suporte microfilme ou papel, assim como as cópias de material sonoro e audiovisual, gravado em mídias ou suportes eletrônicos. Verificamos, portanto, que não podemos caracterizar o

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CPDoc JB como um centro de documentação, uma vez que ele não abriga reproduções, mas documentos originais.

Se o CPDoc JB não é um centro de documentação, tampouco se enquadra nas definições de um centro de memória. Como se demonstrou, esse tipo de organismo é criado fundamentalmente com a finalidade de preservar a memória de uma instituição, recuperando os dados sobre sua história, seu funcionamento e suas instalações (cf. CAMARGO; GOULART, 2015). Além disso, o centro de memória possui tanto documentos gerados ao longo das atividades cotidianas da instituição quanto outros, obtidos externamente de acordo com necessidades de informação e pesquisa, destinados à composição dessa memória institucional. Ficou claro que em momento algum, desde sua criação até o presente, o CPDoc JB teve a funcionalidade de preservação da memória do Jornal do Brasil como instituição. Pelo contrário, ele é sempre apresentado como um repositório de informações sobre o Brasil e o mundo, fonte de pesquisa para diversos interesses e áreas.

Assim, apesar de sua nomenclatura de centro de pesquisa e documentação e da variedade de seu acervo, nossa pesquisa mostrou que o CPDoc JB se trata de um arquivo, semelhante a outros existentes em jornais de grande circulação no Brasil e no exterior. Como afirma Washington José de A. Moura a respeito dos arquivos jornalísticos,

Mesmo considerando nestes serviços os vícios de constituição e que seu tipo evolue [sic] para o de um centro de documentação, não é desejável nem a controvérsia nem o isolamento, pois biblioteca e arquivos jornalísticos é um amálgama integrado dos serviços de biblioteca, do arquivo e de documentação sob vários aspectos em que estas profissões se completam. (MOURA, 1968, p. 57)

De fato, nosso objeto de pesquisa preenche as principais características apresentadas no início do trabalho como pertinentes a um arquivo. Em primeiro lugar, seus documentos foram acumulados ao longo das atividades cotidianas do jornal, com o objetivo específico de servirem à pesquisa corrente (cf. SCHELLENBERG, 1974, p. 15). A maior parte desses documentos – as fotografias, os negativos, as próprias edições impressas do Jornal do Brasil – foram gerados como resultado das atividades finais da instituição, isto é, o trabalho jornalístico (cf. FONSECA, 1998, p. 35; RAYWARD, 1998, s/p). Outrossim, esses documentos constituem um conjunto orgânico, organizado de acordo com uma lógica que respeita sua geração, e não podem ser tratados individualmente. Não são classificados por tema ou assunto, como os livros de uma biblioteca.

Além dessas características, percebemos que os documentos do CPDoc JB têm um valor instrumental, como ocorre ordinariamente nos arquivos. Destinam-se à pesquisa, seja

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para a equipe do jornal, seja para usuários externos. Tendo em conta que o CPDoc JB é um arquivo, podemos afirmar que é um lugar de memória. Conforme discorremos acima, não porque guarde a memória em si, como se esta pudesse ser armazenada em um repositório. Uma vez que o conceito de lugar de memória foi formulado por Pierre Nora, convém retomar, com maior atenção, sua definição e o modo como os arquivos são compreendidos dentro dele. De acordo com esse historiador,

Os lugares de memória são, antes de tudo, restos. A forma extrema onde subsiste uma consciência comemorativa numa história que a chama, porque ela a ignora. É a desritualização de nosso mundo que faz aparecer a noção. O que secreta, veste, estabelece, constrói, decreta, mantém pelo artifício e pela vontade uma coletividade fundamentalmente envolvida em sua transformação e sua renovação. (...) Museus, arquivos, cemitérios e coleções, festas, aniversários, tratados, processos verbais, monumentos, santuários, associações, são os marcos testemunhais de uma outra era, das ilusões da eternidade. Daí o aspecto nostálgico desses empreendimentos de piedade, patéticos e glaciais. (NORA, 1993, p. 12-13)

A criação desses lugares não corresponde à abundância de memórias, como pode parecer. Nora defende exatamente o contrário. A razão para o surgimento dos lugares de memória é o sentimento de que não há mais memória espontânea (cf. NORA, 1993, p. 13). Por esse motivo, porque não há mais a memória como operação natural, é que se faz necessário construir lugares que a guardem, resgatem e transmitam de forma artificial – os arquivos, os museus, os monumentos. Consequentemente, as sociedades também necessitam realizar aniversários, comemorações e homenagens. Sem isto que Nora chama de “vigilância comemorativa”, esses lugares de memória logo desapareceriam, assim como as memórias que eles defendem:

São os bastiões sobre os quais se escora. Mas se os que eles defendem não estivesse ameaçado, não se teria, tampouco, a necessidade de construí-los. Se vivêssemos verdadeiramente as lembranças que eles envolvem, eles seriam inúteis. E se, em compensação, a história não se apoderasse deles para deformá-los, transformá-los, sová-los e petrificá-los eles não se tornariam lugares de memória. É este vai-e-vem que os constitui: momentos de história arrancados do movimento da história, mas que lhe são devolvidos. Não mais inteiramente a vida, nem mais inteiramente a morte, como as conchas na praia quando o mar se retira da memória viva. (NORA, 1993, p. 13)

Porque a memória, atualmente, tem tanta necessidade dessa fixação em registros, objetos e eventos, Nora considera que ela é arquivística. Ela se apoia cada vez mais naquilo que é concreto, material e visível. E seu crescimento é diretamente proporcional à redução da memória espontânea: quanto menos é vivida no interior dos indivíduos, mais ela necessita de suportes exteriores; passa a existir somente através de suas referências tangíveis (cf. NORA,

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1993, p. 14). Este fato explica a ânsia atual por criar arquivos e por preservar registros do presente para o futuro.

Assim, a memória do mundo contemporâneo

É uma memória registradora, que delega ao arquivo o cuidado de se lembrar por ela e desacelera os sinais onde ela se deposita, como a serpente sua pele morta. (...) O que nós chamamos de memória é, de fato, a constituição gigantesca e vertiginosa do estoque material daquilo que nos é impossível lembrar, repertório insondável daquilo que poderíamos ter necessidade de nos lembrar. (NORA, 1993, p. 15) É indispensável, porém, estabelecer claramente a diferença que há entre chamar aos arquivos “lugares de memória” e considerá-los “guardiões de memória”. Na primeira ideia, que é a que adotamos como perspectiva, tem-se, em mente que os arquivos guardam os registros que materializam a memória. Esses registros, contudo, não são a memória, e tampouco os arquivos são uma narrativa pronta do passado. Como muito bem insistiu Ana Maria de Almeida Camargo, os arquivos não são discursos e, portanto, não falam:

os arquivos nada mais fazem do que tornar possíveis as respostas às perguntas que lhes são formuladas; as informações obtidas, combinadas e interpretadas, produzem, por sua vez, novas informações, sob a forma de conhecimento. Em outras palavras: os arquivos não são lidos, mas consultados e pesquisados. (CAMARGO, 2015, p. 13)

Por outro lado, considerar que o arquivo é um guardião da memória, a nosso ver, equivale a imaginar que a memória está lá, cristalizada, pronta para ser apenas colhida – ou lida, se se compreende o arquivo como uma narrativa. Dessa noção discordamos, pelos argumentos acima apresentados.

Voltando a Nora, este destaca o modo impressionante como nossa era construiu arquivos, superando todas as anteriores. Não só isso: também nos tornamos receosos de destruir qualquer registro, como se futuramente ele nos fosse faltar, e como se isso significasse a perda de uma memória. “Não somente tudo guardar, tudo conservar dos sinais indicativos de memória, mesmo sem se saber exatamente de que memória são indicadores. Mas produzir arquivo é o imperativo da época” (NORA, 1993, p. 16).

Eric Ketelaar também chamou a atenção para o fato de que arquivar não caracteriza um olhar para o passado, mas sim uma previdência para o futuro:

Aparentemente, as pessoas valorizam o “armazenamento” como um meio de conservar um relato do presente para o future. Arquivar não diz respeito a um olhar histórico para trás, mas sim a guardar e assegurar para o futuro. Arquivar – todasas atividades desde a criação e tratamento ao uso dos registros e arquivos – sempre foi dirigido no sentido de transmitir as atividades e experiências humanas através do tempo e, secundariamente, através do espaço. Uma memória de armazenamento

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permite que a informação seja usada por memórias funcionais em qualquer outro ponto no tempo. É a qualidade do arquivo como uma máquina do tempo. Os arquivos só podem, contudo, ter o poder de uma máquina do tempo se a informação foi armazenada de alguma forma, em algum lugar. (KETELAAR, 2002a, p. 233, tradução nossa)

É dentro dessa noção de lugar de memória que entendemos o CPDoc JB. Sua constituição e manutenção, como a de qualquer outro arquivo, responde a essa necessidade acumulativa de vestígios de memória. Ele é um lugar de memória, no sentido atribuído por Nora aos arquivos, porque custodia os documentos, que são os “gatilhos” da memória, conforme definido por Laura Millar (2006). Esta última também defende que nem os arquivos nem seus registros são a memória:

Mas equiparar registros com memórias – sugerir que registros são memórias – é confundir dois fenômenos separados. Registros não são memórias. Em vez disso, eles são gatilhos ou pedras de toque que conduzem à recordação de eventos do passado. E não há uma relação direta entre o registro conservado e a memória que ele estimula. (...) Ao contrário, o registro é uma pista da memória, que induz a uma série de recordações. (MILLAR, 2006, p. 114, tradução nossa)

Desse modo funcionam os documentos existentes no arquivo que analisamos neste trabalho. As fotografias, as edições do Jornal do Brasil, os recortes separados por temas, todo esse material funciona como pistas para a memória, e aí está o seu valor. Em outras palavras, sua importância está exatamente na já afirmada função instrumental do arquivo. O acervo do CPDoc JB se reveste de uma relevância particular ao se considerar o lugar que este jornal ocupou na imprensa brasileira durante muitos anos, e que se reflete consequentemente na amplitude do conteúdo que se pode encontrar em seus documentos. Mas isso não lhe confere um mérito subjetivo em relação a outros arquivos (por exemplo, num parâmetro de confiabilidade de seus documentos), assim como o envolvimento do corpo editorial do JB nas questões políticas do país não dota o arquivo de um posicionamento ideológico que o qualifique (ou desqualifique). Pensar assim consistiria na prática, hoje um tanto comum entre os arquivistas, e criticada por Camargo, de

transferir os atributos dos organismos produtores para os arquivos, tornando cada vez mais difundida a maneira imprópria de nomeá-los: arquivos literários, feministas, religiosos, sensíveis, operários, militares, científicos, repressivos e tantos outros. Poderíamos afirmar, no entanto, que os documentos de arquivo não se definem por si, nem têm existência autônoma: o que os caracteriza é o elo de pertencimento ou derivação (função sintática expressa sempre pela preposição de) que mantêm paracom a pessoa física ou jurídica que lhes deu origem. (CAMARGO, 2015, p. 12, grifos da autora)

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É por isso que, ao falar do CPDoc JB, assim como dos outros arquivos aqui mencionados, nos referimos a eles como “arquivos de jornais”, e não como “arquivos jornalísticos”.

Encaminhando-nos já para o final desta análise, trazemos uma última ideia defendida por Laura Millar. Tendo afirmado que os arquivos são apenas uma das muitas ferramentas que usamos para criar, sustentar e compartilhar memórias (MILLAR, 2006, p. 121), ela acredita também que os arquivos e seus documentos estão entre os inúmeros dispositivos que permitem a transformação das memórias individuais em lembranças coletivas. Ao lado das histórias contadas através de gerações, dos objetos, rituais, canções, tradições etc., os registros documentais são utilizados para construir narrativas de memória; consequentemente, propiciam a transmissão e difusão dessa memória, tirando as informações e recordações do âmbito individual e trazendo-as para o nível coletivo. É preciso recordar, porém, como o faz Kenneth Foote, que, se os processos de construção da memória coletiva respondem a questionamentos e circunstâncias do presente, os arquivos estão sujeitos a esses mesmos fatores:

Não obstante, como se deixou claro anteriormente, os arquivos estão sujeitos às mesmas pressões sociais que dão forma à memória coletiva de outras instituições. Talvez os arquivistas sejam mais bem sucedidos em resistir a essas pressões, mas o apagamento algumas vezes ocorre no que diz respeito a representações do passado mantidas por outras instituições e pela sociedade em geral. (FOOTE, 1990, p. 384, tradução nossa)

Ainda assim, podemos afirmar que eles são capazes de informar sobre o passado e sobre a sociedade que os produziu:

registros e arquivos não são memórias, e por si mesmos eles não nos incutem conhecimento. Mas eles são um meio pelo qual ganhamos conhecimento de nós mesmos e de nossa sociedade, conduzindo, em última análise, espera-se, níveis mais elevados de compreensão, compaixão e sabedoria. (MILLAR, 2006, p. 119)

É inegável esta dimensão do arquivo: dá possibilidade de conhecer e compreender melhor a sociedade e as demais pessoas que dela fizeram ou fazem parte, pois sua função primordial é informar. Isto é válido tanto para os arquivos institucionais, como é o caso do objeto desta pesquisa, como para os chamados arquivos pessoais. Mesmo que tenha sido gerado por um único indivíduo, o arquivo nasce num contexto social, e por isso carrega informações sobre o mesmo. Além disso, a pessoa ou instituição que o gerou recebeu constantemente influências do meio em que estava inserida. Como afirma Lucia Maria Velloso de Oliveira acerca dos arquivos pessoais de políticos:

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Os conjuntos documentais que são incorporados a uma instituição para fins de sua preservação e para que a sociedade possa ter acesso constituem-se “pontes no tempo e espaço”, permitindo a ligação entre o passado e presente. Temos insistido sobre a importância dos arquivos pessoais para o estudo da sociedade, seja de seus segmentos ou de períodos históricos. Os arquivos pessoais traduzem o modo de viver, de pensa e de fazer do indivíduo que se insere em grupos sociais. E desempenha diferentes papeis, articulando-se com outros indivíduos de distintas formas. (OLIVEIRA, 2015, p. 120)

Terminamos este capítulo voltando nosso olhar mais uma vez para o Centro de Pesquisa e Documentação do Jornal do Brasil, e para seu lugar entre os arquivos de jornais do qual temos conhecimento no país. Reconhecemos seu papel de lugar de memória, no que se assemelha a qualquer outro arquivo. Mas há nele algo de peculiar? Parece-nos importante salientar o modo como ele influenciou outros arquivos de empresas jornalísticas, o que foi destacado por mais de um autor mencionado neste trabalho. Se o CPDoc JB não foi o primeiro órgão desse tipo a surgir no Brasil – como vimos, o arquivo mantido pelo jornal O Estado de São Paulo já se encontrava bem estruturado no momento em que o Departamento de Pesquisa do JB ainda começava a crescer –, por outro lado, ele promoveu uma nova perspectiva para a funcionalidade desses arquivos. Ao usá-lo como fonte documental para o trabalho da redação, de modo a enriquecer os textos de suas edições, a equipe do JB mostrou que o arquivo do jornal era mais do que um simples repositório. Mostrou, ainda, que seus usuários não seriam apenas possíveis historiadores em busca de papéis do passado. No Jornal do Brasil, o arquivo se tornou vivo, foi constantemente manuseado e alimentado, numa dinâmica em que o recorte de notícia arquivado se tornava fonte para a pesquisa que geraria um novo recorte, este também posteriormente arquivado. Este modo de trabalhar, unindo pesquisa e redação, certamente foi bastante influenciado pela visita de Alberto Dines ao arquivo do The New York Times, que inspirou as mudanças que ele faria no Departamento de Pesquisa do JB. Ao fazer tais mudanças, o JB também mostrava a outros periódicos que era necessário (e valia a pena) investir em seus arquivos, dando-lhes até mesmo um lugar entre as editorias do jornal. Para nós pode parecer óbvio, mas talvez não o fosse naquele momento, naquelas circunstâncias.

Aos poucos, foi crescendo nos próprios funcionários do CPDoc JB a consciência de que aquele não era somente um lugar de pesquisa, mas também um lugar de memória, como se denota na apresentação das funções do órgão em seu site. Tudo isso contrasta com o atual aspecto de fragilidade do CPDoc, que nos causa o receio de que possa deixar de existir; diante disso, ele demanda que se recorde sua história e se defenda a sua relevância.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio deste trabalho, procurou-se defender a classificação do Centro de Pesquisa e Documentação do Jornal do Brasil (CPDoc JB) como um arquivo, assim como o seu papel de lugar de memória. Para isso, primeiramente expusemos as motivações que levaram ao desenvolvimento dessa pesquisa, e o modo como ela é desdobramento de uma pesquisa anterior, embora se caracterize por um novo objeto e uma nova abordagem.

Estabelecemos, então, os conceitos fundamentais que embasaram o trabalho; tais conceitos não estavam já definidos no princípio da pesquisa, mas foram se delineando ao longo do seu desenvolvimento. O primeiro deles é o de documento; procuramos compreender como este é definido no campo da Documentação e da Ciência da Informação, e como é entendido a partir de quem o utiliza como fonte de pesquisa. Chegamos a uma noção de documento que está ligada, sobretudo, à sua capacidade de informar. Dentro dessa ideia, são compreendidos os registros escritos, mas também as imagens e os objetos. O documento é uma objetivação do conhecimento, um signo capaz de informar, qualquer que seja seu suporte ou formato.

Contudo, vimos que o documento vai além de ser mero veículo de transmissão de informações. Por si mesmo, ele já é prova da existência da pessoa ou instituição que o produziu, e também a evidência de uma intencionalidade, isto é: ele denota que se quis registrar determinada informação. Além de ser uma prova material, o documento é uma ferramenta de comunicação e um recurso cultural. E não se pode esquecer que é um produto social, e deve ser considerado e analisado no contexto em que foi produzido. No âmbito de nossa pesquisa, sobressai o fato de que o documento funciona como “gatilho” da memória, ao permitir o resgate de lembranças que neles se perenizam.

Foi também necessário esclarecer as características das diversas instituições de guarda documental e estabelecer as diferenças entre elas, de modo a poder afirmar a qual delas o CPDoc JB corresponde. Escolhemos abordar quatro tipos dessas instituições, por serem as

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