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3 A MODULAÇÃO DOS EFEITOS DA DECISÃO DE

4.1 Crédito-Prêmio de IPI

O crédito-prêmio do IPI foi instituído pelo Decreto-lei nº 491/69, com a finalidade de estimular as exportações de produtos brasileiros manufaturados para que possam competir no mercado mundial; dessa forma, atribui imunidade tributária e direito à compensação na forma prevista no Decreto nº 64.833/69, calculado segundo o valor venal dos produtos.

Em 1972, de acordo com o artigo 3º do Decreto-lei nº 1.248/72, o crédito-prêmio do IPI foi estendido ao produtor-vendedor, ou seja, mesmo que os produtos não fossem destinados à exportação, mas que fossem “repassados a terceiros” a venda do produto com fim de exportação teria direito ao crédito- prêmio.

32 NOGUEIRA, Ruy Barbosa. Da Interpretação e da aplicação das leis tributárias. 2. ed. São

Porém, para surpresa das empresas, em 1979, a União pretendeu extinguir definitivamente o crédito-prêmio, ao longo de quatro anos por meio do Decreto-lei nº 1.658/79.

No mesmo ano, outro Decreto-lei, nº 1.724/79, delegou ao Ministro da Fazenda a competência para aumentar, reduzir ou extinguir o benefício do DL 491/69.

O STF declarou inconstitucional o Decreto lei nº 1.724/79 conforme ementa colacionada:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. INCENTIVOS FISCAIS: CRÉDITO-PRÊMIO: SUSPENSÃO. MEDIANTE PORTARIA. DELEGAÇÃO INCONSTITUCIONAL. D.L. 491, de 1969, arts. 1 e 5; D.L. 1.724, de 1979, art. 1; D.L. 1.894, de 1981, art. 3, inc. I. C.F./1967. I. Inconstitucionalidade, no art. 1 do D.L. 1.724/79, da expressão “ou reduzir, temporária ou definitivamente, ou extinguir”, e, no inciso I do art. 3º do D. L. 1.894/81, inconstitucionalidade das expressões “reduzi-los e “suspendê-los” ou “extingui-los”. Caso em que se tem delegação proibida: C.F./67, art. 6. Ademais, matérias reservadas à lei não podem ser revogadas por ato normativo secundário. II. R.E. conhecido, porém não provido (letra b).” (RE nº 180.828-4/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, maioria de votos).

Ressalta-se que o artigo 3º do Decreto-Lei nº 1.894/81, bem como o artigo 1º, do Decreto-lei nº 1.724/79, autorizava o Ministro de Estado da Fazenda a aumentar ou reduzir, temporária ou definitivamente, ou extinguir os estímulos fiscais de que tratam os artigos 1º e 5º, ambos do Decreto-lei nº 491/69. A norma, veiculada por tais dispositivos normativos foi declarada inconstitucional pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, em controle difuso de constitucionalidade, nos autos do RE nº 186.623/RS, cujo acórdão foi publicado em 12/04/2002.

Portanto, a declaração de inconstitucionalidade, ao delegar poderes ao Ministro da Fazenda, não prejudicou a revogação ministrada pelo Decreto-lei nº 1.724/79 ao Decreto-lei nº 1.658/79.

O Decreto-lei nº 1.724/79 permaneceu em vigor, mas somente para afastar o termo final do crédito-prêmio, e não para autorizar o Ministro a reduzir ou extinguir o benefício.

O Decreto-lei nº 1.894/81 reafirmou a vigência do crédito-prêmio do IPI, na medida em que ampliou o alcance do benefício a um grupo que não fora amparado pelo Decreto-lei nº 491/69, e garantiu ao contribuinte o direito de compensar o crédito-prêmio do IPI com débitos de IPI devidos em operações internas bem, como com débitos de tributos federais (art. 1º, § 2º).

Da mesma forma, o Senado Federal editou a Resolução nº 71/05, em que preservou a vigência do que remanesce do art. 1º do Decreto-lei nº 491/69. Amparado pelo art. 52, inciso X, da CF/88, o Senado retirou a eficácia das expressões declaradas inconstitucionais pelo STF em sede de controle difuso, referente à delegação de poderes conferidos ao Ministro da Fazenda.

O mesmo entendimento pelo E. STF no voto proferido pelo Ministro Marco Aurélio nos autos do RE 186.359/RS:

TRIBUTO - BENEFÍCIO - PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ESTRITA. Surgem inconstitucionais o artigo 1º do Decreto-lei nº 1.724, de 7 de dezembro de 1979, e o inciso I do artigo 3º do Decreto-lei nº 1.894, de 16 de dezembro de 1981, no que implicaram a autorização ao Ministro de Estado da Fazenda para suspender, aumentar, reduzir, temporária ou definitivamente, ou extinguir os incentivos fiscais previstos nos artigos 1º e 5º do Decreto-lei nº 491, de 5 de março de 1969.

Se o crédito-prêmio é benefício previsto em lei, não poderia um ato normativo inferior (decreto ou instrução normativa) restringir ou impedir seu aproveitamento. Sob a ótica da legalidade, portanto, tanto o Ato Declaratório nº 31/99, como a IN nº 226/02, que desautorizaram liminarmente o aproveitamento do crédito-prêmio, são inconstitucionais.

O aproveitamento do crédito-prêmio de IPI sofreu importante modificação com a edição da Lei nº 11.051/04, que alterou o artigo 74 da Lei

9.430/96, responsável por regulamentar a compensação de tributos junto à Receita Federal; portanto, a impossibilidade de compensação trazida pela Lei 11.051/04 não significa a extinção do crédito-prêmio.

O STJ, durante 15 anos, decidiu favoravelmente à compensação dos impostos federais, porque entendeu que uma portaria não poderia revogar um benefício concedido por lei. Mais de 150 processos confirmaram esse entendimento, até que, em 2004, uma divergência entre duas turmas do STJ levou a uma decisão contrária à concessão do crédito-prêmio a partir de 1983. Em 2006, o STJ passou a entender que o benefício havia sido revogado em 1990 pela Constituição de 1988. Como a análise do caso é sobre uma interpretação da Constituição, o STF chamou a questão para ser analisada pelos seus ministros.

O Superior Tribunal de Justiça, que possui competência para analisar eventuais conflitos normativos infraconstitucionais, declarando a permanência ou não do multicitado incentivo fiscal, bem como dispor sobre a sua recepção ou não recepção pelo ordenamento constitucional vigente, afastou-se, nos autos RESP 591.708/RS, do seu entendimento anteriormente pacificado, que nitidamente favorecia aos contribuintes.

Em razão da divergência de entendimentos entre a Primeira e a Segunda Turma do STJ sobre o crédito-prêmio do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o Ministro Luiz Fux, nos autos do Recurso Especial 541.239/DF, levou a discussão da matéria à Primeira Seção do STJ, no intuito de uniformizar a jurisprudência deste Tribunal Superior. Desde 22/09/2004, o julgamento do citado Recurso Especial encontra-se interrompido, com pedido de vista do Ministro João Octávio Noronha. Ressalte-se que já foram proferidos três votos a favor da Fazenda Nacional, faltando serem prolatados seis votos.

O crédito-prêmio de IPI nas exportações consubstancia-se em benefício fiscal instituído pelo Decreto-Lei nº 491/69, possuindo como beneficiários, ao final

das suas diversas alterações normativas, as empresas industriais exportadoras, as empresas comerciais exportadoras e as empresas industriais que comercializam produtos destinados à exportação.

O benefício fiscal do crédito-prêmio de IPI não fora extinto em 1983, uma vez que o art. 1º do Decreto-lei nº 1.658/79, que estipulava a referida extinção, foi revogado pelo art.1º, do Decreto-Lei nº 1.894/81.

O Pleno do Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade da norma que autorizava o Ministro de Estado da Fazenda a aumentar ou reduzir, temporária ou definitivamente, ou extinguir os estímulos fiscais de que tratam os artigos 1º e 5º, ambos do Decreto-lei nº 491/69 (crédito-prêmio de IPI), norma que foi veiculada no ordenamento jurídico pelo dispositivo normativo do art. 3º, do Decreto-Lei nº 1.894/81.

A inconstitucionalidade do art. 3º, do Decreto-Lei nº 1.894/81, apenas refere-se à delegação prevista nos referidos Decretos-Lei, não possuindo o condão de retirar a validade e a eficácia normativas da norma do art. 1º do referido decreto-lei, o qual revogou tacitamente o art. 1º do Decreto-lei nº 1.658/79, que, repetimos, estipulava termo final para fruição do crédito-prêmio de IPI.

O artigo 41 do ADCT não afastou o benefício fiscal em comento, haja vista que tal dispositivo se refere à revogação dos incentivos setoriais que não fossem ratificados em 02 (dois) anos da promulgação da Constituição, até a data de 05/10/1990, todavia o crédito-prêmio de IPI não possui natureza setorial, assim entendida como pertencente a um dos clássicos setores da economia ou a uma das suas atividades econômicas. Vale dizer, o crédito-prêmio de IPI trata de benefício fiscal de natureza geral.

A Resolução do Senado Federal nº 71, de 2005, tem eficácia imediata,

validade, vigência e eficácia desde 1969 até os dias correntes, pelo que caberá a cada contribuinte individualmente propor sua demanda judicial em busca do benefício até, no máximo, 5 (cinco) anos contados da publicação da Resolução do Senado Federal. O STF reconheceu a repercussão geral da matéria nos autos do RE nº 577.302/RS.

A discussão acerca da natureza setorial ou geral do crédito-prêmio de IPI perdeu importância, isso porque o art.1º, da Lei nº 8.402/92 restabeleceu o crédito-prêmio do IPI e estipulou expressamente, no seu art. 2º, a sua eficácia retroativa à data de 05/10/1990.

Diante do exposto, concluo que a permanência do crédito-prêmio de IPI no ordenamento jurídico brasileiro foi ratificada, e o direito à fruição deste benefício fiscal permanece vigente. O crédito-prêmio de IPI possui natureza escritural não se sujeitando a correção monetária e possuindo prazo prescricional para sua fruição de 05 (cinco) anos. A discussão é infraconstitucional após analisar os efeitos dos Decretos-lei editados pelo Poder Executivo, pois não há violação à dispositivo constitucional.

O Superior Tribunal de Justiça possuía entendimento favorável aos contribuintes, com reiteradas decisões da Primeira e Segunda Turma, asseverando a vigência do crédito-prêmio de IPI. Entretanto, no julgamento do RESP nº 591.708/RS, a Primeira Turma afastou-se do seu entendimento anteriormente pacificado.

Na verdade, há uma modificação de precedente realizada sem alteração do texto normativo da Constituição; nesse caso, a prospecção dos efeitos deve ser analisada sob o prisma do princípio da “segurança jurídica”, visando garantir “estabilidade” da expectativa jurídica pelo contribuinte, que poderá calcular corretamente a carga tributária a que estará submetido.

Para evitar prejuízos ao contribuinte bem como para o próprio erário, uma proposta seria manipular os efeitos para o futuro, ou seja, prospectá-lo em respeito aos princípios da boa fé, segurança jurídica e irretroatividade.