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Crítica às políticas públicas de juventude do período de 2005 a

TEMATIZAÇÃO SOCIAL DA JUVENTUDE Ator Estratégico do

2.4.2 Crítica às políticas públicas de juventude do período de 2005 a

Muito embora o Governo Federal tenha reconhecido a magnitude da população juvenil, a política de juventude não foi realizada para todos eles, mas apenas para uma pequena parcela.

É preocupante a falta de investimento na juventude, evidenciada por fenômenos como as altas taxas de evasão escolar, as escassas oportunidades no mundo do trabalho, os índices alarmantes de homicídios entre jovens ou a dinâmica de reprodução de desigualdades centenárias entre as novas gerações, sugerindo que o país não está tirando o melhor proveito do bônus demográfico que sua “onda jovem” possibilitou.

O tema Juventude alcançou um espaço na agenda do Governo Federal por uma sensibilidade pessoal do Presidente da República. O Instituto Juventude conduziu o Projeto Juventude com competência, diálogo e criatividade. Paralelamente, o Governo montou um Grupo Interministerial para fazer um diagnóstico sobre as ações existentes até então.

O relatório do GT Interministerial e o documento de conclusão do Projeto Juventude são documentos históricos e foram peças chaves para viabilizar um órgão governamental especializado o tema. Este foi mais um dos fatos inéditos na história do país.

Especialmente, o Projeto Juventude continua sendo a principal referência ainda hoje. Entretanto a Secretaria Nacional de Juventude o abandonou a diretrizes daquele projeto já nos primeiros meses de funcionamento.

A Política Nacional de Juventude, além de ter abandonado o legado do Projeto Juventude, e nisso justifica-se o seu fracasso, teve três graves equívocos estruturais.

O primeiro equívoco está no modelo. Todos os setores que tratavam de direitos difusos, ou seja, aqueles direitos destinados a grupos sociais especiais tiveram um tratamento singular pelo Governo Federal.

O Presidente da República, mesmo enfrentando criticas de oposicionistas, da impressa e dos próprios partidos da base e especialistas em gestão, manteve a iniciativa de dar autonomia política e gerencial para a área de Direitos Humanos, antes vinculada do Ministério da Justiça, para a área de Mulheres e para a área de Promoção da Igualdade Racial, que passaram a ter status de Ministério, no formato de Secretarias Especiais vinculadas diretamente à Presidência da República.

Os críticos de direita diziam que era um excesso de Ministérios. Os críticos de esquerda, baseados na velha lógica setorial, diziam que estas áreas deviam todas ficar unificadas num único ministério.

Contudo, com autonomia política e status privilegiado essas áreas se desenvolveram com muito mais velocidade e intensidade.

Já o tema juventude foi ao contrário. Partiu da Secretaria-Geral da Presidência da República a decisão de criar um órgão de segundo escalão para cuidar do tema. E aqui está o problema no modelo.

A Secretaria Nacional de Juventude nasceu administrativamente guiada pelo viés do preconceito geracional. Os jovens precisam estar sob a tutela de alguém.

Teoricamente o Secretário-Geral da Presidência da República era o “Ministro da Juventude”. Na prática, as tarefas cotidianas de atender o Presidente o impediam de exercer a função de Ministro do tema.

Por isso que em muitas vezes, quando era necessária uma decisão firme em prol do tema, esta não foi tomada, pois na condição de Secretário-Geral este precisava assumir a função de mediador e representante da posição do Presidente da República.

Sem dúvida, a tema juventude pela importância e acúmulo merecia e deveria ter tido uma Secretaria Especial desde a sua criação.

Uma das provas mais marcantes dessa falta de autonomia gerencial está no fato de que criada em 2005, a Secretaria Nacional de Juventude somente foi ter orçamento próprio em 2008. Ou seja, ficou três anos sem recursos orçamentários.

Foi em 2008, muito em virtude dos custos da Conferência Nacional de Juventude, que o órgão passou a ter recursos próprios com o tímido valor de 6,8 milhões de reais.

O segundo equívoco da Política Nacional de Juventude. Trata-se do equivoco da política. Os que dirigiram a Política Nacional de Juventude entendiam pouco do tema e por isso reproduziam um discurso, mas na prática pensavam e faziam de outra maneira.

Olhavam para essa geração, mas olhavam pelo retrovisor. Trouxeram uma série de paradigmas e modos de ser e viver dos jovens, mas daqueles que viveram

a década de 50, 60 e 70 do século passado. Todas as opções de políticas propostas foram um simulacro.

Uma visão destorcida do funcionamento do mercado de trabalho, numa esperança infundada na escola, no paternalismo em relação à pobreza, numa tutela à participação autentica. Quem afirma isso, é insuspeito Instituto de Pesquisa Econômicas Aplicadas – IPEA no livro publicado em 2009, em que faz um balanço da Política Nacional de Juventude.

O desafio que está colocado para o país hoje é o de ampliar consideravelmente o escopo da Política Nacional de Juventude, de modo que esta possa beneficiar com efetividade todas as juventudes brasileiras. A aceleração da aprendizagem, a transferência de renda e a qualificação profissional, como frentes de atuação emergenciais para favorecer a inserção dos jovens no mercado de trabalho, não devem restringir os objetivos de uma política nacional para jovens, tendo em vista o cenário de demandas multiplicadas, em que o trabalho tal como tradicionalmente concebido perde força como mecanismo central de inserção social dos indivíduos. Ainda assim, é fundamental aprimorar a gestão das iniciativas existentes, para resolver problemas como as superposições ou a ausência de coordenação e integração entre estas e garantir chances de maior efetividade. (IPEA, 2009, p. 68)

A Política Nacional de Juventude não foi conduzida e pensada para atingir os 51 milhões dos jovens. Pelo contrário, é forçoso reconhecer que ela está destinada a uma pequena parte deles, aqueles mais excluídos. Isso não é uma política de juventude, mas uma política de inclusão social e de combate à pobreza.

O PROJOVEM era para ser o carro chefe da política nacional de juventude. Ou seja, um programa para induzir a criação de outros, mas principalmente para conduzir a uma reforma profunda da escola pública.

O PROJOVEM Integrado não integrou de verdade as ações do governo diz o IPEA e documento do CONJUVE. As metas anunciadas chegaram apenas à metade

do previsto. O custo anual para formar um Jovem no ensino fundamental no PROJOVEM é equivalente a formar um jovem em Medicina, segundo dados do IPEA.

O Conselho Nacional de Juventude, gestão 2008/2009, apresentou um conjunto de recomendações ao Governo sobre aos programas do Governo Federal destinados à juventude. Tal documento foi fruto do trabalho de conselheiros e conselheiras que se reuniram na Comissão de Acompanhamento e Avaliação de Programas e Políticas de Juventude – CAPP. O documento afirma que:

“Observa-se que, na prática, os programas analisados têm sido desenvolvidos isoladamente pelos Ministérios, nem sempre articulados ou correlacionados – ainda que sejam notórios os avanços na concepção e formatação de muitos deles. De forma geral, não há dados e informações disponíveis sobre os programas que permitam avaliar processos, resultados e seus impactos na vida dos jovens. E mesmo quando eles existem (como no caso do Projovem Urbano), há um grande intervalo de tempo entre a produção e a divulgação dos mesmos. Essa carência dificulta o acompanhamento e o controle social, afetando diretamente a atuação do Conselho.” (CONJUVE, 2010, p. 11)

O terceiro equívoco da Política Nacional de Juventude está na gestão. A Secretaria Nacional de Juventude é a menor entre as outras similares. A SEDH tem 105 cargos de confiança, a SEPM, 44 cargos, a SEPPIR, 43 cargos, a Secretaria de Juventude, 25 cargos, desses 13 destinados exclusivamente ao PROJOVEM.

A execução orçamentária média da Secretaria Nacional de Juventude de 2008 a 2010 foi de 38%.

O documento com a crítica mais sóbria e pertinente sobre a Política Nacional de Juventude foi apresentado no artigo “Apontamentos sobre as Políticas Públicas

de Juventude”24 do ex-assessor da Secretaria Nacional de Juventude, Carlos Odas.

Nele o autor afirma que:

“A Política Nacional de Juventude chegou ao final de 2010 como um móbile, um objeto de ornamentação frágil e sustentado por um fio; o fio que o sustentava era a vontade política do Presidente da República em manter ativos os acordos que, com seu empenho pessoal, foram estabelecidos por meio de processos como o Grupo de Trabalho Interministerial e o Projeto Juventude. É legítimo que se estabeleça um novo acordo, que pode ou não significar avanços sobre a plataforma de política ensaiada pelo Governo durante os últimos seis anos; diante do quadro atual, esse novo acordo se faz necessário.” (ODAS, 2011 p.1)

Apontar esses três equívocos estruturais (modelo, política e gestão) da Política Nacional de Juventude não implica em desconhecer os avanços na temática devido à ação do Governo Federal.

Primeiro porque a tema alcançou um espaço na agenda política. Com o bem diz Regina Novaes (2009), houve um bem-sucedido esforço institucional de acompanhar processos sociais em curso, responder a indagações atuais e corresponder às exigências da reflexão crítica voltada para o presente momento histórico em que a juventude ganha um espaço – historicamente inédito – na configuração da questão social brasileira.

Em segundo lugar porque as políticas de juventude, mesmo não integradas e com problemas no foco, atenderam pelo menos entre 6 a 7 milhões de jovens, incluindo aqui todos os programas federais, expansão das escolas e universidades federais, acesso ao crédito. Além disso, a grande maioria dos empregados de carteira assinada, aponta o Ministério do Trabalho, foram jovens entre 18 a 29 anos.

Em terceiro lugar porque as próprias articulações em torno do tema se fortaleceram. A ponto de podermos fazer uma critica profunda a Política Nacional de Juventude e mesmo assim ela resistir e permanecer na pauta dos Governos.

24 ODAS, Carlos Alberto. Apontamentos sobre as Políticas Públicas de Juventude. Blog Aldeia... apenas um diário de bordo, 2011. Disponível em: <http://carlosodas.wordpress.com/2011/07/09/artigo -apontamentos-sobre-politicas-publicas-de-juventude/> Acesso em 12 de Dezembro de 2011.