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Histórico, origem, tipologia e definição das políticas sociais.

CAPÍTULO 1 POLÍTICAS SOCIAIS E O TERRITÓRIO

1.1 Políticas Sociais e Território: dois conceitos-chave

1.1.2 Histórico, origem, tipologia e definição das políticas sociais.

As políticas sociais são uma parcela da ação do Estado moderno e contemporâneo do Ocidente correspondente à prestação material de serviços ou distribuição de bens diretamente aos cidadãos para assegurar a esses o mínimo de condições socioeconômicas para a vida em sociedade.

As prestações materiais ofertadas pelo Estado são a contrapartida dos direitos econômicos, sociais e culturais consignados nas constituições nacionais dos países ocidentais, inclusive no Brasil, a partir do pós Segunda Guerra Mundial com a consolidação das Nações Unidas e com a edição da Declaração Universal dos Direitos do Homem em 1948.

Muito embora as políticas sociais se consolidem como ação do Estado dos países do Ocidente após a década de 1940, há que se registrar que elas foram

engendradas de maneira conflituosa, contraditória e não linear nos dois séculos anteriores da sua afirmação normativa e constitucional.

A primeira experiência de política social foi registrada em 1795 na Grã- Bretanha, que instituiu um abono salarial, um mínimo social, para remunerar qualquer cidadão britânico independentemente da cobrança de impostos ou de taxas contributivas substituindo até então a Lei dos Pobres de 1536 que regulava a caridade pública (MATINS, 2003)5.

Mais adiante também na Grã-Bretanha, em 1834, o sistema de proteção social foi revisto na Poor Law Amendment Act, que transformou um auxílio aos necessitados que antes era universal, em seletivo e residual, segundo Laurell (2002). A revisão desta lei impulsionou a busca dos trabalhadores por emprego na indústria e tornou o mercado de trabalho mais competitivo e as proteções sociais, ofertadas por meio de renda, mais frágeis. O conceito de renda básica como um direito do cidadão foi abolido e voltou a ser atribuída ao indivíduo a responsabilidade por sua própria subsistência6.

Nas terceira e quarta quadras do Século XIX, o governo prussiano de Otto Von Bismarck inaugurou uma nova concepção de política social com a criação da seguridade social, que consistia, basicamente, na criação de um fundo público compulsório e solidário entre os trabalhadores em que seus contribuintes poderiam resgatar uma espécie de pensão (remuneração) em caso de ocorrência de doenças, acidentes de trabalho, invalidez ou velhice.

5 MARTINS, Sérgio Pinto. Direito da Seguridade Social. São Paulo. Atlas, 19ª ed., 2003.

6 LAURELL, Asa Cristina. Estado e Políticas Sociais no Neoliberalismo. p. 226. 3ª ed. Cortez, 2002.

O modelo previdenciário de Bismark obteve grande sucesso e foi, paulatinamente, adotado nos países industrializados e nos países do Ocidente que sofriam, já neste momento, com a pressão dos incipientes movimentos sindicais dos operários.

No entanto, as políticas sociais com as configurações pelas quais são conhecidas contemporaneamente somente emergiram como resultado das políticas econômicas anticíclicas para reverter a forte depressão inaugurada com a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque em 24 de outubro de 1929, como nos apresenta Paul Singer:

O conjunto de programas iniciados na primeira presidência de Franklin D. Roosevelt para fazer frente à crise de 1929, o New Deal permitiu um salto na qualidade de vida dos pobres e proporcionou mais igualdade entre os cidadãos americanos7 (SINGER, 2010).

Com o Social Security Act, em 1935, Roosevelt instituiu a previdência pública e um conjunto de benefícios sociais pagos diretamente aos trabalhadores que não tivessem renda suficiente para sobreviver. Essas medidas foram essenciais para a recuperação econômica e agregaram uma nova função ao Estado Moderno: a distribuição ou redistribuição de renda.

Para Ana Cláudia Além e Fábio Giambiagi a função de distribuição de renda é resultante:

“em determinado momento, das dotações dos fatores de produção – capital, trabalho e terra – e de vendas dos serviços desses fatores no mercado pode não ser a desejada pela sociedade. Cabem, portanto, alguns ajustes distributivos feitos pelo governo, no sentido, de promover uma distribuição considerada justa pela sociedade. (GIAMBIAGI; ALÉM, 2008, p. 13)

Para os mesmos autores, a redistribuição direta de renda ocorre quando se tributa os mais ricos, subsidiando os custos de vida dos pertencentes às camadas mais pobres.

Assim sendo, as políticas sociais podem ser definidas como as diretrizes de ação estatal para promover a (re)distribuição de renda por meio da prestação de serviços, pela entrega de bens e/ou renda/subsídios definidos como direitos constitucionais para uma parcela da população ou para todos os cidadãos.

Neste diapasão, como qualquer ação estatal, as políticas sociais possuem um componente espacial inexorável visto que a localização dos indivíduos, a densidade e o ambiente exprimem relações que determinam o alcance da jurisdição do Estado e o propósito das políticas.

Na nossa dissertação não analisamos a pertinência das políticas sociais, nem as virtudes ou os defeitos dos seus desenhos e do impacto social, apenas interessou-nos visualizar como a questão espacial foi tratada e quais foram suas possíveis repercussões nas políticas públicas.

No Brasil, as políticas sociais projetaram-se após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Atualmente, a política social no Brasil está voltada a duas vertentes: a proteção social e a promoção social.

A proteção social visa mitigar as situações de vulnerabilidade e dependência de indivíduos e/ou famílias por meio da segurança social. A promoção social visa à geração de oportunidades para determinados grupos sociais desprovidos de condições básicas para inserção social e econômica na sociedade industrializada do século XXI.

O economista e diretor do Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas – IPEA, Jorge Abrahão Castro (2011) apontou que as políticas sociais de proteção social levaram o Estado a realizar ações de solidariedade e seguro social em resposta a contingências e necessidades sociais. Também, ressaltou o referido autor que as políticas sociais de promoção social destinam-se a geração, utilização e fruição de capacidades sociais dos indivíduos e grupos8.

Na figura a seguir Jorge Abrahão apresentou um esquema que representa os objetivos, tipo de ação, contingências, riscos e necessidades da política social no Brasil.

FIGURA 01 – Sinopse da política social no Brasil pós Constituição de 1988.

Fonte: Abrahão (2011)

8 CASTRO, Jorge Abrahão de. Juventude e Políticas Públicas. In: PAPA, Fernanda de Carvalho; FREITAS, Maria Virgínia (org). Juventude em pauta: Políticas Públicas no Brasil. p. 322. São Paulo: Peirópolis, 2011.

Importante ressaltar que a figura anterior traduz apenas uma ilustração didática das políticas sociais no Brasil, entretanto, elas não são estanques e muitas vezes os objetivos de proteção e de promoção social são realizados, conjuntamente, por uma única ação de transferência de renda.

Outro destaque em relação à figura 01 diz respeito ao fato de que alguns autores tem utilizado a nomenclatura de emancipação social ao invés de promoção social visto que o objetivo deste tipo de política é proporcionar condições e oportunidades para que os indivíduos alcancem autonomia e independência pessoal.