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PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO: UMA ANÁLISE SOBRE A EVOLUÇÃO DO MO-

2.2 NEGÓCIOS INTERNACIONAIS

2.2.3 Críticas e contribuições

As próprias definições de internacionalização aceitas pela abor- dagem comportamental podem estar equivocadas (CALOF; BEAMISH, 1995). Assume-se que a internacionalização é -o processo crescente de envolvimento em operações internacionais - (WELCH; LUOSTERINEN, 1988, p. 36). As definições amplamente aceitas e defendidas pelo Mode- lo em questão (JOHANSON; VAHLNE, 1977), tais como essa, consideram que as empresas necessariamente, uma vez iniciado o seu processo de internacionalização, continuarão envolvendo-se crescentemente com es- ses mercados. Contudo, a internacionalização também pode assumir a forma de desinvestimento: em resposta às várias interferências, as em- presas podem, por exemplo, retirar um produto do mercado. Assim, uma definição mais ampla, seria de que a internacionalização é - o processo de adaptação das operações da empresa para ambientes internacionais- -(CALOF; BEAMISH, 1995, p. 116).

Desde a publicação do Modelo de Uppsala, vários estudiosos se emprenharam em avaliar a sua aplicabilidade (BILKEY; TESAR, 1977; CAVUSGIL, 1980; 1984; DAVIDSON, 1980; KOGUT; SING, 1988; WIEDER- SHEIM-PAUL, OLSON; WELCH, 1978; CHANG, 1995), verificando, inclu- sive, sua validade teórica (ANDERSEN, 1993; BARKEMA; BEL; PENNIN- GS, 1996; PEDERSEN; PETERSEN, 1998; FORSGREN, 2002), fazendo do artigo de Johanson e Vahlne (1977) o trabalho mais citado mais citado dentre os publicados pelo Journal of International Business (JIBS, 2012). Alguns aspectos foram confirmados, outros questionados, houve várias críticas, sugestões de melhorias e de adequações.

Uma das críticas afirma que a ideia de que há uma relação direta entre o comportamento incremental e a aprendizagem pela experiência pode ser equivocada (FORSGREN, 2002; PEDERSEN; PETERSEN, 1998).

É apropriado supor que o acúmulo da experiência permita que sejam dados passos maiores com relação aos mercados, pois haverá um maior conhecimento sobre o seu funcionamento. O aumento de conhecimento reduz a necessidade de comportamento incremental (FORSGREN, 2002), ao contrário do que defende o Modelo de Uppsala. Outras críticas afir- mam que a sua utilidade é amplamente reconhecida, porém em nível de compreensão intuitiva, não de aplicação científica. Isso porque os con- ceitos do Modelo, especialmente de compromisso e de distância psíquica seriam insuficientes para explicar a complexidade dos fenômenos (AN- DERSEN, 1993).

Apesar das críticas, a aplicabilidade do conceito de distância psí- quica foi comprovada em diversos estudos. Mesmo antes do Modelo do Processo de Internacionalização ser desenvolvido, já havia evidências de que a distância psíquica se aplicava à escolha dos fornecedores para que as empresas suecas atuassem em ambientes internacionais. Concluiu-se que, em situações de incerteza, fornecedores localizados mais próximos são preferidos, mesmo que o preço cobrado seja superior (HAKANSON; WOOTZ, 1976).

Considerando que as empresas analisadas, tanto para proposição do Modelo do Processo de Internacionalização, quanto no estudo da es- colha dos fornecedores, foram suecas, poderia ser esperado que sua apli- cação fosse válida apenas para as empresas deste país. Contudo, estudos posteriores confirmaram a aplicabilidade do Modelo em diversos países como, por exemplo, para empresas norte-americanas (BILKEY; TESAR, 1977; CAVUSGIL, 1980; 1984; DAVIDSON, 1980; KOGUT; SING, 1988), australianas (WIEDERSHEIM-PAUL; OLSON; WELCH, 1978), japonesas (CALOF; BEAMISH, 1995; CHANG, 1995), holandesas (BARKEMA; BELL; PENNINGS, 1996) e brasileiras (HEMAIS; HILAL, 2002). De forma geral, estes estudos empíricos apóiam o Modelo, confirmando a relevância do

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compromisso, da experiência e das diferenças culturais para a explicação do comportamento de internacionalização (JOHANSON; VAHLNE, 1990). Várias outras críticas direcionadas aos trabalhos conduzidos sob a liderança de Johanson (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977) se referem à sua limitação na capacidade de explicar como as diferenças culturais influenciam a escolha do modo de atuação (ANDERSEN, 1993; KOGUT; SING, 1988). Além disso, tal escolha e a mudança de um modo para outro é esclarecida apenas em função da obtenção de conhecimento (CALOF; BEAMISH, 1995). Assume-se que o Modelo não contempla que se avalie qualquer alternativa além das que estão previstas - exportação, agente externo, filiais de vendas e subsidiá- rias (ANDERSEN, 1993).

A internacionalização pode ocorrer de forma mais rápida e por outros meios, podendo o gradualismo ser acelerado. Foi evidenciado que os motivos pelos quais as empresas japonesas mudam o seu modo de atuação variam em função da percepção existente sobre os aspectos do ambiente externo e da própria empresa. Essa percepção pode fazer com que as empresas procedam de formas diferentes, “pulando” as fases pro- postas pelo Modelo de Uppsala (CALOF; BEAMISH, 1995).

Existem outras formas da organização adquirir conhecimento, além de - aprender fazendo - tais como a possibilidade de obter informa- ções por meio de parceiros, da participação em redes de negócios, além da possibilidade de imitar as empresas com alta legitimidade; caracteri- zando o determinado comportamento mimético (DIMAGGIO; POWELL, 1983) - de adquirir empresas que já possuam o conhecimento necessário ou realizar joint ventures. Assim, as empresas poderiam investir em mer- cados estrangeiros sem conhecimento experiencial (FORSGREN, 2002). Alguns autores afirmam que as alianças estratégicas são o modo mais corriqueiro de entrada em mercados internacionais (BEAMISH; BANKS, 1987; CALOF; BEAMISH, 1995; Hitt et al, 2006; MADHOK, 1995).

Outra crítica dirigida ao Modelo do Processo de Internacionaliza- ção questiona o fato dele assumir o processo como sendo inevitavelmen- te contínuo, ou seja, não considerar a possibilidade de que a empresa pode desistir de atuar em mercados estrangeiros em qualquer uma das etapas do processo de internacionalização (ANDERSEN, 1993; WELCH; LUOSTARINEN, 1988). Deve-se considerar que os caminhos reais podem ser mais irregulares, podendo ser afetados pelo surgimento inespera- do de oportunidades e ameaças ou pela mudança na própria percepção (WELCH; LUOSTARINEN, 1988).

Nessa perspectiva, críticos sugerem que o Modelo de Uppsala se torna relevante apenas nos estágios iniciais de internacionalização, quan- do não há conhecimento sobre os mercados. À medida que esse conheci- mento é adquirido, os fatores abordados no Modelo não são mais proble- mas pertinentes (FORSGREN, 1989). Os autores do Modelo de Uppsala explicam que isso se deve ao fato dos estudos empíricos que serviram de base para o desenvolvimento do Modelo terem ocorrido nos estágios ini- ciais de internacionalização das empresas (JOHANSON; VAHLNE, 1990; 2009).

Além disso, o Modelo de Uppsala assume que o maior conheci- mento do mercado reduz a incerteza e, consequentemente a percepção sobre o risco do investimento (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Entretanto, também existe a influência decorrente da percepção sobre o risco de não realizar o investimento, em que - o risco de não agir pode ser ainda maior do que o risco da ação - (FORSGREN, 2002, p. 271).

O Modelo do Processo de Internacionalização toma como objeto de estudo a empresa, conforme explicado anteriormente. Contudo, quan- do trata especificamente do conhecimento experiencial, seu foco de aná- lise se volta para o indivíduo (JOHANSON; WIEDERSHEIM-PAUL, 1975; JOHANSON; VAHLNE, 1977). Há o entendimento de que existe um ator

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que é o detentor do conhecimento experiencial e responsável pelas deci- sões importantes de internacionalização, as quais dependem da sua capa- cidade de percepção(WIEDERSHEIM-PAUL; OLSON; WELCH, 1978). Nes- se sentido, há restrições quando o Modelo assume que o conhecimento é altamente dependente do indivíduo (FORSGREN, 2002), sugerindo que as oportunidades e ameaças só podem ser percebidas por aqueles que estão atuando diretamente no mercado externo (JOHANSON; VAHLNE, 1977). Assim, o Modelo se torna fortemente dependente da estabilidade de pessoal ao longo do tempo (FORSGREN, 2002).

Além disso, alega-se que a descrição do participante como um in- gênuo aprendiz foi modelada de forma inadequada (BUCKLEY, 1988). O conhecimento, na realidade, pode ser resultado não apenas de experiên- cias anteriores dos indivíduos, mas de um processo de troca entre as em- presas, caracterizando uma relação diádica. Cada vez mais as empresas percebem que precisam colaborar para poderem competir em mercados complexos, especialmente mercados globais (ANDERSON; WEITZ, 1992). Em relações de colaboração, o compromisso assumido entre as partes é mais do que a uma avaliação dos custos e benefícios resultantes da interação;é a adoção de uma perspectiva de longo prazo em que se espera que a relação vá durar tempo suficiente para os custos imediatos sejam compensados. Assim, é algo que leva tempo para ser construído, exige confiança e investimentos. Há evidências de que os investimentos nos relacionamentos são aumentados quando há a percepção de que a outra parte também está se comprometendo, tornando o processo cíclico e o relacionamento estável (ANDERSON; WEITZ, 1992).

Entretanto, as relações diádicas não existem isoladamente. A maioria das empresas encontra-se engajada em um conjunto de impor- tantes relações de negócios. Essas relações fornecem não só um con- texto para interação entre as relações diádicas, mas também exercem

influências sobre estas relações (ACHROL; REVE; STERN, 1983; ANDER- SON; HAKANSSON; JOHANSON, 1994; BAKER; 1990; GADDE; MATTSON, 1987; THORELLI, 1986). Assim, os mercados passam a ser descritos como sistemas de relações sociais e industriais entre clientes, fornece- dores, concorrentes, familiares e amigos (COVIELLO; MUNRO, 1997). As oportunidades e ameaças podem ser apresentadas às empresas por seus relacionamentos. O acesso a recursos externos importantes para o pro- cesso de internacionalização pode ser obtido por meio da participação nessas redes, o que proporciona o potencial de penetração nos mercados (BENITO; WELCH, 1994).

O Modelo do Processo de Internacionalização foi bastante útil em meados dos anos 70, por representar uma realidade mais estável e prag- mática, com vários estudos comprovando a sua aplicação (ANDERSEN, 1993). Contudo, mais recentemente, os caminhos traçados pelas empre- sas tem se apresentado menos gradualistas, resultado de uma aceleração em todo o processo como forma de responder às muitas mudanças am- bientais (WELCH; LUOSTARINEN, 1988). Em contrapartida, os autores defendem o modelo contra as críticas em relação à aceleração do proces- so de internacionalização afirmando que não há indicação no modelo de que a expansão internacional não pode ser feita rapidamente. Para que isto ocorra, é necessário tempo suficiente para a aprendizagem e cons- trução de relacionamento (JOHANSON; VAHLNE, 2009).

Ainda sobre as críticas ao modelo, já era esperado que, em razão da crescente eficiência na distribuição da informação e facilitação na comunicação, reduzindo distâncias e desfragmentando mercados, a ex- plicação da distância psíquica para internacionalização tivesse sua va- lidade reduzida (FORSGREN, 1989). Os próprios autores do Modelo re- conhecem que ele é - extremamente parcial, excluindo deliberadamente muitos fatores explicativos relevantes - (JOHANSON; VAHLNE, 1990, p.

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18). Todavia, apesar de reconhecer que a relação entre a ordem em que uma empresa entra nos mercados externos e a distância psíquica enfra- queceu, isto não significa que o conceito de distância psíquica não seja importante, mas que - a relação entre a ordem de entrada no mercado e a distância psíquica aplica-se ao nível do tomador de decisões e não na empresa- (JOHANSON; VAHLNE, 2009, p. 11).