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Crescimento do PIB e da renda na PNAD Rural

Nos últimos anos, houve um forte descolamento do crescimento da renda da PNAD, que pauta as principais pesquisas sociais brasileiras, e o Produto In- terno Bruto (PIB) per capita, que é o principal indicador econômico brasileiro. Na PNAD de 2009, a última disponível, o problema se agravou. A magnitude da retomada do crescimento do período 2003-2009 depende da base de dados utilizada nas óticas das contas nacionais e do seu produto mais popular, o PIB. Mesmo após as sucessivas revisões para cima, o PIB cresce 17,3% em termos

per capita ao ano, velocidade menor que a da PNAD, de 32,2% no período,

também descontando o crescimento populacional e a inflação. A diferença acumulada nesses seis anos entre renda da PNAD e PIB foi de 14,9 pontos de porcentagem.

No âmbito da PNAD Rural, a diferença é ainda mais substantiva, de 25,4% pontos percentuais, pois a renda rural cresceu 10,5% acima da renda total da PNAD. De acordo com a visão objetiva das pessoas na área rural, seus respec- tivos padrões médios de vida estão crescendo mais do que o PIB sugere. É verdade que a discrepância entre essas taxas tende a desaparecer ao longo do tempo. Por exemplo, no período de 1995 a 2009, a diferença acumulada é de 3,78 pontos de porcentagem favorável ao PIB. A notícia tranquilizadora é que, no longo prazo, as duas séries parecem convergir conforme o gráfico 6 em números-índices ilustra (base de referência 1995 = 100). No caso da PNAD Rural, a diferença de 1995 a 2009 cresce em relação ao PIB, pois não houve perda no período inicial até 2003 e, como vimos, a diferença do período poste- rior é ainda maior.

Gráfico 6 - Renda domiciliar per capita PNAD total* versus PIB per capita 101,59 94,56 136,97 100,63 103,33 129,07 Renda PNAD PIB per capita

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD (*PME em 2010) e das Contas Nacionais/ IBGE

Gráfico 7 - Renda domiciliar per capita PNAD rural versus PIB

100,58 110,33 157,41 100,63 103,33 121,20

Renda PNAD Rural PIB Total per capita

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD e das Contas Nacionais/IBGE

Em seguida, apresentamos o mesmo gráfico comparando o crescimento da renda per capita na área rural e o crescimento do PIB per capita específico para a agropecuária. Notamos que a partir de 2003 a renda per capita medida pela

PNAD avançou de forma mais acelerada, acumulando ganho até 2009, que é 36 pontos de porcentagem acima do crescimento do PIB específico para a agropecuária, aumentando a discrepância observada nas séries. Esse boom re- cente é responsável por inverter, a partir de 2005, o que era visto desde o início da série, quando o ganho acumulado do PIB específico para a área rural era maior que a renda per capita medida pela PNAD. Isso pode estar associado à expansão de transferências públicas no campo; deter-nos-emos nesse ponto mais à frente.

Gráfico 8 - Renda domiciliar per capita PNAD rural versus PIB da agropecuária

100,58

110,33

157,41

101,42

124,90 133,14

Renda PNAD Rural PIB AGROPECUÁRIA per capita

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD e das Contas Nacionais/IBGE

Por fim, comparamos diretamente o crescimento per capita dos dois PIBs: o total e o específico da agropecuária. Entre 2003 e 2009, o crescimento acumu- lado do PIB agropecuário é 10,7 pontos de porcentagem abaixo do PIB total. Se incluirmos 2010 nessa análise, a diferença é ainda maior, atingindo em sete anos 12,5 pontos de porcentagem.

Gráfico 9 - PIB total versus PIB agropecuária 100,63 103,33 121,20 129,07 101,42 124,90 133,14 140,43 PIB total per capita PIB AGROPECUÁRIA per capita

Fonte: CPS/FGV a partir dos microdados da PNAD e das Contas Nacionais/IBGE

O livro Mismeasuring Our Lives, de Amartaya Sen e Joseph Stiglitz, lançado em 2010, constata fortes discrepâncias entre as pesquisas domiciliares e os PIBs mundo afora, sendo as taxas de crescimento do PIB em geral superiores. Na China e na Índia, ocorreu o oposto do sucedido no Brasil, e o PIB cresceu mais do que a renda das pesquisas domiciliares. O relatório argumenta pelo uso das pesquisas domiciliares como medida de performance de uma dada sociedade. Outra vantagem da PNAD é permitir medir a evolução da distribuição de ren- da na totalidade do país e em segmentos particulares como o rural.

Desigualdade

Em contraposição, tomemos agora a medida de desigualdade mais usual en- tre os analistas: o índice de Gini. A função bem-estar social que dá origem ao índice de Gini é aquela em que o peso dado à renda de qualquer pessoa da população é inversamente proporcional à proporção de pessoas mais pobres que ela. A pessoa mais rica da economia seria a pessoa com menor peso no cálculo do nível de bem-estar da sociedade, enquanto o mais pobre dos pobres teria o maior dos pesos. O índice de Gini varia entre zero e um, sendo que, quanto maior o indicador, mais desigual é a sociedade. Numa situação utópica

na qual a renda de todos fosse exatamente igual, o índice de Gini seria 0. No extremo oposto, se um único indivíduo concentrasse toda a renda da socie- dade, ou seja, todos os demais tivessem renda zero, o índice de Gini seria 1. Não é difícil, portanto, compreender a inaceitável extensão do índice de Gini brasileiro, que é superior a 0,5: estamos mais próximos da perfeita iniquidade do que da perfeita igualdade.

Não há, na história brasileira estatisticamente documentada (desde 1960), nada similar à redução da desigualdade observada desde 2001. A queda acumulada é comparável, em magnitude, ao famoso aumento da desigualdade dos anos de 1960, que colocou o Brasil no imaginário internacional como a terra da iniquidade inercial.

Apresentamos no gráfico 10 a evolução dos índices de Gini rural e nacional, destacando a trajetória descendente iniciada a partir de 2001 e que persiste ainda hoje.

Gráfico 10 - Índice de Gini

0,583 0,605 0,602 0,599 0,602 0,600 0,600 0,591 0,594 0,596 0,589 0,583 0,571 0,568 0,562 0,555 0,549 0,545 0,556 0,586 0,563 0,539 0,553 0,547 0,549 0,543 0,543 0,543 0,511 0,533 0,514 0,509 0,513 0,514 0,500 0,489 Total Rural

Em 2009, o índice de Gini era 0,489 na área rural, cerca de 10,3% inferior ao do conjunto do país. A queda do índice de Gini no campo desde 1993 foi de 16,5% contra 9,9% na totalidade do país. Tomando o período 2003 a 2009, foi de 8,3% contra 6,5% na totalidade do país.