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Geração de emprego e agropecuária – Análises e contradições dos resultados

De acordo com a literatura internacional, um importante efeito de investimen- tos na agropecuária como uma ferramenta da política governamental é seu poder de contribuição para o crescimento da economia como um todo, na medida em que também influencia outros setores da economia.

Agropecuária é um setor vital para qualquer economia, principalmente por criar condições necessárias para o desenvolvimento de várias atividades pú- blicas, como a indústria, o comércio e outros. Dessa forma, financiamentos à agricultura são muitas vezes utilizados pelos governos como ferramentas para acelerar o desenvolvimento e criar empregos, principalmente em períodos de recessão ou com baixo crescimento econômico.

portanto um aumento da produção nesse setor teria um alto impacto positivo sobre a balança comercial.

Outro ponto favorável ao investimento na agricultura é o fato de ser um setor que absorve mão de obra pouco qualificada, ou seja, trabalhadores de baixo grau de instrução. Sendo esses tipos de trabalhadores os mais vulneráveis ao desemprego e os primeiros a perder seus postos de trabalho na recente rees- truturação industrial na economia, a criação de empregos diretos nesse setor reduz um problema estrutural, que é o desemprego. Em certo sentido, pode- mos considerar uma estratégia de investimentos intensiva na agricultura uma política eficaz de combate à pobreza no curto prazo, quando o nível de esco- laridade da população pode ser considerado dado, pois não se altera de forma significativa em pouco tempo.

No entanto, segundo estudo de 1992 desenvolvido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), verificou-se que o setor da agropecuária, ao contrário do esperado, situa-se como o segundo maior dos setores geradores de emprego quando se observa o total de emprego gerado, perdendo apenas para o setor têxtil.

Nesse estudo, foram simulados os efeitos de um choque de demanda de R$ 1 milhão (1997) em cada setor individualmente sobre o adicional de em- prego gerado. Ou seja, foram calculados os multiplicadores de impacto de cada setor sobre o nível de emprego gerado pela economia como um todo. Essas estatísticas foram calculadas segundo a metodologia desenvolvida na seção anterior pelo BNDES. A tabela 1 mostra o adicional de emprego gerado a partir dessa simulação.

De acordo com esses dados, um aumento de demanda no setor de agropecu- ária em tal proporção irá gerar um total de 278 novos postos de trabalhos, dos quais 137 diretos, 46 indiretos e 95 efeito renda.

Quando observamos a ordenação desses setores em termos de geração de em- prego, possibilitando uma visão relativa da agropecuária com relação aos de- mais setores, observamos que o setor de agropecuária é o segundo setor em geração de emprego direto, sendo também o segundo setor na contratação de emprego total requerido. Isso se justifica pela alta demanda de emprego

devido ao efeito emprego indireto e ao efeito renda, em que a agropecuária se encontra em 11ª e 8ª posições, respectivamente. Apesar desse resultado, seu efeito na criação de empregos diretos deve ser considerado relevante, na medida em que cria novos postos de trabalho, absorvendo os desempregados com baixo grau de instrução e baixa capacidade de inserção no mercado de trabalho.

O passo seguinte é mostrar a composição setorial dos empregos gerados por meio do estímulo da demanda simulado anteriormente. Segundo o cálculo, 30% de todo o adicional total de emprego é gerado na própria agropecuária, 20% no comércio e 13% na agropecuária.

Os setores beneficiados indiretamente pelo aumento da demanda na agrope- cuária são: comércio, em que se concentra a maior geração de emprego indi- reto (30% do emprego direto total gerado pela agropecuária); mineral não me- tálico (17%); madeira e mobiliário (14%); agropecuária; outros metalúrgicos; transportes; e a própria agropecuária (6% cada um), entre outros.

O comércio também concentra a maior proporção da geração de emprego da agropecuária, devido ao efeito renda (27% do total), seguido pela agropecuária (24%), serviços prestados às empresas (11%), serviços privados não mercantis (6%), entre outros.

O alto impacto de investimentos no setor da agropecuária na geração de em- pregos na economia também foi encontrado pelas simulações realizadas por Moreira e Urani (1993). Nesse trabalho, foi estimado o impacto dos gastos do governo em consumo, investimento e transferências às famílias sobre o nível e a composição do emprego. De acordo com esses resultados, devido aos impactos sobre o nível de emprego do conjunto da economia serem mui- to elevados para gastos realizados em setores de baixo grau de formação, os gastos em agropecuária se demonstraram particularmente importante para o conjunto da economia. Nesse ponto de vista, verificou-se que as despesas na

tados estão expressos em porcentagens do impacto na agropecuária, o maior impacto sobre o nível da economia como um todo.

Tabela 1 - Impactos de variações exógenas da demanda sobre o emprego total (Impacto na agropecuária = 100)

Agropecuária 100.00 Agroindústria I 70.07 Administração Pública 59.09 Serviços Privados 57.22 Saneamento Básico 42.36 Têxtil/Calçados 41.60 Construção Civil 41.12 Serv./Empresas 40.01 Comércio 37.73 Não-Metálicos 35.94 Extração Mineral 34.49 Transportes 34.21 Comunicações 33.66 Metalúrgica 33.17 Indústria Pesada 33.03 Energia Elétrica 29.37 Setor Financeiro 28.68 Petroquímica 22.39 Extração Petróleo 9.61

Fonte: Moreira e Urani (1993)

Como podemos observar na tabela 1, um aumento nas compras dos bens pro- duzidos pela agropecuária a coloca entre os que geram mais empregos no conjunto da economia. O impacto é pouco superior a 40% do estimado para a agropecuária e é sensivelmente superior à agroindústria, saneamento básico, entre outros setores. No entanto, a agroindústria não pode ser considerada insignificante: no ranking geral está em segundo lugar entre dezenove setores. Ao desagregar esse impacto sobre diferentes níveis de educação, em particular em baixo grau de instrução (até quatro anos de estudo) e grau de instrução me- diano (de 5 a 11 anos de estudo), verificou-se o aumento dessa estatística para

a agropecuária ao se considerar o baixo grau de instrução. No entanto, ainda abaixo da estimativa encontrada para a agropecuária, que também se caracteri- za por trabalhadores com baixo grau de instrução. Para os estratos de educação mediana, ambas as estatísticas, tanto da agropecuária quanto da agroindús- tria, diminuem consideravelmente. Uma restrição a esse exercício é que se considera apenas a geração de empregos formais (com carteira assinada), na qual o governo teria o maior interesse. Porém, como já vimos anteriormente, grande parte da mão de obra da agropecuária é informal e essa tendência vem se acentuando ao longo do tempo. Portanto, a maior parte do emprego gerado na agropecuária está concentrada na natureza do vínculo empregatício sem carteira e por conta própria.