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Importância da agropecuária no consumo doméstico

A presente seção objetiva a análise das consequências da adoção de uma estra- tégia de investimentos intensiva no setor de agropecuária com uma especial atenção aos impactos exercidos sobre a balança comercial e a formação bruta de capital fixo.

O nosso ponto de partida foi o papel desempenhado pelo setor como gerador de emprego, analisado na última seção. A MIP divulgada pelo IBGE será usa- da como fonte básica de dados.

Os resultados apresentados na seção anterior partem da premissa de que seria possível aumentar a produção nos diversos setores sem investimento adicio- nal. Na realidade, isso só é possível se o aumento na produção for pequeno e/ou se houver capacidade ociosa. Do contrário, antes de aumentar a produção de determinado setor, por exemplo, setor têxtil, será necessário fazer investi- mentos para que seja factível o referido aumento de produção.

Nesse caso, haverá criação, no curto prazo, de postos de trabalho nos setores que fabricam os bens de investimento (construção, máquinas e equipa mentos) e apenas após o aumento da capacidade instalada serão criados empregos no setor que está expandindo sua produção. Novamente, repete-se aqui toda a lógica anterior, com relação aos empregos indiretos e devidos ao efeito renda. Para quantificar a demanda por trabalho, que é resultante de aumentos no investimento nos diversos setores da economia, é necessário conhecer a es- trutura de investimento de cada setor. Entretanto, o último ano para o qual o IBGE publicou uma matriz de composição do capital (matriz B) foi 1975, não havendo infelizmente perspectiva de publicação de uma nova matriz.

Com a atual preocupação de não estimular o crescimento de atividades que pudessem ter um impacto negativo na balança comercial, será feita uma ava- liação da estrutura produtiva de cada setor, de maneira a identificar aqueles que mais utilizam insumos importados. Pelo fato de a MIP divulgada mais recentemente ser relativa ao ano de 1993, nossos resultados devem ser anali- sados com certa cautela.

Nesta seção, demonstraremos uma estimativa de oferta e de demanda de bens e serviços, referente ao período de 1995, segundo os setores da matriz insumo-produto. Essas informações foram elaboradas para a agricultura de uma matriz de contabilidade social (MCS), utilizando as informações agrega- das e a distribuição setorial da MIP. Como a MIP mais recente continha infor- mações relativas ao ano de 1993 e as contas nacionais se referiam à economia de 1995, o ano de 1993 foi adotado como ano-base. Em outras palavras, com base em algumas informações relativas ao ano de 1995 e tendo um conjunto completo de dados para 1993, foi projetada uma MCS para 1995.

As diferenças entre as MCSs projetadas são consequência da aplicação de duas métricas: método de métrica entropia ou métrica quadrática, mais especifica- mente os valores absolutos da diferença entre as duas — métrica entropia (-) métrica quadrática. Como era de se esperar, só observamos diferenças signi- ficativas nos componentes agregados, em que permitimos certa flexibilidade em relação aos dados gerados a partir das Contas Nacionais: o total do consu- mo intermediário e o valor total da produção. Nota-se que a métrica entropia produziu um valor maior (R$ 29 milhões), tanto para o valor da produção total, quanto para o consumo intermediário. Comparando-os, podemos obser- var que enquanto a métrica entropia projeta uma oferta de produção superior à métrica quadrática nos setores de agropecuária, também projeta uma oferta menor nos setores de máquinas e equipamentos e peças e outros veículos. Esse fato pode significar que a produção projetada com base na métrica entro- pia asseguraria mais emprego, na medida em que prevê aumento na produção de setores intensivos em mão de obra.

Nota-se também que na composição do investimento por meio do método da entropia verificam-se maior demanda por construção e menor por equipamen- tos eletrônicos, por exemplo. No entanto, apesar dessas diferenças, não há nada que possa dizer que uma metodologia é superior a outra e, por se tratar de metodologias recentes, não há ainda evidências empíricas acerca do melhor

(R$ 5,16 milhões), equipamentos eletrônicos (R$ 4,77 milhões) e refino de pe- tróleo (R$ 4,48 milhões). De acordo com tais dados, esses foram os setores res- ponsáveis em maior parte pelo déficit na balança comercial, principalmente as indústrias de equipamentos eletrônicos e máquinas e equipamentos (R$ -4,05 e R$ -3.28 milhões respectivamente).

Os setores que mais exportaram foram: siderurgia (R$ 3,71 milhões), peças e outros veículos (R$ 3,12 milhões) e fabricação de óleos vegetais (R$ 2,92 mi- lhões). Como o nível de importação desses setores é baixo, esses setores gera- ram superávit em sua balança comercial, suavizando o crescente déficit total da economia.

É importante notar também que a grande massa das exportações brasileiras ainda provém de produtos primários, o que realça a desestruturação ainda predominante das nossas indústrias e a falta de competitividade dos produtos manufaturados.

Outro ponto importante é com relação ao nível de investimento: podemos ob- servar, ainda em termos absolutos, que a agricultura é o sexto setor em 41 considerados que tem a maior demanda relativa por investimento (2,80). Por meio da análise vertical, podemos observar o peso de cada setor no total de cada componente da economia como um todo. Os setores de máquinas e equipamentos eletrônicos tiveram realmente um grande peso, representando, cada uma, cerca de 9% do montante total importado em 1995. Nessa análise, também despontam refino de petróleo (8%) e o petróleo e gás (5%). Agropecu- ária figura com 3,94% do total importado.

Com relação às exportações, a siderurgia, um dos principais segmentos expor- tadores da economia, representa 8% do montante exportado, seguida pela in- dústria de peças e outros veículos (7%), pela fabricação de óleos vegetais (6%) e pela extrativa mineral (6%). Agropecuária figura com 4,10% das exportações. O nível de investimento na demanda da agropecuária representa 2,21% da demanda por investimento total da economia, estatística essa correspondente a 10% para outros metalúrgicos e a 7% para equipamentos eletrônicos.

Na análise horizontal, que em termos práticos representa o peso de cada com- ponente da oferta (demanda) de cada setor no total ofertado (demandado) pelo setor, observamos que a importação representa 4% da oferta total da economia e tem um grande peso na oferta de petróleo e gás (29 % da sua oferta total), ele- mentos químicos (24 %) e equipamentos eletrônicos (22%). As importações representam 1,61% da oferta do setor agropecuário.

Pelo lado da demanda, 3% dela é de exportação. Os setores que mais produ- zem para exportação são fabricação de calçados (37% da sua demanda é de exportação), extrativa mineral (31%) e indústria do café (28%). As exportações representam 1,41% da demanda do setor agropecuário. O consumo interme- diário representa quase 50% da demanda total da economia. Entre os setores em geral, as produções de petróleo e gás (99%) e de artigos plásticos (94%) são basicamente para o consumo intermediário. Esse percentual também é grande no setor serviços. Na agropecuária, essa estatística é em torno de 14%. Na construção civil, 85% da demanda são de investimentos, seguidos pelos equipamentos eletrônicos (41%) e outros metalúrgicos (37%). Na agropecuá- ria, essa estatística é em torno de 2,08%.

É importante observar que se por um lado os investimentos em modernização e estruturação dos setores comercializáveis, principalmente as indústrias de transformação em geral, provocam uma série de desequilíbrios tanto na ba- lança comercial, por meio de constantes déficits, quanto na área social, com o aumento do desemprego, por outro os investimentos nos setores exportadores e intensivos em mão de obra, principalmente em agropecuária, são desejáveis por não afetarem adversamente a balança comercial e, além disso, por criarem novos postos de trabalho e provocarem um efeito multiplicador na economia. Dessa forma, investimentos na agropecuária podem ser encarados como uma política estrutural de alívio da pobreza, uma vez que ao mesmo tempo em que gera mais acesso a alimentação em geral reduz as taxas de desemprego, beneficiando, principalmente, os trabalhadores mais pobres e menos qualifi-