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2 FUNDAMENTOS DA TEORIA AUSTRÍACA DOS CICLOS ECONÔMICOS

2.3 Crescimento sustentável e insustentável

Nessa secção serão analisados os efeitos de um aumento da oferta de bens presentes em dois casos diferentes. No primeiro caso esse aumento é realizado por uma mudança na preferência temporal dos agentes da economia. No segundo caso esse aumento se dá via expansão do crédito sem lastro em poupança, em outras palavras, via injeção monetária.

Figura 6 – Economia em equilíbrio

Fonte: (GARRISSON, 2001, p.50)

2.3.1 Efeitos de uma mudança na preferência temporal

Supondo inicialmente que ocorra uma mudança nas preferências temporais dos agentes e eles agora estão mais preocupados, ou voltados, para o futuro. Os efeitos dessa mudança estão representados na figura 7. (GARRISSON, 2001)

No gráfico do mercado de fundos para empréstimos (Figura 7) um aumento do nível de poupança dos agentes implica em um deslocamento da curva de oferta S para a direita, formando uma nova curva S’. Não há deslocamento da curva de demanda D. O novo equilíbrio do mercado de fundos para empréstimos acarreta em uma menor taxa de juros de equilíbrio, a taxa i’eq.

No gráfico da FPP (Figura 7), o ponto de equilíbrio se move para baixo, ou para a direita, ao longo da curva. Nesse ponto há uma quantidade maior de investimento e uma quantidade menor de consumo do que no caso anterior.

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Os efeitos no triângulo hayekiano (Figura 7) são dois: o efeito derivado da demanda e o efeito da taxa de juros. O efeito derivado da demanda decorre de uma menor demanda por bens de consumo, gerando um desestímulo aos investimentos nos estágios finais da produção o que implica em uma redução da altura do triângulo hayekiano. O efeito da taxa de juros decorre de um aumento dos investimentos nos estágios iniciais da produção, pois uma taxa de juros menor incentiva investimentos de longo prazo, o que implica em um aumento da base do triângulo hayekiano.

Figura 7 – Efeitos de um aumento do nível de poupança

Fonte: (GARRISSON, 2001, p.65)

No gráfico do mercado de trabalho dos estágios finais da produção (Figura7) há uma redução da demanda por trabalho, pois uma queda do consumo faz com que a demanda por trabalho nos setores produtores de bens de consumo também caia. O contrário acontece no mercado de trabalho dos estágios iniciais da produção, onde há um aumento da demanda por trabalho.

2.3.2 A teoria austríaca dos ciclos econômicos na macroeconomia da estrutura de capital

Supondo que o Banco Central decida fazer uma política monetária expansionista, o que gera um aumento de crédito na economia. Independente de

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qual forma for utilizada pelo Banco Central para aplicar a política monetária expansionista, os efeitos na macroeconomia da estrutura de capital são o mesmo: aumento do crédito sem lastro em poupança. Nesse cenário não há alteração das preferências intertemporais dos agentes, logo não há mudança no nível de poupança. O efeito desse aumento do crédito está representado na figura 8. (GARRISSON, 2001)

Analisando o mercado de fundos para empréstimos (Figura 8), um aumento do crédito desloca a curva S para a direita. Com uma maior oferta de crédito há uma queda da taxa de juros, de ieq para i’, o que estimula os investimentos e desestimula

a poupança. O investimento se move ao longo da curva D, já que os investidores respondem, a uma taxa de juros menor, aumentando seus investimentos. A poupança se move ao longo da curva S, já que os poupadores se deparando com uma taxa de juros menor reduzem sua poupança. Ocorre uma redução da poupança, já no investimento ocorre um aumento. Nesse novo cenário da economia, o mercado de fundos não está em equilíbrio e a taxa de juros i’ é insustentável, ela está artificialmente menor.

Figura 8 – Efeitos de um aumento do crédito via política monetária

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Na FPP (Figura 8) o consumo e o investimento se movem em direções opostas, mostrando a insustentabilidade dessa nova alocação de consumo e investimento. Para que essa alocação fosse sustentável era necessária que a FPP fosse a FPP’ que torna possíveis alocações com maiores níveis do que a FPP anterior.

O novo triângulo hayekiano (Figura 8) está agora distorcido. O aumento da base é devido à redução da taxa de juros incentivando investimentos de longo prazo. O aumento da altura é devido ao aumento da demanda por bens de consumo, que estimula investimento em etapas mais próximas do consumo. Além de sobre-investimentos há também maus investimentos.

O desequilíbrio das preferências temporais gera uma espécie de cabo-de- guerra entre investidores e consumidores. Os investidores estão voltados para o futuro, aumentando seus investimentos. Os consumidores estão voltados para o presente, aumentando seu consumo. A nova taxa de juros não consegue equilibrar, ou não mais reflete as preferências temporais dos agentes.

Quando os recursos de fato se revelarem escassos, indicando que não é possível manter os níveis de consumo e investimento, o suposto crescimento se transformará em recessão, ou contração da FPP. Os maus investimentos terão de ser eliminados, projetos de longo prazo que antes eram viáveis agora não são mais.

Em conclusão, a TACE se resume em uma teoria monetária. Quando ocorre a expansão artificial do crédito, ou seja, sem lastro em poupança, ocorre inicialmente um forte crescimento no ciclo de negócios atingindo principalmente os setores produtores mais afastados do bem de consumo final. Essa expansão artificial do crédito não pode ser mantida por muito tempo, já que não ocorreu, de fato, um aumento da oferta real de bens, o que ela realmente provoca é um rearranjo da estrutura produtiva, modificando os preços relativos das diferentes etapas produtivas. A nova estrutura produtiva não é sustentável e é necessário um rearranjo de acordo com suas limitações reais, o que caracteriza uma recessão.

Tomando como exemplo, para a explicação da TACE, o caso do Robison Crusoé apresentado na secção 2.1.2, e supondo que há mais um habitante na ilha chamado João. João oferece à Robison duas pedras onde tem escrito vale um peixe em cada uma em troca de um peixe que Robison possui, prometendo que no próximo dia irá entregar dois peixes à Robison para liquidar sua dívida. Nesse caso Robison pode começar a construir sua rede de pesca sem que ele faça uma

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poupança de dois peixes, já que ele tem duas pedras que valem um peixe cada no dia seguinte. No outro dia Robison pode se engajar na produção da rede de pesca, porém, se João não conseguiu pescar peixe algum não há como ele cumprir sua dívida. Robison começa a produzir a rede, mas quando percebe que não vai receber os peixes em troca das duas pedras e que não tem nada para comer tem que abandonar o seu projeto de construir a rede e voltar a pescar peixes.

O que aconteceu nesse exemplo foi que João criou dinheiro do nada o que permitiu Robison a se engajar em uma atividade sem que ele tivesse recursos suficientes para alcançar o seu objetivo. Resultando que Robison perdeu um peixe e parte do dia tentando produzir uma rede que não resultou em nada e pode até morrer de fome. Caso Robison queira continuar a produção da rede ele terá que começar a poupar nos períodos seguintes e só após ter a poupança necessária é que ele conseguirá construir a rede. Porém, ao passar de todo esse tempo ele acabará tendo um tempo perdido, que foi quando ele foi iludido por João, que será irrecuperável, onde ele já podia estar desfrutando dos frutos da sua rede de pesca.

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