• Nenhum resultado encontrado

Para tentar perceber uma possível evolução da correspondência comercial em inglês, tínhamos que criar dois corpora constituídos por cartas comerciais em inglês que distassem entre si algum tempo mais do que os vinte e três anos que separam o manual de Eckersley e Kaufmann do de A. Ashley.

Muitos são os autores que têm desenvolvido estudos sobre corpora, sendo bastante consensuais na definição que apresentam. Leech, por exemplo, define, assim, corpus linguístico:

Traditionally, linguists have used the term corpus to designate a body of naturally occurring (authentic) language data which can be used as a basis for linguistic research. This body of data may consist of written texts, spoken discourses, or samples of spoken and/or written language. Often it is designed to represent a particular language or language variety. (1997: 1)

Sinclair, um dos investigadores com mais nome nesta área científica da Linguística de Corpus, apresenta a seguinte definição para corpus: “a collection of naturally-occurring language text, chosen to characterize a state or variety of a language” (1991: 171).

Ainda outra definição de corpus linguístico, de Lawler e Dry:

A body of linguistic data, either text or speech, intended to support the study of linguistic phenomena. This data may be compiled on a principled or systematic basis and it may be annotated in some way to enhance its usefulness. (1998: 259)

Finalmente, apresentamos a definição de corpus dada por G. Kennedy:

In the language sciences a corpus is a body of written text or transcribed speech which can serve as a basis for linguistic analysis and description. Over the last three decades the compilation and analysis of corpora stored in computerized databases has led to a new scholarly enterprise known as corpus linguistics. (1998: 1)

Quando pretendemos analisar um corpus linguístico, podemos recorrer a um corpus já existente ou constituir o nosso próprio corpus. Nem sempre os corpora existentes servem os nossos objectivos, como reconhece Kennedy:

Research on a particular writer or genre, however, may require texts which are not yet part of a corpus to be available in machine-readable form for analysis. In which case, linguists may need to compile their own corpus. (1998: 70)

No caso concreto do nosso trabalho, dada a sua especificidade, não tanto relativamente ao tema a analisar, mas sobretudo a outros requisitos

exigidos, como a datação e o tipo de cartas, tivemos que criar os nossos próprios corpora.

Segundo Bowker e Pearson, um corpus deverá ter em conta quatro pontos essenciais: ser autêntico, electrónico, grande e seguir critérios específicos:

There are four important characteristics to note here: ‘authentic’, ‘electronic’, ‘large’ and ‘specific criteria’. These characteristics are what make corpora different from other types of text collection.

(2002: 9)

Os corpora que me proponho criar, relativos à norma, são constituídos por manuais que são, afinal, a referência existente para a escrita de cartas comerciais em inglês. Cada um dos dois grupos considerados deverá, assim, incluir vários manuais, uma vez que não existe uma norma única, mas várias propostas do que deverá ser a norma para a escrita destas cartas.

Um corpus deverá ser extenso para poder representar o mais fielmente possível as características da linguagem que pretendemos analisar. Programas de computador adequados (“concordancers”) permitem-nos fazer a análise de corpora bem longos, que são, por sua vez, excelentes recursos para uma série de actividades de pesquisa:

In the first place they have provided a more realistic foundation for the study of language than earlier types of material [...] Secondly, they have become a particularly fruitful basis for comparing different varieties of English. (Aijmer and Altenberg, 1991: 2)

No entanto, no estudo de um “genre” particular como acontece com o presente trabalho, o corpus não precisa de ser muito vasto, como diz Gabriella del Lungo Camiciotti: “Though corpus linguistcs projects tend to be concerned with analysing and processing vast amounts of data, a

corpus collected for a particular genre need not be large” (2005: 127). Isto sucede, uma vez que as características da linguagem utilizada, quer a nível do vocabulário quer a nível das estruturas gramaticais, traduzem já uma selecção própria do “genre”. Ao referir este tipo de corpora, Tony McEnery utiliza a denominação “specialized corpora”. A especificidade destes corpora pode, segundo o autor, manifestar-se ao nível do domínio ou do “genre”, sendo o objectivo, em ambos os casos, representar uma sub-linguagem (2006: 60).

Os manuais seleccionados deverão ser representativos, na medida em que devem reflectir as tendências reais nesta matéria, contribuindo, assim, para a representatividade do corpus, pois como diz Barnbrook:

The question of representativeness underlies the whole question of corpus design. If useful conclusions are to be drawn from a sample, the sample must have similar characteristics to the population from which it is drawn. (1998: 24)

Mas a representatividade dos manuais existe em função do impacto prático que estes possam ter, visto que os seus múltiplos leitores tenderão a assumi-los como uma referência. É, pois, necessário fazer uma selecção cuidadosa do que vamos incluir num corpus, uma vez que, como diz Sinclair, o êxito dos resultados depende da construção criteriosa do corpus:

The beginning of any corpus study is the creation of the corpus itself. The decisions that are taken about what is to be in the corpus, and how the selection is to be organized, control almost everything that happens subsequently. The results are only as good as the corpus. (1991: 13)

A questão da representatividade de um corpus é complexa, dependendo de vários factores e para alguns autores ela é sempre relativa, nunca plenamente conseguida. Um corpus procura representar uma linguagem ou uma parte da linguagem e, nessa medida, a sua constituição não é uma tarefa fácil:

It is important to realize up front that representing a language - or even part of a language – is a problematic task. (...) However, attention to certain issues will ensure that a corpus is as representative as possible, given our current knowledge of language. (Biber, Conrad e Reppen, 1998: 246)

Para a análise que nos propomos fazer, deveremos também ter em conta, para lá dos pontos referidos, os tipos de cartas a incluir nos dois corpora, para que possam ser comparáveis.

Existem inúmeros manuais sobre correspondência comercial em inglês e constituir um corpus sobre este tema parece tarefa fácil. É, na verdade, relativamente simples criar um corpus de manuais actuais sobre correspondência comercial em inglês, uma vez que existe uma grande variedade e a maior parte deles tem qualidade. A dificuldade poderá estar na selecção de um grupo realmente representativo. No entanto, se quisermos recuar cinquenta anos, a tarefa torna-se mais complicada. São em muito menor número e alguns têm pouca fiabilidade. Este facto deve ser situado no quadro de uma afirmação internacional da língua inglesa, em particular no mundo dos negócios.

Em 1867, Anderson, autor do manual Practical Mercantile Correspondence, refere uma lacuna inaceitável na produção de textos em inglês, a falta de manuais de comércio:

It appears a remarkable anomaly, that, in a country so eminently commercial as Great Britain, the initiatory studies of young men

destined for mercantile life should be notoriously neglected. Our literature, copious enough in almost every other branch, affords abundant facility for an appropriate course of tuition and study for the liberal professions and the arts; but, to the young merchant it proffers little assistance of the kind required. (1867: v)

Até meados do Século XX são ainda poucas as obras disponíveis, especificamente dedicadas à correspondência comercial em inglês. Os manuais de meados do século correspondem já a uma outra etapa, no crescente reconhecimento da importância da língua inglesa nesta área. Verifica-se uma maior oferta de publicações que, sem dúvida, deveria tentar corresponder a um contexto de necessidades reais. Há ainda, no entanto, alguma heterogeneidade quanto ao perfil dos autores e à sua formação. Progressivamente, nas décadas seguintes, impuseram-se as obras de origem inglesa, mas editadas por empresas com fortes ligações internacionais e procurando satisfazer um mercado muito vasto de interessados. Assim, multiplicam-se as edições das mesmas obras durante anos sucessivos, traduzindo bem o lugar alcançado pela língua inglesa no mundo actual.

Nas condições descritas, foi possível criar dois corpora, que consideramos muito representativos, para a análise que pretendemos fazer sobre correspondência comercial em inglês: o primeiro, com autores portugueses e ingleses, é composto por um conjunto de determinados tipos de cartas, incluídas em manuais das décadas de 1940 e 1950; o outro, do qual constam apenas autores ingleses, é constituído por um conjunto de cartas do mesmo tipo, incluídas em manuais das décadas de 1990 e 2000.

Criámos ainda um corpus de manuais de 1960/70 sobre o mesmo tema e que inclui os mesmos tipos de cartas. Estes manuais nem sempre são tidos em conta na nossa análise, mas permitem-nos, por vezes, ter uma percepção mais completa de determinados aspectos evolutivos.

Ainda, mais raramente, são considerados manuais sobre correspondência comercial de dois autores do princípio do século e ainda dois manuais de autores da segunda metade do Século XIX.

Para lá destes corpora constituídos por manuais sobre correspondência comercial em inglês de épocas diferentes, criámos um outro corpus, que inclui um conjunto de 261 cartas comerciais em inglês dirigidas a uma empresa portuguesa, entre 1990 e 2001. São provenientes de dezanove países e reflectem a actividade comercial concreta desenvolvida nesta empresa de importações e exportações. Pretendemos, assim, fazer um estudo mais completo, tendo uma perspectiva da evolução da carta comercial em inglês, não só ao nível da norma contida nos manuais, mas também mediante uma análise do seu comportamento ao nível da prática, através das cartas dirigidas à empresa portuguesa.

No desenvolvimento do nosso estudo, relativamente aos diferentes aspectos da carta comercial, começamos sempre por fazer uma análise dos manuais, seguida de uma análise das cartas dirigidas à empresa portuguesa.

Documentos relacionados